sábado, 22 de outubro de 2011

Vacinas são bastante seguras, é a conclusão de uma meta-analise recente.

Uma revisão de mais de 1000 estudos sobre efeitos adversos das vacinas conclui que tais efeitos são raros e quase sempre reversíveis. A revisão foi levada a cabo pelo Institute of Medicine (EUA).


 Neste ultimo relatório foi avaliada a evidência para riscos relacionados com a vacina da varicela, da gripe (excepto a de 2009 para H1N1), da hepatite b, do papiloma vírus humano, da tríplice; sarampo rubéola e papeira ( a tal do autismo), da hepatite e meningite menigococica.

As vacinas não são seguras para pessoas imunodeficiência, mas os casos graves em pessoas normais são extremamente raros, aparecendo apenas relatos pontuais ( um ou outro em toda a população vacinada), sem relevância epidemiológica.

A anafilaxe continua a ser a reacção adversa grave mais frequente mas é reversível se adequadamente tratada.


Aqui:

http://www.iom.edu/Reports/2011/Adverse-Effects-of-Vaccines-Evidence-and-Causality.aspx

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

"Coisas que a ciência nem reconhece" e a velocidade da luz.

Ouço muitas vezes algo como "é explicado por coisas que a ciência nem reconhece". Mas existem tais coisas? Como sabemos que existem se não têm factos para as suportar? E se têm que razões há para dizer que a ciência não os reconhece? Alguma vez isso aconteceu significativamente?

Há uns dias atrás a comunidade científica foi confrontada com algo que não deveria acontecer segundo a sua crença.

A saber, o laboratório CERN anunciou que mediu neutrinos a moverem-se mais depressa que a luz.

No entanto, em vez de negar a existência desse novo facto, divulgou-o para o mundo inteiro ficar a saber que algures nas bases de uma das teorias mais importantes da física, muito provavelmente existe uma excepção fatal. Sim, este facto novo pode ser suficiente para falsificar a teoria da relatividade. Uma qualquer teoria que emerja da integração desta nova informação vai ter de ser fundamentalmente diferente da gravidade ainda que tenha de ter resultados quase idênticos para uma série de outras questões.

 O surgimento de uma nova anomalia é tanto temida como desejada pela comunidade científica e é importante notar como reage nestas situações. Neste caso, sabemos que os autores da experiencia, demoraram algum tempo para a divulgar (meses)  e só o fizeram depois de terem uma grande confiança nas medições. Tinha de ser. A certeza de uma medição com este género de resultado não pode ser considerada de confiança sem um grande rigor na medição e publicar resultados trapalhões não pode ser. Tem de se afastar a hipótese de erro, já que contraria os resultados de muito mais experiencias efectuadas antes e que levaram à confirmação da teoria da relatividade. Mas uma vez obtida essa confirmação, com um grau de certeza bastante razoável, esse resultado foi divulgado.
A comunidade científica em geral, reagiu da mesma forma, no momento logo após a publicação. Em vez de negarem a existência de coisas que não podem explicar começaram por passar a pente fino os procedimentos. De um modo geral lembro-me que as reacções eram de espanto perante o rigor da experiencia. Logo de seguida, levantaram-se as questões da replicação independente. Nada de novo também. Uma coisa que falta é que um grupo independente e concorrente possa por neutrinos a viajar mais depressa que luz e segundo consta existem várias experiencias a correr que podem ser modificadas para o efeito.

Mas seja como for ninguém está a fingir que não vê o que não pode explicar. Pelo contrário.

 A quantidade incrível de artigos que surgiram a tentar explicar estes resultados é ilustrativa. Ninguém está a dizer: “isso não aconteceu porque é impossível!”.  E se a ciência tivesse esse tipo de procedimento nas suas fundações, esta era a altura de a usar. Mas não tem. Não funciona assim. A ciência é acerca de factos e explicações para esses factos. Temos é de saber que não são apenas impressões e são mesmo factos.

Como disse a inundação de artigos é enorme e alguns nem esperam a confirmação independente para avançar com explicações: Desde a possibilidade dos neutrinos terem usado dimensões extra para chegar ao destino (a teoria das cordas assume várias dimensões), a outras em que se propõe que esta seja a velocidade máxima absoluta e não a dos fotões (luz)). Muitos artigos exploram minuciosamente que fragilidades podem haver e onde a experiência pode ter falhado – o que é muito importante para as repetições que se seguirem.
De resto, parece-me que se está a seguir os passos normais do processo cientifico, da dúvida metódica e a repetir o que é feito quando grandes anomalias são encontradas. O mesmo aconteceu quando se descobriu que a luz tinha a mesma velocidade independente da velocidade da fonte. Foi repetido até se ter a certeza que era um facto e quando se teve a certeza que era um facto tivemos de encontrar uma explicação. Foi muito difícil e precisámos de uma mente como a de Einstein. Mas que a luz tinha a mesma velocidade em qualquer direcção medida independente da velocidade da fonte já era aceite como um facto. Senão ninguém tinha aceitado a relatividade. Claro.

Existem cientistas que não acreditam nestes resultados e dizem-no abertamente. Mas dizem também que esperam que as próximas experiencias mostrem onde está o erro que deu origem a estas medições, o que pressupõe que se isso não acontecer que terão de rever a sua crença. Em todo o caso, estão a tentar adivinhar, era mais sensato esperar.

Mas o que é fundamental é que a comunidade científica está, como sempre esteve, preparada para seguir aonde levarem as evidências. E isso é o que podemos concluir até agora, ainda se não podemos ter uma certeza com rigor cientifico de que os neutrinos andem mais depressa que a luz. Está-se a fazer o que é preciso para clarificar essa questão, com abertura e racionalidade.

Aquelas acusações de haver coisas que a ciência não reconhece têm dois grandes problemas. Uma  é explicarem como é que sabem que essas coisas existem e não são apenas palpites mandados à toa. A outra é que justificações têm para dizer que a ciência não reconhece seja o que for que possa ser bem estabelecido como real. É porque não sabem como funciona a ciência e nem sequer querem saber. Dão sempre a ideia que a ciência tem uma lista de coisas que tem de esconder para continuar a ter sucesso. Se isso fosse verdade, nada mais importante para estar nessa lista que violações à velocidade da luz.

Quanto à minha opinião pessoal sobre este assunto, não tenho. Estou à espera. Não sinto necessidade de formar uma opinião acerca deste assunto com a informação que existe. O que sei é que existem razões para levar a questão a séria e agora precisamos de verificação independente para passar a ser conhecimento. Ter opinião sem ser conhecimento só serve se temos pressa. Eu não tenho. Espero.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Medicina Tradicional Chinesa - doenças crónicas e a esperança média de vida.

A China tinha, no inicio do século passado, uma esperança média de vida de cerca de 30 anos. Na Europa por essa altura a esperança média de vida era no mínimo 10 anos mais - em muitos países era quase 20 anos mais (mesma referência).

Só 50 anos mais tarde é que a média de vida na china chegou aos 40 anos, em 1950.

Hoje, a esperança média de vida na china é de cerca de 74,5 anos. Menos 4 anos em média que em Portugal.

Se a medicina tradicional chinesa é uma pratica milenar como vem sendo dito, é óbvio que não era suficiente para dar à China uma longevidade a par da vivida no ocidente. E é óbvio também, pela mesma razão, que não foi esse o factor que permitiu o aumento da esperança média de vida, nos últimos anos. Existem autores que atribuem isso à chegada da medicina cientifica. Mas podem estar errados, claro.

Também pode dar-se que as causas de uma longevidade tão baixa não estejam apenas ligadas a falta de eficiência da medicina tradicional chinesa mas sobretudo a não saber para o que ela serviria. E portanto a aplicá-la mal.

Afinal, arranjar o Qi podia ser ineficaz não só contra doenças infecciosas mas também contra Qis desalinhados devido a carências alimentares ou duras condições de vida. Afinal não podemos esperar que alinhar os Qis por meio de agulhas resolva todo o tipo de problemas não é? Mesmo que fossem as questões mais pertinentes nessa altura. Afinal o que essa gente precisava era de uma alimentação melhor, saneamento básico, vacinas, etc. que aquele tipo de desatino no Qi não se arranjava com agulhas.

Felizmente esses problemas estão resolvidos e a acupunctura pode agora brilhar nas coisas para que realmente serve.

Parece que segundo as tendências actuais, alinhavar os Qis por meio de agulhas, é sobretudo bom para doenças crónicas, de preferência ligadas a dor crónica (1). É bom, porque se não serviu para aumentar a longevidade para lá dos 30 ou 40 anos durante milénios, ao menos agora serve para resolver  doenças que surgem em quem vive mais.

Resta a dúvida de para que é que aquilo servia em pessoas com menos de 30 anos... E mais. Onde é que a medicina tradicional, dita milenar, aprendeu algo sobre doenças crónicas em populações com esperança média de vida até aos 30? Que sorte formidável ter conseguido sobreviver durante milénios sem dar resultados para nos ajudar agora contra doenças crónicas. Essas coisas que só aparecem depois dos 30.

É... Suponho que a acupunctura deve ter sido mesmo útil foi a resolver doenças auto-limitantes em jovens. E duvido que seja mais útil para doenças crónicas que para as agudas.

Seja como for, não me parece um bom argumento falar em doenças crónicas ou na longa história de existência da acupunctura para a defender. Isso levanta questões que não lhe são favoráveis.

O problema é que os testes científicos também.

(1) Deixei uma referência, mas isto foi me dito pessoalmente por um senhor, vestido com roupas chinesas e tudo, que estava num congresso de veterinária a vender os seus serviços e que me abalroou enquanto eu ia nos meus afazeres.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Efeitos adversos e secundários.

É preciso ter cuidado para não atribuir a um medicamento ou vacina tudo o que foi registado como acontecendo a seguir à sua administração. 

Nem todo o acontecimento B que se segue a A é consequência de A. Esta falácia do pensamento humano chama-se "post hoc ergo proter hoc".

Isto porque existem publicados na Internet registos de farmacovigilância que estão sendo assim interpretados. 

Desta maneira, problemas frequentes como constipações, otites e outras mazelas estão a aparecer também com alguma frequência nessas listas. O mesmo se passa para outras doenças mais graves mas também frequentes. 

Em relação aos registos menos frequentes o cuidado não deve ser menor. Se aconteceu algo extraordinário após toma de um medicamento, mas também aconteceu apenas numa percentagem muito baixa, por exemplo, aí na casa do 1 para um milhão, não é razão para ter menos cuidado a atribuir relação de causa-efeito. 

É preciso, para considerar uma relação de causalidade, haver um aumento de frequência face a um controlo e ou um mecanismo plausível  .

Se não daqui a pouco estamos a considerar outros acontecimentos frequentes como efeito secundário, como por exemplo considerar os acidentes de automóvel culpa da vacinação. 

Por exemplo, a maioria das vacinas não tem efeitos indesejados na maioria das vezes. Os problemas mais comuns são períodos febris (responsivos a antipiréticos), inchaços e comichões. E mesmo assim são pouco frequentes - ver mais aqui. Raramente, podem ter reacções muito graves e o choque anafilático que ocorre em cerca de 1 em 1 milhão é normalmente a reacção adversa mais grave com que temos de contar se falarmos das vacinas de um modo geral. Mas é tratável e não deixa sequelas. Mas é a razão pela qual a vacina deve ser dada por quem sabe e onde há meios para responder a essas situações. Como quase todos nós fomos vacinados, se decidirmos ver o qeu aconteceu a cada um depois da vacina sem ter em conta a plausibilidade ou o aumento de frequência, vamos ter resultados bizarros como consequência das vacinas, tal como os propostos acima, já que acidentes de viação são muito frequentes.

Outra coisa que vale a pena alertar a este respeito é acerca de um site novo que lista os dados de farmacologia de todos os medicamentos e apresenta o resultado em percentagem em relação às notificações. Isto é, a percentagem de cada problema é em relação ao total de notificações, pelo que a soma dá mas de 100% de problemas para cada medicamento já que as notificações normalmente não incluem um só sintoma. Pegar nessas listas sem ter isso em mente ainda é pior que nas antigas onde era tudo registado quer fizesse sentido quer não. É que nestas é tudo registado, mas acrescentam uma percentagem que parece que é a probabilidade de cada um de vir a ter aquele sintoma. Vale a pena ter isso em atenção já que também existe esta modalidade.

Para finalizar e voltando às vacinas. É errado considerar o risco do vacinado igual ao do não vacinado. Isto parece óbvio, mas andam para aí pessoas que pegam nos números de risco de uma população vacinada, e usam como argumento para dizerem que não se vacinam porque o risco é baixo. Já para não falar que um dos objectivos da vacinação é a "imunidade de rebanho". E sim, somos o rebanho. Existe um limiar abaixo do qual não devemos descer para que continuemos todos protegidos e com prevalências baixíssimas.


sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Grupo de cientistas ensina meditação a macacos.

No shit! Usando um electroencefalograma, ofereceram marshmallows para reforçar certos estados mentais. 

Especificamente, os marshmallows foram dados quando o electroencefalograma mostrava actividade que em humanos corresponde a meditação.

Em pouco tempo, alguns em duas sessões de "treino" os macacos aprederam a manipular o seu estado mental para ganhar marshmallows. 

Segundo os investigadores, eles parecem "sossegados, mas concentrados". Sim, estão a meditar em troca de marshmallows!


Para finalizar. Este estudo é importante porque mostra que os macacos podem ser modelos de teste para o mecanismo de neuro-feedback, uma técnica recente que parece poder ajudar as pessoas a controlarem os seus próprios estados mentais olhando para dados objectivos do seu cérebro, como um electroencefalograma  - ou seja,  fazer o mesmo que os macacos deste estudo.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Neurotretas. Lateralização das funções cerebrais como justificação de personalidades.

A neurologia veio revolucionar a psicologia. A capacidade de poder observar e compreender o que se está a passar no cérebro mudou o curso e a profundidade da investigação.

A abordagem tipo "caixa preta" - baseada em "inputs" e "outputs", sem ver o que se passa "lá dentro", ficou    para a maioria das questões completamente obsoleta. 

E claro, começam a surgir os livros de psicologia pop com alegações de serem "baseados no cérebro" ou em "recentes descobertas neurológicas". Alguns poderão ser bons e alguns são mesmo, mas o que me preocupa é a treta. 

Uma das coisas que notei que deve levantar uma bandeira vermelha e que está por aí a potes é a dos abusos acerca da lateralizaçao do cérebro. Ela existe. Mas é muito mais subtil do que às vezes  nos querem  fazer crer.

Dizer que uma pessoa é cérebro esquerdo ou direito por uma razão qualquer, ou que uma característica está no lado tal, é um abuso. De um modo geral as características e funções do cérebro estão distribuídas pelos dois hemisférios simultâneamente e estão bem integradas no seu todo. 

De acordo com o neurologista de referencia deste blogue, o Steven Novella:

 "(...) the “right-brain/left brain” thing is in the public consciousness and won’t be going away anytime soon. Sure, we have two hemispheres that operate fine independently and have different abilities, but they are massively interconnected and work together as a seamless whole (providing you have never had surgery to cut your corpus callosum).

We also do have hemispheric dominance, but that determines mostly your handedness and the probability of language being on the right or the left. There is also often asymmetry for memory, with some being right or left hemisphere dominant. But none of this means that your personality or abilities are more right brain or left brain. That much is nonsense." (aqui)
Ou seja, lateralização das funções do cérebro existe, mas a menos que o nosso cérebro esteja cortado ao meio pelo corpus callosum e assim a comunicação entre hemisferios comprometida, (como acontecia  nos pacientes dos primeiros estudos sobre o assunto nos anos 60), podemos contar que a cada momento ambos os hemisférios estão a contribuir para a nossa consciência e personalidade. 
A wikipédia também tem um bom artigo sobre o assunto, aqui.

sábado, 17 de setembro de 2011

Os palitos e a acupunctura.

Se existem já estudos que mostram que aplicar acupunctura e picar (sem espetar) com palitos tem o mesmo efeito, a conclusão que se pode tirar daqui é a mesma que se pode tirar quando comparamos acupunctura verdadeira ( acupunctura feita nos pontos tradicionais)  com outra onde se espeta à toa.

A conclusão é que as alegações especificas da acupunctura são falsas.

Quando os resultados são replicáveis de um modo inespecifico e oposto ao da teoria em estudo é porque não é essa teoria que está a explicar os resultados observados. É outra coisa qualquer que também é posta em funcionamento por processos que são substancialmente diferentes (de facto tão diferentes que foram imaginados para refutar as alegações da teoria desafiada).

Se o efeito de analgesia da acupuncura for superior a placebo, coisa que não está estabelecida de modo algum, pelo contrário, o que sabemos já com toda a certeza, é que não tem nada a ver com a medicina tradicional chinesa. Sabemos que podemos replicar esse efeito de um modo menos invasivo, sem precisar de decorar pontos estúpidos, e sem ter de propor energias místicas. Sabemos que não podemos permitir chamar àquilo medicina alternativa e deixar que se proponham tratar uma data de coisas.

Mas o que sabemos também é que esse efeito, é muito ligeiro. Afinal qualquer um pode experimentar picar a pele com palitos para ver se elimina a dor forte. Distrai. E até pode, eventualmente, libertar umas adenosinas e endorfinas. Mas funciona realmente? Alivia satisfatóriamente? Não. Precisamos sempre de algo verdadeiramente eficaz para dores fortes.

É que efeitos vagos, tipo placebo, é fácil encontrar. Existe em tudo o que se convença alguém que funciona. Existe no antibiotico e na agua da torneira, na fisioterapia e na acupunctura. O que é difícil é encontrar coisas que não deixem dúvidas do alivio que causam e que tenham mais que efeito placebo. Pelo que sei de estudos recentes, para dor crónica não temos quase nada. Mas para dor aguda felizmente sim.

Como tenho reparado, as discussões acerca da acupunctura acabam sempre por girar acerca da dor. E do efeito moderado sobre a dor, que é replicado por picar com palitos.

Mas mesmo que, no melhor cenário para a acupunctura, isto fosse verdade, que tinha um ligeiro efeito analgésico, de modo algum isto significa que faz sentido usar acupuncura para qualquer outra coisa, ou que sequer faz sentido dizer que a acupunctura funciona. Não funciona. Picar com agulhas e com palitos faz qualquer coisa. Isso parece-me óbvio. Doi um bocado. Mas não tem nada a ver com o que dizem os chineses à séculos. Esse apelo à antiguidade está comprovadamente falso.

E então se vêm falar em estudos de análgesia moderada para defender que se  pode com isto  tratar constipações, cancro, hepatites, deixar de fumar, etc. é a treta completa. E no entanto parecem haver sempre bastantes individuos dispostos a fazer precisamente isso...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Acunpunctura e o autismo.

Haja crentes que se gasta dinheiro a testar tudo e mais alguma coisa.

Desta feita foi em espetar agulhas para tratar o autismo. Resultado: Não serve. Surpresa, hã??

Aqui.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O naturalismo não proibe que se encontre Deus. Apenas que não se recorra a Deus para tapar buracos.

O texto de Alvim Plantinga referido no post anterior é uma fonte divina de raciocínio enviesado e tendencioso que só pode servir para injectar falaciosamente teísmo na filosofia  e  na ciência. Aqui vai mais uma amostra:

"A terceira restrição  [do naturalismo]  é, então, que a base epistémica de uma teoria apropriadamente científica não pode incluir proposições que impliquem obviamente7 a existência de Deus ou quaisquer outros agentes sobrenaturais, ou proposições que sabemos ou pensamos que sabemos por meio da revelação."

Poder pode. Precisa é de evidencias fortes. Entidades extraodinárias requerem evidencias extraodinárias. O problema é que nada no universo sugere fortemente a existência de Deus, pelo contrário, e Deus por seu lado, caso exista, parece estar a usar a sua superpotência para apagar os traços da sua existência. A revelação tal como é apresentada pelos teístas é apenas um palpite que tem um registo histórico desastroso com uma diversidade brutal de caracteristicas, numero e vontades dos deuses. Não tem maneira de se estabelecer como fonte epistemológica. Nem de se distinguir do palpite curriqueiro.

Continua:

"Pois considere-se alguém que de facto aceita as linhas principais de uma das religiões teístas, e trabalha na área da psicologia evolucionista. Sem dúvida que irá honrar o NM [turalismo metodológico] como restrição à sua actividade científica. Se o fizer, para todos os propósitos científicos irá eliminar do seu corpo de dados as proposições que impliquem obviamente a existência de Deus ou de outros seres sobrenaturais, tal como o que ela sabe ou pensa que sabe por meio da fé ou da revelação. "

 A selecção de evidências cientificas não é de acordo com o que elas dizem. Não é se sabem bem, são agradáveis ou se implicam deus ou não. É se estão bem colhidas e são de confiança. Há uma hierarquia mas não relacionada com o significado da evidencia. É relacionada com a garantia que temos de não haver erro na sua apreensão. Ler sobre evidência anedótica aqui para uma explicação sobre o assunto.

Se Deus aparecer aí a fazer milagres, salvar o pessoal e a explicar umas coisas será difícil negar a existência de uma criatura tipo-deus para dizer o mínimo. O problema é que vivemos num mundo sem milagres, pleno de desgraça e onde as coisas naturais não parecem seguir um plano de longo prazo no seu contexto geral. Nem hoje, nem nunca. Longo prazo e objectivos - sinais de intencionalidade -  parece ser uma coisa unicamente pontual, biológica, relacionada com seres vivos moderadamente evoluidos e relativa apenas a estes.

Como se vê, o naturalista pode aceitar intencionalidade. Têm é de ter cuidado para não a ver em todo o lado. E é isso o naturalismo em ultima análise. É não usar intecionalidade para explicar o que pode ser explicado sem ela.



E voltando a Platinga, claro que com estes enchertos de dogmatismo absoluto em cima do naturalismo, a conclusão a que vai chegar é que a ciência naturalista é cega:

"Mas então ela poderá muito bem produzir teorias do género que temos vindo a apontar, ."

Que é o que a ciência produz - "teorias incompatíveis com a religião teísta" - e ainda bem que ele reconhece. Mas é porque não há maneira de distinguir a crença em Deus da existência real de Deus.

Deus ser incompativel com a ciência é resultado da constatação que usar Deus ou deuses para tapar buracos do conhecimento não leva  a nada.

Principios como "as entidades não devem ser replicadas para além do necessário" e "entidades extraórdinárias precisam de provas extraódinarias" não existem à toa. Se baixarmos a nossa exigência face ao tipo de evidências que precisamos para aceitar algo como a auto-revelação ou qualquer outro aspecto de testemunho anedótico ficamos com um mundo infestado de demónios, fadas, duendes, etc. Coisas para as quais não teremos mais que evidência fraca para demonstrar a existencia. E a pergunta então é, para que serve isso? Para nos deixar felizes? Tudo bem. Acredite quem quer, mas não faz sentido na mesma.

E além disso, sabemos que exigir evidências sólidas funciona melhor que qualquer outra coisa e permite conhecimento que é o melhor que temos no que toca a fazer previsões sobre o que vai acontecer ou podemos encontrar.

PS: Eu considero que Deus já foi uma boa explicação. Mas já não. O problema é que não sendo parte da explicação começou a ser parte do que é regeitado pela explicação. Problema para quem não quer deixar de acreditar, claro.

Para tirar Deus de uma teoria, penso que ele lá tem de estar primeiro...

De um texto de Alvim Platingra, traduzido pelo Desidério  e postado no "Crítica na rede", retirei esta frase para comentar:


"Quem defende que a evolução mostra que a humanidade e as outras coisas vivas não foram concebidas, defendem os seus oponentes, confundem uma interpretação naturalista da teoria científica com a própria teoria."


Ou seja, mesmo sem estarmos a pôr a teoria da evolução em causa se consideramos não estar lá Deus, é porque estamos a trabalhar num quadro naturalista que não é imposto pela teoria. 


Isto não é correcto.


Deus está tanto na teoria da evolução como na pedra que rebola montanha abaixo. É sempre possível dizer que ele está lá. Mas não adianta nada, não explica nada, em suma, não faz parte da teoria.


Quem interpreta a teoria como não tendo deus não está a ser mais racional que ao interpretá-la sem ter estraterrestres, duendes, fadas, tachos de cozinha, etc. 




A teoria da evolução explica exactamente como a evolução se pode dar sem intervenção de deus ou outro ser consciente qualquer (não é nada pessoal contra deus, a não ser que deus seja acaso e seleção - e se bem que haja quem queira que deus seja a segunda, normalmente regeita a primeira). 


A teoria da evolução, não só propõe um mecanismo sólido para compreender porque as espécies evoluem como o faz sem introduzir forças com capacidade de planear o futuro. Não é uma interpretação naturalista da teoria. É como ela é. Dizer que Deus está lá de qualquer maneira é injectar entidades desnecessárias que nada acrescentam à explicação. 


E se Deus está lá, segundo a teoria e de acordo com os factos, é cego. Vejamos mais obkectivamente ainda o abuso que Platingra propõe:


Se a teoria da evoluçao (TE), tal como está, sem referir Deus ou atribuir-lhe soluções explica a evolução registada factualmente é comparada a uma teoria da evolução com Deus (TE + D) que explica exactamente a mesma coisa mas injectando uma entidade extra (D) , então (D) não pertence à explicação. Ou seja, se TE = TE + D, então D está a mais. 




Para mais, D não é uma entidade qualquer. 


É uma entidade que não passa da uma hipótese, dado a inexistencia de evidências  de qualquer espécie, que sejam capazes de discernir satisfatóriamente D da crença em D. Daqui proponho que é uma afirmação extraórdinária injectar D em qualquer solução ou explicação. E aqui sim, está o naturalismo. É por isso que procuramos explicações sem entidades capazes de por si só serem capazes de explicar tudo. Por isso e porque no fim não ficamos a saber mais, apenas ficamos com a ilusão de ter uma explicação que nada diz sobre a questão em causa.


Mas se a teoria da evolução foi desenvolvida num quadro naturalista, ela está longe de poder ter deus incluido para se dizer que quem a usa para dizer que deus não está lá esteja a ser confundido pelo seu próprio naturalismo.

Fotografias de OVNIS (não confundir com O.V.N.I.s)



Depois de ver que imagens como esta continuam a ser suficientes para enganar umas quantas pessoas, decidi experimentar quanto tempo demoraria a conseguir uma "fotografia de OVNI" que tivesse pelo menos o mesmo padrão elevado de qualidade.


Achei que se fosse rápido o suficiente não precisava pendura-lo num ramo. Bastava atirar ao ar e fotografar. Quer-me parecer que o meu OVNI é mais fixe que o do Billy Meyer. Mas gostos são gostos não é? Não bate o modelo tampa de caixote do lixo (que está também na ligação anterior), mas acho que não envergonha ninguém num barbeque, cocktail informal ou assim.

Na foto:

Frisbiee Triboard, 2 euros, revestido a papel de alumínio para cozinha Auchan.

sábado, 10 de setembro de 2011

Os Americanos não foram à lua, mas os portugueses foram a Nibiru.

Eis a foto (feita por um telescópio comprado no Toys'4'Us e não pelo governo português):

Além disso, posso confirmar que devido à intervenção portuguesa a data de colisão com a Terra teve de ser adiada por deslize orçamental.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Videntes, médiums, bruxas, espíritas... Como eles o fazem.

  A leitura fria.

Introdução.
Desde académicos a militares (seria uma arma bem importante), existe actualmente um conjunto bastante razoável de estudos científicos sobre alegados poderes psíquicos. E o que a ciência encontrou nestas investigações foi, não um conjunto de energias e poderes apenas dominadas por uma elite mas um conjunto de técnicas que permitem simular que se tem esses poderes. Chama-se a esse conjunto de técnicas “leitura fria”.

Aprender a fazer uma leitura psíquica não é uma questão de frequentar cursos para videntes ou para médiums. Em vez disso, é uma questão de elogiar, fazer afirmações com duplo-sentido, fazer comentários vagos e ambíguos, de usar “fishing and forking”, prever o provável e transformar falhanços em sucessos”.
- Prof. Richard Wiseman, Paranormality.

Antes de explicar o que é isto uma nota importante: Nem todos os que a utilizam podem estar conscientes de a estar a utilizar. Um dos enganados pode ser o próprio executante. Entre o conjunto de razões que levam um “leitor frio” a ter sucesso em outras pessoas, estão as mesmas que podem fazer com que o próprio se convença que tem a capacidade de ver para o passado de estranhos, conhecer a sua personalidade e prever o seu futuro. Estas técnicas são “assim tão boas”, por explorar vulnerabilidades conhecidas do pensamento humano, tais como o sentimento de sermos únicos, a tendência para nos lembrarmos apenas dos resultados positivos, a tendência para acreditar no que é ou parece bom, a tendência de procurar significado para as coisas (mesmo quando ele não está lá), etc. Por isso nem todos são aldrabões, alguns podem acreditar que têm mesmo uma capacidade especial.

Como sabemos que é tudo uma questão de leitura fria? Como disse anteriormente existem imensos estudos e eles mostram que (para além destas técnicas estarem a ser usadas sistematicamente), os alegados videntes não são capazes de fazer corresponder uma determinada leitura a uma determinada pessoa. Ou seja, são inespecificos, não estão a dizer nada acerca de uma pessoa em particular (sem que a pessoa forneça essa informação, claro). Por outro lado, a experiência de replicar os resultados dos alegados possuidores de poderes psíquicos recorrendo à aprendisagem e execução destas técnicas de leitura fria tem tido o sucesso esperado. Ou seja, resultados apenas compatíveis com poderes psíquicos não foram encontrados (consegue-se o mesmo com leitura fria), por mais que se tenha procurado. Por isso se verdadeiros médiuns andam para aí, estão muito bem escondidos e no caso de pensar ter um pela frente assegure-se que não está a ser vitima de leitura fria. A evidência acerca de poderes psíquicos ficou reduzida a evidência anedótica.

Um outro aparte ainda antes de explicar as várias técnicas da leitura fria. A investigação no terreno e aquisição de informação através de outros meios físicos que não em frente-a-frente é chamado por brincadeira de “leitura quente”. Existem testemunhos de que a leitura quente e o trafico de informação entre mediuns, videntes e astrólogos existe, mas este “post” não é sobre isso.

Criar um ambiente propício.

Embora não seja indispensável, já que a leitura fria pode ser feita pela rádio, por email, em programas ao vivo, etc., a leitura a frio beneficia muito da colaboração do sujeito a ser "lido", por isso um conjunto de mecanismos de sugestão e capazes de propiciar a colaboração são utilizados se possível. Criar empatia e mostrar simpatia, fazer as pessoas sentirem-se bem recebidas e confortáveis, dizer que muita gente importante recorre a videntes ou astrólogos (ou o que seja) e que já ajudou muita gente a resolver problemas, decorar o ambiente apropriadamente (não esquecendo uns quantos livros sobre o assunto à vista e uns símbolos adequados aqui e ali), etc. são os aspectos a considerar.

Os pontos chaves.


1 - A arte do elogio.

É por aqui que se deve começar. O poder de dizer às pessoas o que elas querem ouvir vai não só manifestar-se na predisposição certa para o resto da sessão, como causar a percepção de “tiros na mouche” quase garantidos. As qualidades sugeridas a mencionar são: personalidade equilibrada, sentido de ética, honestidade, responsabilidade, educação, simpatia, criatividade e intuição (e que seria capaz até de ser um bom astrólogo/vidente/medium)/etc). São coisas que quase todos achamos que fazem parte de nós e que temos  em doses acima da média. Tal como grande sentido de humor. Não se pode no entanto atirar isto a seco. É preciso ir metendo a coisa no meio do jargão tipico da pseudociência escolhida, para dar credibilidade à cena. Algo como:

“Nasceu sob o signo da balança e posso ver como tem uma personalidade equilibrada, tipico dos balança, mas no seu caso mais marcada ainda por um forte sentido etico e de dever, devido à influencia de jupiter na quinta casa, e blá, blá, blá.”

Não vem na bibliografia consultada mas eu arriscaria ainda a inteligência entre essas qualidades, ja que como Descartes dizia “ a inteligência parece ser a coisa mais bem distribuida do mundo pois ninguém parece queixar-se da pouca que tem”.

Há, e não esquecer fazer um elogio à mente aberta.

2 - Afirmações duplas (e contraditórias) ou como diz o povo, “dar uma no cravo e outra na ferradura”.

Para tirar partido do facto das pessoas notarem mais o que lhes faz sentido do que o resto, é boa tecnica  dizer uma coisa e o seu oposto de uma assentada. É uma das tecnicas mais importantes e mais usadas.

Se por um lado a tendencia das pessoas é só "ouvirem" o que interessa, por outro lado a maioria das caracteristicas da natureza humana podem de facto manifestar-se de maneiras diferentes em diferentes alturas. Desde que não se quantifique e se especifique demasiado, a coisa vai soar bem. Claro que, como sempre, deve ser bem embrulhado no jargão tipico da pseudociência em causa.

Os traços de personalidade a abordar são os “grandes 5”: A abertura, a escrupolusidade, a extroversão, a sociabilidade e o neoroticismo. Como se disse o que se faz é dar uma no cravo e outra na ferradura:

“A mensagem que estou a receber é de que é uma pessoa muito sociável e que preza a amizade mas por vezes prefere dedicar algum tempo a si própria ou passar o tempo na companhia de um bom livro”. Ou “ Apesar de ser uma pessoa criativa e com muita imaginação é bem capaz de ser pragmática e terra-a-terra noutras alturas quando se torna necessário.”

Os anglófonos chamam a isto popularmente “rainbow ruse”. Não há como errar. São “hits” garantidos.

3 - Fazer afirmações vagas e tiros de caçadeira.

Afirmações vagas são afirmações que podem ser interpretadas de diversas maneiras ou são tão abrangentes que provavelmente incluiem uma ponta de verdade algures.

O leitor pode ainda pedir à pessoa que está a ser “lida” que o ajude a fazer sentido com as imagens que está ter e pode depois ir aumentando a especificidade do que diz:

“Estou a ver uma viagem, talvez pessoal ou de alguém próximo, está a ver a me refiro?”

“Tenho aqui alguém que quer falar contigo, parece-me um homem, um familiar, talvez um avô ou um tio, ou um amigo da familia...”

“Estou a ver uma coisa vermelha, talvez um lenço, talvez uma camisa... Estou a ver alguém a mexer nela, isto faz sentido para ti? “

Ou então afirmações completamente abstractas: “estou a ver um circulo a fechar-se, sabes a que se refere?”. Alguns leitores a frio conseguem acertar em coisas que nunca chegam eles próprios a saber o que são! Mas um “hit” é um “hit”.


No "tiro de caçadeira" isto é conseguido com muitas propostas feitas de uma só vez em vez de uma só abrangente. É como se fossem vários tiros de uma vez. Por exemplo, o classico:






“É uma pessoa que se chama algo como Sara, Lara, Luisa, Salomé, Sandra... Sim, Sandra não é? Era uma amiga próxima, da familiar talvez, ou alguém que, sim era a avó, claro que consigo ver claramente que era a avó, é uma pessoa já com alguma idade, mas com um ar muito afável...”


Nota: Ocasionalmente pode-se avançar com uma afirmação especifica. Se acertar, porreiro, é algo que ninguém esquece tão cedo. Se falhar, é minimizar a coisa, e passar à frente. Não será lembrado. Há ainda uma terceira técnica que consiste em insistir numa afirmação algo especifica e se vai insistindo até a que pessoa seja capaz de encontrar algo na sua vida a que ela se possa referir. O Ian Rowland chama-lhes “Push Statements”, ver tecnica 6,

4 - “Fishing and forking”: Andar à pesca e ramificar.

Andar à pesca é como o tiro de caçadeira mas mais lento. Largar perguntas com mais calma e observar a reação das pessoas. É o atirar a barra à parede a ver se pega.  Depois de pegar não largar e aprofundar. Agir como se se tivesse sempre tido isso em mente.

Enquanto não há nenhum sinal  de se ter acertado muda-se de tema, ramifica-se, e vão-se deitando mais umas hipoteses para o ar.

O sinal de se ter acertado pode vir conscientemente ou não, mas pode-se contar com ele. Toda a gente faz isso normalmente numa conversa se não tiver atenção especifica para não o fazer - e não é preciso pensar em algo complexo como o que se passa no pocker - uma pessoa pode por exemplo ir abanando a cabeça negativamente muito suavemente até  de repente parar e lançar um sorriso quando ouve a coisa certa, ou manter uma expressão tensa e relaxar de repente, etc. O que é certo é que as pessoas reagem quase sempre quando é dito algo com significado. Esta é a razão pela qual muitos videntes preferem estar a segurar a mão da pessoa - ajuda muito. Mas muitas pessoas vão mantendo o diálogo aberto, mesmo verbalmente. E a leitura a frio é isso mesmo. Um diálogo. Mas um que as pessoas não notam que estão a contribuir significativamente.

Esta é uma das técnicas mais importantes da leitura e frio e a usada mais vezes em espectáculos televisivos do género.

Por exemplo, o leitor a frio pode dizer “Ele está a apontar para o peito, talvez pulmões ou talvez mais abaixo, o estômago, ou...” ao que a pessoa interrompe “sim, morreu de ataque cardíaco” e o leitor continua, fazendo sua a resposta dada, como se tivesse sempre sabido de que era assim: “sim, morreu de ataque cardíaco, está a apontar para o coração, e....”


5 - A Ilusão da originalidade. Efeito Forer.

A maior parte de nós não sabe o suficiente sobre uma data de coisas em que afinal somos todos iguais. Ou quase. E sente no seu intimo que ninguém é realmente como si próprio. O tipo de coisas que nos levam a achar que somos excelentes condutores, que temos um sentido de humor acima da média levam-nos a achar que de certo modo somos únicos e especiais. Mas aqui a tecnica em questão não é o elogio para conseguir acertar, mas dizer aquelas coisas que dizem qualquer coisa a quase qualquer pessoa. O dom especial que era admirado quando eramos crianças e que nunca desenvolvemos, a caixa das fotografias desorganisadas, a peça de roupa que se rasgou ou o salto do sapato que se partiu num altura inconveniente, etc. Existe uma lista deste tipo de coisas prontas a usar aí pela Internet. E raios, como é que eles sabiam que eu tinha ainda guardada aquela chave de já nem sei o que é que abre?

E há sempre os dados estatísticos para aumentar as probabilidades de acertar só por saber a idade, o género, as tendências actuais, a classe social, etc.

O efeito Forer, que é o efeito em causa nas “afirmações tipo Barnum”, é então tirar partido deste sentimento de originalidade e da tendência de dar sentido especifico e pessoal a afirmações vagas. É a tendência das pessoas acharem que algo é com elas.

Muitas vezes as afirmações tipo Barnum aparecem numa classe à parte nas tecnicas de leitura fria e em vez da ilusão de originalidade. Eu segui a classificação do Prof. Richard Wiseman. Distingue-se da técnica do tiro de caçadeira porque não é tanto o carácter geral da afirmação que lhe dá o “hit”, mas o facto da pessoa lida percepcionar algo na afirmação como uma coisa única referente a si ou à sua vida.

Para além dos exemplos anteriores, posso acrescentar algo como: “estou a ver muita gente preocupada com uma doença ou acidente na sua infância, mas depois estão todos aliviados, foi só susto não foi? Não era assim tão grave mas na altura todos estavam muito aflitos.”

6 - Transformar limões em limonada. A arte de fazer o falhanço se transformar num “hit”.

Conforme se vão dizendo asneiras, é preciso ir reagindo apropriadamente. Falhou, é passar rapidinho à frente:

“Não. Claro que não, não me parecia mesmo, nem era nada o seu género que é uma pessoa tão recatada” ou “Não? Pois, bem me pareceu, mas era para tirar aqui uma coisa a limpo, continuando,”.

Mas existem mais estratégias e nem todas servem para as mesmas coisas. Outra estratégia será ir aumentando a inespecificidade da afirmação, tipo de uma viagem ao Porto passar para uma viagem ao norte até ser apenas uma viagem a uma outra cidade. Outra ainda é dizer que era uma afirmação metafórica, que por exemplo no caso da viagem não queria dizer viagem no sentido físico. Explicar por exemplo que se podia referir a uma alteração no curso da vida ou uma experiência. Há um grande numero de fugas e correcções possíveis.

Como no “push statement”, o executante da leitura a frio pode mesmo manter-se relativamente agarrado ao erro e insistir nele até que a outra pessoa faça sentido dessa frase. Se finalmente a pessoa descobrir qualquer coisa em que essa afirmação possa encaixar é um êxito extra ordinário já que dá a sensação que era algo que nem o próprio estava a compreeder. Como já referi, podemos quase sempre confiar na capacidade das pessoas de verem significados e pormenores pessoais em coisas que não têm nada a ver consigo. Às vezes é só insistir, já que se pedirmos para que percam tempo com isto se fazem verdadeiros milagres. Se não funcionar, pode-se sugerir que pode ter sido com uma pessoa próxima e/ou mandar ir pensar para casa porque alguma coisa deve ser, ja que “estou a ter uma imagem tão forte de...”. Dentro de umas horas será esquecido. Ficará apenas na memória o que estava certo. Como em tudo o resto.

O alegado psíquico pode ainda fazer um sumário da sessão mesmo antes de finalizar relembrando todos os “hits, o que vai fortalecer ainda mais a tendência para memorizar os resultados positivos, passando uma borracha psíquica sobre todas as tentativas que falharam.

O Ian Rowland sugere que em casos extremos de pessoas desconfiadas e quando a coisa começa a entornar se pode fazer uso das falácias conhecidas mas usálas ao contrário: Apelos para a ignorância, para “wishfull thinking” e explicar como “uma mente aberta pode tornar todos muitos mais felizes”. Ele acrescenta que muitos alegados psiquicos quando a coisa começa a complicar ainda mais eles podem dizer algo como “existem muitas coisas a bloquear como isto e aquilo e a leitura não vai funcionar consigo” e devolver o dinheiro prontamente.

Acabamentos extra.

O mesmo Ian Rowland acrescenta uma série de outras técnicas, não mencionadas pelo Richard Weiseman de que eu penso valer a pena a menção de pelo menos três:

1 - Afirmações não falsificáveis, ou seja, que não podem errar por serem do tipo: “deve” ou “deverá” como em “deve ter cuidado com a sua saúde”.
2 - Dizer às pessoas o que elas querem ouvir. Mas sem ser o elogio. Tipo: “vai tudo correr bem”.
3- Profecias que se cumprem a elas próprias (pelo menos enquanto forem lembradas que é o que interessa), por exemplo: “Vai passar a ter mais cuidado com a alimentação”

BIBLIOGRAFIA:

Ian Rowland, The Full Facts of Cold Reading
Richard Wiseman, Paranormality (no qual vem sugerida a leitura do livro de Rowland para saber mais sobre cold reading).

Lakatos - O campo de investigação progressivo.

O filósofo da ciência Imre Lakatos sugeriu que o falsificacionismo ainda não era suficiente para definir o que é ou não ciência. De facto algumas previsões são apenas testadas indirectamente, outras não podem ser testadas, e ainda outras não têm significado só por serem previsões. Por outro lado uma previsão mal sucedida arruinaria uma boa teoria que poderia ser corrigida com pequenos e pontuais acertos.

Em relação às previsões como demarcação da ciencia e pseudociência, o esperado é que algumas pseudociências consigam fazer previsões isoladas que por si não as tornam ciencia mas que seriam um motivo de confusão. De entre milhares de previsões que são feitas, algumas têm de acertar. Para passar a ser ciência uma pseudociência apenas teria de tentar muito e propangadear os momentos bem sucedido. Por exemplo a Astrologia tem uma previsão bem sucedida e bem documentada no "efeito Marte".

Lakatos propôs então que era preciso definir ciência não só em relação à capacidade de fazer previsões, mas também em relação ao tipo de investigação que propõe. Se é um em que temos de estar sempre a arranjar desculpas diferentes para justificar as falhas, ao que ele chama um programa de investigação degenerativo, ou se é um em que as previsões vão acertando e a teoria vai propondo novas  abordagens que se vêm confirmadas por seu lado - um programa de investigação progressivo. Ou seja, uma teoria que falhe uma previsão deve poder ser corrigida se isso puder ser feito de maneira simples e pontual, mas não de maneira sistematica. Ou seja, a consistência está primeiro.

Nota: A página "ciência", em cima, foi  actualizada com as informações deste post. 

domingo, 4 de setembro de 2011

Espiritualidades...

Não penso que seja preciso acreditar em coisas sobrenaturais para apreciar a natureza. Considero estas imagens "espiritualmente" enriquecedoras sem precisar dessas crenças à mistura. Espero que "falem" por si próprias:
Isto é uma estrada sobre a falésia em Almograve.
Ponta da Piedade ao pé de Sagres. Abaixo: Experiencias que fiz com texturas.

sábado, 3 de setembro de 2011

Aranha Tigre

Inofensiva, apesar de grande e exuberante. O zig zag abaixo, na teia, é a sua "assinatura". Este especimen habita na costa vicentina. É comum e existem em toda a zona mediterrânica. Mas já foram encontrados especimens até na Alemanha.

Camaleão

Encontrei um destes no Algarve. São animais muito interessantes, completamente inofensivos e muito vulneraveis. São raros. Não os levem para casa pois são muito dificeis de manter em cativeiro - e fazem falta na natureza. Não tentem sequer mantê-los por poucos dias. Por exemplo, os camaleões não são capazes de beber agua a partir de recipientes. E há mais problemas.