terça-feira, 30 de outubro de 2012

Primeiras Conferencias da Comcept


No dia 3 de Novembro de 2012. Ver mais no site da Concept, aqui.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

L' Aquila. Apologia dos sismólogos.

Dos 7 condenados a 6 anos de prisão por causa do terramoto de L'aquila, apenas 6 são sismólogos. O 7º é um engenheiro hidráulico  que era o vice presidente da casa de proteção civil. E foi ele quem fez o discurso onde é dito que "não há perigo".

Por sua recriação, acrescentou ainda algo que não foi discutido na reunião precedente e que os simólogos consideram um disparate: disse que pequenos abalos tiram a força a um maior que venha a caminho e que isso é um bom sinal.

Não consegui encontrar as minutas da reunião cientifica em que todos os 7 estiveram presentes, mas a imprensa parece unânime em que nelas não há sinais que tenha sido dito nada tão conciso como "não há perigo". Um dos sismólogos, Boschi, é mesmo citado dizendo (nessa reunião) que não é possível dizer que não há perigo, que desde sempre se soube que Aquila é uma região sísmica mas que no entanto um terramoto em breve é pouco provável.

De facto a região é sacudida frequentemente por pequenos abalos desde sempre, e criou-se hábito de se sair de dentro de casa e passar a noite na rua por altura destes abalos. Também tem história de grandes abalos com muitas mortes. O ultimo desde género foi recente à escala geologica: 1786, e 6000 pessoas morreram.

Isto é importante para compreender o contexto em que um oficial da protecção civil entende dizer que "não há perigo" quando os cientistas da especialidade lhe dizem realmente "o perigo é reduzido para o curto prazo." Na realidade os cientistas e o oficial da protecção civil estão a responder a uma situação criada por um tecnico de laboratório que decidiu andar de microfone na mão pela região a alertar as pessoas para fugir - e isto neste contexto de zona sismica.

Este senhor entendeu que podia tirar essa conclusão a partir da leitura de concentrações do gás radon que podem variar antes de um sismo. No entanto, desde os anos 70 que esta abordagem tem perdido credibilidade, pois há mais razões para haver libertação de radon e os resultados são inconsistentes. A comunidade de sismólogos, diz que não é possivel prever sismos. Com radon ou com pequenos tremores.

Não havia portanto razão para temer mais um sismo naquela altura que noutra algura qualquer (amanhã?) em L'aquila.

E esse era foi o contexto em que foi dito que "não ha perigo". Nunca poderia querer dizer que "o perigo é zero" mas sim que "por causa disto e por isto apenas não há um risco acrescentado". Há aqui um problema tão grande de interpretação entre o vice-presidente da casa civil que serviu de porta-voz dos cientistas como entre o porta-voz e o público. O público nunca deveria ter tirado as afirmações do contexto do que se sabe ser cientificamente estabelecido acerca do potencial sismico da area. E o porta-voz, mesmo querendo evitar panicos, nunca deveria ter deixado de ter o cuidado de fazer como os cientistas: salientar que certezas não existem, que a zona é sempre uma zona de risco, mas os factores identificados como sendo de risco não são realmente mais que mitos.

Deveriam neste ponto os cientistas ter ultrapassado o vice-presidente da casa civil e dito: "não foi bem isso que nós dissemos". Se calhar sim. À posteriori é fácil dizer que eles tinham essa obrigação. Mas olhando para trás, podemos imaginar os estragos maiores que isso poderia causar; vejamos:

Era pouco provável que fosse nos dias seguintes haver um sismo, do ponto de vista da ciencia, tanto como é pouco provavel que nos saia o euromillhões. No entanto quando olhamos para trás e pensamos no processo não conseguimos dizer como podia ser diferente. E se calhar não podia, mas não é isso que importa. É o que se poderia prever. Valia a pena arranjar sarilhos (ia haver repercursões politicas certamente) e complicar a mensagem dada às pessoas por causa de uma coisa que quase de certeza não ia acontecer? E que provavelmente e por plausibilidade não iria mudar nada?

Eu acho que a conclusão que se pode tirar daqui é que sim. Que vale. É sabido que as pessoas ouvem em parte aquilo que querem ouvir. E o "não há perigo" tornou-se numa afirmação absoluta, sem contexto onde ser interpretada. Eles deviam ter avançado. Mas considera-los culpados pela morte de pessoas? Nem um pouco. E agora que o imprevisível aconteceu, é fácil falar. E bodes espiatórios é algo que dá sempre geito.

Seria diferente se a mensagem fosse apenas: "não sabemos, não é possível prever e os acontecimentos recentes não são por si só causa para alarme"?

As pessoas teriam abandonado a cidade caso a mensagem fosse clara e bem compreendida? Penso que não - pelo menos não fazia sentido para os que lá já moravam. Quem tinha medo de terramotos e se preocupava com o potencial sísmico já teria saído há uns séculos atrás.

A mensagem seria sempre que não havia mais razões conhecidas para alarme naquela altura que nos anos e meses anteriores. E essa mensagem estaria correcta aos olhos do conhecimento actual. E isso é o melhor que podemos fazer, senão passamos a vida a fugir de fantasmas.

Neste quadro, vejo pouca motivação para os cientistas irem dizer: "não foi bem isso que nós dissemos". E o porta-voz, o engenheiro hidráulico  é ele culpado por mortes? Por ter dado um relato da situação melhor do que devia ter dado?

É difícil de dizer, porque me parece que nada iria mudar com a pequena alteração do "não há perigo" para "o perigo é baixo". Há pessoas que disseram que ficaram só por causa do "não há perigo". Mas agora é fácil dizer isso. Vivem numa zona de risco há anos e iriam fugir por coisas que se sabe serem falsos alarmes (o gaz radon e os tremores dos dias anteriores)? Não faz lá muito sentido. Parece-me daquelas coisas que depois do facto tudo é mais obvio que o que seria e é na realidade.

Em todo o caso o que me parece é que 6 dos condenados não têm culpa nenhuma. Quanto muito este processo daria origem a um estudo sobre a ética de como se deveria a comunidade cientifica portar numa situação destas. Não é claro que eles tivessem a obrigação de corrigir o que o oficial decidiu dizer. E mesmo o oficial não me parece que seja tão culpado como merecendo 6 anos de prisão. Isso seria, e até mais, se ele soubesse algo que escondeu. Mas não sabia. Não havia nada de novo a recear e essa era a mensagem verdadeira. E ele não estava a dizer certamente que L'Aquila deixou de ser uma zona de alto risco sísmico.  E isso toda a gente sabia. Era esse o contexto. Uma multa? Talvez. Pesada? Também talvez, sim. Aulas de Italiano e ética? Sem dúvida.

Mas 6 anos? Eu não vejo como se pode por nele a culpa das 300 mortes. Outra vez: Não havia nada de novo para dizer e esse é o contexto do "não há perigo". As pessoas quase de certeza fariam o mesmo se compreendessem a mensagem porque de facto não havia mais razões para abandonar a localidade naquele dia que noutro dia qualquer. E razões são o que nos interessa.

Foram ainda acusados de não terem feito uma vistoria à localidade para avaliar a construção dos edifícios e dar informação às pessoas sobre como se portarem num sismo. Mas isso é um desproposito. Eram construções medievais muitas delas. Era uma aldeia velha. As pessoas pensavam que era anti-sísmica? E só nessa altura se lembraram que deviam ter aprendido o que fazer durante um sismo?

Isto é caça às bruxas.

E é um problema. Porque no futuro, os cientistas serão ainda mais cautelosos com o que dizem (ou então não vão querer falar nada e não vão querer ser consultados diretamente)  e ainda serão mais acusados de levantar falsos alarmes do que o que já são.

É preciso é ensinar as pessoas a pensar em termos de probabilidades porque pelo que me parece esse é todo o cerne da questão. E uma pessoa que fala com o publico conhece esse problema. Quantificar as coisas em probabilidades é uma chatice. A mensagem não passa completamente em muitos casos. Fica apenas uma ideia turva já que "pouco provável , por exemplo, tem um valor diferente conforme o estado de espirito de quem houve. Compreendo que se tenha até optado pelo "não há perigo" já que o risco de errar no curto prazo - e era isso que estava em jogo- era baixo. Muito baixo (e como disse havia história de um processo legal em Itália pela razão oposta - de evacuar em falso alarme).

Agora gostava de saber, se isto continua assim, qual a pena para os negadores do aquecimento global.




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Desemprego e Paz.

Quando as coisas correm bem, os jovens arranjam emprego, casam-se, têm filhos, tomam conta deles, progridem na carreira, etc.

Sem emprego, os jovens ficam com muito tempo livre mas muito pouco para fazer. Ao principio.

Sobretudo os jovens do sexo masculino podem formar "gangs", grupos com regras próprias e normalmente um código de honra exagerado... E metem-se em sarilhos. Na realidade estarão muitas vezes a tentar mostrar aos seus pares o seu valor. Não têm familias que os "prendam" nem responsabilidades que os obriguem a uma vida pacata e tornam-se um perigo, inclusivé para eles próprios. Não têm muito a perder e sentem-se dispostos a correr riscos.

Lutam por lugares na hierarquia, seguem lideres dúvidosos e estão sugeitos a acreditar em promessas aparentemente grandiosas de quem arranjar uma causa para lutar e um bode espiatório.

Como disse, jovens com emprego tendem a criar familias. Trabalham e não se querem meter em sarilhos pois têm objectivos de muito longo prazo. Podem até participar em manifestações, mas de um modo geral são pacificos.

Nesse aspecto a religião católica tem razão. O casamento é muito importante para a sociedade, tão importante como o emprego. E nesse aspecto o Islamismo está completamente errado. Uns poucos de homens ficam com as mulheres todas e depois o resultado está-se a ver. Felizmente o capitalismo sexual por cá acabou.

Mas sobra o outro. Os capitalistas agora não querem investir, têm medo de não ter rendimentos do dinheiro que puserem em circulação e guardam-no bem guardadinho. Sem crecimento económico forte, sem nova riqueza a ser produzida, o dinheiro em circulação diminui e sem investimento ainda mais. Não há dinheiro para sustentar e criar novos e velhos postos de trabalho.

E o desemprego entre os jovens aumenta em toda a europa. De uma europa aliás, cujos países, têm todos sérias dividas ao dito capital.

Mas voltando ao tema, altos niveis de desemprego entre os jovens são pois, uma causa conhecida de violencia. É algo cuja dimensão destrutiva ultrapassa largamente o aspecto pessoal já de si algo a combater.

É preciso encontrar maneira de criar postos de trabalho com urgência. Mais fatores complicam ainda mais o cenário - o envelhecimento da população e o risco do colapso do sistema de reformas.

A comissão europeia tem razão quando diz que a democracia pode estar em causa. Os riscos não são negligenciaveis.

A unica solução que se me aparece é que os ricos têm de pagar a crise. Enquanto o problema for financeiro não se justifica desperdiçar estas vidas todas. E temos de ir buscar o dinheiro onde ele está.

Até porque perguiça está longe de ser a causa e estes jovens são a geração mais bem formada de sempre, segundo consta.

PS: É óbvio (ou espero que seja) que me estou a referir a tendências e a estereótipos que podem nada ter a ver com pessoas singulares.

Suporte cientifico:

Ler o extraordinario "Better Angels of Our Nature" do Stephen Pinker para bibliografia e aprender mais.

Sismólogos presos (para satisfazer a fúria da população?).

De acordo com o que tenho lido, apenas um dos condenados a 6 anos de prisão fez afirmações demasiado confiantes de que não haveria sismo. Os outros disseram o que já se sabe. Que não se podem prever sismos  e que aumentos do gás radon e pequenos tremores de terra podem não significar nada.

Apenas um sismo foi previsto até hoje. Em todo o mundo, desde sempre. O que indica que provavelmente foi sorte.

A pena de prisão destes cientistas, que apenas fizeram o seu trabalho, e logo para 6 anos é incompreensível.

Devem ser libertados imediatamente e ilibados de qualquer acusação e ainda receber uma indemnização pelos danos pessoais causados que presumo que para já sejam devastadores.

Quanto ao individuo que disse algo no sentido de que não havia risco, deve ser visto o contexto em que disse isso. Provavelmente em situação de pressão e perante um público ansioso.

Não consigo ver a situação de outra maneira que não seja a procura de bodes expiatórios.  E a dificuldade das pessoas em geral para compreenderem que nem tudo é a preto e branco. Os sismólogos disseram cinzento, era verdade e foram presos. Toda a gente ouviu preto. E agora que se pode confirmar o que foi realmente dito e que apenas um deles foi demasiado afirmativo, vão todos presos. 6 anos, não menos.



Ler mais aqui:

http://www.newscientist.com/article/dn22412-briefing-seismologists-found-guilty-of-manslaughter.html

e aqui:

http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/seis-cientistas-condenados-a-seis-anos-de-prisao-por-subestimar-riscos-do-terramoto-de-laquila-1568348



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Paz e Democracia.


O numero de mortes (por habitante) e a extensão das guerras tem estado a diminuir. Não temos números precisos para toda a história humana, como os apresentados no gráfico anterior, mas os dados que temos sugerem que isto é uma tendencia que vem desde a pré-história. Não obstante, alguns autores notam que o numero de países em guerra segue uma significativa tendencia oposta (2 países por numero de conflito para começar), mas isso acontece porque o numero de países no mundo tem aumentado muito (cerca de 50 durante a era soviética para mais de 150 hoje).  Estes mesmo autores notam que normalizando esse aspecto, a tendência crescente desparece. Eles consideram que isso não deixa de ser preocupante porque o numero de conflitos parece aumentar também.  Isso pode ser porque de facto não só há mais países no mundo como há cada vez mais pessoas e destes novos países muitos têm conflitos internos por resolver. Porque, e eles próprios admitem, a extensão e gravidade das guerras, apesar de tudo, é menor. Voltando ao principio, de um modo geral, como podemos confirmar no gráfico acima, o numero de mortes por habitante devido a guerras, é muito menor. O numero de guerras entre estados também é menor, como se pode confirmar no gráfico abaixo. Neste gráfico podemos também confirmar que o problema são os conflitos dentro dos próprios estados.

 Fonte aqui.



Uma causa apontada, é a expansão da democracia. Países democráticos têm menos tendência a entrar em guerras:

[democratic peace chart[3].png]

Immanuell Kant, o super-filósofo, tinha apontado a democracia como um dos factores para a paz, mas os dados que o confirmam cientificamente só agora estão a consolidar essa hipótese.

A democracia é uma forma de legitimar o poder, (resolvendo no processo conflitos internos de uma forma não violenta) e de dar voz às pessoas. E as pessoas em geral, ao que parece, estão pouco interessada em guerras. A guerra é muito mais uma decisão de homens, com o poder de mobilizar exércitos, que uma decisão de povos (que muitas vezes se vêem envolvidos para sua própria desgraça - e em nome da pátria!).

Como exemplo (e não como argumento - esse fica para os grandes números  de uma demonstração de amizade entre povos cujos lideres trocam ofensas frequentes (e de notar que um deles não é uma democracia completa) sugiro que se visite esta página chamada "Israel ama o Irão". Desejo-lhes imenso sucesso e vejo boas razões que tal aconteça. Afinal, é bem provável que a maioria dos Iranianos e Israelitas prefiram a paz a morrer por parvoíces escritas em livros antigos, é preciso é que se possam exprimir e ganhar massa critica.

Seja como for, o que interessa aqui reter, repito, é que em termos globais a democracia leva a paz. Mesmo se por ventura aparecer um ou outro exemplo de excepção.

A democracia tem muitos defeitos. Mas tem muitas mais e melhores qualidades. Um bocado como a própria ciência. Ambas têm muitos problemas mas não há melhor e dão bons resultados em muitas coisas.

Por isso quando ouço sugestões anti-democráticas, desde pedidos de golpes de estado a elogios à autocracia,  fico sempre um bocado preocupado. A história mostra que o totalitarismo acontece, não é uma fantasia. E mata.

De facto, o totalitarismo  é responsável pelas maiores atrocidades desde os príncipios da história até Mao, Estaline e Hitler. E já agora, a propósito deste trio, de notar que não é a ausência de religião o problema, já que Hitler avançava um discurso pró-religioso e agia em conformidade. Não dizendo que a religião predispõe para guerras (embora seja responsável diretamente por uma fatia generosa) no minimo  podemos dizer que não é um fator que as diminua.

A democracia sim, é um desses factores. Claro que a correlação com a paz é notória, como seria de esperar. Já sabemos que a violencia está a diminuir e que a democracia também se está a estender a mais nações, por isso o gráfico acima surge como esperado. Fonte.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

As desigualdades.

Portugal é um dos países da europa onde as desigualdades são mais marcantes. De acordo com medições do coeficiente de Gini, que mede precisamente a desigualdade económica, só no nordeste da Europa encontramos países com a mesma quantidade de desigualdade.

Os melhores são mais ou menos os do costume. Norte da Europa e Europa central. Eles distribuem melhor a riqueza produzida que nós. Muito melhor. 

Segundo o que se pode ler no Público, isso vai piorar ainda mais entre nós.

E o que nós sabemos sobre isto, é que a desigualdade é um factor de instabilidade social, revoluções e mesmo guerras. Não há de facto justificação, para uma sociedade que funciona como um organismo, em que cada um dos seus órgãos cumpre uma parte do processo, que haja discrepâncias tão grandes no valor atribuído aos seus constituintes. 

O argumento de que é preciso premiar quem se esforça mais, não impede que haja uma redução na diferença de rendimentos, já que para premiar não são necessárias diferenças tão dramáticas como as que verificamos nos dias de hoje e ao longo de tanto tempo. Isto acontece em boa verdade por todo o mundo. 

Há muita margem de manobra para diminuir as desigualdades.

Os ditos prémios a serem realmente prémios serão tão díspares entre as pessoas que pouco poderão ter a ver com o mérito ou falta dele. Têm mais a ver com quem pode não querer distribuir aquilo com que pode ficar, e em tentar racionalizar a questão. E depois, há muitas mais maneiras de premiar o esforço e o bom trabalho. A medalha e o oscar, etc, valem muito mais que o ouro em que são feitos. E afinal,  ainda há todo o conjunto de posições de poder que podem e devem ir para quem mais merece - alguém tem de organizar as coisas. E o poder e a glória sempre foram motivos humanos, pelos quais podemos distribuir os prémios. Ou seja, há uma margem muito grande para reduzir as desigualdades nos rendimentos. Justificada pela importância e papel que todos cumprem.

A prova de que a cenoura à frente do burro não é tudo o que precisamos para ter bons produtos e boa produções é ilustrada por coisas boas feitas de graça - completamente trabalho oferecido - como o sistema operativo Linux, que se pode descarregar à borla, a suite de programas de produtividade Libreoffice, o programa de edição de imagem Gimp, a wikipédia, associações humanitárias e de caridade, etc... 

Ou olhar para muita da ciência produzida pela história fora, já que os cientistas nunca foram remunerados de acordo com a contribuição que deram e muito menos a dedicação que muitas vezes tiveram. O melhor com que podem contar para enriquecer, ainda hoje, é o prémio Nobel. E quanto a patentes... Essas ficam as firmas com a maioria delas como se vê pelas disputas em tribunal - elas nem pertencem às pessoas que as criaram. 

De qualquer modo, existem estudos recentes, sistematizados e empíricos  que suportam esta afirmação de que não precisamos de forçar a desigualdade para ter produtividade, seja pelas razões que apontei ou não.

E isto é para argumentar contra as desigualdades no mundo, nem sequer só em Portugal. E faço-o, acima de tudo, chamando a atenção para o fato de que funcionamos como um organismo onde cada órgão cumpre um papel fundamental. Cada profissão faz falta. Até os... Adiante.

O argumento dos riscos também já não pega. Afinal já percebemos quem é que corre os riscos realmente.

Para o caso português em particular, podemos até usar o argumento de que todos os países que estão melhor que nós na Europa distribuem melhor a riqueza. Por isso nós devíamos fazer melhor do que o que estamos a fazer, sem medo de perder o resultado do "incentivo a quem merece mais".

E em boa verdade, toda a Europa, que agora é uma união económica, tem culpa disto que por cá se passa. Só porque estamos na periferia, longe, em vez de nos ajudarem a resolver os problemas, dão-nos austeridade - austeridade que acaba por custar mais a quem menos tem. Se funcionasse, ainda se aturava, talvez... Mas não. A austeridade está a falhar e o ressentimento das pessoas aumenta. 

E o ressentimento vem sobretudo das desigualdades. Quando o problema é distribuído por todos, como acontece em casos de catástrofes naturais, não se vê aumento da instabilidade social. Vê-se entreajuda e empatia. Ressentimento vê-se quando há crises em que os sacrifícios não são distribuídos equalitariamente e a coisa é óbvia. 

As grandes desigualdades dão buraco. Dão crime, violência e revoluções. E são injustificáveis moralmente.

Ou então, onde estão agora aqueles que eram tão importantes para a sociedade que se dispuseram a guardar a esmagadora maioria da riqueza? É a altura de mostrar que valem o que ganharam e que podem fazer a diferença.

Porque temos de fazer como se a história não nos ensinasse nada? Porque temos de fazer as mesmas asneiras uma e outra vez? Não temos...

Agora sabemos mais... Temos de reduzir a desigualdade. E a riqueza tem de ser melhor distribuída  Em todo o mundo isso é preciso, mas nós até somos dos piores casos e onde podemos fazer mais diferença é onde estamos. 

E as pessoas... Precisam de se lembrar que a violência só piora tudo. Há mais maneiras de exigir também.

Suporte bibliográfico e leituras aconselhadas:

No BMJ; desigualdades guerra e pobreza: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1122240/
Inequality.org - http://inequality.org/
Estudos empíricos recentes contrariam a noção de que a desigualdade leva a crescimento económico: http://www.jstor.org/discover/10.2307/2565487?uid=3738880&uid=2&uid=4&sid=21101273781791
No longo termo não há perda de eficiência com diminuição da desigualdade IMF; http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2011/09/berg.htm

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Os menos humanos.

Já se sabe que os ateus são de menos confiança, (mesmo ao nível de violadores), aos olhos dos religiosos. Não que haja qualquer correlação entre ateísmo e criminalidade (*), ou ateísmo,e outros comportamentos anti-sociais...

Mas pelos vistos os ateus são também menos humanos... E isso talvez seja a origem do problema acima, já que põe em causa a dignidade e humanidade de quem não segue os seus preceitos:

«A razão mais sublime da dignidade humana consiste na sua vocação à comunhão com Deus. […] O homem é, por natureza e vocação, um ser religioso. Vindo de Deus e caminhando para Deus, o homem não vive uma vida plenamente humana senão na medida em que livremente viver a sua relação com Deus.»  
- Catecismo da Igreja Católica (1)

Isto é o que andam a ensinar a crianças demasiado novas saber melhor, e que mais tarde tenderão a não olhar tão criticamente para estes ensinamentos. Talvez até seja uma das origens de tanta desconfiança face aos ateus. Mas há mais:


«Para se reencontrar a si mesmo e reassumir a própria identidade verdadeiramente, para viver à altura do próprio ser, o homem deve voltar a reconhecer-se criatura, dependente de Deus. Ao reconhecimento desta dependência — que no fundo é a descoberta jubilosa de ser filho de Deus — está ligada a possibilidade de uma vida deveras livre e plena.»
- Bento XVI (2) 



Eu acho que isto é caso para dizer que as noticias da nossa diminuição existencial foram largamente sobrestimadas.

Os ateus e agnósticos são pessoas que têm dado muito a este mundo, de facto quase tudo o que sabemos, ao olhar para trás para a história,  mais tarde ou mais cedo passa pelo cérebro de um deles: 

Francis Krick (DNA), Svante Arrhenius (efeito de estufa), Albert Einstein (teoria atómica, teoria da relatividade, mecanica quantica), Darwin (teoria da evolução), Paul Dirac (mecânica quantica), Thomas Edison (inumeras aplicações tecnológicas), Paul Erdos (mais prolifico matemático de sempre), Richard Feyman (interpretação da mecanica quântica), Sigmund Freud (psicologia), Linus Pauling (mecância quântica), Edwin Shrodinger (mecanica quântica), Steven Weinberg (unificação de força fraca com electromagnetismo), Alan Turing (inventor do computador), Tim Berners Lee (inventor da internet), etc.

Bill Gates e Warren Buffet são ateus e são dos humanos que mais caridade fazem no mundo

Talvez a verdade seja que esta estórinha do "não crês em Deus, és menos humano", seja é uma grande treta. Ok, "talvez" não. É uma grande treta. São firmações demasiado graves (de caracter)   e pomposas para tão pouca justificação. Estava na altura de acabar com isso, não? 



Via Que Treta

(*) Eu tenho consciência que elevada religiosidade (praticante) está correlacionada com menos crime, mas a descrença pura e simples não está relacionada com criminalidade
1 - Catecismo da Igreja Católica, Primeira Parte.
2- Mensagem do papa bento XVI aos participantes no XXXIII meeting para a amizade entre os povos.



terça-feira, 2 de outubro de 2012

Já há 400000 mil mortes por ano devido às alterações climáticas.

Os 20 países mais vulneráveis às alterações climáticas, produziram, com o apoio das Nações Unidas, um relatório sobre o impacto atual do problema. Este relatório resulta da análise de dados cientificos e é elaborado por um painel variado de especialistas.

Chama-se " Climate Vulnerability Monitor: A Guide to the Cold Calculus of a Hot Planet"

Pontos a salientar:

- Já morrem cerca de 400000 pessoas devido às alterações climáticas por ano.
- Os custos são já de 1,2 triliões de dollares (triliões americanos ou seja 10e12) ou seja 1,6% do produto interno bruto do mundo.
- Os paises mais afectados são os que estão em  vias desenvolvimento onde danos na produção agricola resultam em fome e mortes.
- A poluição do ar pelos combustíveis fósseis causa 4,5 milhões de mortos por ano.

O maior ponto a salientar é que isto são problemas já verificados, não uma previsão para o futuro (embora j
á tenham sido apenas previsões)



Via "The Guardian"

Abaixo estão ligações que podem ser uteis sobre o assunto assim como a noticia do Guardian onde se fala deste estudo. Lá há mais hiperligações.

Quantificada a a ligação com fenómenos climáticos extremos:

http://www.guardian.co.uk/environment/2012/aug/07/nasa-scientist-high-temperatures-climate-change

Custos nos oceanos:
http://www.guardian.co.uk/environment/datablog/2012/mar/26/climate-change-oceans

Estudo da Darpa:

http://www.guardian.co.uk/environment/2012/sep/26/climate-change-damaging-global-economy?newsfeed=true