Medicinas Alternativas

Medicinas Alternativas e complementares


O problema do doente é haver demasiada escolha e demasiada gente a dizer o que decidir.
Existem actualmente várias práticas com objectivos terapêuticos que se apresentam no mercado como sendo a solução certa para o tratamento e cura dos mais diversos quadros clínicos. Claro que a última palavra sobre a realidade de tantas afirmações diferentes cabe à natureza.
Experimentar e ver o que acontece é como perguntar directamente ao corpo o que é verdade e o que não é. Mas devido à complexidade do organismo, uma relação de causalidade, ao contrário do que o senso comum pode indicar, é difícil de estabelecer. Relatos individuais, mesmo bem documentados, não têm qualquer valor preditivo. Porquê? Por várias razões; por exemplo, a patologia em questão pode ter seguido apenas o seu curso normal e uma eventual melhoria ser erradamente atribuída a um determinado remédio. Isto porque uma boa parte das doenças são, felizmente, auto-limitantes, isto é, passam sozinhas. Ou imaginemos, pelo contrário, que o doente até piorou. Podia ser simplesmente alérgico ao remédio, um caso individual, e afastar do mercado um princípio activo promissor. Não só os efeitos secundários como a resposta terapêutica têm uma variação individual que requer atenção. Não é sempre tudo ou nada. E depois, temos sempre de ter em conta o efeito placebo.
Com o placebo é feita a tentativa de imitar o acto terapêutico em tudo. Em tudo, excepto no factor que queremos saber se faz diferença ou não. Por exemplo, comprimidos só feitos de excipiente. Chama-se estudo cego se o paciente não sabe que o que está a tomar é só placebo e duplamente cego, se nem o terapeuta sabe se o que está a dar ao doente tem princípio activo ou não. Resumindo, este tipo de estudos requer uma amostra estatística elevada, ou seja, muita gente, controle com placebo, e claro, documentação rigorosa de tudo. É por isso dispendioso e demorado, já para não dizer que são precisos muitos estudos para avaliar toda uma nova área, por várias razões. É de esperar que alguns estudos se mostrem divergentes nas conclusões, mesmo se não têm falhas de rigor, concepção ou credibilidade. Depois, alguns estudos vão ter mesmo falhas de rigor, concepção e credibilidade (actualmente é feita uma pesquisa aos interesses pessoais dos autores). Passa-se finalmente, por estas razões, aos meta-estudos, que são estudos baseados em outros estudos. Por tudo isto já vemos que fazer perguntas à natureza nesta matéria é complicado. É complicado perguntar e exigente compreender a resposta. Mas está a ser feito.

Entretanto o problema do doente, que consiste em querer o melhor para a sua saúde e não saber como escolher, persiste. Qual a conclusão a que chegam a maior parte dos ensaios (que respeitam as características explicadas acima e publicadas em revistas com "peer-review")? Em que sentido apontam? Pode e deve pesquisar os resultados destes estudos; claro que vai ler algumas afirmações contraditórias, mas a informação vai crescendo de dia para dia e sendo cada vez mais precisa. Mas também se pode queixar que não está acessível aos doentes (artigos que são pagos e restritos a determinadas profissões); que não estão escritos de forma acessível (destinam-se ao meio Médico-Farmacêutico); que demora muito tempo pesquisar (são já uma grande quantidade deles). Por isso o doente (ou potencial doente), não podendo ler todos os artigos, vai ter de ter um olhar crítico sobre tudo o que realmente leu, sejam artigos escritos por uma personalidade famosa no jornal ou de um anónimo na internet. Porque se estiver doente, e tiver de ser tratado, pode ter de tomar uma decisão e ir a algum lado. A minha opinião: pesquisa e sentido crítico.
Existem então alguns pontos fulcrais que vale a pena mencionar. Coloquei sob a forma de 5 perguntas, os aspectos mais pertinentes, que apenas servem para aguçar o espírito crítico, concretamente:
1 – É uma prática regulada?
2 – Necessita da existência de novas entidades para explicar como funciona?
3 – Utiliza conceitos que só existem dentro do seu próprio sistema de teorias?
4 - Baseia a sua afirmação de eficácia em testemunhos individuais ou em testes controlados com amostras estatisticamente validas?
5 – Existem dados sobre o risco que pode representar para si submeter-se à sua prática? O que dizem?
A razão de ser de cada uma destas perguntas:
1 –Existe uma entidade reguladora ou cada um faz como bem entende? Em existindo é um sinal de coerência interna e de segurança. Uma Ordem ou associação do género, regula o que é a boa prática e impede que qualquer pessoa se auto-proclame competente ou especialista nesse ramo. É também uma organização a quem se pode queixar se alguma coisa correr mal.
2 – É a aplicação da Lei da Parcimónia ou Princípio de Occam. As entidades não devem ser multiplicadas para além do necessário. Ou parafraseando, não deve ser preciso usar uma nova entidade ou pressuposto, para o que puder ser explicado sem ele. (exemplo de entidades: as células, Ki; miasmas, etc.)
3 – É uma variante da aplicação do princípio anterior. Mas agora estou a referir-me à explicação de como funciona, ao mecanismo proposto de actuação no organismo e da explicação de como o organismo funciona. Não me estou a referir tanto a entidades mas sim a leis ou princípios de funcionamento. A maior parte das medicinas (se não mesmo todas) propõe uma explicação para o seu modo de funcionamento. Que integração é possível fazer dessas teorias específicas num quadro mais abrangente? É possível encaixa-la num “puzzle” racional de tudo o que se conhece, ou por outro lado pressupõe mecanismos só existentes nessa teoria específica ? (Exemplos: Memória da água; energias inteligentes, ciclo da ureia)
4 – A razão de ser desta pergunta já foi referida, é incontornável. Mas há mais uma coisa que quero acrescentar. Os ensaios estão a ser feitos antes da declaração de eficácia ou a declaração de eficácia foi feita antes de haver estudos?
5 – Creio que a importância desta questão não precisa explicação. Agora, essa informação existe? É rigorosa e detalhada? Diversas fontes convergem na mesma informação e é fácil constatá-lo? Existem mecanismos de registo e processamento dessa informação (efeitos adversos, complicações) sempre a funcionar?..

Neste momento, parece-me que podemos compreender a vantagem da medicina baseada na ciência. Porque com todos os defeitos que tem e sempre terá (é feita por humanos), é a que tem provas dadas de responder às nossas necessidades.

As medicinas alternativas não têm eficacia demonstrada, o que traduzindo em liguagem corrente quer dizer que não funcionam. Quer dizer que o placebo tem o mesmo valor terapeutico que estas praticas prometem. Mais vale optar pelo que tem mais valor que o placebo.

A única excepçao será a fitoterapia porque propôem tantas ervas diferentes que alguma algures há de fazer bem a alguma coisa.

Como um argumento frequente que aparece de vez em quando é que "funciona com placebo" convém fazer um pequeno reparo acerca do que é o efeito placebo. É um efeito de percepção muito mais que de evolução fisio-patológica. É efeito da crença - embora as pessoas se sintam melhor, elas não estão realmente melhor naquilo que se pode avaliar por padrões objectivos. Por isso o efeito placebo é algo que tem mais significado em coisas como a dor, a nausea, etc. Porque aquilo que sentimos é o problema em si. Mas a causa desses sintomas mantém-se igual, independentemente do que sente o paciente ou ele acredita.

Em resumo, o efeito placebo não é  um efeito terapêutico.
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Saber mais (existe muito mais sob as etiquetas mas estes são um bom começo):

Efeito placebo : http://cronicadaciencia.blogspot.com/2011/03/o-efeito-placebo-e-geralmente.html

Quiropratica: http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/05/quiropratica.html

Acupunctura: http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/11/acupunctura-uma-abordagem-crtica-para.html

Homeopatia: http://cronicadaciencia.blogspot.com/2011/02/homeopatia-conspiracao-das.html

Auto-hemoterapia: http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/09/sobre-auto-hemoterapia.html

Porque precisamos de testes duplamente cegos com controle para efeito placebo: http://cronicadaciencia.blogspot.com/2011/01/porque-precisamos-de-testes-duplamente.html

Para saber mais sobrea lâmina de Occam:                                                                 http://cronicadaciencia.blogspot.com/search/label/simplicidade

Sobre evidência anedótica (evidencia que não vale mais que a sua mera menção): http://cronicadaciencia.blogspot.com/search/label/evid%C3%AAncia%20aned%C3%B3tica e
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/01/evidencia-anedotica.html

Porque precisamos de ter plausibilidade cientifica para compreender o resultado de um estudo e porque é queafirmações extraordinárias requerem provas extraordinarias : http://cronicadaciencia.blogspot.com/2011/01/se-prever-o-futuro-nao-e-possivel-como.html


Quadro sobre medicinas alternativas de acordo com o texto anterior (fazer scroll, está mais para baixo, muito mais para baixo, para ter espaço) :


































































































































































































































































































































Necessita de novas entidades
Para explicar a
Sua actuação.
Utiliza conceitos da sua exclusiva criação.
Procura enquadramento na medicina baseada na evidencia.
Efeito placebo.
Tem um mínimo de evidência cientifica

Grau de Risco activo para o paciente
Reiki


Sim, o Ki
O ki, a transferência de energia presencial e à distancia
Não.
Os estudos
Efectuados até agora sugerem que não tenha sequer efeito placebo.
Não. Estudos efectuados sugerem total ineficácia. Representa
Um universo com leis diferentes da do nosso.
Baixo*
Homeopatia

“miasmas”
Sim: Teoria das diluições infinitesimais,
Memoria da agua; toda a base terapêutica
Procura no sentido comercial apenas. Não lhe é possível unificar as suas teorias com as da ciência.
Sim, verificado em alguns ensaios clínicos
Não.
Baixo*: se se restringir à sua própria teoria é apenas agua
Quiropractica

Sim, o conceito de subluxação


Sim: Relação das articulações e coluna com o corpo como forma de explicar a doença. Rejeita a vacinação.
Sim, têm sido feitos esforços para se tornar numa terapia complementar embora esta designação seja do desagrado de muitos Quiropracticos.
Sim, há estudos que relatam melhoras semelhantes ao placebo.
Não, resultados não apontam no sentido de eficácia consistente.

Disputado: por ex: alguns problemas de coluna graves



podem agravar-se sob quiropractica
Acunpunctura
Sim o Qi
Sim, pontos de acunpunctura e teoria não são compatíveis com a fisiologia
Não, apenas casos individuais.
Melhor que placebo em alguns ensaios.
Consenso de eficácia comprovada apenas na analgesia. Mecanismo não esclarecido.
Baixo*
Phytoterapias e Ayurveda
Sim para Ayurveda


A procura de princípios activos em plantas foi o principio da farmacologia convencional
Sim para ayurveda
Sim para ambas
Variável,estudos mostram resultados pouco promissores - Poucas ervas por descobrir e testar.
Variável:

Ervas têm principios activos, é um facto.

Muitas no entanto não fazem nada.
Existente mas variável, tanto na gravidade como na frequencia.

Existem pantas com principios activos fatais em pequenas doses