quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Wikipédia - é fiável e barata, o que se pode pedir mais?


Se eu tivesse de nomear as 7 maravilhas do mundo da actualidade, não tenho duvidas que uma delas seria a Internet. E penso, que dentro da internet, se tivesse de nomear as tais 7 maravilhas outra vez, uma delas seria a wikipédia. 

Isto para ilustrar o meu apreço pela wikipédia e pelo esforço e altruísmo que ela representa.
Há no entanto ainda a crença de que a wikipédia é uma enciclopédia pobre, falsa e imatura.  Não é o caso. Das duas, uma: Ou estão a falar da wikipédia em português ou não sabem o que dizem.  E mesmo a versão portuguesa tem avançado muito nos últimos anos.

Para além da minha experiencia pessoal, em que posso dizer que a maior parte dos artigos que li são bastante satisfatórios, existem revisões profissionais dos artigos que respondem a muitas das críticas à wikipédia.
Um estudo da prestigiada revista de ciência, a "Nature",   publicado em 2005 que colocou especialistas a avaliar os artigos da sua área de conhecimentos, concluiu que a qualidade da Wikipédia era equivalente à da famosa Enciclopédia Britannica. (1)

Um trabalho apresentado põr membros do MIT e da IBM conclui acerca da possibilidade de vandalismo ( ou introdução de informação falsa ) que  a wikipédia tem uma “surpreendentemente eficiente capacidade de auto-regeneração” (2)

Uma abordagem menos científica do “The Guardian” em que se pede escritores e editores de livros e revistas de cultura popular para criticarem as entradas de alguns temas específicos relacionados. Aparece apenas um chumbo pela editora da revista “Vogue” que diz que o artigo da wikipédia sobre a alta costura vale zero. Não sei se isto diz mais sobre a Vogue do que sobre a Wikipédia… (3)

De resto, quando decidi escrever este post, já sabia da existência dos dois primeiros artigos. Mas fui à Wikipédia e encontrei entradas sobre o assunto onde são referenciados estes estudos e muito mais. E são listadas as críticas todas, para quem não souber como há de dizer mal e se quiser poder também usar a Wikipédia às escondidas.

Erros há até na Britânica. Porque como se diz, errar é humano e aquilo é feito por pessoas. Mas a quantidade enorme de pessoas que tem a controlar o trabalho umas das outras resulta num jogo de forças em que ganha aquilo que pode ser mais bem fundamentado. Resulta assim num texto nem sempre bonito mas quase sempre correcto. Eu defendo e aprovo. E como cereja no topo do bolo é à borla!



terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma boa ideia... Deixar de fumar.

Existem tantas maneira de deixar de fumar como de fazer bacalhau. Mas é preciso antes de mais nada querer. É preciso querer viver mais do que querer fumar. E depois aguentar a privação. O primeiro minuto é terrivel. Vai melhorando. Ao fim de 6 meses custa muito menos. Porque é imporante?

Para além de "pequenas" coisas como melhor oxigenação dos tecidos, redução da tensão arterial, melhor capacidade de combater infecções, melhor capacidade de cicatrização, note-se:

Comparado com quem não deixa de fumar, o...

Risco de AVC (acidente vascular cerebral) é reduzido para o mesmo de um não fumador ao fim de 5 a 15 anos.

Cancro na boca, garganta e esofago têm o risco reduzido para metade ao fim de 5 anos.

Risco de doença coronária é reduzido a metade logo após 1 ano. Demora no entanto mais 15 anos a ficar no nível de um não fumador.

Risco de morte por doença pulmonar obstrutiva crónica é reduzido quando se deixa de fumar.

Morte por cancro do pulmão reduz-se a metade ao fim de 10 anos.

Risco de úlceras, diminui após deixar de fumar.

Fumar é uma das causas preveníveis de morte mais significante nos países desenvolvidos. O tabaco é uma causa evitável de sofrimento para os próprios fumadores, mas não só. Também é sofrimento para familiares, amigos que vêem perder entes queridos para este vício e mesmo para toda a sociedade (já que os gastos em saúde e faltas ao trabalho saiem do bolso de todos).

Referência:

http://www.cdc.gov/tobacco/data_statistics/sgr/2004/posters/benefits/index.htm

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Discutir

 
É preciso separar a discussão de ideias da discussão de carácter pessoal. A discussão de ideias não deve ser considerada pessoal. Ataques ao carácter e personalidade são uma coisa. Ataques às ideias são outra. Ainda que nós as chamemos carinhosamente "nossas", elas são quase de certeza apenas adoptadas. E mesmo que sejam nossas de raiz, temos de ter cuidado para que sejam elas que são nossas e não nós é que somos delas.

As ideias são blocos com informação que existem no nosso cérebro. O substrato que as sustenta são os nossos neurónios - aí nascem, aí se replicam, transmitem-se de um cérebro a outro e eventualmente aí morrem. As suas formas mais simples são os memes. São o análogo metafísico do gene. E tal como o gene, sofre selecção natural. As melhores ideias, que dão mais resultados, que dão mais sucesso ao seu portador, tendem a persistir mais tempo.

O nosso objectivo - enquanto detentores de ideias  - deveria ser tentar ter as melhores possíveis. Se não podemos mandar os genes para o lixo se não nos satisfazem, o mesmo já não é bem verdade para as ideias. Podemos manda-las para o lixo. Mas o custo para o fazer parece ficar cada vez mais alto conforme vamos ficando mais velhos. Elas vão ficando cada vez mais bem instaladas, começam a criar raízes, têm uma data delas a crescer em cima que precisam do seu suporte, etc. A agilidade inconsciente da infância e adolescência não duram para sempre. Para o bem e para o mal. Mas isto não quer dizer que nos agarremos às nossas ideias como se fossemos nós próprios. Isso é muito bom para as ideias, mas francamente é pior para quem tem a ideia de que quem ataca as nossas ideias nos está a atacar a nós.

A ideia de que cada um de nós deve ser julgado por toda e cada uma das nossas ideias deve ter prosperado precisamente por dizer algo acerca do seu próprio poder de persistência. Mas é um disparate. As ideias devem persistir e prosperar por serem melhores, não por dizerem ao seu detentor: "defende todas as ideias que já estão instaladas como se fosse uma assunto pessoal".

Nós temos muitas ideias. Não somos nenhuma das nossas ideias separadamente. Não deixamos ser quem somos só por mudar uma ideia. Somos muito mais o resultado único da interacção de todas elas entre si. Mas podemos melhorar se as testarmos uma  a uma e as compararmos com as que nos passam por perto. E deitarmos para o lixo as piores em troca de outras melhores.

E uma maneira de o fazer é discutindo. Mas é preciso acabar com a ideia de que atacar as nossas ideias significa um ataque ao nosso carácter. Por muito que uma ideia se tenha apoderado da nossa mente e nós nos identifiquemos com ela, não devemos confundir um critica às ideias com uma critica pessoal, (ainda que construtiva).

Más ideias temos todos. Ridículas mesmo. Não é ter uma ou duas ideias ridículas que faz uma pessoa ridícula. Ninguém está sempre certo o tempo todo.

Dizer "essa ideia é um disparate" não é equivalente a dizer "tu és um disparate". Agressões ao carácter são algo muito mais profundo e dizem respeito à nossa natureza pessoal. Essas criticas devem ser sempre feitas com extrema delicadeza e nunca como quem critica determinada ideia ou coisa. Atacar a pessoa e não a ideia é de resto uma falácia velha mas infelizmente muito em moda. Em latim "ad homini". Dá a sensação de que quem a diz fica por cima. Mas as aparências iludem.

Isto tudo quer dizer que não devemos defender as nossas ideias? Nem um pouco. Quer dizer que podemos defender as nossas ideias frente às duas outros com unhas e dentes e quer dizer também que o devemos fazer como aprendizagem colectiva. Não devemos é considerar os ataques dos outros às nossas ideias como algo pessoal. Também eles têm o direito de atacar as nossas ideias com unhas e dentes.

Naturalmente que o envolvimento emocional não é de todo evitável. De acordo com o neurocientista português António Damásio nem sequer é desejável. Mas discutir com entusiasmo as ideias dos outros, ou os outros as nossas, não significa uma ataque às nossas ideias e vice versa. Essa confusão tem de acabar. Porque discutir ideias, repito, é uma maneira incontornavel de encontrar erros e aprender. E é imprescindível para quase todas as actividades humanas, porque bem feita, permite por vários cérebros a pensar como uma unidade.

A tendência para nos deixarmos dominar por cada ideia que temos e a defender como se se tratasse de nós próprios tem acabar. E repitotambem que não é para se deixar de discutir com vigor e entusiasmo. Mas para precisamente para se poder discutir com vigor e entusiasmo sem sair tudo ofendido para seu lado.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O singular caso do Aloe vera

O Aloe vera é talvez o mais popular de todos os nomes da fitoterapia e medicinas naturais. Desde yogurtes a cremes de beleza, tratamento de queimaduras e cancro, ele está em todo o lado. E é das coisas que me é recomendada mais vezes pelos meus clientes, o que torna o assunto pessoal.

No entanto, não aparece assim tanto em medicamentos farmacológicos (dos que são subtidos a estudos de eficacia e toxicidade) ou em textos de medicina verdadeira.

Faltam de facto estudos cegos, randomisados e com placebo, para se poder aferir com rigor a eficacia do Aloe vera para as indicaçoes em que e vulgarmente referenciado. Ha sempre qualquer coisa que falta, ou não são randomizados ou não têm controle, etc. Esta não é só uma opinião minha, é a conclusão a que chegam os artigos de revisão que li no pubmed.

Uma pesquisa pelo pubmed, levou-me a crer que existem estudos suficientes para justificar aumentar a investigaçao do assunto. Ao contrario de muita outra coisa que para ai ha, existem de facto indicios fortes de que o Aloe vera possa ser fonte de principios activos funcionais e pouco toxicos.

Toxicidade existe e o unico estudo sistematico que encontrei foi realizado pela industria dos cosmeticos e apontava para doses letais 50 (DL50) dos extratos entre as 50 e 200mg/kg conforme a via, o que me parece um bocado alto. A dose letal 50 é a dose que é suficiente para matar 50% de uma população de estudo. Na pratica, no entanto, deve ser dificil atingir estas doses em pessoas, porque o numero de relatos de problemas relacionados com o Aloe vera é muito baixo embora inclua casos de extrema gravidade.

É dificil aconselhar o uso de algo que ainda não é bem conhecido. Aqui não tenho mesmo é dificuldade em dizer que vale a pena investigar mais.

Mas o que torna mesmo singular este caso é os artigos a sugerir eficacia virem do oriente, de onde veio até agora muito pouca evolução na medicina. Gostaria antes de mais nada de ver esses resultados de laboratório replicados no ocidente - ainda antes de passar a estudos de campo e ensaios clinicos. Não é discriminação, a reprodução de resultados é parte importante da ciencia e é igual para todos. Mas se quando vem de sitios que produziram muito poucos avanços cientificos é natural que seja ainda mais pertinente. Se é estranho... É um pouco. Talvez esteja enganado, na realidade não fiz uma abordagem sistemática à origem geografica mas... Não creio. E penso que há demasiados resultados promissores para ser apenas erro ou fraude.
Mas  pensar e achar não vale nada. Fazem mesmo falta é estudos cientificos .

Update: Um estudo do NTP - National Toxicology Program (USA), mostrou haver efeitos cancerisnos por via oral: http://www.newscientist.com/article/dn20365-aloe-vera-extract-gave-rats-tumours.html

Notas, referencias e ligações:

 Efeito nulo do Aloe Vera no ritmo cardiaco e pressão sanguinea:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21048211

Potencial photocarcinogenico aumenta com aplicação topica de produtos com Aloe Vera

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21031007

Previne o aparecimento de papilomas causados por um químico o DMBA:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20932247

Tratamento do liquen plano oral:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20923446

Propriedades

Eficacia contra coccidiose:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20723543

Para prisão de ventre:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20723249

Causador de Hepatite Toxica:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20191055

Produção de dentina:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20088703

Review dos artigos (promissor mas faltam estudos):

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19218914

Review (promissor mas faltam estudos):

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10885091

DL50 para Ratos e Ratinhos, referencia de uso em cosmética:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17613130


Eficácia do Aloe vera em queimaduras:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17499928

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ervas prejudiciais na gravidez.

É errado considerar que um produto só porque tem origem directa das plantas e "é natural", é inofensivo. Algumas plantas possuem moléculas com capacidade de modificar processos metabolicos existentes. Para o bem e para o mal isto são princípios activos. Podem de facto ter efeitos benéficos, mas também podem ter efeitos prejudiciais. Ou os dois. Ou ser dependente da dose.

Um estudo efectuado em Itália pela Universidade de Verona mostrou que quase um terço das grávidas (109 em 392 mulheres) usaram destes  medicamentos considerados "naturais" por considerarem que são mais seguros que os de medicina cientifica convencional, tendo sido quase sempre uma decisão individual - não médica.


Entre os mais frequentemente aplicados pelas grávidas encontravam-se, entre outros, os preparados de aloe vera, propolis, valeriana, camomila, oleo de amêndoas e... cranberries.

As mulheres que usaram destes produtos, tiveram mais problemas relacionados com a gravidez e bebés com menor peso.

Se a decisão de tomar princípios activos deveria ser sempre acompanhada por quem sabe pesar as vantagens e desvantagens associadas a determinadas moléculas - porque o que faz alguma coisa são moléculas, nada de forças mágicas que andem aí aos pulos - isto ainda é mais importante na gravidez devido à fragilidade do ser humano em desenvolvimento. Particularmente crítico costuma ser o primeiro trimestre.

Quer tenham origem em plantas ou fungos, ou sejam já derivados de síntese produzidos em laboratório, o problema é o mesmo.

É importante conhecer bem as moléculas, o que elas fazem e que problemas podem criar. Que doses devem ser utilizadas e que interacções podem ter.  Quando nem a eficácia está muitas vezes comprovada ao menos deveriam ser exigentes em relação ao estudo dos efeitos adversos.



Aqui:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20872924

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O livre arbitrio e a religião católica (já que não sei o que dizem as outras).

Ja vimos que a definição de omnipotente não pode ser realmente omniponte. À priori isso é impossivel. Pois teria o ser omnipotente de ser capaz de fazer algo que ele próprio não seja capaz de fazer. Por isso a definição de omnipotencia tem de ser algo como "quase omnipotencia".

E à posteriori, na pratica? Como pode ser minimamente omnipotente e omnisciente e não ter efeitos no mundo fisico? Só se for a sua vontade que não seja detectado. Só se for a sua omnipotencia que é capaz de fazer que tudo seja como se deus não existisse.

Então se deus não quer ser encontrado como é que a religião diz tanto sobre ele?  Só há duas respostas. Ou existem pessoas (umas e não outras) que deus escolhe para transmitir a sua mensagem ou a religião inventa.

Mas não dando deus a essas pessoas nenhuma ferramenta que permita darem a certeza às outras de que contactam com deus como é que é suposto escolhermos em quem acreditar?

Deus portanto espera que a nossa liberdade seja baseada no palpite? Eu acho que isso é contra o livre arbitrio. Se não temos informação para fazer uma boa escolha então vamos ver a nossa liberdade diminuida. Por falta de informação. Que deus decidiu não dar igual a todos. Isso não so não é justo como não faz sentido com o livre arbitrio que é suposto ser a razão pela qual nos acontecem acidentes.

Portanto a razão pela qual há coisas que limitam a nossa liberdade é para não nos limitar a liberdade? Isso não faz sentido. Liberdade é poder escolher a melhor opção de acordo com as nossas preferencias. Liberdade não são escolhas cegas.

E é isso que se pede. É que faça-mos a escolha cega de acreditar. Sem razão nenhuma para além de que " a ciência não explica tudo". Que neste contexto é o mesmo que dizer: "porque eu vejo a luz e tu não".

Mas isso é como todas as outras crenças. É apenas um apelo à credulidade. As medicinas alternativas,  o espiritismo, a magia negra, etc. Essas coisas que só funcionam em quem acredita que o que está a acontecer é devido a elas e não ao funcionamento banal do universo.

O que não está na fisica e só está na metafisica é por definição  fantasia.

Não é radical dizer que não acredito no que não se distingue de qualquer outra fantasia. Não é radical dizer que isso é um engano. É bastante plausivel. E é importante escrever sobre isso enquanto a verdade for importante e tivermos vontade de conhecer o universo que nos rodeia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Deus, o mapa e o território.

O Prof. Alfredo Dinis continua a sua série de textos dedicados ao ateísmo moderno -  a que chama de radical apenas porque é tão afirmativo acerca da inexistência de Deus do mesmo modo que ele próprio é acerca da existência. Eu acho isso um exagero inconsistente.


Não percebo esta argumentação:

Não é radical defender a existência de uma entidade para a qual não há ponta de evidencia e ainda divulgar leis morais derivadas dela. Mas responder que isso é um apelo à credulidade sem sentido racional nenhum já é.

E dizer que a ciência não pode - como que por decreto - estudar a existência de Deus pelos vistos também não é radical. A ciência estuda a realidade, seja ela como for, e se Deus é real então está no âmbito da ciência. Só se não existir é que não pode estudar. Claro que há coisas que não conseguimos medir ou testar, umas  porque envolvem muitas medições, outras porque são poucas mas praticamente impossíveis - como o que pensava Afonso Henriques sobre a sua mãe - mas nenhuma destas impossibilidades é essencialmente algo que transfira para o palpite ou a metafisica o que são dados científicos ainda que inacessíveis. Eu também não sei o que está a 5 metros debaixo do chão agora que escrevo isto, mas isso não deixa de ser, como as questões anteriores, um problema muito mais circunstancial e dependente do processo do que da natureza das coisas em si. Ainda não podemos ler pensamentos e não sei se vai um dia ser possível, mas tudo indica para que não haja nada que impeça a explicação de como se formam esses pensamentos.

A ciência não explica o que não existe. Explica o que existe de acordo com o que se pode saber. E cientificamente, em rigor, se nada há a que se possa atribuir a uma determinada entidade, então essa hipótese é descartada. É a hipótese nula. É a lamina de Occam. Começou por ser filosofia e Aristóteles colocou assim a questão: "As entidades não devem ser replicadas para além do necessário".


Mas Deus existe. Os crentes sabem e sentem. Deus é amor. Deus é metafisico. Deus pertence a outro nível, pertence ao mundo das ideias. Certo. É um facto.

Como uma poesia sobre o por-do-sol, Deus é algo que... Não é inerente à realidade. É inerente a quem vê esse por-do-sol e descreve uma mistura do que vê e do que o que esse por-do-sol faz sentir. Mas o que sente pertence a si. Não à realidade exterior. É realidade enquanto sentimento. E isso é tudo o que nós podemos saber de Deus. É que algumas pessoas o sentem em si. O amam. O vêem em todo o lado.

Mas tal como o por-do-sol é representado por um conjunto de padrões neuronais capazes de desencadear várias reacções no organismo, idem para o conceito de Deus. Deus é algo intrínseco ao ser humano.  É interior. E nesse aspecto é real. Tão real como a cabeça. Apenas é mapa e não território. Tal como a sensação que o por-do-sol desencadeia no cérebro é um mapa de sensações e padrões, Deus também é mapa. Não está na realidade.

E a melhor ferramenta que a humanidade criou para descrever a realidade foi a ciência. É de tal modo boa que os crentes já nem querem argumentar que Deus esta nas coisas que a ciência não descreve ainda (embora estejam sempre a resvalar para lá). Insistem que Deus esta nestas mesmas coisas que a ciência descreve sem precisar de recorrer a deuses. Insistem que sabem que Deus esta lá apesar de os melhores esforços racionais mostrarem precisamente que não esta. E dizem que esta "metafisicamente"... Pois está. Está lá para quem o vê lá. Mas é propriedade de quem vê e sente e não da realidade. Essa continua indiferente à crença. E é por isso que sabemos que Deus é apenas mapa e não território. É porque a ciência mostra como tudo se passa como se Deus não existisse. E como é bem mais fácil de compreender se o considerarmos algo na mente.

Se algo não é distinguível de um fantasia é porque provavelmente é uma fantasia. Para todos os efeitos (distintos da crença), Deus não existe. Tal como um medicamento que apenas tem efeito placebo - que é efeito da crença -se conclui que não funciona, se acerca de Deus tudo o que sobra é efeito da crença, então é porque é efeito da crença. Não que há um Deus para justificar a crença. Porque crenças há muitas. E é precisamente a ciência que tem sido melhor capaz de distinguir as que correpondem à realidade e quais estão apenas na mente.

O Prof. Alfredo Dinis cita a N.A.S. para defender a sua ideia de que a ciencia não pode dizer nada acerca de deus. É uma asneira. É uma afirmação politica. Foi originada não pelo conhecimento cientifico mas por uma escolha de se querer inserir e ser aceite na sociedade crente da America.  Porque a verdade é que sabemos que a maioria dos seus membrossão ateus.

A verdade é que não falta nada para mostrar que deus não existe. A unica maneira é aceitar o palpite como sendo uma forma de conhecimento. E dizer que o mapa e a realidade são uma e a mesma coisa. Mas nem tudo o que vem à mente correspode ao que se passa na realidade ca fora. E para isso a ciencia é a melhor aposta. E a ciencia descreve outras entidades e processos que não um omnipotente, omnipresente, omniscienciente, bom e justo! Quem diz que tal coisa existe é que devia avançar com provas. E bem solidas. Andar para aí a dizer que isto e aquilo é verdade é facil. Mostrar que é mesmo verdade é que é dificil. E no entanto o radical sou eu.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Percepção dos consensos científicos.

Um tema recorrente neste blogue tem sido a aceitação pelo público em geral dos resultados científicos. Tenho exposto várias vezes a minha posição acerca da importância dos consensos científicos na divulgação e na pedagogia e defendido a sua importância real - representam  provavelmente a melhor teoria para a informação que há disponível.

Os consensos científicos têm importância dentro da progressão do conhecimento científico pois permitem a formação de paradigmas de pesquisa, mas o facto de um cientista argumentar fora do consenso não é um argumento contra ele próprio. Na realidade é isso que permite avançar a ciência, é a abertura à refutação de toda e qualquer teoria. Mas essa refutação tem de ser bem feita. Não é apenas negar e "dizer mal".

Quando uma pessoa vulgar (no sentido de ser leigo em determinada matéria), permite que a sua opinião ou intuição se sobreponha àquilo que os especialistas de uma área dizem, algo está errado. E normalmente não o fazem por saber argumentar a nível científico a sua posição. Preferem para isso escolher um cientista que defenda aquilo em que acreditam (e há muitas vezes um cientista algures a defender aquilo que acreditam, é só fazer um "cherry-picking") e acusar os outros cientistas (neste caso a maioria) de coisas que a ciência se mostrou a melhor forma de combater. Como fraude, dogmatismo, perspectiva cultural, interesses económicos e pessoais, etc. Não que não existam; fazem parte da natureza humana e a ciência é feita por homens e mulheres. Apenas que a metodologia sistemática da ciência tem uma série de mecanismos que minimizam precisamente estes problemas, tendo dado resultados muito além de qualquer outra abordagem conhecida.

Outra acusação é o apelo à ignorância de que "a ciência não explica tudo", algo que até já vi professores universitários escreverem para arranjar um buraco onde enfiar as suas crenças.

É importante  reparar  na uniformidade que apesar de tudo existe na ciência. Enquanto que a opinião pública é extremamente heterogénea nas suas crenças, em ciência, por comparação, emergem verdadeiros consensos entre os especialistas. Num meio onde a evidência experimental e a  matemática são a autoridade, isto acontece. Alguma coisa deve querer dizer, não?

No entanto o público continua a deixar as suas ideias anteriores ou perspectivas culturais afectarem de modo definitivo a opinião que fazem do que significa um consenso científico, achando que o que pensam pode ultrapassar o que o conhecimento acumulado de especialistas diz.

Um estudo recente estuda a hipótese da relação dessa parcialidade estar ligada ao risco que as ideias cientificas representam para as ideias da sua visão cultural. (luta de memes?) Os resultados são em linha com o esperado e deram origem a este post. É em função da dissonância com os seus valores e conceitos anteriores que uma teoria cientifica é julgada por um leigo. Isto está francamente errado.

Argumentar contra uma teoria científica não pode ser feito porque não gostamos dela. Isso dá de facto origens a "teorias da conspiração", falácias variadas e acusações de fraude implausíveis e não a argumentos científicos que requerem muitas vezes ser-se um verdadeiro especialista da matéria. Se não sabemos argumentar consistentemente se calhar é porque não sabemos o suficiente para ter uma opinião tão forte... Digo eu.

Não penso que as pessoas devam ser levadas a aceitar acriticamente seja o que for, mesmo se tiver o rótulo de ciência. Mas penso que se deve afirmar que a verdadeira abertura de espírito é aceitar a realidade como ela é. Aceitar as evidências pela sua importância real e não pelo que elas representam para determinadas culturas. E discutir abertamente os problemas tentando não deixar as nossas convicções pessoais toldarem- nos o raciocínio.

Pode ser tentador acreditar num mundo em que temos poderes curativos tipo Reiki, ou que podemos por vértebras no sitio carregando com os dedos ou espetando agulhas. Ou até, que se pode largar CO2 à vontade - que isso do aquecimento antropogénico é mania dos ambientalistas. Mas estas coisas têm evidência científica forte de que estão erradas. E a discussão não pode ser reduzida a chavões típicos de quem não tem melhores argumentos, como "a ciência não explica tudo logo tal e tal deve ser verdade" ou "isso é verdade porque a minha intuição mo diz" ou até "isso não pode ser verdade, já viste o problema que era?". Tudo raciocínios falaciosos. A discussão deve ser guiada para saber qual é a melhor explicação possível. E essa é em regra a da ciência. Diria mesmo que quando a explicação científica não é a melhor é porque não há maneira de saber mais, e apesar de poder estar errada não há razão para escolher à sorte outra. Porque na maioria das vezes isso é a aposta errada.

Ter verdadeiramente a mente aberta é ser capaz de aceitar as evidências. Não é aceitar toda a casta de tretas excepto aquelas que não dizem o que nós queremos.

Via Neurologica, do Steven Novella,

o artigo referido é este:

http://www.informaworld.com/smpp/content~db=all?content=10.1080/13669877.2010.511246

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Acupunctura é placebo, o que conta é a crença no tratamento.

Já foi publicado em Abril deste ano mas mais vale tarde do que nunca. Um estudo na "Arthritis Care & Research" que põe a acupunctura em contraste com a "sham" (falsa - agulhas espantalho, pontos à sorte) acupunctura, além de um grupo a que não se fez nada, conclui que a falsa e a verdadeira têm o mesmo efeito.

Isto é o padrão cientifico para dizer que um tratamento não funciona. Quer dizer que o efeito terapêutico deve ser atribuído a outras causas que não sejam o objecto de estudo. Neste caso, como ambas as acupuncturas tiveram o mesmo efeito, mas foram superiores a não fazer nada, concluímos inequivocamente que estamos perante o efeito placebo. Mas esse efeito, é um efeito da crença e não do medicamento. Está presente em qualquer medicamento a que se consiga ligar a confiança do paciente.

E numa abordagem muito interessante, neste estudo ainda se decidiu testar essa variável, tentando isola-la da seguinte forma: Dentro dos grupos sujeitos a acupunctura, separaram-se três subgrupos a quem foram dadas expectativas diferentes. Um a que não era dado uma grande confiança no tratamento, outro que era dada confiança ligeira e outro a que se dizia que se esperavam grandes melhoras. Os resultados foram os esperados. O grupo com as melhores expectativas e mais confiante relatou melhores resultados. E o segundo mais confiante em segundo lugar O que confirma que a variável em causa na acupunctura é o efeito placebo.

Este estudo tem uma dupla conclusão. Uma é de que a acupunctura isolada não é um tratamento real. É treta. A outra é de que devemos ter todo o cuidado em conseguir investir o paciente de confiança. Como eu sou alérgico à treta, proponho que não devamos mentir ao paciente. Nem para seu bem. Mas como o efeito do placebo pode estar associado também aos medicamentos que têm de facto eficácia por si só, e a meios comprovados cientificamente, eu penso que se deve ter atenção a coisas que tradicionalmente o meio médico negligência. Todo o aparato à volta conta.

Este estudo, a par com outros que se vão acumulando, mostra que os sistemas de saúde devem ter uma recepção cuidadosa dos pacientes e os médicos e enfermeiros preparados para fazer um certo "counching". Sem querer por a responsabilidade especificamente em cima de ninguém, atrevo-me a dizer que isto até podia revestir de uma nova importância à profissão dos enfermeiros. Uma que eles sempre tiveram, mas que agora tem justificação cientifica e podia ser cientificamente estudada. De modo a proporcionar serviços de saúde exemplares.

Para terminar queria acrescentar duas coisas:

Este estudo foi sobre a dor. Era uma área onde a acupunctura ainda tinha alguma credibilidade. Não se sabia porquê mas havia resultados. Agora com a técnica que permite fazer uma acupunctura a fingir, resultando na eliminação de variáveis inespecificas (placebos), podemos ver o que esta realmente a funcionar. Não é a acupunctura. É o pensamento positivo (e no caso de alguns acupunctores o Ben-u-ron, pelo sim, pelo não).

Outra é que neste teste foi usada electro-estimulação nervosa que se sabe ja há muito tempo reduzir a percepção da dor. Isto é, ligaram as agulhas à electricidade. Não devia ter sido confundido com acupunctura tradicional chinesa, embora isso aconteça com frequência, pois é um meio de aumentar a resposta terapêutica face a grupos em que não se faz nada e tem eficácia comprovada ja ha muito tempo. Neste estudo a acupunctura falsa recebeu intensidades menores de corrente (segundo o S. Novella, pois no abstract não diz nada!) e não houve diferença. Podiam no entanto ter evitado mais esta variavel no estudo. No entanto o estudo foi desenhado para estudar o papel do efeito placebo na acupunctura e isso acho que faz eficazmente uma vez que sabemos que a electro-estimulação não reduz qualquer tratamento que existisse na acupunctura mas sim pelo contrário.

Notas:

Via "Neurologica" do Steven Novella - http://theness.com/neurologicablog/?p=2233
Ligação para o abstract:
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/acr.20225/abstract

domingo, 3 de outubro de 2010

Protectores de cartilagem são apenas placebos.

Por mais gliscosamina ou condroitina que nós  tomemos isso não vai fortalecer/regenerar mais as nossas cartilagens.

Tal como esperado, um meta estudo recente mostra que a importância destes populares tratamentos não vale mais que o valor placebo associado. O estudo vem da medicina humana, mas a popularidade destas moléculas em medicina veterinária é igualmente elevada.  E creio que as conclusões devem ser extensíveis. Não há assim tanta diferença no metabolismo entre nós e os cães.

Estas moléculas são os tijolos de construção do tecido cartilaginoso.  Mas não é por dar mais que aquilo vai dar origem a tecidos cartilagineos funcionais. De facto a maioria das substancias essenciais que nós ingerimos tem uma valor máximo que é benéfico, e que a partir do qual não há vantagens. Isso é verdade por exemplo para minerais e vitaminas que continuam igualmente a ser  "marketizadas" em cocktails para "aumentar as defesas", "fortalecer o  sistema imunitário" , etc.

A regeneração dos tecidos é um processo complexo que requer mais (muito mais)  que matéria prima para ser bem sucedido. A arquitectura normal dos tecidos não nasce de um excesso de matéria prima.  Ingerir condroitina e glicosamino glicanos é um pouco  como comer cérebros para se ficar mais inteligente.
                                                                                                              
Penso que a conclusão é  clara. Para ja não faz sentido investir nestas moleculas para tratamentos quase sempre cronicos. Devemos evitar gastar dinheiro em inutilidades e aplica-lo onde faz mesmo diferença. Por muito inofensivas que sejam estas moléculas. Que são.

Via "Neurologica" do Steven Novella: http://theness.com/neurologicablog/?p=2324


quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Espectáculo da Vida - A Prova da Evolução, de Richard Dawkins

Richard Dawkins volta ao seu melhor com este novo livro sobre a evolução. Desta vez o foco é na evolução enquanto facto e não como processo. A síntese evolutiva moderna explica como se deu a evolução, mas antes de mais a evolução é um facto que como qualquer outro requer explicação. Este livro é uma colecção de evidencias para a evolução enquanto facto. E a explicação dessas evidencias. E nisso é muito bom. Não creio que qualquer pessoa intelectualmente honesta possa dizer que não há evolução depois deste livro. Explicar como isso se deu é que não se encontra aqui.

A prosa de Dawkins para quem não conhece ainda, é despretensiosa e clara. Não usa jargão científico se o puder evitar, mas mantém uma grande simplicidade e clareza nas explicações. A aversão explícita que Dawkins tem pelas citações fora de contexto (de que é alvo frequente), tem provavelmente um papel na tentativa de fazer frases claras e objectivas, onde dificilmente se pode dar um segundo sentido (acidentalmente ou não).

Sobre os conhecimentos do autor acerca do tema não vale a pena puxar pelos galões. Basta ler. Dawkins está como peixe na água a falar da evolução e o entusiasmo com que o faz nota-se. Não só sabe muito sobre o tema como tem um enorme entusiasmo, quase juvenil, em mostrar como sabemos o que sabemos. Aliás, se o título tivesse sido traduzido à letra chamar-se-ia: "O maior espectáculo à face da terra: provas da evolução". Drama, competição, sucesso, beleza, alianças, traições. Tem tudo e Dawkins parece vibrar enquanto fala do assunto.

Como pontos negativos aponto a extensão do livro, mas sinceramente não sei onde cortaria para o encurtar. Só se fosse mesmo na parte de comentários pessoais, que estão salpicados por todo o lado, mas isso sem dúvida empobreceria o livro.

Recomendado a todos os que gostam de natureza e de saber como ela é.

Não é recomendado para quem queira saber como determinado aspecto da evolução é explicado. Para isso deve procurar outros livros, que até podem ser do mesmo autor, como por exemplo "O relojoeiro cego", onde se explica porque sabemos que a evolução não segue um plano (e que as coisas evoluem para altos níveis de complexidade pela importância que têm a cada passo e não por serem passos intermédios com um fim em vista), embora nesse livro seja dado já como facto que a vida evolui.

Penso ainda que é um livro com valor para professores de biologia que queiram fazer uma revisão ou tenham de gerir discussões sobre a evolução nas aulas.

Aqui ao lado, o autor do blogue "Biogeonorte" tem feito uma compilação de citações do "Espectáculo da Vida" que aconselho também:

http://biogeonorte.blogspot.com/

PS: Dawkins apesar de dizer que este livro não é uma critica à religião não se abstém de dar uma ou outra alfinetada. Não é de estranhar, uma vez que a evolução é apenas contrariada por aqueles que consideram que Deus nos disse o contrário.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Criação a partir do nada e radiação de Hawking

Outra das excentricidades da mecânica quântica é a previsão de que a matéria se está sempre a produzir a partir do nada. Pares de partícula e anti-partícula aparecem espontâneamente para logo a seguir colidirem e extinguirem-se de uma vez. No fim, nada se perde, nada se cria, tudo ficou como antes.

Stephen Hawking, fez a previsão teórica de que se isto acontecesse em cima  do horizonte de acontecimentos de um buraco negro, ficando as duas partículas separadas pela linha de fronteira, uma cairia no buraco e a outra poderia escapar-se. Não haveria aniquilação. Um fotão seria emitido - o resultado seria a radiação de Hawking.

Até agora não havia maneira de medir esta radiação, pois criar buracos negros no laboratório não é muito prático. Mas um grupo de cientistas conseguiu criar uma maneira de aprisionar e puxar uma das partículas para  simular a queda para dentro do buraco negro.

O que aconteceu foi que isso criou fotões dentro das frequências previstas pela teoria. Naturalmente que agora que o trabalho foi publicado vai ser analisado a pente fino. Mas em principio deu mais uma prova da capacidade predictiva da mecânica quântica e da possibilidade de criação de matéria a partir de uma flutuação quântica. Apenas da indeterminação nasce matéria.

Os crentes que estão sempre preocupados com a criação a partir do nada que "tem de ser impossível" deviam prestar atenção a estas coisas. É que o aparecimento da matéria não depende da vontade de ninguém. É ao acaso - e de acordo com as probabilidades quânticas. Literalmente nasce da indeterminação.

Via New Scientist:
http://www.newscientist.com/article/dn19508-hawking-radiation-glimpsed-in-artificial-black-hole.html

Sobre a mecanica quantica:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/09/sobre-mecanica-quantica.html

Propriedade emergentes II - programação procedural.

Outro exemplo muito bom para emergência é a programação procedural. Em vez de se conseguirem resultados recorrendo a descrições estáticas como jpegs, mapas de bits, etc, a programação procedural diz antes quais são as regras a seguir para se conseguir determinado efeito. A animação e a música emergem do processo descrito pelo programa em vez de estarem descritas na programação.


Isto é o modo como também na natureza muitos padrões complicados emergem a partir de regras locais mais simples. Por isso, a informação toda para fazer um animal existe em cada célula do embrião e pode descrever uma coisa tão complexa que se fosse feito um plano seria absolutamente gigantesco. Cada célula sabe o que fazer a cada momento em função do que tem à sua volta e isso chega para dar origem ao ser vivo adulto. Em seres vivos simples, algumas dessas regras estão à vista, como por exemplo: "cresce num sentido e depois divide em 2" dando origem a ramificações.

Na programação normal isto é pouco utilizado. É muito mais difícil programar o processo do que dizer: "agora cola este mapa de bits". Mas se se programar o processo, consegue-se fazer emergir de poucas linhas de código coisas absolutamente incríveis. É como se pudéssemos dizer o que queremos sem ter de por tudo no programa. Os objectos e funções só estão no código em principio, pois resultam da execução do programa. É tudo criado em tempo real.

Mas existem programadores, muitas vezes amadores, que se entretêm a ver com 64k (pode ser outro limite mas nas "intros" esta é a dimensão típica) o que é cada um consegue fazer. Existem mesmo concursos.

Por exemplo, este vídeo dos multi-premiados Farbraush designado por "fr-08: .the .product".  é o resultado  no ecrãn da execução de um programa de 64k e foi feito em 2000: (enquanto esta a ver lembre-se que são apenas 64kb! - o velho spectrum tinha 48kb, e uma pen  usb de 1gb são 1000 x 1000kb, para terem uma ideia). Os vídeos são o resultado de programas que não têm sequer a dimensão do ficheiro de texto que poe este post no ecrã:

http://www.youtube.com/watch?v=LkEsP9H2HGM  (não estou a conseguir por aqui os vídeos, por isso vão links)


Uma vencedora do Breakpoint em 2003:

 http://www.youtube.com/watch?v=pq-aLBNwpPQ&feature=related

E esta de 2009 tem nada mais nada menos que 4kb:

 http://www.youtube.com/watch?v=FWmv1ykGzis

E o jogo Kkrieger, um "first person shooter" que apesar de estar cheio de bugs (nunca foi acabado) consegue fazer coisas incríveis com 96kb. Cheguei a experimentá-lo há uns anos num XP 32 bits e funcionava razoavelmente. A pagina da Wikipédia é esta:

 http://en.wikipedia.org/wiki/.kkrieger

Será que já consegui mostrar o poder da programação procedural e ao mesmo tempo ilustrar a emergência de fenómenos na programação?

Por isso é que o nosso genoma é quase igual ao do arroz. A parte mais difícil já estava feita nessa altura. Pequenas alterações a um nível muito baixo dão origem a consequências muito abrangentes e com ramificações. A evolução consegue isto com tentativa e erro, enquanto que os programadores conseguem isto com tentativa e erro, perdão, conhecimento profundo de várias linguagens e do hardware com que estão a trabalhar, para poderem tirar partido da cascata de acontecimentos causada por poucas linhas de código.

PS. os códigos das demos são difíceis de encontrar e como requerem ser feitos à medida do hardware onde correm, tirando até por vezes partido de bugs e efeitos secundários das máquinas, é pouco provável que consiga fazer um código correr sem problemas num computador qualquer. Mas o You Tube está cheio de vídeos dos resultados. Tem demos e intros desde o tempo do Spectrum, altura em que começou a demoscene.


Para saber mais sobre a demoscene:

 http://tomaes.32x.de/text/faq.php

E a pagina dos Farbraush na Wikipédia:

 http://en.wikipedia.org/wiki/Farbrausch

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Propriedades emergentes e a mente.

Ando para escrever este post desde que iniciei este blogue. Mas fui sempre deixando para outra altura, porque queria sempre ler mais sobre o assunto, e havia sempre qualquer outra coisa a desviar-me a atenção. É a diferença de escrever por gosto e não por obrigação. Vou-me desviando de planos e deixando-me ir para onde me apetece mais.

Mas estão sempre aparecer questões em que a emergência é a melhor explicação. Só quero dar uma ideia. Antes de abordar a mente.

Um fenómeno emergente é um efeito de um sistema que não pode ser atribuído ao funcionamento em separado dos componentes desse sistema. Não será correcto dizer que o todo é maior que a soma das partes porque não estamos a falar de quantidades mas de qualidades. E é a soma das partes que faz emergir os fenómenos. A questão é que não é uma soma aritmética, mas uma somadas funções e interacções entre elas.

Por exemplo, um ser vivo como o mamífero não pode ser explicado como o conjunto de células que o formam. Pois se o coração para e ele morrer, essas células ainda la estarão todas. A diferença é o que elas estão a fazer. E como interagem entre si. A vida é a propriedade que emerge dos fenómenos celulares em que cada célula cumpre a sua função. Se separarmos as células e não as pusermos a interagir perdemos a vida. Na realidade, o que as células fazem para ter vida é manterem-se todas e o seu ambiente num equilíbrio muito preciso, a homeostasia.

Um exemplo que já dei antes neste blogue, num curto comentário a um texto de Douglas Hofstadter (ver teorema de Godel) é o das proteínas. As propriedades destas, quer estruturais quer catalíticas, emergem da forma destas e dos locais onde ficam os centros activos. Se dispusermos os aminoácidos que as compõem em filinha não temos actividade proteica. Temos de esperar que se enrole. As propriedades na proteína enrolada não estão nem em princípio na sua forma desenrolada. Porque ao enrolar-se, os aminoácidos vão colocar-se de modo que o seu resultado é o resultado da interferência e das reacções das suas propriedades enquanto ela se enrola. De tal modo difícil de prever que a melhor maneira que se arranjou foi simular a proteína a enrolar-se.

Um formigueiro também é um bom exemplo de emergência. Quase podemos considerar o formigueiro como o animal e não um conjunto de animais. Aquilo que é o formigueiro emerge da interacção de milhares de formigas e explicar o resultado do seu funcionamento é muito difícil se formos para ao nível individual.

Durante muitos anos a vida era atribuída a um sopro vital ou coisa do género. Pensava-se que não podia haver uma explicação para a vida que fosse "materialista". Hoje, conhecemos tão bem todos os passos, funções e interacções que já não se pensa na vida como algo que não esta ao alcance de ser explicado com base nas propriedades da matéria se considerarmos que as interacções  e o funcionamento, o que estão a fazer, são o mais importante.

A propósito, este caso passasse hoje com a mente e o cérebro. Muitos, normalmente crentes religiosos, acham que a mente não pode ser explicado pelos neurónios. Mas ao contrário, a maioria dos neurologistas pensam que sim. Ainda há muito para saber, mas tudo aponta que tal como a vida é mais que as células que a criam também a mente é mais que o cérebro. Mas sem nada de místico. A mente é o resultado que emerge da interacção de milhares de  sinapses por milímetro cúbico que o cérebro tem. Tal como as proteínas e o formigueiro, a descrição a um baixo nível, isto é, como soma simples de neurónios, não é possível. Mas se considerarmos que há milhares de circuitos, todos ligados uns aos outros e ao corpo, e que se criam registos e processos, e depois registos e processos sobre os registos e processos e que ainda se criam mais registos e processos sobre os registos e processos, até que lhes percamos a conta, já começamos a ter um vislumbre de uma consciência.

Como em. Eu sinto. Eu sei que sinto. Eu posso pensar sobre saber que sinto. E pensar sobre o facto de pensar que sei que sinto. Na realidade a nossa consciência é uma autoconsciência. Do fluxo de sensações que atravessava o cérebro primitivo dos nossos antepassados, nos fomos criando novos sistemas por cima, e fazendo ajustes nos que vão ficando por baixo, mas mantendo tudo a comunicar. E os sistemas mais evoluídos, as ultimas partes a desenvolverem-se com o neocortex, parecem ter todas as propriedades de serem capazes elas próprias de simularem outros sistemas acima. Ou seja, têm uma plasticidade e versatilidade tal que podem por uma parte de si a funcionar para imitar um outro sistema.

De um modo análogo ao computador que tem varias máquinas (por exemplo dois sistemas operativos) virtuais num único hardware.

Conseguimos criar imagens de nós próprios, construir planos para o futuro, testar cenários, etc.
E tudo em tempo real, interagindo umas coisas com as outras, controlado por uma corrente principal - o nosso pensamento consciente.

Sabe-se há muito tempo que o cérebro vai processando várias coisas ao mesmo tempo, tal como o nosso corpo vai fazendo varias coisas ao mesmo tempo. Ao contrário,  a maioria dos computadores de secretaria ainda são apenas sequenciais, isto é, cumprem uma ordem de cada vez. Processam uma coisa de cada vez. O cérebro não. Tal como seria de esperar em algo que permite a emergência de propriedades, há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo. Aquela história dos 10% é um mito como o do nariz do cão estar seco. Naturalmente que a todo o vapor também não esta todo ao mesmo tempo. Se não também não conseguíamos ver que zonas é são activadas por determinadas situações.

Mas é este interagir de sistemas sobre sistemas, formados por neurónios, que se pensa hoje que é a mente.

A destruição acidental ou patológica de muitas áreas do cérebro tem permitido saber mais ou menos para que é que cada área serve particularmente. Outras coisas têm se sabido através da tomografia por emissão de positrões. Mas nada leva a crer, no conhecimento actual, que vamos precisar de trazer alguma energia sobrenatural ou entidade mística para descrever a mente.

Não está ainda de facto tão bem esclarecido como o processo a que chamamos vida. Isso é verdade. No caso da vida, para onde quer que olhemos somos capazes já de dizer o que é que aquela célula esta a fazer e porque. No caso dos neurónios não. A sinapse é a unidade básica do pensamento, é como um interruptor especial nos circuitos. Mas são milhares de interruptores por circuito, e milhares de circuitos, todos ligados uns aos outros e ao corpo e alguns ainda ao exterior. Produzem químicos, criam potenciais eléctricos e são microscópicos. E em vez de ser num plano, como numa placa de computador, é num volume a 3D. É a confusão total para saber o que se esta a passar a cada milímetro cúbico e no geral.

Mas que são aquilo que nós somos são. Destruam alguns e haverá consequências. Consequências naquilo que nós somos. A personalidade e a inteligência mudam.

Agora, descrever  o cérebro a partir do neurónio é como descrever uma musica a partir da sequência de zeros e uns do CD. É preciso por a coisa a funcionar para saber realmente como é. Ou então emular o processo. Por apenas soma das partes não chegamos la.

PS: as ideias aqui exprimidas são um apanhado de vários livro que incluem o "conscienciousness explained" do Dennett e o "Sentimento de Si" do neurologista português António Damásio. Para quem tiver tempo, claro que aconselho uma leitura do GEB do Douglas Horfstadter. É um livro sobre inteligência artificial, sobre consciência e sobre a mente, que esta preocupado em explicar da maneira mais lenta (mas mais divertida) cada pormenor implicado nestes assuntos. Poderá no entanto acabar o livro com a sensação que está mais inteligente que antes, mas que ainda sabe menos o que isso significa do que quando começou. :)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre a mecânica quântica

A mecânica quântica é a teoria cientifica que explica o comportamento de sistemas abaixo do nível do átomo. É uma parte do modelo padrão, a síntese de teorias para explicar o universo em pequena escala.

O nome quanta, vem de pacote, porque as trocas de energia vêm em múltiplos de uma quantidade mínima, como se viessem em pacotes e não como se fossem algo continuo. De resto o modelo padrão explica tudo como vindo em unidade mínimas discretas. O espaço, a matéria e a energia. O modelo padrão, que é o modelo que integra a mecânica quântica não explica a gravida. Tudo o resto é descrito como trocas de partículas.

Para alem dos "pacotes" em que é definida a energia, a mecânica quântica rompe com as teorias anteriores no seu tipo de formulação e previsões. Tudo é explicado em termos de probabilidades. Isto terá levado Einstein a formular a famosa frase "Deus não joga aos dados", se bem que não se sabe se ele o disse realmente.

Tudo bem. A mecânica quântica usa unidades discretas para descrever a energia, usa partículas para descrever a matéria sub-atómica, naturalmente vamos ter de ter um abordagem estatística para coisas tão difíceis de medir. Mas aqui é que as coisas deixam de se parecer com o universo de dimensões maiores que o átomo. As probabilidades quânticas interferem umas com as outras. E a probabilidade de uma partícula ter determinada propriedade, só passa a propriedade real quando a medimos. Ainda há mais coisas contra-intuitivas, mas comecemos por estas duas.

No mundo à escala da nossa visão, por exemplo, a probabilidade de o dado dar o numero 6 num lançamento, não influencia a probabilidade do dado dar 6 outra vez no lançamento seguinte. Intuitivamente consideramos que sair 6 outra vez é menor. Mas sabemos pela experiência e pela matemática que isso é errado. São acontecimentos independentes e esse erro vulgar tem o nome de "falácia do jogador". Isto é algo que penso que apesar do nome que tem, jogadores especializados ou ratos de casino conhecem perfeitamente.

No entanto em mecânica quântica não. O resultado de um evento relacionado afecta directamente outro que apenas difira no tempo.  É como se a probabilidade de sair um 6 no dado de uma vez, influencia-se algo na segunda vez que lançamos o dado. Como se algo no universo tivesse mudado por ter saído já o 6 uma vez.

Debatemo-nos com uma situação deste género logo nos principios da teoria. Se lançarmos um electrão de cada vez através de duas ranhuras numa chapa, ora por uma, ora por outra, eles vão marcar num receptor um padrão de ondas como se tivessem sido todos lançados ao mesmo tempo. Embora estejamos a disparar um de cada vez, parece que disparamos todos ao mesmo tempo. Eles interferiram uns com os outros tal como era de esperar se em vez de partículas discretas estivessemos a fazer ondas. Mas quando acertam no receptor, podemos confirmar que chegou um de cada vez. Isto não tem paralelo no mundo macroscopico. E parece que de facto o electrão só passou a ser um quando foi medido pelo receptor. E só nessa altura definiu a sua posição. Antes era... Uma onda de probabilidades.

Richard Feynman reformulou a teoria de modo a explicar o padrão de interferencia como sendo a interferencia entre si de todos os caminhos possiveis que uma particula toma de uma fonte ao seu destino. Isto resolve o facto de um acontecimento aparentemente independente interferir com outro, mas não resolve a questão similar da escolha do caminho da particula ser influenciada retroativamente pela nossa observação. De facto, se escolhermos observar a particula num dado ponto, em uma das sua possiveis trajectorias, parece que tal observação irá influenciar o percurso que a particula fez até essa medição, porque reduz o numero de trajectorias possíveis ao eliminar as que ficam fora do ponto de verificação.

No mundo macroscópico a probabilidade aparece quando existem demasiados factores a contabilizar para que possamos dizer exactamente o resultado de um acontecimento. Como por exemplo dizer que numero vai sair na roleta. Seria possivel se tivessemos acesso a uma descrição perfeita da velocidade, desenho da roleta com todas as imprecisoes, peso da bola, perfeiçãro da bola, etc. Com uma supermaquina e supermedições seria possivel. No mundo quantico não. A probabilidade é o que as coisas são. E o resultado so se forma no momento da verdade. É algo intrinseco.

De resto sabemos, por previsão da teoria, que não podemos saber simultâneamente a velocidade e a posição de uma partícula. E ao contrário do que muitas vezes vem escrito em textos simples como este, não é apenas por uma questão de tecnologia. Não há mesmo  maneira de medir velocidade e posição simultâneamente, porque só ao medirmos é que essas caracteristicas se revelam, e ao medir uma, estamos a perder a hipótese de medir a outra, porque não havia antes de medir e depois de medir ja a modificamos. A teoria prevê como disse, que as coisas so são o que são quando medimos.

De resto, esta caracteristica foi algo que levou a uma grande contestação da teoria. Einstein dizia que as caracteristicas tinham de estar la, que nós é que não conseguíamos medir. Mas a teoria previa que não. Que as caracteristicas não estavam definidas - estavam na tal nuvem de probabilidades quanticas - até nós as medirmos.

Como tinha prometido, ainda há outra coisa mais incrível a cerca da mecânica quântica. A não localidade. Os efeitos quânticos não dependem da distancia. É como se para coisas abaixo do tamanho do átomo, o local onde estão seja pouco importante e possam agir à distancia como se já estivessem no destino. Em certas condições claro. Einstein chamou-lhe "Spooky action at a distance" ou em português "acção fantasmagórica à distancia". E mais, disse que se tal fosse possível, então podíamos emparelhar duas partículas e separa-las centenas de metros que o resultado de uma influenciaria instataneamente e mais rápido que a luz o resultado da outra.

Emparelhamento de particulas é algo dificil de conseguir mas na practica é dar a duas particulas propriedades complementares. Como a mecânica quântica diz que a propriedade so é definida com a medição e se uma partícula não transmite à outra que foi medida, então quando medimos uma a outra tem de dicar exactamente e instantaneamente com o valor complementar. Instantâneo quer dizer mesmo ao mesmo tempo. Literalmente. Se demorar o tempo que a luz demora a percorrer esse espaço podemos suspeitar de uma partícula transmissora. Mas não é isso que a teoria prevê. E Einstein compreendeu isso e disse: "vejam só o que a vossa teoria prevê. Se isso fosse verdade tínhamos "spooky action at a distance".  Pois é. Mas hoje essa experiência foi feita inúmeras vezes e acontece tal qual como Einstein considerou impossível que acontecesse.

De resto, a mecânica quântica, mantém até aos dias de hoje a incompatibilidade com a teoria da relatividade. Não é apenas uma coisa de uma descrever o grande e outra o pequeno. Nos pontos de intersecção a conjunção das duas teorias dá resultados absurdos. Já para não falar que elas dizem coisas diferentes acerca da gravidade. Uma prevê que a gravidade sejam uma partícula, a outra diz que a gravidade é a distorção do espaço. De facto uma destas teorias vai cair. E a mecânica quântica tem acertado tantas previsões incríveis e permitido tantos avanços científicos que a maior parte dos teóricos considera que será a relatividade de Einstein a cair.

Uma das mais fortes pretendentes, a teoria das cordas, substitui as duas de uma só vez. Mas a teoria das cordas ainda é tem muitos buracos para tapar além de ser difícil testar algumas das suas previsões especificas. E tem uma coisa que a generalidade dos físicos parece não gostar. Precisa de 11 dimensões (já foram 22) para descrever o universo. São muitas dimensões que não são previstas por mais nada, não são observadas e para trazer mais 7 dimensões que as que se conhecem é preciso evidencias fortes. As entidades não devem ser replicadas para além do nesseçário.

Mas voltando à mecânica quântica, há algo que é preciso esclarecer. Apesar de haver algumas maneiras diferentes de interpretar a matemática da mecânica quântica, os fenómenos quânticos estão longe de acontecer em dimensões maiores. Mesmo ao nível de moléculas as coisas já se passam de outra maneira.

Aquelas teorias de terapias alternativas ou místicas do universo que alegam que se baseiam na mecânica quântica, não têm nada a ver com isto. Não são ciência. São aproveitamos da ignorância das pessoas acerca de uma teoria que é tudo menos simples. O facto de os próprios físicos debaterem como devem ser interpretadas determinadas coisas não quer dizer que cada um tem o direito de dizer que a teoria faz isto ou aquilo.

Por exemplo. A descoerencia é o nome que se dá ao fenómeno da partícula revelar o que é quando é medida. Os físicos consideram que o acto de medir é na realidade qualquer coisa que obrigue a partícula a revelar as suas propriedades. Ela não esta definida até que interaja com algo que a leve a dar um valor. E esse valor sai com a probabilidade que a teoria lhe atribuiu. Isto é uma interpertação. A dos "many-worlds" é outra. São interpretações, nãp afectam o sistema matemático da teoria. E são fundamentadas cientificamente. Mais a primeira que a segunda se me perguntarem, nas eu não tenho de dar opiniões sobre isto. Mas posso dizer que extrapolações como as que faz o Deepak Chopra são tretas. Não têm nada a ver com ciência. Nem com a parte matemática, nem como interpretações.

Por exemplo, não se conseguem emparelhar moléculas grandes e provavelmente nunca se conseguirá. Porque elas depois de emparelhadas precisavam de não interagir com mais nada para não se dar o processo de descoerencia, perdendo nesse instante o estado quântico de indeterminação e emparelhamento.

Não há maneira de fazer uma coisa a uma molécula aqui, de modo a que outra faça o que a gente quer alí. Nem hoje, nem provavelmente nunca. Estamos limitados pela dimensão que os objectos emparelhados podem ter e pelas propriedades que se lhes pode atribuir.

Mas este post já está demasiado longo. Mas tinha de ser. A mecânica quântica é muito complicada. Eu só acredito que tenha um grau de verdade elevado porque anos após anos aquilo, aquela coisa, acerta em todas as previsões e mais alguma, por mais estranha que pareça. E mais. Proporcionou um campo de investigação prolifero como poucas outras teorias. E encaixou com perfeitamente com outras teorias físicas para formar o Modelo Padrão.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Touro de lide não é um ser sobrenatural.

Depois de escrever o meu post sobre a tourada em que incluí parágrafos sobre as reacções do touro na arena, descobri inúmeros comentários relativos a um estudo que dizia que os touros não sentem dor ou que não sofrem na tourada.

O numero de animais variava, os métodos variavam e as conclusões também e era importante encontrar a versão "oficial". Tudo o que encontrei foi este estudo, editado pela própria Faculdade do autor:

"Regulação neuro-endocrina do stress e da dor no touro de lide (BOS TAURUS L.). Um estudo preliminar"(1), por Carlos Ileria

E começa assim:

"O gado bravo possui uma série de peculiaridades que fazem com que seja praticamente impossível a sua comparação com outras espécies ou raças de animais."

Uma afirmação extraordinária não? Nada frequente em ciência. Mas podemos aceitar uma certa liberdade semântica dentro de um contexto que o justifique, por isso vamos continuar.

O estudo diz que é preliminar logo no titulo. E isso nota-se que é, por razões que direi mais à frente. Quer dizer que o estudo não serve para tirar conclusões definitivas, mas deveria servir para justificar mais estudos e mais pesquisa. Ou pelo menos devia ser esse o significado de preliminar. Parece-me estranho que mais à frente se tirem mais conclusões extraordinárias. Embora em nenhum lado diga que o touro não sofre. Isso, o estudo tem a razoabilidade de não dizer.

Mas devo dizer desde já que eu espero que aqueles resultados sejam verdadeiros, porque longe de mostrar que não há sofrimento brutal na tourada, sempre mostra que o touro pode ter alguma coisa a seu  favor para aguentar melhor (que outra raça) que lhe espetem uma farpa nas costas (e a girem para "castigar") e lhe partam vértebras, rompam músculos, cortem nervos, etc. Para bem dos touros espero que alguma coisa aqui seja verdade. Agora que há sofrimento e que o espectáculo é uma barbárie, este estudo não põe em causa. Pelo contrário, eu penso que mostra o tipo de dor que esta em causa, embora sugira que o touro possa de facto, pela sua atitude, conseguir tolerar o stress. Tudo junto é uma barbaridade de qualquer maneira.

Adiante, vamos aos pormenores:

O estudo mede o cortisol, uma hormona do stress, em três situações: Durante a lide, o transporte e uma corrida de touros. E mede também a ACTH e as beta-endorfinas. A ACTH é a hormona produzida na hipófise para levar a adrenal a produzir corticoides  (cortisol)  e as beta-endorfinas são moderadores da dor. Estas endorfinas opioides naturais que reduzem a sensação de dor - mas não a eliminam. Tanto que relativamente aos animas e humanos também, uma situação em que há muita  beta-endorfina em circulação é no parto e é de notar que as mulheres queixam-se de dores na mesma - na realidade é o topo da escala de dor! Com endorfinas  incluídas.

Quanto ACTH e Cortisol. Ele usa-os como uma medida do stress. Tudo bem E conclui que:

"a primeira coisa que reparamos é que o touro é um animal especial endocrinologicamente falando já que tem uma resposta totalmente diferente de todas as outras espécies de gado e espécies animais".

Bem, esquecendo a linguagem, estranhamente cheia de liberdades semânticas (mais uma vez), eu penso que aqui poderá haver alguma verdade. Vale a pena prosseguir mais estudos para confirmar ou refutar isto. Parece haver de facto uma diferença significativa entre o cortisol libertado no transporte - uma situação extremamente stressante para os animais, já muito debatida e conhecida - e a lide. Era de esperar que os valores fossem bastante mais próximos. Além disso, há uma explicação plausível. O touro pode ter a determinada altura a ilusão que tem alguma coisa que pode fazer acerca da situação. A impotência é uma causa de stress. E a postura agressiva está associada a menos libertação de cortisol. Talvez pela mesma razão de aparentemente haver alguma coisa que o touro possa fazer, como dar umas marradas para se vingar. É estúpido, mas pode ser a perspectiva dele. É algo que ajuda, tal como dar um cinto para trincar aos soldados a quem se vai cortar uma perna, ou dizer uns palavrões para descomprimir. Mas a diferença para o transporte, em que a impotência é aparentemente maior é muito grande. Por isso, é de admitir que haja de facto um stress menor na lide que no transporte, ou pelo menos um stress menos debilitante.

No entanto precisamos de confirmar isto melhor. É preciso experimentar outras raças na lide - a ideia não me agrada mas seria a única ideia de poder comparar o touro de lide com outras raças a este respeito, sem isso o autor não pode concluir cientificamente que o touro de lide é assim tão especial. Por mim a tourada acabava na mesma, mas eu encontrei estudos que mostram que a variabilidade da libertação de cortisol, por causa de uma cirurgia, nas raças "normais", é muito variável de animal para animal. Na realidade se se escolhessem os casos individuais menos reactivos poderíamos conseguir artificialmente e desonestamente o mesmo efeito que há no estudo de Ilera. Isto não mostra que há desonestidade no trabalho de Ilera, mostra sim que o efeito esta dentro da variabilidade natural. Que não há nada de realmente novo que pode ser explicado apenas por selecção de genes que já existem nas outras raças, não havendo na raça brava algo mais que uma afinação para reagir melhor ao cortisol. Algo que se pode conseguir até com treino físico apenas.

Faltam também resultados de medições mais seriadas. Antes da lide, durante e imediatamente após pelo menos. Falta dizer a que horas do dia. (o cortisol tem um ritmo circadiano). Falta dizer quanto tempo depois da colheita foi feita  analise. Como foi o sangue conservado? E em relação ao transporte a mesma coisa. Muito importante era saber quanto tempo de transporte houve antes de se colher o cortisol, alem da hora do dia, etc.

O autor diz que não é possível ter um controle cientifico porque não se conseguem ter amostras de cortisol basal. Todo o acto de medir, picar, influencia o resultado. Isto é verdade. Há sempre stress envolvido na colheita com os métodos actuais. Mas mesmo assim, uma pesquisa pela Internet levou-me a imensas tentativas de encontrar esse valor para a espécie bovina e os valores andam entre as 3 e 10 ng /ml quando os animais estão calmos e em ambientes neutros. Parece que no campo, apanha-los para medir da origem a valores um pouco mais altos, mas não muito mais. Um estudo refere 15ng/ml (ou mg/L). Se o touro de lide tiver valores tão baixos então a lide representa um aumento de duas vezes o valor de repouso. Isso é stress. Se o touro de lide tiver já de si valores anormalmente altos, então sabe-se que isso esta associado a respostas menores de cortisol, tal como está a doença ou a depressão.  Não parece ser o caso por causa da resposta de cortisol no transporte, por isso eu penso que vamos encontrar valores semi-basais (há sempre stress) entre os tais 3 e 10 ng/ml.

E a conclusão é de que há stress. Não que não há stress. E nada que seja tão extraordinário que permita concluir que o touro esta com menos stress que uma gazela que acabou de conseguir puxar a pata de dentro da boca do leão. Que a ansiedade causada pelo transporte é uma tensão brutal já é bem conhecido. Abaixo esta um estudo que mostra por exemplo que pilotos de aviões militares em missão quase não stressam quando comparados com o estado em que segue a tripulação do mesmo avião.

Agora as endorfinas.

Aqui é que eu acho que o estudo cai completamente por agua abaixo. Muitas endorfinas quer dizer muita dor. Se a quantidade de endorfinas é tão estupidamente alta, é porque a dor é estupidamente alta. Experimentem ir dizer a uma mulher  que o parto não dói por causa das enforfinas.  Depois do parto, se for natural, vão ouvir umas bonitas. Assumir que aquele nível de endorfinas é capaz de eliminar a dor é um exagero. Um exagero que o autor reconhece no fim do estudo quando diz que é preciso fazer outros exames. Agora, que aponta para uma redução da dor é um facto. Mas quanto dói ter as vértebras a serem estilhaçadas com a bandarilha espetada e que fracção disso é eliminada pelas endorfinas? Não é total. O Touro tem outras manifestações que sugerem que haja dor. Tal como a tentativa raivosa de vingança após levar com a estocada. Talvez a farpa não doa tanto ao touro como uma farpa espetada nas nossas costas. Talvez seja só como se fossem pregos e não farpas. E em vez de doer como grandes músculos a rasgar e vértebras a partir doa só como se fossem menos vértebras a partir e menos músculos a rasgar. E o que é que isto quer dizer?

Outra coisa que dá origem a elevações acentuadas das endorfinas é o acido láctico. O tal da dor de burro, com origem no metabolismo anaeróbio durante o exercício físico. E esse é tão elevado na lide que o touro entra em acidose metabólica.

Uma mulher em parto (sem preparação ou analgésicos) chega aos 65pg/ml de beta endorfinas(2). O touro bravo chega neste estudo aos 17pg/ml. Tive de confirmar as unidades várias vezes para ver que era verdade.. Torna a afirmação do estudo: "chega o momento em que deixa de sentir dor" absolutamente extraordinária.

E afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias.

Coisas que o autor parece afinal, no fim do estudo lembrar-se. Relembra que é um estudo preliminar e que faziam falta ressonâncias magnéticas funcionais para comprovar a sua tese.

Sim, isso e aumentar o rigor deste trabalho.

Até lá, não há aqui nada que sugira que não há sofrimento e muito na tourada. Pelo contrário, há sinais que a destruição de tecidos e a estimulação de receptores de dor é muito grande.

Além do mais sabemos que altos níveis de endorfina levam a alteração do estado de consciência. O que levariam a uma aspecto sedado do touro. Coisa que parece não acontecer.

Se se mostrar que o touro na tourada não tem dor NENHUMA, para lá da dúvida razoável, eu penso que isso de facto será um argumento de força para os aficionados. E um que eu até espero que seja verdade, uma vez que me parece não posso fazer muito para acabar com ela. Mas a tourada inclui o transporte por exemplo. A não ser que passemos a criar o touro na arena. O autor apenas mostra mais um aspecto que causa sofrimento desnecessário associados à tourada.

Mas se não houvesse dor era sem dúvida melhor.

Mas estamos longe de poder tirar tal conclusão. Com a maior das honestidades. Quando isso for um facto penso que se devem rever os argumentos a favor e contra a tourada. Não creio de modo algum que tenha chegado esse momento.

Notas:

Não me apetece ter o trabalho de ordenar as citações de acordo com os estudos. No entanto estão referenciados dois estudos directamente pela relevância. São todos pertinentes, e deixei  notas sobre o que dizem, pois faz parte da maneira como eu colecciono artigos para depois fazer os textos. Está lá tudo.




Valores normais são entre 3 e 10 mg/ml.Podemos ver a enorme variação na reposta de cortisol entre os vários animais e como alguns reagem mais à cirurgia que o touro bravo na lide e outros menos à cirurgia que o touro bravo na lide:

http://vfu-www.vfu.cz/acta-vet/vol74/74-037.pdf

A refutação por outro colega meu, que salienta alguns pontos de modo diferente:
http://sites.google.com/a/avatau.com/www/elsufrimientodeltoroenlalidia


(1)  - REGULACIÓN NEUROENDOCRINA DEL ESTRÉS Y DOLOR EN EL TORO DE
LIDIA (BOS TAURUS L.): ESTUDIO PRELIMINAR - http://revistas.ucm.es/vet/19882688/articulos/RCCV0707330001A.PDF


Estudo sobre a quantidade de cortisol libertado de acordo com a personalidade:
http://www.nature.com/npp/journal/v31/n7/full/1301012a.html

Homens treinados libertam menos cortisol:
http://www.psych.nyu.edu/phelpslab/papers/07_Psychoneuro_V32.pdf


alterações ao nível da bioquímica sanguínea:
  http://revistaveterinaria.fmvz.unam.mx/fmvz/revvetmex/a1998/rvmv29n4/rvm29410.pdf


Atitudes mais agressivas podem libertar menos cortisol:

http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6T0P-47XN26S-47&_user=10&_coverDate=06%2F30%2F1990&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_origin=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1463087442&_rerunOrigin=google&_acct=C000050221&_version=1&_urlVersion=0&_userid=10&md5=afee6a9284b9169508d8fc1199ce48b8

animais doentes secretam menos cortisol:

http://www.actavetscand.com/content/52/1/31

Os pilotos stressam menos que os outros membros da tripulação:

http://www.psychosomaticmedicine.org/cgi/content/abstract/47/4/333

Níveis de betaendorfinas ante e post-mortem em matadouro com pistola de estilete (notar que a morte é sem dor):
http://www.aspajournal.it/index.php/ijas/article/viewFile/ijas.2007.1s.457/1473

(2) Níveis de beta-endorfinas no parto na espécie humana:

 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2932121

O ateu é ateu porque não quer acreditar?

Não creio. Eu pelo menos ponho a minha vontade de parte. Não acredito em divindades porque não há razões para isso. Procuro de facto não acreditar em Deus porque me dá jeito, mas daí a recusar a sua existência porque quero?

Não. De todo.

O Prof. Miguel Panão diz o contrário:

"No Cristianismo, se Deus transcende o mundo, também está nele imanente, implicando isso que está presente, e se está presente podemos fazer uma experiência dessa presença.Quem não a faz é porque a recusa na negação da existência de Deus , limitando deliberadamente essa experiência, não porque lhe seja negada a possibilidade de a fazer."(1)



Como é que é "deliberadamente" se o raciocínio  começa com uma afirmação injustificada e impossível de provar? Na qual assenta todo o resto?

Eu respondo antes que se Deus lá estivesse e se é possível senti-lo, eu então senti-lo ia. E mesmo que só possa sentir a Sua presença quem nele acredite, era preciso mostrar que não acreditar em Deus é uma escolha não condicionada pela evidência existente. Ou seja, que há tantas provas para acreditar como para não acreditar. Ora isto é falso. Se bem que a inexistência de provas não seja prova da ausência, de um modo geral, quando nós procuramos sistemática e metodicamente e não se encontram efeitos ou factos que sejam inequívocos dessa entidade temos de admitir que não existe. Se apesar disso insistimos que existe, então estamos a acreditar porque queremos, de facto. Mas para não acreditar basta aceitar a conclusão mais plausível de que as entidades não devem ser replicadas para alem do necessário.

É como dizer que as plantas têm consciência e só vê quem acredita. E que quem não vê é porque nega deliberadamente que essa experiência. Mesmo que não haja nada que sugira que as plantas têm consciência.

Ou ainda melhor, isto é análogo às roupas do rei. Mas o rei vai nu. Não me digam que eu não vejo as roupas porque decidi deliberadamente limitar essa experiência.

Agora imaginemos que Deus existe e eu não sinto isso. Que de facto podemos provar que Deus existe se sentirmos. Para já isto não tem confirmação independente, uma vez que por definição só sente quem acredita. Por outro lado, que culpa tenho eu de não sentir? É minha? Deus cegou o olho interior capaz de o ver, e a culpa é minha? É uma escolha deliberada? Acho que há aqui desonestidade intelectual ou muita distracção pela parte do Miguel.

(1)http://cienciareligiao.blogspot.com/2010/09/como-interagem-ciencia-e-fe.html?showComment=1284710481370

PS: Além do mais aquilo é completamente circular, pois era a reposta à pergunta de como é que sabe que ele existe. Logo está a dizer que existe porque sente. E justifica que sente porque existe. E que eu nego essa experiência "deliberadamente".