sábado, 30 de abril de 2011

Meia emenda.

Algumas ervas têm princípios activos. Foi assim que começou a farmacologia cientifica, a agora chamada convencional ou tradicional.

Os princípios activos têm esse nome porque reagem com coisas no corpo. Alteram funções, matam micróbios, mudam pontos de equilibrio, etc. E Podem fazer bem ou mal. E interagem uns com os outros.

Até agora a lei permitia que se vendesse qualquer produto de ervanária desde que se disse-se que era natural. Sem observar que princípios activos lá vinham dentro, em que doses, e sem ter de se fazer estudos de eficacia ou segurança.

A União Europeia vai agora introduzir uma lei que obriga pelo menos a que se façam testes de segurança. É meio caminho andado. Mas deixa coisas importantes de fora.

Como é que algo tão importante como a eficacia pode ficar-se pelo diz que disse?

Apesar da legislação agora apontar para que tenha de haver um "especialista em ervanária" a receitar a dita erva, deixa de fora de qualquer um a reponsabilidade sobre a eficacia do produto.

E questiono o que significa ser um perito em ervas, já que faltam estudos que demonstrem eficacia e segurança sobre uma grande parte delas, quase todas - e estas são as questões que tal especialista devia saber responder. Estamos de facto perante uma industria milionária que falhou em investir na investigação rigorosa das suas alegações.

Acho que esta legislação é melhor que o que havia antes.  É de qualquer modo um passo em frente. Mesmo se sem sombra de dúvida que é fazer  as coisas pela metade, e talvez, deixar uma mensagem implicita de que a eficacia não está em causa, só a segurança.

Mas segurança mesmo, só quando estes produtos tiverem de ser submetidos às mesmas exigencias de todos os outros ( e que mesmo assim tem falhas), em vez de tentarem passar a ideia de que isso não acontece por causa das grandes farmacêuticas e de que são perseguidos por estas.

Mas isso não faz sentido nenhum, já que as grandes farmacêuticas se quisessem prejudicar esse negócio podiam exigir legitimamente e justamente que se submetessem esses produtos às mesmas exigencias que se submetem os seus. As pessoas deviam antes questionar-se porque é que os produtos de ervanárias conseguem ter um estatuto tão especial fundamentado numa falácia conhecida.

A falácia do naturalista. Nem tudo o que é natural é bom. A doença é natural. A morte também.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Steven Novella no Dr. Oz Show

Apelo à multidão, apelo de condição especial, apelo à treta... Adivinhem quem?


sábado, 16 de abril de 2011

Carta aberta aos fubndamentalistas da ortofagria

Dizer que uma pvalara se escreve assim e não assado é uma questão pticamracente arbitrária.

Não é mátiatemca, não é algo como uma lei nratual.

A orafirtoga é uma cenonvção. É uma csoia que foi ddidecia como dieva ser (em opoçãsio a aglo que se dbescoriu como é). Não há uma oogrartfia moelhr que oruta por nnhuem pdraão que seja lgicóo. É uma coisa n0rmatiwa. Dcuiste-se se se deve ceronsidar a n0rm4 o que faz a mraioia ou se se deve forçar a moairia a feazr como mdaanm uns pcoous.  EM ambos os casos, o qeu é correcto a cada mntomeo, só o é porque uns cguonsee iompr a outros pela força a sua meianra de escrever.  Não há para essa ortogradia uma juicastifção rioacnal.

E doepis, mdua mituo dressepa.  Eolvui. E isso preace-me um não-polebrma.
Mas há miuta gntee a qeum isso faz uma cusãonfo tmenreda, vá se lá sbear pquorê. Têm de intisisr em crvonsear as pvralaas tal como estão. Se clhaar qiauerm  que faselasmos ainda Indo-europeu. Mtuios erros, é estcamétiente deadásagrvel. Mas é só isso.
De ftaco, não é reealmnte irtanmpote para tmiranstir uma magensem ernte seers hnoumas que a orafrtogia ejstea cecorrta,  como dstemonra este ttexo. Bsata un mimino, um nadinha, o sieuficnte para rnheecocer as pvalaras e está tudo bem.

Por isso, porque riao é que no mieo de duçiscões sobre coisas remenalete com impampcto nas nsaoss vaids tem de hvear srepme auelgm a contar erros ográrictofos?

Pecare-me spreme uma coisa minhesqua e dropesposita que só serve para fazer juizos adpressaos e devisar a ançteão do que é imtaporte.
Que hjaa uma nmora a suegir, tduo bem. Mas que hjaa uma oessbsão con iço é rcidíulo.

Por isso, tentem compreender que um ou dois erros num texto, não tem significado nenhum. Façam o favor de perder tempo com coisas importantes, sim?



sexta-feira, 15 de abril de 2011

Canção do vira ontológico


Como o nada não existe,
pois em nada consiste
algo se impera que surgisse,
já que nada apenas
tinha que o impedisse.

mas nada não existe.

E sem nada que o impedisse
e sem ter como se previsse
numa flutuação de possibilidades nasceu
a possibilidade de que alguém existisse

E ao perguntar porque existe
esse alguém que pensa e é
já que quem pensa logo existe,
tem de reparar que ao que já é
só poderia anteceder algo que permitisse
que ele assim, pensante,
existisse.

(Sim, já sei, qualquer hipotese que tinha de não passar por nerd ficou para sempre comprometida. :P)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Vinho mais caro é indistiguivel do mais barato em prova cega.

O psicólogo Richard Wiseman aproveitou o Festival de Ciência de Edimburgo, (uma coisa que nós cá fazemos todos os dias, como o Festival de Ciência da Charneca da Caparica, Festival de Ciência de Alfama, etc) para por os visitantes a fazer provas cegas de vinho.

Já sabíamos que os "experts" do vinho não eram capazes de distinguir vinhos franceses de vinhos da Califórnia em provas cegas (1). Mas poderiam, como foi dito, dizer que a razão é que os vinhos californianos são também muito bons. Pode ser. Mas começo a achar que há outra explicação.

De entre o publico normal, e com uma discrepância grande entre o preço dos vinhos em teste, a taxa de sucesso para identificar vinho caros rondou os 50%. Ou seja é a que é esperada se a coisa for feita ao acaso.

Portanto, ou os vinhos mais caros usados no teste não são melhores de facto e o autor do estudo logo teve o azar de escolher vinhos que embora muito mais caros afinal eram mistelas como as outras, ou a chamada "qualidade" do vinho é apenas ilusão. Crença. Placebo. Como quiserem.

Uma coisa é certa. O preço não é um indicador fiável da qualidade para o consumidor normal. Se bem que para os experts as coisas também não estejam muito brilhantes, como disse acima.

Em resumo, parece-me que há razões para crer que o melhor vinho é o nacional e do mais baratinho, ja que acredito que o nosso baratinho é tão como como qualquer outro baratinho ( que se confunde com os caros). Ou seja, desde que não seja uma "zurrapa" completa, é tão bom como qualquer outro.

Nota: Eu não bebo. Não faço ideia do que é um vinho "encorpado" ou "florado". Mas quer-me parecer que o resto do mundo também não. Tirem-lhes os rotulos e ninguém dá pela diferença.

Via Guardian: http://www.guardianbookshop.co.uk/BerteShopWeb/viewProduct.do?ISBN=9780713997910

(1)http://en.wikipedia.org/wiki/Judgment_of_Paris_(wine)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ideias de Origem Portuguesa

A Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Talento estão a promover um concurso de ideias destinado a portugueses com morada no estrangeiro.

Estão a votação as melhores ideias , para quem fizer login, e eu desafio a todos a ler e votar.

O meu apoio vai para o Carlos Oliveira do Astro.pt que propôs um site de divulgação de conteúdos científicos na net, usando como base o Astro.pt mas com horizontes mais alargados ... O ideal é ver o video da exposição da ideia aqui (e depois seguir o link para ir votar!) :

http://astropt.org/blog/2011/04/10/pedido-importante/

Declaração de interesses/parcialidade: Eu tenho interesse na divulgação cientifica. Eu sou colaborador do Astro.pt :)

Crianças curadas para cegueira não reconhecem formas aprendidas pelo tacto.

Um grupo de crianças a quem foi cirurgicamente devolvida a vista, não foi capaz de identificar visualmente formas que tenha conhecido antes pelo tacto.

Isto responde a algumas questões acerca do modo como integramos a informação proveniente dos vários sentidos, sobretudo acerca do modo como esse problema deve ser abordado.

É também esclarecedor do modo como construimos ideias abstractas. Nomeadamente que torna muito mais plausível que conceitos relacionados com formas sejam adquiridos e não inatos. Não só são aprendidos pela experiência como se não houver uma boa integração dos sentidos o conceito criado é inútil para novas aplicações.

Isto lança também mais uma pedra no charco lamacento do mundo das ideias de Platão, que apesar de largamente esquecido pela comunidade cientifica, ainda permanece suavemente incrustado nas ideias de muita gente, sob a forma de um essêncialismo crónico.

Os conceitos são mapas, não são as coisas em si. E o conceito de  uma forma, digamos de um circulo não é o circulo em si, muito menos o circulo perfeito como dizia Platão. É preciso separar o mapa e o território, pelo menos não esquecermos que o que sabemos é sempre mapa que pode ou não descrever território.

Mas a mim também me surpreende um ou dois aspectos deste estudo.  Não pensei que o córtex visual não fosse usado de todo quando se apalpa um objecto e se tenta construir uma abstracção da forma. Por um lado. Por outro esperava que a evolução tivesse deixado algumas formas pré-programadas, inatas, apenas à espera de serem chamadas a uso.

Para saber mais seguir a ligação:

http://news.sciencemag.org/sciencenow/2011/04/formerly-blind-children-shed-lig.html

ou

http://www.nature.com/neuro/journal/vaop/ncurrent/full/nn.2795.html

terça-feira, 12 de abril de 2011

Áreas protegidas e Rede Natura 2000 ameaçadas pelas alterações climáticas.

É o titulo de um press-release que recebi há uns dias sobre um estudo que aponta para que as alterações climáticas venham a afectar negativamente reservas naturais importantes e que se esse factor não for compensado, teremos perda de biodiversidade.

Do press-release:


"Até 2080, 58% dos vertebrados terrestres e das plantas poderão perder condições climáticas adequadas à sua ocorrência nas áreas protegidas da Europa. Estas perdas poderão atingir 63% das espécies prioritárias presentes na Rede Natura 2000. Estas e outras conclusões são obtidas num estudo publicado na Ecology Letters, coordenado por Miguel Araújo, titular da Cátedra Rui Nabeiro/Delta do pólo da Universidade de Évora do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) e investigador principal do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid. O estudo analisa, pela primeira vez, a eficácia das políticas de conservação, num contexto de alterações climáticas, para 75% dos vertebrados terrestres e 10% das plantas presentes na Europa. (....)"

Ainda do press release aproveito para salientar também:


"Este estudo confirma que o sul da Europa será mais afectado pelas alterações climáticas e que a Escandinávia e as regiões de alta montanha afectarão, negativamente, um conjunto menor de espécies."

 O estudo pode ser consultado em:

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1461-0248.2011.01610.x/full

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Aloe Vera causa cancro em ratos.

Um estudo feito pelo programa nacional de toxicologia nos Estudos Unidos concluiu que o estrato de Aloé causou tumores em ratos, quando administrado por via oral.

Quando fiz o meu post sobre o Aloe vera (ver etiquetas) considerei que havia boas razões para investigar mais o assunto. Ainda considero, mas neste momento o mais importante é haver confirmação independente destes achados. Depois descobrir se há uma dose segura ou se se pode isolar o agente cancerisno.  Por outro lado, não havendo para já razões para duvidar do valor deste estudo, e sem saber muito mais, qualquer efeito terapêutico que haja para que valha a pena correr este risco tem de ser bastante compensador. Isto é, tratar algo grave para o qual não haja muitas opções terapêuticas.

Acresce portanto ao problema de que não está bem estabelecido qualquer efeito terapeutico que possa haver para o aloé vera. Também ainda não está definido qual o principio activo que causa neoplasia, e até lá, se calhar isto devia ficar longe dos produtos que consumimos diariamente.

O Aloé vera é a origem de substratos adicionados a todo o tipo de produtos, bastante dispersos pelo mercado e não é dificil criar um contacto prolongado com os principios activos que nele se encontram.

Por isso, mesmo que os problemas graves tenham aparecido com doses altas e no estudo de longo prazo ( 2 anos) , e mesmo que tenha sido apenas no rato e não no ratinho ( o rato de laboratório), O estudo é pertinente.

Além disso, os ratos são considerados um modelo melhor para o intestino do homem. E mesmo nos ratinhos houve alterações que podem evoluir para neoplasia.


Isto não põe em causa os resultados positivos já encontrados para os efeitos terapêuticos, no sentido em que até podem ser verdadeiros, (haja confirmação independente que como disse noutro post ainda falta - não está nada bem estabelecido). São questões diferentes mas algumas vezes confundidas.São estudos diferentes para concluir coisas diferentes.

É uma questão de segurança vs eficácia:

Um príncipio activo  pode fazer bem a umas coisas e muito mal a outras. Na realidade é este equilibrio que temos de avaliar quase sempre (se não mesmo sempre, sem excepção). O que se passa agora é que não sabemos avaliar isso. De um lado temos eficacia mal comprovada e do outro tóxicidade provada mas não quantificada.

Naturalmente que põe em causa a alegação comum de se usar o produto para tratar tudo e mais alguma coisa, sobretudo se forem pequeninas coisas (feridas, queimaduras, etc) e o uso tipo  "suplemento para dar sorte".
 

Pode ainda acontecer que possamos isolar a molécula que causa os tumores (um extracto é um saco de gatos) ou descobrir que só é perigoso muitas vezes acima de uma eventual dose terapêutica. Mas estamos longe de saber o suficiente para fazer uma coisa ou outra. Nessa altura fará sentido usar o dito cacto.

No meio de tanta dúvida, mas com o pouco que se sabe de certeza, acho que faço um voto no príncipio precaucionário.

Nota: os produtos ditos naturais não passam pelos mesmo estudos obrigatórios do resto da farmacologia. Existe a crença generalizada que se é natural não faz mal, mas isso é obviamente uma grande treta.

Via New Scientist:  http://www.newscientist.com/article/dn20365-aloe-vera-extract-gave-rats-tumours.html

O estudo em Pdf aqui: http://ntp.niehs.nih.gov/NTP/About_NTP/TRPanel/2011/April/DraftTR577.pdf

Update: O post foi editado para re-escrever alguns paragrafos com o fim de passar melhor a mensagem que eu considero pertinente.

Mutações que duplicam a informação aumentam a variedade.


Estudos recentes sugerem fortemente que uma grande parte da diversidade nas plantes se deve a uma mutação simples que duplica todo o DNA de uma só vez. Basta não o dividir como deve ser em determinadas alturas chave da reprodução.

Se nos animais isto é invariavelmente letal, nas plantas já sabíamos que podia acontecer sem grandes problemas. Aliás é uma das manipulações genéticas mais antigas que fazemos é criar póliploides.

Isto é mais um pontapé na teoria criacionista de que as mutações não podem aumentar a informação.

De facto, ao procurar plantas com determinados génes duplicados em diferentes ramos das suas famílias, podemos concluir que a duplicação se deu antes da divisão em ramos diferentes.

Por este processo chegou-se à conclusão que grandes explosões de variedade coincidem com pontos de duplicação do DNA.

Como temos um mecanismo que explica bem uma relação de causa e efeito podemos atribuir a essa mutação, a origem da biodiversidade.

Saber mais aqui:


http://news.sciencemag.org/sciencenow/2011/04/double-the-genes-double-the-flor.html

Dificuldades em impedir o aumento da tempertura acima de 2ºC

Um estudo canadiano, recorrendo aos mais evoluidos modelos de previsão climática, aponta a quase impossibilidade (absolutamente impossivel em linguagem corrente) de conseguir a limitação do aquecimento global até 2ºC durante este século. Isto usando apenas as limitações às emissões de CO2.

Segundo outros investigadores, existe ainda uma maneira, que é focarmos as atenções na redução de outros gases enquanto tentamos descobrir um modo não apenas de não produzir CO2 mas de o tirar da atmosfera.

Mais aqui:


http://news.sciencemag.org/sciencenow/2011/04/un-goal-of-limiting-global-warmi.html

sábado, 9 de abril de 2011

Cépticos anónimos.

Clique para ampliar

Naturalmente que o Zé Luiz vinha preparado com a Cédula Pessoal, Boletim de Vacinas, Cartão do Cidadão e todos os cartões de identificação das escolas por onde andou.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Acupunctura Revisitada


O Prof. Edzard Ernst publicou recentemente meta-estudo de todos os artigos de revisão sobre a acupunctura para o tratamento da dor. Ou seja, um artigo de revisão dos artigos de revisão no ultimo reduto da acupunctura – a dor – uma vez que é sempre uma questão de percepção subjectiva. E a percepção subjectiva é variável de acordo com uma data de coisas. É o efeito placebo.


57 revisões sistemáticas cumpriam os critérios de inclusão. Encontrou-se uma mistura de resultados positivos, negativos e inconclusivos e segundo Ernst escreve no “abstract” emergiram também uma série de contradições e problemas que explicam a inconsitencia dos resultados. Apenas 4 estudos foram considerados de elevada qualidade metodológica.

De todos os casos apenas 4 situações médicas houve consistência nos resultados, com os estudos a chegar à mesma conclusão e em 3 dos 4 casos essa conclusão é negativa.

O caso único em que se pôde concluir positivamente a favor da acupunctura é na dor no pescoço – já antes tínhamos visto como a dor é o ultimo reduto da acupunctura, uma vez que é sempre uma questão de percepção.

Adicionalmente, como nota a autora do editorial da revista onde o artigo é publicado, quando uma terapia popular ineficaz é testada vai haver um excesso de falso positivos. (1)

Foram ainda encontradas descritas 5 mortes e 95 casos de efeitos adversos graves.

Se bem que este estudo por si não prove que a acupunctura não funciona para tratamento da dor, prova sim que é muito pouco eficaz, tão pouco que o ruído (acaso, placebo, etc) se confunde com qualquer efeito que haja.

No entanto, se abordarmos este artigo no contexto geral, de tudo o que já sabemos que sobre a doença e a natureza, podemos concluir que a acupunctura não funciona. Não é funciona mal. É não funciona.

Via Science Based Medicine:
http://www.sciencebasedmedicine.org/?p=11765

  1. Ioannidis et al 2007, citado por Harriet Hall em:
    http://www.painjournalonline.com/article/S0304-3959(11)00077-7/abstract

    O texto de Ioannidis aqui (muito interessante):
    http://www.plosmedicine.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pmed.0040215
       

sábado, 2 de abril de 2011

O Livre Arbítrio é bom.


Enquanto que a ciência sugere que não exista realmente algo como “livre-arbítrio” , um grupo de cientistas decidiu explorar a questão se acreditar nele é bom ou mau (1).

Sumariamente, as dúvidas que a ciência põe neste conceito são que ou o determinismo é verdade e então tudo o que fazemos é um fluxo linear de causas e consequências ou então há coisas que acontecem sem causa e de acordo com probabilidades, e o que fazemos é produto do acaso. De uma maneira ou de outra, o livre-arbítrio fica bastante comprometido.

Resta dizer que como a ciência diz também que existe uma seta-do-tempo, isto é, que o tempo anda num sentido apenas, e como não é possível prever o futuro pois implicaria ter um modelo completo de todo o universo e ser capaz de computar todas as variáveis em tempo real, o livre arbítrio ainda é livre em muitos aspectos. Talvez não “livre” num sentido absoluto mas num sentido relativo a não estar pré-determinado. Em traços largos, na pior das hipóteses, destino é algo que existe para cada instante seguinte, mas não mais que isso. Ou seja, não é destino.

É esse o livre-arbítrio que podemos ter. E seja como for, parece que se não acreditarmos no livre arbítrio, então não faz sentido decidir nada e ficamos apáticos, por isso o melhor é acreditar em qualquer coisa e fazer pela vida.

Então e voltando ao princípio, foi esta a ideia que um grupo de psicólogos decidiu investigar. É mesmo melhor acreditar no livre-arbítrio?

Foram formados dois grupos e a um deles foi dado um texto genérico sobre a consciência e a outro um texto que alegava a descoberta cientifica de que não existe o livre arbítrio.

Depois, com recurso a electroencefalograma mediu-se a disposição para iniciar actividade voluntária. Isso é possível pois as nossas decisões de agir são preparadas a nível subconsciente antes de serem apresentadas à consciência (sim, eu sei, aparentemente mais um pontapé no livre arbítrio, mas não se esqueçam que o cérebro é um sistema de sistemas interrelacionados e é quase impossível dizer onde “nascem” as coisas.)

As pessoas que tinham estado a ler sobre a inexistência de livre arbítrio tornaram-se menos activas. Isto mostra que duvidar do livre arbítrio causa desmotivação. Segundo um dos autores do estudo mostra que é melhor acreditar.

À partida parece-me uma conclusão razoável, em linha com o esperado pelas deambulações filosóficas. E acho que este estudo levanta ainda mais questões interessantes passíveis de ser abordadas cientificamente.

Quanto tempo dura essa desmotivação?
Embora em menos quantidade há uma diminuição na qualidade? Isto é, se pusermos ambos os grupos a ter de tomar decisões complexas, incluindo a resolução de problemas, haverá diferenças na eficácia?
Será que essa maior propensão para agir baseada na crença do livre arbítrio pode predispor ao disparate?
Especificamente ao tipo de diminuição de actividade, causará diferença nos tempos de reacção face a um sinal de perigo?

Provavelmente, alguém, algures já está a desenhar protocolos para testar estas questões. É uma questão de tempo.
E penso que a seu tempo poderemos saber mais sobre se temos ou não escolha em acreditar no livre-arbítrio. Não tenham dúvidas. Até lá acreditem. E se não acreditarem façam como se acreditassem. Afinal como dizia o hitchens, temos de acreditar no livre-arbítrio, não temos outra hipotese.