É preciso ter cuidado para não atribuir a um medicamento ou vacina tudo o que foi registado como acontecendo a seguir à sua administração.
Nem todo o acontecimento B que se segue a A é consequência de A. Esta falácia do pensamento humano chama-se "post hoc ergo proter hoc".
Isto porque existem publicados na Internet registos de farmacovigilância que estão sendo assim interpretados.
Desta maneira, problemas frequentes como constipações, otites e outras mazelas estão a aparecer também com alguma frequência nessas listas. O mesmo se passa para outras doenças mais graves mas também frequentes.
Em relação aos registos menos frequentes o cuidado não deve ser menor. Se aconteceu algo extraordinário após toma de um medicamento, mas também aconteceu apenas numa percentagem muito baixa, por exemplo, aí na casa do 1 para um milhão, não é razão para ter menos cuidado a atribuir relação de causa-efeito.
É preciso, para considerar uma relação de causalidade, haver um aumento de frequência face a um controlo e ou um mecanismo plausível .
Se não daqui a pouco estamos a considerar outros acontecimentos frequentes como efeito secundário, como por exemplo considerar os acidentes de automóvel culpa da vacinação.
Por exemplo, a maioria das vacinas não tem efeitos indesejados na maioria das vezes. Os problemas mais comuns são períodos febris (responsivos a antipiréticos), inchaços e comichões. E mesmo assim são pouco frequentes - ver mais aqui. Raramente, podem ter reacções muito graves e o choque anafilático que ocorre em cerca de 1 em 1 milhão é normalmente a reacção adversa mais grave com que temos de contar se falarmos das vacinas de um modo geral. Mas é tratável e não deixa sequelas. Mas é a razão pela qual a vacina deve ser dada por quem sabe e onde há meios para responder a essas situações. Como quase todos nós fomos vacinados, se decidirmos ver o qeu aconteceu a cada um depois da vacina sem ter em conta a plausibilidade ou o aumento de frequência, vamos ter resultados bizarros como consequência das vacinas, tal como os propostos acima, já que acidentes de viação são muito frequentes.
Outra coisa que vale a pena alertar a este respeito é acerca de um site novo que lista os dados de farmacologia de todos os medicamentos e apresenta o resultado em percentagem em relação às notificações. Isto é, a percentagem de cada problema é em relação ao total de notificações, pelo que a soma dá mas de 100% de problemas para cada medicamento já que as notificações normalmente não incluem um só sintoma. Pegar nessas listas sem ter isso em mente ainda é pior que nas antigas onde era tudo registado quer fizesse sentido quer não. É que nestas é tudo registado, mas acrescentam uma percentagem que parece que é a probabilidade de cada um de vir a ter aquele sintoma. Vale a pena ter isso em atenção já que também existe esta modalidade.
Para finalizar e voltando às vacinas. É errado considerar o risco do vacinado igual ao do não vacinado. Isto parece óbvio, mas andam para aí pessoas que pegam nos números de risco de uma população vacinada, e usam como argumento para dizerem que não se vacinam porque o risco é baixo. Já para não falar que um dos objectivos da vacinação é a "imunidade de rebanho". E sim, somos o rebanho. Existe um limiar abaixo do qual não devemos descer para que continuemos todos protegidos e com prevalências baixíssimas.
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