Nota: Para as questões mais frequentes sobre o aquecimento global (e respostas simples), clicar aqui (recomendado).
Para uma explicação mais completa do que é o efeito de estufa e porque podemos confiar nos modelos climáticos continuar a ler:
Um fenómeno súbito mas previsto desde há mais de 100 anos.
A comunidade científica que se dedica especificamente a esta matéria, é bastante consensual a culpar a actividade humana por este fenómeno que não prevê a alteração do ambiente no sentido mais conveniente à espécie humana. A quem colocar a importância dos consensos científicos em causa peço que leia o que escrevi sob essa etiqueta e no separador "Consenso Ciêntifico".
Estes cientistas dizem que a produção de gases com efeito de estufa aumentou drasticamente no fim do século XX e que está a ter como consequência o aumento das temperaturas médias em torno do planeta. O famoso gráfico em stick de hockey que mostra as temperaturas estáveis durante séculos (últimos 1000 anos) e a subir em flecha no fim do séc XX apesar de inúmeras criticas e depois de algumas correcções, ainda é a melhor estimativa que temos. Apesar de tudo, as conclusões que se podem dele tirar não se alteraram.
Claro que quanto mais para traz no tempo andarmos maior a margem de erro mas é mesmo possível que estejamos a viver os dias mais quentes dos últimos 1,000,000 anos… Claro que o nosso planeta já foi mais quente noutras alturas, mas também era um mundo muito diferente. Não é só a temperatura actual em si que deve estar a causar alarme, mas também sim a velocidade do aquecimento. E esse aumento coincide exactamente com o inicio da produção massiva de CO2 ( dióxido de carbono) pelo homem. Explicação mais simples? O homem queima combustíveis fosseis, a combustão liberta CO2, o CO2 é um gás com efeito de estufa, a temperatura começou a aumentar quando se começou a produzir CO2… Conclusões?
O aquecimento global é antropogénico.
Um aparte sobre o efeito de estufa. O nome é enganador, o mecanismo com que aquece a terra não é o mesmo de uma estufa. Refere-se à absorção de raios infravermelhos provenientes do solo terrestre por estes gases. Os raios infravermelhos traduzem-se em calor. O calor é novamente irradiado de volta para a terra formando-se um ciclo vicioso com uma fonte quase inesgotável, o Sol. Este fenómeno foi descrito primeiro por Joseph Fourier em 1824 (o mesmo a quem foi dado em homenagem o nome da transformada de Fourier), e estudado quantitativamente por Svante Arrhenios em 1896, muitos anos antes das coisas começarem a aquecer.
No método cientifico uma boa teoria deve ter a capacidade de fazer previsões que possam ser testadas. O principio do efeito de estufa previa portanto que se se aumentassem as concentrações de CO2 ( gás com efeito de estufa) na atmosfera que a temperatura global iria aumentar. Não era pensável sequer testar esta teoria mas infelizmente foi o que aconteceu. Aumentou-se a libertação de CO2 para a atmosfera e logo a Terra começou a aquecer. Agora de notar também que o aquecimento global não obriga a que seja homogéneo pelo planeta todo, e algumas regiões podem mesmo assinalar temperaturas mais baixas. Em média, e sobretudo bem visível nos oceanos onde as temperaturas tendem a oscilar mais devagar, há um aquecimento global. É óbvio também que vamos ver oscilações nas temperaturas ao longo dos anos e haverá anos mais frios que outros enquanto que a longo prazo se verifica um aquecimento. 2008 por exemplo esta a ser mais frio que 2007 mas isso não representa uma reversão da tendência. Dos 11 anos mais quentes em registo nenhum foi há mais de 15 anos. A temperatura é medida directamente desde 1850.
Outra previsão que tinha sido feita era o aumento das tempestades tropicais, facto que estava a ser controverso porque na realidade em frequência não aumentaram muito. O que os dados têm mostrado é que são pouco mais frequentes mas bastante mais violentas. E isso esta de acordo com a teoria.
Quanto mais energia livre houver no sistema que é a Terra e a sua atmosfera, mais extremos vão ser os fenómenos climáticos. É fácil de seguir o raciocínio. O Sol fornece energia, essa energia é retida em maior quantidade, logo mais energia para tempestades.
Uma terceira previsão das teorias do aquecimento global é a chegada a um ponto de não retorno. James Hansen, climatologista da NASA acha que já o alcançamos,mas eu tenho fortes esperanças que ele esteja errado. Outros cientistas acreditam que este ponto será por volta de 2017. Será que queremos saber se é verdade?
E não houve uma época mais quente que a actual durante a idade média, o chamado periodo quente medieval foi quase de certeza um fenómeno local e não global. Também não existem provas de que a Antárctida tenha sido verdejante (Greenland), na realidade aquilo é só rocha e permafrost e quem mais produz CO2 é quem mais tem a ganhar ao negar o aquecimento global antropogénico, não são os cientistas que ganham com esta teoria. Alias, ninguém esta a ganhar.
Saber o que se segue: Os modelos Climáticos são fiáveis?
A maioria dos estudos que encontrei acerca da fiabilidade dos modelos climáticos diz que sim.
Mas sempre com uma margem relativamente larga de erro (1). São resultados probabilisticos que tentam prever tendências para o futuro, num quadro que envolve muitas variáveis, e ainda muitas icognitas. Não vejo no entanto justificação para a afirmação que não têm utilidade nenhuma.
E começamos por aí:
Um estudo recente de Mckitrick e McIntire - uma meta-analise de 23 modelos - entre os quais modelos usados pelo IPCC no 4 relatório (o 5º ainda vem a caminho) , conclui que estes não são capazes de explicar os dados reais de temperaturas tropicais na troposfera baixa e média (2) já observados.
Este artigo vem responder a um de Santer que respodia a um de Douglass que concluia que a modelização do clima era ineficaz. Estão portanto em causa praticamente os mesmos modelos desde o principio, com pequenas variações. E as temperaturas superficiais batem certo, o que não bate, dizem Mckitrick e McIntire, são as temperaturas para o ar em altitude. O debate entre estes dois grupos, e com o derrame de pormenores menos estéticos nos mails do "climategate", é tão cerrado que parece que toda a climatologia gira à volta deles e do que eles dizem.
Existem no entanto publicados em 2008 metaestudos (3) que dividiram os modelos por geração, isto é, por "modernidade" e concluem que não só os modelos são fiáveis, como são cada vez mais fiáveis. Este estudo não vem no entanto referido neste trabalho de Mckitrick. Mas tem eco nas coclusões neste outro estudo intitulado "revisão da geração actual de modelos quimico-climaticos da estratosfera (ainda mais acima que troposfera) e associados "forcings externos" (4).
E se o estudo de McKitrick e McIntire aponta para que os modelos avaliados falhem por excesso, a verdade que temos de ter em conta é que os modelos tambem podem falhar por defeito.
O ano passado num estudo de Ronald Prinn publicado na Journal of Climate em que um modelo foi corrido 400 vezes e só se aproveitaram as vezes em que o resultado para o passado estava de acordo com o observado, as previsões dadas eram para um aumento pior do que o previsto até agora. Este modelo é diferente de todos os anteriores por incluir também alterações na actividade humana e as suas repercursões no clima.
O metaestudo de M&M, para os curiosos, foi feito correndo cada modelo entre 1 e 7 vezes.
De resto, existem modelos bem sucedidos desde 1998 quando Jim Hansen da Nasa apresentou perante o senado americano uma projecção com 3 cenários (A,B e C) . O cenário B ficou muito perto do verificado. Anos mais tarde essa apresentação seria desonestamente criticada por se pretender que só tinha o cenário A (5).
Em conclusão, penso que se em termos de pormenor, não há, nem provavelmente nunca haverá modelos climáticos rigorosos, considerar que TODOS os resultados dos modelos estão errados, para lá do erro aceitável, é um abuso. É francamente implausível.
A maioria tem resultados convergentes para um aquecimento global.
Quanto à ausência de modelos fiáveis por em causa o aquecimento global também penso que é errado. Dada a ciência de base estar tão bem estabelecida, para que isso fosse posto em causa era necessário aparecerem modelos que explicassem o aquecimento sem recorrer a CO2 antropogenico. Isso não há.
Como curiosidade, o artigo de M&;M aceita que exista uma tendência de aquecimento global, mas deixa implícito (o que num artigo cientifico é bizarro, nunca tinha visto apenas a insinuação) que o aquecimento não pode ser explicado pelo CO2.
O estudo (3), na realidade um meta-estudo, refere que a média dos resultados dos modelos é melhor que o resultado de qualquer modelo em separado. Embora eles não consigam explicar isto, penso que poderá vir a ser um indicador de como usar os modelos. É extremamente interessante. Parece-me que no estudo do Ross Mckitrick eles não fazem isso com o seu conjunto de modelos. (parece-me que fazem a diferença media dentro de cada modelo para a tendência observada e depois fazem a média das diferenças assim obtidas nos vários modelos).
Uma nota pessoal de andar a ler sobre isto há uns anos:
É de assinalar que os modelos climáticos estão constantemente em evolução. Ainda recentemente (Abril de 2011) saíram resultados de modelos de uma nova geração. E é de notar que os resultados tem sempre sido extremamente consistentes. Porque conforme foram ganhando sofisticação e contando com cada vez mais variáveis foram fazendo previsões eventualmente mais precisas. Mas nunca num sentido diferente de um mundo mais quente.
Aliás como a reconstrução das temperaturas dos últimos mil anos. Apontam-se uns erros, corrige-se mas acaba sempre por dar às mesmas conclusões.
(1)http://www.ingentaconnect.com/content/mksg/tea/2007/00000059/00000001/art00002 "although there is no detailed agreement between the simulated and observed geographical patterns of change, the grid box scale temperature, precipitation and pressure changes observed during the past half-century generally fall within the range of model results."
(2)http://rossmckitrick.weebly.com/uploads/4/8/0/8/4808045/mmh_asl2010.pdf
(3)http://findarticles.com/p/articles/mi_7476/is_200803/ai_n32270847/?tag=content;col1
(4)http://www.agu.org/pubs/crossref/2010/2009JD013728.shtml
(5)http://www.realclimate.org/index.php/archives/2007/05/hansens-1988-projections/