Quando comecei este blog, uma das directivas a que me tinha proposto era não falar de religião. Pensava que podia manter as coisas no ponto de que a religião está num lado, a ciência no outro e não há atritos. Sério. Pensava mais ou menos assim.
Mas depois apercebi-me que tal não era possível. Afinal a realidade parece ser apenas uma, e parece ser a mesma para todos, e a religião não abdica de fazer as suas afirmações sobre o que considera ser real, mesmo para além da mitologia.
São as transusbstanciações, as almas, o criacionismo, o dualismo, os mistérios, as considerações sobre neurobiologia, a biogénese, a origem do cosmos, etc.
Há colisões. É a verdade nua e crua. E sei que misturei várias religiões e as pus todas no mesmo saco, mas fí-lo porque o problema de base e a argumentação de base é a mesma. A religião, seja qual for, implica com o Naturalismo ciêntifico que pensa ser uma lista de coisas que a ciência não pode admitir, implica com o rigor ciêntifico que diz que não se deve inventar o que não é preciso e abusa do pensamento crítico ao querer através de apelos à ignorância impor um sistema onde a fantasia é indistinguivel da realidade.
A Fé não é um problema. As crenças devem ser respeitadas. Se um crente me diz que acredita num Deus qualquer por Fé, eu não tenho nenhum problema com isso. Vejo um problema sim, nas afirmações que se fazem acerca deste mundo que são (tanto quanto se pode saber) falsas. E um problema também nas afirmações que se fazem acerca dos limites da ciência humana, como se soubessem dizer onde está o limite até onde podemos chegar, como se isso fosse tão óbvio como uma soma algébrica.
A ciência tem limites. Mas propor um sistema que não seja capaz de distinguir a realidade da fantasia como sendo superior ao ciêntifico enquanto conhecimento é de uma desonestidade intelectual enorme.
E querer impor esse sistema porque a ciência tem limites (sejam eles quais forem) é uma falácia.
O diálogo possível entre ciência e religião acaba por ser o debate intenso destas questões. E sinceramente não vejo como pode ser resolvido. A religião não abdicará de fazer as suas afirmações sobre a realidade e a ciência não abdicará de procurar fazer afirmações que sejam sustentadas racionalmente e empiricamente.
O Prof. Alfredo Dinis do blog "Companhia dos Filósofos", noutro dia escreveu que acreditava em Deus mas não por ter uma razão qualquer especifica para isso. Ou coisa parecida (1). Infelizmente depois acrescentou uma lista de coisas que ele considerava serem inexplicáveis pela ciência que incluiam o amor (sugiro uma consulta à wikipédia inglesa) para suportar a sua crença.
Eu tenho um problema com esta ultima parte. Com a primeira não. Quem acredita porque tem Fé, não me incomoda. É justo para uma vida curta encontrar apoios. Mas isso não os torna reais, infelizmente. (Este é um erro comum. A validação enquanto apoio psicologico não valida o objecto da crença como realidade outra que a psicológica...)
É o que se faz por causa dessa fé que pode ser um problema. E o que se insiste que tem de ser real por causa disso. É a tentiva de fazer passar Fé por conhecimento que me faz dar tanto tempo a este tema.
É que crenças toda a gente tem direito a ter as suas mas o universo é o mesmo para lá disso. E sobre a realidade podemos debater livremente.
(1) Estou a citar de cor. A ideia era esta.
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