terça-feira, 23 de abril de 2013

Energia não nasce do nada.

Se se diz que se produz energia a partir do peso dos automóveis e das pessoas, quer dizer que estamos realmente a tirar essa energia do movimento das massas respectivas. É que se a massa não mexer mais, não há mais produção de energia. Era bom, mas não dá. É preciso levantar e voltar a pousar ou dar lugar ao próximo. Ou seja, é preciso gastar energia.

No caso das pessoas até pode ser bom gastar umas calorias extra, mas no caso dos veículos, a unica energia desperdiçada é a da travagem (na Formula 1 por exemplo ela é reutilizada no próprio automovel, mas os nossos carros de estrada não estão equipados para isso). O resto vai-se transformar em aumentos do consumo de combustivel, dividido por todos é certo. Se vão vender essa energia à rede já agora então podiam dividir o lucro por todos os que contribuiem. Se vai servir para iluminar cartazes de propaganda tenho dúvidas quanto à legitimidade.

Se é para a iluminação pública da cidade pode ser uma boa ideia, mas dúvido que sirva para alguma coisa que se note muito. O que não  se pense é que esta energia vem sem preço.

É que ao contrário do que diz o titulo da notícia do Público (de resto o meu jornal favorito), a energia não nasce. Nós podemos é transformar uma forma noutra.

Quem conhecer bem a mecanica quantica pode lembrar que pares de matéria e antimatéria estão constantemente a pular dentro e fora da existencia, e que matéria é energia, etc. Mas a verdade é que a soma da energia libertada aquando da aniquilação do par particula-antiparticula é igual àquela que foi usada para o formar. Aliás todo o universo pode ter energia total nula e ter surgido de uma flutuação quantica do genero.

Energia grátis não existe. Pelo menos conhecida. E há ainda muita gente que pensa que sim e que formas de energia infinita são segredos conspiratórios das grandes sei láo quê.

Não é o que se sugere fazer aqui, apesar do titulo.

domingo, 21 de abril de 2013

A queda dos extrovertidos e a ascensão dos neuróticos.

De entre as 5 grandes dimensões de personalidade que os psicologos usam para estudar os sujeitos, duas delas com algum contraste são a extroversão e o neuroticismo.


A extroversão, dando mais nas vistas e promentendo confiança e dinamismo tem sido preferida em diversos cenários. Os mais neuroticos têm sido vistos como demasiado instáveis e péssimistas.

No entanto, estudos  recentes mostram que isso como regra para equipas de trabalho é  errado, já que no longo prazo os mais neuróticos sobem em consideração pelos colegas enquanto os outros descem. É que os extrovertidos procuram ser o centro da atenção como objectivo final, enquanto os neuroticos preocupam-se mesmo é em fazer as coisas bem feitas.

Provavelmente uma mistura dos dois tipos será essencial numa equipa. O que é de notar aqui é que a sobrevalorização da extroversão é um ilusão. Assim como o desprezo face aos mais neuróticos.

Via Forbes, aqui.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Precisamos mesmo de espaços verdes.

É bom para o neurónio e para a sociedade. Além disso é bonito.

Desde algum tempo que há evidência que os espaços verdes, reduzem a criminalidade.  E zonas mal arranjadas e deixadas ao abandono, aumentam.

E agora as máquinas , mais concretamente electroencefalogramas, (porque às vezes estamos demasiado preocupados com a vida para perceber o que é mesmo importante) vêem nos mostrar como passear em espaços verdes e naturais nos melhora a disposição, nos torna mais meditativos, diminui a frustração e outras coisas boas. Zonas urbanas mais "hardcore" parece que têm efeito contrário.

Por isso, se não podemos passar a vida a ir passear no campo, ao menos que hajam espaços verdes nas nossas cidades. Precisamos deles. Sempre soubemos não é? Mas agora vamos sabendo mais sobre o verdadeiro impacto.

Já agora, eu sugiro, o Jardim da Gulbenkian. E o da Estrela. Em Lisboa.

Acreditar não pode ser um ponto de partida.

Tem de ser o ponto de chegada depois de trabalho arduo.

No entanto não faltam pelo mundo apelos a acreditar e gente que diz orgulhosamente acreditar. Em tudo e mais alguma coisa. Como se acreditar só por acreditar fosse uma grande virtude.

Mas em sí apenas, acreditar não tem valor. O que interessa primeiro são as razões e a justificação das nossas crenças.




Por falar em jogar aos dados...



"The God Letter", integralmente aqui.

Afinal Deus joga aos dados.

"Somos o produto de flutuações quanticas num universo muito precoce"

 Ambas as citações são de Stephen Hawking. A do título e esta. E não ele não acredita em criação divina pois não acredita em Deus, tal como Einstein, refere-se a Deus apenas metafóricamenteAmbos discordam na questão dos dados, no entanto. 

Se este tema lhe interessa sugiro, além dos links em hipertexto acima os seguintes logo embaixo:

(1) http://cronicadaciencia.blogspot.pt/2011/07/fallacy-of-fine-tuning-por-victor.html

(2) http://cronicadaciencia.blogspot.pt/2010/09/teoria-da-evolucao-e-o-ateismo.html

(3) http://cronicadaciencia.blogspot.pt/2012/04/laurence-krauss-universe-from-nothing.html

Via Cnet, aqui.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O problema do mal



Claro que depois vem gente como o William Lane Craig que diz que deus pode ter uma razão suficiente para não acabar com o mal. Como deus pode ter tudo, parece ao William Lane Craig que isto é uma boa desculpa para Deus não fazer melhor.

Ou seja, Deus pode ter uma boa desculpa para ser pior que os humanos (a maior parte de nós esforça-se por evitar atrocidades e essas coisas)

No entanto, com desculpas ou não, isso apenas confirma que Deus pode não fazer melhor - precisa de umas desculpazitas para uns genocidios aqui e ali. Ou que não é lá muito bonzinho. Ou que é tudo imaginação. Por isso, escolham o que vos parece melhor acerca de um conceito referente a um Deus que obviamente não faz melhor. É que só sobra dizer que isto é o melhor mundo possível. Mas isso nem o William Lane Craig parece querer dizer.

Em suma, Harris tem razão em face das evidências e dos cenários racionalmente plausíveis. Não se pode ser muito mais cientifico que isto.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

As coisas em que os criacionistas acreditam...


Já para não falar no sofisticado sistema de esgotos, climatização, distribuição da alimentação, produção e conservação de alimentos, limpeza, controlo de pestes e pragas, aquarios para peixes de agua doce, etc.

Dos pés para as papilas gostativas na lingua. Née... Realmente...



De um promotor voluntário de um produto comercial para a saúde e fascinado com o que a ciência não pode explicar:

"Durante uma conferencia sobre Óleos Essenciais, comentavam como a planta dos pés pode absorver os óleos. O exemplo consistia em colocar alho na planta dos pés e aos 20 minutos, já podia sentir o sabor na boca! (faça o teste e comprove)."

Chama-se olfacto. O cheiro vem no ar - são particulas em suspensão.  Chegam ao nariz e eventualmente até às papilas da lingua. Confunde-se com sabor tudo junto. Na realidade só temos 5 sabores na lingua. O resto da nossa percepção de sabor vem do cheiro da comida enquanto a mastigamos.

Isso ou acabei de perceber porque é que tudo me sabe a peuga velha nos ultimos tempos.

A sério?


Isto pode parecer muito intelectualoide, mas...

O pensamento critico bate a inteligência "hands down", por muitas virtudes que esta possa ter. O pensamento critico é o nível acima, não só mais acessivel a todos os que quiserem aprender, como mais util no longo prazo. A inteligencia requer respostas em tempo real a novas situações; O pensamento critico demora o seu tempo para estudar todas as situações pertinentes ao caso, usa aprendisagem anterior e controla para os erros criticos da vulgar intuição.

 De qualquer modo sabemos bem  que a maior parte de nós prefere a beleza fisica ou o poder económico :P

Um erro numa formula de EXCEL levou a uma visão demasiado positiva sobre a austeridade.

Um trabalho de economistas de Harvard que tem sido usado para justificar as medidas de austeridade foi recentemente criticado pela descoberta de erros ao nivel das formulas usadas ( e também por alguns outros aspectos menos transparentes).

Ao que parece a origem dos erros nas formulas é o programa Excel da Microsoft. Mas isso não devia desculpar a situação.

Porque um aspecto a salientar aqui, e algo que é de extrema importancia é:

- Este trabalho não passou por peer-review!!!!

Nao sendo um trabalho de divulgação baseado em outros e sendo sobre algo tão importante, é dificilmente desculpável.

A revisão por pares faz parte do método cientifico. E quando é feita pré-publicação, por revisores da area sob anonimato, é quando funciona melhor. Assim tivemos de esperar mais até o erro ser descoberto. E quem sabe levar com mais austeridade. Afinal isto enfraquece bastante os argumentos dos austerófilos.

Corrigido o problema (esse e outros), os dados obtidos da gravidade do endividamento ( e que supostamente justificam a austeridade, outro ponto criticável), não são nem de perto tão graves como os obtidos com a formula errada, pelo menos nas dividas acima de 90% do GDP. Por exemplo, a divida nunca leva a valores negativos de crescimento.

São estas as diferenças:

Divida: 30%  crescimento (corrigido) 4,2%    (não corrigido) 4,1%
           30 a 60%                               3,1%                          2,8%
           60 a 90%                               3,2%                          2,8%
       mais de 90%                              2,2%                         -0,1%
       mais de 120 %                            1,6%                          ND

Em resposta a estas criticas os autores do estudo original notam que os valores são muito parecidos. E são. Excepto nos pontos criticos, que é o que nos importa.

Via Ars Technica,

"clickar" nos "links" acima fornecidos em hipertexto para ter acesso ao artigo original e reposta dos autores.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Indicios da composição da matéria negra?

Sinais possíveis de detecção de WIMPs, (moléculas massivas fracamente interactivas), que são previstas teoricamente pela Supersimetria, uma extensão do Modelo Padrão muito popular entre quem percebe do assunto, emergiram num detector numa mina do Minessota (é numa mina para evitar ruido de outras colisões).

As WIMPS são lentas, frias, interagem fracamente com a matéria normal e nunca através de electromagnetismo, ou seja, não se vêem - são uma das possíveis composições da matéria negra.

Embora a estatistica da detecção seja desde já impressionante, com um elevado grau de confiança, os experts dizem que "ainda não se pode considerar ao nivel de uma descoberta".

Comprovar ou não a validade da Supersimetria é um assunto de extrema importancia na fisica teorica, já que tanta coisa é por ela explicada: Unifica a fisica de particulas com o espaço-tempo; é uma explicação para a matéria negra; resolve o problema da diferença de energia entre as forças fraca e gravitica, entre outras coisas.

Tentativas no LHC de validar a Supersimetria estão a sair completamente frustradas, pelo que alguns fisicos já falam na sua morte iminente (não do LHC mas da supersimetria). No entanto, ainda recentemente a sonda Planck trouxe mais dados que suportam a existencia da matéria negra, cuja constituição pode ser prevista pela supersimentria e este detector do Minessota, em Abril, parece ter assinalado 3 colisões. Mas não chega para provar nada, apesar de merecer ser noticia.

Existem ainda outras evidências da matéria negra, pelo que não está exactamente em causa a sua existencia, mas sim do que é feita e da realidade da supersimetria ou de alguma das suas variantes.



Artigo original aqui.

Update: resolvida ambiguidade entre a existencia e a constituição da matéria negra.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A austeridade do ponto de vista de um ceptico.

A austeridade é a politica económica que diz que devem ser os pobres a pagar a incapacidade dos ricos de aplicar efectivamente a sua riqueza (nem investir nem emprestar querem, muito menos pagar impostos) para que haja crescimento.

Em vez de ir buscar o dinheiro onde ele está, a ideia da austeridade é tão burra como ir tentar  buscar dinheiro a quem menos tem. E para dar a quem? A quem menos tem também? Para isso começavam por não o ir lá buscar.

Normalmente com o argumento que as empresas e os ricos criam postos de trabalho, e como se o verdadeiro objectivo das empresas não fosse apenas ter lucro, em vez de taxar o capital proveniente desse lucro, procura-se taxar o trabalho. É uma assimetria enorme nos esforços pedidos.

E uma data de gente sem capital, na esperança eventual de um dia ficar cheio de capital, talvez porque acredite que se vive numa meritocracia ( e cada um de nós tem tendencia para achar que é melhor que os outros), ou que vá ganhar a lotaria, defende que de facto os ricos merecem todo o dinheiro que têm. Ou talvez acreditem que todos podem abrir empresas e ficar com os lucros das suas próprias empresas como se houvessem recursos infinitos e espaços para infinitas empresas. Ou então ainda se calhar é para se armarem em fortes, tal qual o miudo que se espalha no chão e se levanta todo direitinho, a tentar não coxear e a dizer que não doeu nada.

Defendem portanto que 0,001% das pessoas merecem ter practicamente 20% da riqueza. E por aí fora a desporporção continua.  6 biliões de pessoas, ou seja 99,9%  partilham apenas 19% da riqueza que sobra. Que moral é esta? Que discrepancia de mérito pode justificar isto?

Nesta sociedade todos parecem fazer falta para que tudo funcione. Se não igualmente, pelo menos nada que justifique uma diferença tão grande. Apenas há uns que se puseram na posição de fazer as regras e garantem que as regras dizem que os outros não valem grande coisa. Uns acumulam capital enquanto outros acumulam dividas a quem tem capital. E faz as regras. É que ter riqueza dá poder e poder dá riqueza.

Lutar por riqueza, recursos e ideias é em grande parte uma lotaria. Mandar o povo tornar-se empreendedor é como dizer: "amanhem-se!" mesmo sabendo que não dá nem para 1/3 destes.

Parece-me mesmo, tal como a austeridade é imposta, que estamos a pedir o maior esforço a quem mais as coisas custam. Com impacto na qualidade de vida, na saude, na própria e nos seus filhos e provavelmente por muitas gerações. Por isso não me falem em espantalhos de premiar quem mais merece. Nada justifica estas desigualdades e esta má distribuição dos esforços. Afinal o esforço devia ser premiado.

A solução, na minha maneira de ver, é substituir a austeridade por um estimulo economico com origem na redistribuição da riqueza. É preciso ir buscar o dinheiro onde ele está. Não onde ele não está.

Os seres humanos são notávelmente semelhantes entre si. De facto parece que descendemos todos de uma população ancestral de cerca de 10.000 individuos. Qualquer argumento que procure racionalizar a discrepancia de riqueza de um modo tão implacavel está condenada a falhar na justiça, na moralidade e na biologia. E não resta muito mais. Há!... resta na estabilidade mundial. Sim, está a falhar também. A crise é mundial - deixar alguns acumular riqueza sem limites e reger a seu belo prazer deu nisto - e agora é a teoria de que espremer os pobres que resolve o problema. E as desigualdades e o desemprego são causas de guerras. Já chega não?

Dizem também que são ciclos. Suavizem esses ciclos com melhor distribuição dos esforços e da riqueza, num estado mais social e menos selvagem.

Não é preciso acabar com os ricos. Eles podem andar aí na sua vida de ricos que a mim tanto me faz. Mas não podem ser tão ricos. Têm de ajudar a acabar com a pobreza, a miséria e outras coisas que não têm nada de existir.  É que num mundo de recursos limitados o que se acrescenta num lado tem de vir de outro. Só se houvesse recursos livres e ilimitados é que fazia sentido dizer que cada um tem o que se esforça por ter. Assim, o que uns têm é tirado a outros. E se razão pode haver para alguma, moderada e simbolica  desigualdade, nada justifica a actual.

Exemplos empiricos: Eu sugiro o modelo nórdico para começar. E nunca, mas nunca por a democracia em causa.



Explicando o que é o cepticismo. E o que não é. E porquê.


Com o aumento enorme da exposição do cepticismo ao público em geral, sobretudo através da internet mas não só, é um pouco frustrante ver como as criticas que suscita são pouco mais ou menos as mesmas que suscitavam há 9 ou 10 anos atrás. Refutam espantalhos.

Não estou sequer a pensar no que dizem os defensores mais acérrimos das pseudociencias (esses variam imenso nas posições que tomam, alguns pretendem inclusivamente pretencer aos cepticos)  mas sim nas criticas que vejo no público mais geral, de pessoas, aparentemente, apenas ocasionalmente interessadas nos assuntos dos cepticos. Por isso penso que refutam espantalhos não por teimosia mas por desconhecimento.

A verdade é que se o ceticismo fosse o que me parece que o publico em geral pensa que ele é, eu também não era céptico.

Porque o cepticismo não é uma ideologia acabada do que devemos acreditar ou negar. Nem um pouco. O cepticismo vive sim da critica e da investigação sistemática, para chegar ao que são as melhores explicações de acordo com tudo o que se consegue descobrir. E isso parece ser algo que escapa completamente ao público em geral.

O cepticismo não é uma crença que valha pelo crença ou uma ideia que valha pela ideia. Ou um conjunto destas. Não tem uma lista de coisas que tem de considerar falsas e outra que tem de aceitar. Não tem uma lista de autoridades que tem de seguir e ou uma hierarquia a respeitar. Talvez a unica seja o consenso cientifico, mas nunca uma autoridade individual e nunca tendo o mesmo peso de evidencia empirica sistemática.

Como o trabalho do cientista é comparar afirmações com fenómenos reais, a afinidade do ceptico com a ciência é enorme. Mas não é pela autoridade. É pelo processo. E tal como a própria ciencia é uma sociedade de autocritica cerrada - e consequentemente em constante evolução e correcção - também o cepticismo não prentende por sua vez considerar a ciencia uma espécie de religião - esta ideia é completamente absurda e no entanto tão popular. É ao contrário - o rotulo do produto, se diz que é ciência ou não - não é importante. Interessa o que diz e a justificação:

O cepticismo não é dogmático. Mas não é dogmático por decreto de não ser dogmático. É porque não funciona ser dogmático e esse foi um caminho que já vimos percorrer. Esse processo funciona muito mal: Porque não valendo a ideia ou a crença por si, sendo esta incapaz de produzir uma alteração na realidade a seu favor, a dita crença ou ideia está sempre à mercê do que se pode tirar epistemológicamente da natureza.

Não é dogmático porque o que conta para o cepticismo é a justificação e não a crença. E as justificações evoluiem conforme vamos sabendo mais.

Na realidade o ceptico está tão ciente da volatilidade do conhecimento que depressa admite que provavelmente  certezas absolutas são em si um conceito pouco util. Mas reconhece que há de facto coisas que explicam e prevêm melhor o mundo que outras. Este cepticismo moderno não é uma variente do cepticismo filosofico clássico. É um ceticismo cientifico, funcional. E ciência significa investigação metódica e construção de um corpo de conhecimento do qual faz parte a própria evolução epistémica.

E em vez de aceitar como verdades aquilo que lhe parece intuitivamente melhor, o ceptico procura mesmo evitar todos os erros que a intuição nos traz ( e aos quais somos TODOS naturalmente cegos - são erros que só conhecemos por comparação exaustiva com a realidade) e julgar as coisas do modo mais cansativo - investigando, comparando argumentos, analisando a lógica por traz dos argumentos, revendo o que se sabe dos estudos empiricos e como eles foram concebidos, etc. Por isso muitos cepticos são também estudantes de pensamento critico, para além de filosofia da ciencia e conhecimento cientifico. E muitos pensadores criticos e cientistas são cepticos - em boa verdade entre os grandes cientistas apenas me ocorre uma ou outra excepção.

Isto, o que é realmente o cepticismo, a atitude face à realidade e à nossa falibilidade,  está claramente longe daquilo que é criticado pelo público.

Ser ceptico é um trabalho intelectual arduo. Há é pessoas que depois de perceberem que a crença não vale por si própria, ou por ser popular, ou por ser benévola, etc, etc,  não são capazes de voltar ao mundo em que acreditar é  uma virtude em si. E preferem ver onde conseguimos chegar se abrirmos a nossa mente às evidências e construção racional e não aos apelos à credulidade  que começam muitas vezes com um pouco escrupuloso "abra a sua mente" (e claro, ser capaz de regeitar as coisas que conseguimos ver que não funcionam.)

Para o ceptico a virtude está em alguns dos aspectos da justificação - como a sua consistencia com o que se sabe (evita contradições) , a completude (deixa pouco por explicar), a simplicidade (não aceita adornar desnecessáriamente um conceito), clareza (ambiguidade é claramente um problema já que é tentar acertar ao calhas), capacidade preditiva ( para diminuir falsos positivos e combater a ilusão do "retrofitting"), replicabilidade e verificação independente . E depois da comparação destas virtudes entre várias explicações propostas. E que ganhe a melhor.

Complicado? Demorado? Exigente?  Pois é. É mais fácil seguir a nossa intuição e arrogantemente escolher o que nos parece melhor, mas isso falha muito, mas muito mais.  A via mais dura e lenta aqui proposta  funciona melhor que qualquer outro processo conhecido. É o processo da ciencia, da tecnologia, da boa filosofia (infelizmente filosofia é um rotulo que serve para tudo). Deu-nos carros, aviões, computadores, vacinas, antibioticos, televisões, etc...

Agora não digam é que escolhemos o que queremos acreditar tal como faz o seguidor de qualquer religião ou ideologia. É ao contrário. Pomos é mais confiança nas coisas que estão mais bem justificadas, sejam elas quais forem.

E o próprio processo de adquirir conhecimento é alvo de critica e pesquisa incessante também.

É na realidade uma atitude de humildade perante a natureza. Não ter ideias préconcebidas, tentar evitar todas as nossas falhas cognitivas e aceitar as respostas que ela nos dá.

Também por isto, cepticos como eu, propõem que as ideias não devem ser discutidas como se fossem parte da nossa personalidade. Não temos de ficar ofendidos quando nos criticam as ideias como se estivessem a criricar o nosso caracter. As ideias não somos nós, nem devem ser donas de nós. Nós é que devemos ser donos delas, enquanto elas servirem para o que se propõem. Discutir ideias aliás é essencial para a saúde da ciencia e do cepticismo. Mas isso só funciona de facto se as ideias não se confundirem com as pessoas que as têm e se as ideias não valerem mais que a justificação que trazem.

Medalha Nobel de Francis Krick vai para pseudocientista

... Que quer chamar a atenção para um aparelho que pretende vender, "capaz" de regenerar orgãos a partir de campos magnéticos. No entanto nada disso tem justificação cientifica.

Sempre disse que as medalhas valem mais que o ouro em que são feitas... Mas isto é ridiculo. Comprar prestígio dos outros? Será que vai funcionar mesmo?

http://www.publico.pt/ciencia/noticia/medalha-nobel-de-francis-crick-vendida-por-mais-de-dois-milhoes-de-dolares-1591090

domingo, 14 de abril de 2013

Sofrem? Essa é a questão.

" A questão não devia ser se eles podem pensar ou falar mas sim se eles podem sofrer"
-Jeremy Bentham


A ideia de valorizar as pessoas e os animais pela inteligência é injusta, embora pareça subrepticiamente  disseminada pela sociedade. Aos animais, nós (pelo menos alguns bastante numerosos) os  desprezamos por serem, como se diz: irracionais. E às pessoas, silenciosa mas implacavelmente as fazemos passar pelo filtro do QI. Claro que também existe a sorte, mas isso é outra história. Pessoas mais inteligentes ganham mais dinheiro, são mais felizes, são mais bem sucedidades na escola, são mais saudáveis e vivem mais, etc. É essa a maneira como as coisas estão montadas para o comum dos mortais, e claro, para além da sorte. A vida é mais fácil para as pessoas mais inteligentes. Quem não é tem forçosamente de se esforçar mais. E não é caso para se dizer que cada um é responsável pela muita ou pouca inteligencia que tem - de facto parece que podemos, ou não, agradecer de nascer com ela. Ao longo da vida o QI tende cada vez mais para um valor previsto pela hereditaridade, sendo mais variaveis nos mais jovens.

E é injusto porque o que custa mesmo nesta vida é o sofrimento, e esse não requer muita inteligência para sentir.

Era bom se pudessemos cortar com o sofrimento sem qualquer outra consideração. Mas não creio que seja possivel. O mundo está longe de ser o melhor mundo possível. Mas parece-me que há pelo menos uma tendencia positiva que pode ser seguida e que deve ser seguida. Existe alguma aversão à crueldade a crescer nos paises mais civilizados, mesmo para com animais.

E há uma outra coisa. Se a inteligencia não parece ser um factor determinante para a capacidade de sentir, e logo sofrer, a consciencia não me parece que seja indiferente ao problema do mesmo modo.

Creio, por tudo o que posso perceber, que é diferente - e pode moderar ou ampliar o sofrimento. Neste caso interessa-me filosofar sobre a ultima possibilidade, que me parece bastante frequente.

Alterações do estado de consciencia dão diferentes precepções da dor, sendo que o alcool foi dos primeiros sedativos usados neste mundo. Dissociativos e sedativos são usados ainda para diminuir o sofrimento e percepção da dor, até em seres pouco inteligentes.

Há muita coisa a considerar neste aspecto. Este é o raciocinio que proponho:

Penso que seres mais conscientes terão um significado mais forte para o bem estar e sofrimento. Agressões ou sinalização de lesões a esse bem estar tem por conseguinte um maior significado também;

 Se a consciencia é o sentimento de Si próprio e o conhecimento de Si próprio, isto parece-me consequente. Porque temos um palco maior para o que pensamos e sentimos; porque podemos contemplar os nossos próprios sentimentos;

As sensações (do exterior) dão origem a mais que reflexos - não vivemos num fluxo de reflexos sensoriais;  Processamos essas sensações e integramos tudo num quandro maior, num mapa mental não só do mundo mas também de nós próprios;

Para além de termos emoções temos sentimento dessas emoções. E temos consciencia desses sentimentos. Em ultima análise temos até consciencia de ter consciencia. E isso não é algo notável? Acabamos por ser capazes de dar sentido a nós próprios, às nossas escolhas, ao que nos rodeia... O universo pode não ter um sentido, a vida pode não ter sido criada com um fim em vista. Mas a vida de um ser consciente parece ter o sentido que este lhe pode dar - em paralelo com o grau de consciencia que tem.

Adiante:

Nem todos os animais parecem ser igualmente conscientes, pelo que proponho que devemos dar o nosso maior respeito àqueles que parecem ter uma capacidade de sofrer mais perto da nossa.

E se a consciencia não parece ser igualmente repartida por todos os animais, obviamente o é para todos os seres humanos. E essa é uma razão para respeitar a  vida de cada um de nós sem discriminação de cor, credo, sexo, inteligência ou idade. Todos nós sentimos e sabemos o que sentimos. Temos consciencia.

Não nos esquecendo que para os outros, nós é que somos o outro - Não há um ponto de vista previligiado para a moral se valorizarmos assim a consciência e o bem estar (autobiográfico e instantaneo) acima da riqueza, da cor, do credo ou da inteligência ou da beleza.

Apenas que temos de respeitar os seres conscientes como nós, sejam eles como eles forem noutros aspectos.

Claro que esta exposição não diz que podemos ser crueis para animais como os peixes, que me parece terem um estado de consciencia mais superficiais que o nosso. Apenas sugiro que nos esforcemos no sentido de diminuir o sofrimento e que começemos por distribuir os nossos esforços para quem eles podem ter mais significado. Seres humanos no topo, seguidos dos primatas e depois outros mamiferos. Naturalmente que insectos e vermes, por exemplo, no fim da lista.

E agora que sabemos como podemos fazer uma alimentação baseada em vegetais que é na mesma saudavel e que as carnes vermelhas nem por isso são assim tão boas, começar a reduzir nos mamiferos.

Voltando aos seres humanos, claramente há também muito por onde lutar.

Por fim, isto não é uma tentativa de meter tudo no mesmo saco e desvalorizar uns por valorizar outros. Isto é mesmo uma tentativa de dar uma prespectiva completa e consistente sobre a procura possível de diminuir o sofrimento neste mundo. A começar por nós. Se eu quero começar por nós por eu ser humano ( e não macaco ou bactéria) , tenho as minhas dúvidas já que o suporte racional me parece sólido, mas se é, também me parece que não é um mau ponto de partida, já que se estende por aí fora... Por outro lado tenho serias reservass de quem diz ser capaz de abandonar completamente o ponto de vista humano quando propõe uma outra teoria qualquer. Ainda por cima, incosistentes e incompletas com uma série de outro conhecimento que temos como as que andam para aí.

O nosso conhecimento, será sempre humano enquanto nós formos humanos. E o nosso conhecimento terá sempre de ser assente na nossa epistemologia. O que interessa é ser o melhor possivel em consistencia, completude, poder preditivo e clareza.

 Notas: As ideias expressas acerca da consciencia, já que também não há ainda uma conceptualização cientifica final, são as baseadas nos livros de Damásio.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Acerca dos problemas que temos para resolver.

Uma pessoa inteligente e bem informada respondeu à minha afirmação de que precisamos de abrandar o crescimento económico de modo a que este seja mais sustentável (e tenha menos precalços) com a seguinte questão:

 - Que problemas é que a humanidade teve para resolver que não tenha resolvido?

...Sério? Parece-me uma resposta francamente insatisfatória. Este post é uma resposta curta que penso que  toca nos pontos essenciais:

                                                                        ~oOo~

Eu sou um optimista. Não um optimista radical, mas um optimista moderado.

Não acho que vivemos no melhor dos mundos possíveis - como o optimismo criticado por Voltaire em "O Candido" -  mas também não acho que vivemos no pior dos mundos possíveis. O que acho é que vivemos num mundo que não tem mais mal que bem e que ainda pode ser melhorado.

E sou optimista porque vejo que muitas coisas estão a melhorar face ao passado e outras vejo em que podemos compreender o que está a correr mal. Isso quer dizer que temos tomado, em relação a muita coisa, uma boa atitude: aprender e corrigir. E que podemos continuar a fazê-lo.

Mas isso é conseguido a custo. E não quer dizer que só porque estamos no bom caminho num numero notável de coisas, que qualquer ideia apresentada agora, seja uma ideia que nos mantenha nesse caminho. Esse é um argumento que dá para tudo. Para o que presta e para o que não presta. Não nos diz nada acerca das soluções que temos de encontrar. E as soluções podem bem passar por fazer algumas coisas de outra maneira, porque desta actual já não dá.

Não é um argumento capaz de mostrar que se pura e simplesmente não alterarmos o rumo de algumas coisas, que vamos continuar a trilhar uma via de melhorias. De facto, por tudo o que sabemos, temos de continuar a usar as coisas que nos levam a decidir melhor - a via que envolve esforços racionais e fisicos, discussão aberta, etc. Se o passado nos diz alguma coisa é que podemos aprender algo acerca do processo de fazer previsões, escolher explicações e compreender os desafios. Não que não temos de fazer adaptações. Pelo contrário.

Só porque estamos a fazer melhor numa grande quantidade de coisas e a resolver muitos problemas, isso  não nos diz nada acerca de como devemos enfrentar alguns dos actuais problemas por resolver -  salvo o facto de termos uma razão forte para dizer que aprendemos muito sobre como pensar sobre eles.

Temos de usar tudo o que sabemos para saber o rumo a seguir. E como aparentemente temos conceitos diferentes de como deve ser esse caminho, a discussão deve ser centrada no processo de decisão e não num argumento que qualquer um pode fazer seu, de dizer que "temos resolvido tudo até agora, logo a solução há de aparecer se continuarmos a fazer o que estamos a fazer". A lógica aqui não segue. É como o senhor que salta do 12º andar e em cada varanda por aí abaixo o ouvem dizer "so far so good". Se fizemos muita coisa bem foi também porque deixamos de fazer muita coisa mal.

Se calhar a solução é precisamente admitir que podemos fazer melhor, ver para onde apontam as evidências e adaptar o nosso comportamento face ao que queremos do futuro. O nosso progresso não nos garante por si, afirmar que passivamente e mágicamente, que podemos pura e simplesmente deixar-nos ir em vez de continuar a procurar arduamente como devemos fazer as coisas.

Dos problemas que temos para resolver:

- Fome no mundo - cerca de 1 bilião de pessoas está subnutrida. É mais de 10% da população mundial.
- Em paises como Moçambique, Nigéria, Máli, Rwanda e outros a mortalidade infantial (antes do 1 ano de vida) ronda os 10%.
- Miséria para além de apenas fome, com ausencia de meios de saúde ou acesso a estes, habitação e condições dignas de vida para muitos seres humanos.
- Desigualdades - Embora a diferença entre quaisquer dois seres humanos seja minima, (há mais diferença entre qualquer humano e um chimpanzé, ou entre dois chimpanzés, que entre qualquer humano e Einstein,  por exemplo), as diferenças na distribuição da riqueza são gritantes (0,001% das pessoas tem 30%  da riqueza) . E isso tem consequencias na saude, bem estar e até na estabilidade da sociedade.
- O aquecimento global antropogénico (e os fenomenos extremos e secas que estarão associados).
- A poluição.
- O esgotamento de recursos naturais de um mundo cada vez mais povoado.
- A perda de biodiversidade.
- Desertificação.
- Ciclos de crises profundas e bolhas especulativas.

São apenas alguns exemplos. Alguns são relativamente novos, outros são absolutamente velhos.

Estes problemas não têm qualquer garantia que vão desaparecer por si se não mudarmos alguns aspectos da nossa actividade à face da terra. Claro que eu confio na ciência e tecnologia, mas não estamos à porta de desenvolvimentos tecnologicos para resolver tudo isto. A ciencia ainda nos deixa ver, que em alguns casos, o melhor que podemos fazer agora, é moderar o nosso comportamento. Respeitar mais o ambiente, assumir a importancia de cada ser humano por si e de toda a vida. E de aceitar uma responsabilidade que temos também para as gerações futuras e o que vai em cima da bandeja que lhes damos.

PS: E claro, ninguém está a sair daqui com vida. Mas isso é algo que talvez possamos aspirar daqui a muitos , muitos avanços cientifico-tecnológicos...

Actualizado a 14/04/2013 para acrescentar a história que levou a este post e a miséria, desertificação e os ciclos de crises nos problemas por resolver.

Extra. Extra. Macacos descendem do homem.

Na! Estou a só  brincar com a velha treta criacionista de que o homem descende dos macacos.

O que se descobriu realmente foi mais um esqueleto de um individuo próximo dos nossos antepassados comuns. Se é nosso antepassado é ainda uma questão em aberto.

O que interessa é que ilustra a existencia de formas transitórias e até a sua diversidade. Se bem que a cada nova descoberta de uma forma transitória os criacionistras apenas vêem duas novas lacunas de cada lado. Mas não é o numero de lacunas que conta, para isso era necessário provar que existem representantes fósseis de todas as especies que viveram neste planeta e que estão na nossa posse. Que não há nada mais para encontrar. Isso não é plausivel sequer. Por isso o que conta é o quanto a lacuna aperta, para deixar bem esprimidinho o criacinismo das lacunas.

Aqui.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Cepticismo em destaque numa revista "mainstream". Parabéns a todos.

Diana Barbosa, Leo Abrantes e João Monteiro, fundadores da Comcept, na Visão.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Quem deve pagar para a saúde mundial?

Isto é interessante. 

Foi proposto um modelo para distribuir os custos da saúde mundiais, (tendo em conta que há países que não consenguem combater os seus próprios problemas e outros que podiam apanhar uma boleia injusta de quem paga), baseado no protocolo de trocas das emissões de carbono.

Afinal todos ganhamos em combater a doença, mesmo de países longinquos. O mundo é mais pequeno que o que parece.




segunda-feira, 8 de abril de 2013

As 7 Maravilhas do Mundo.

A escolha das 7 maravilhas do mundo é um exercicio popular. Existem para aí várias listas.

Mas as minhas escolhas estão notávelmente ausentes nessas listas. Por isso decidi por aqui neste blogue (por nenhuma ordem especial) o que escolheria.  Procurei 7 obras fisicas reais (isto é, sem considerar teorias ou conjuntos de conhecimento como candidatos, senão tinha de ocupar as primeiras posições com o modelo evolutivo da biologia, os modelos padrão da fisica, cosmologico e de particulas, a teoria dos germes, etc...) e também procurei apenas dentro do que é feito pela humanidade. Por isso Amazónia, grande recife de coral, etc. ficaram de fora. Não por falta de valor ou de serem menos maravilhas. Foi para facilitar a vida e aproveitar para fazer uma menção honrosa nesta pequena introdução.

Outra necessária menção honrosa, mas que também não pode fazer parte da lista, é a Wikipédia em Inglês. É muito boa e é gratis! O que leva fácilmente à escolha da primeira maravilha:

A Internet. Com todos os seus servidores, conexões e suportes é também uma obra material. É uma estrutura mundial que se for considerada uma entidade unica, como é vulgarmente, é certamente a nossa maior construção. Penso mesmo que haverá mais quilometros de internet que estradas neste mundo. Teve o seu inicio no CERNE na Suiça.

Também pelo CERNE foi desenvolvida outra das minhas escolhas: O Grande Colisionador de Hadrões. 27 kilometros de tunel e alta tecnologia para tentar descobrir de que é feito o universo. Já deu um fruto, a confirmação do Higgs do modelo padrão, mas espera-se mais. Para já, quando arrancar em 2015 vai por um ponto final na supersimetria (ou nas supersimetrias) e mandar os fisicos todos para casa começar a pensar tudo de novo (bem, tudo não, mas anda bem lá perto)... Ou vai dizer que supersimetria existe no nosso universo e dar um grande passo em frente na ciencia. De facto, a supersimetria unifica a fisica de particulas com o espaço-tempo, explica o que é a matéria negra e resolve outros problemas como a diferença de energia entre as forças fraca e gravitica, por exemplo. Precisamos saber de uma vez por todas  se é esse o caminho a seguir ou não.

Não foi dificil também incluir neste grupo a Estação Espacial Internacional (ISS). É a unica estrutura habitada   fora da atmosfera do nosso planeta (orbita a 330 km de altura)  e representa o esforço conjunto de várias nações. Nela faz-se ciencia e explora-se o espaço. Como é possível estar de fora de tantas outras listas? Pela sua esperada curta vida? Não é justo. Há de andar por lá até 2020 pelo menos.

As piramides do Egipto. Pois é. Ao fim destes anos todos ainda são imponentes - eu nunca lá fui mas contaram-me. São as unicas sobreviventes das maravilhas do mundo da lista original. E merecem. É pena obrigarem a ficar de fora outras piramides e outros monumentos da antiguidade. Mas a verdade é que elas chegaram primeiro, eu acho mais bonitas e tenho de escolher 7. Se não fosse assim também não tinha piada jogar.

Os "trabalhos" de Zuiderzee. São o conjunto de obras que permitiram aos Hollandeses reclamar grandes porções de terra ao mar. A construção durou uma boa metade de um século.

A Sagrada Família,  em Barcelona. A fachada concluida com Gaudi em vida é suficiente para me convencer.

O Telescópio Hubble. A tirar fotografias ao espaço a partir do espaço. Desde 1990.

Por fim, não pude deixar de pensar em outras coisas como os antibioticos, as redes de esgotos, etc. Mas é para serem 7 e algumas destas coisas não tinham um representante que se destacasse. E valem mais pela ideia e pela aplicação disseminada, que pelo facto de existir algures um exemplar simbolico funcional.


domingo, 7 de abril de 2013

Jogos de Sorte e Valor Esperado.

Tal como diz  Daniel Kahneman no "Pensar, Depressa e Devagar", as pessoas tendem a exagerar ou a ignorar  probabilidades muito pequenas.

É uma das razões porque se gasta tanto dinheiro em jogos de sorte em que a vantagem é sempre da casa.

As pessoas apostam contra as probabilidades apenas pela possibilidade de ganhar. Quando a probabilidade de perder é muito maior. Na practica estão a investir nas probabilidade piores em vez de procurar as melhores.

Claro que comprar um bilhete de lotaria, ou apostar no Euromilhões para quem gosta da ilusão, permite também viver uns instantes a sonhar com o que faria com esse dinheiro. Mas é apenas uma ilusão. Quase de certeza.

Para quem tenha interesse em escolher racionalmente nos jogos de sorte se deverá ou não apostar, aqui fica a formula do valor esperado:

Encontra-se multiplicando a probabilidade de ganhar pela quantidade que se ganha mais a probabilidade de perder multiplicada pelo gasto necessário a jogar (com valor negativo pois é perda).

Se resultado for positivo significa que a aposta é favorável NO LONGO PRAZO.

Se for negativo quer dizer que está a apostar contra o que é mais provavel.

Isto não quer dizer que se deva sempre apostar quando encontramos valores esperados positivos. Porque temos de saber se podemos aguentar com as perdas (eventuais) até os numeros grandes nos favorecerem.

Por exemplo:

A probabilidade de ganhar o euromilhões é de 1 em 116000000.Ou seja: 0,00000008
A probabilidade de perder o dinheiro gasto na aposta é 1 - esse valor. Ou seja: 0,999999992 (99,999999%).

Se a aposta custar dois euros e o prémio for um milhão de euros, então 0,00000008 x 1000000 + 0,999999992 x (-2)= -1,99 .


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pensar, Depressa e Devagar

Daniel Kahneman, psicologo e Nobel da economia (não, não me enganei, mais sobre isto no fim), apresenta-nos aqui o seu trabalho sobre os erros sistemáticos da nossa intuição.

E o trabalho que ele tem para apresentar é extenso e cientificamente correcto. Portanto, é preciso o leitor preparar-se para uma leitura longa, mas recompensadora.

De facto, este é um livro que deve ser de leitura obrigatória para todo o pensador critico, ainda que como o próprio autor avisa, conhecer muitos dos erros aqui descritos possa não ser o suficiente para os evitar. Mas ajuda a reconhecer nos outros quando os  virmos. Pode ser que isso seja bom. Eu espero que sim.

Para sumarizar rápidamente o conteudo, começarei por dizer que Kahneman postula dois sistemas congnitivos concorrrentes para modelar o processo como geramos crenças e tomamos decisões. São, segundo a sua nomenculatura, o sistema 1 e o sistema 2.

O sistema 1 corresponde ao que se chama vulgarmente por intuição. Tem como caracteristicas: o facto de ser rápido - chega a decisões e conclusões muito depressa; confiante ao ponto de considerar que não há mais nada que aquilo que "está à vista"; leve, porque não requer muito esforço para ser usado; é tendencioso, inconsistente e manipulável.

O sistema 2 é o sistema que é usado no pensamento critico ou na ciencia e desenvolvimento de tecnologia. É pesado pois requer um esforço que se traduz mesmo em um maior gasto de energia pelo cerebro; é "preguiçoso", pois não se mete se não for activamente invocado; é leeeeennntooo, demora uma data de tempo a processar e a gerar informação útil para tirar uma conclusão; é menos susceptivel a "bias" e manipulação. Procura ser consistente com tudo o que existe na sua posse e descarta hipoteses ad-hoc. Segue o "estado da arte" a que pode aceder. Lida com alternativas.

O livro está cheio de exemplos de como funciona um e outro e das experiencias que foram feitas para se chegar às conclusões a que se chegaram. Alguns dos erros e processos disfuncionais que o livro relata são:

- Aversão à perda - É a tendencia para escolher uma opção pior por se dar mais valor ao que se perde do que ao que se ganha.
- Enquadramento - É a têndencia gerada pela forma como as coisas são apresentadas e pode fazer uso de outros problemas como a aversão à perda.
- Priming - É a tendencia (em qualquer sentido)  criada apenas pelo contacto com uma ideia, mesmo sem que tenhamos consciencia disso. Por exemplo pessoas que foram postas em contacto com a palavra dinheiro sentaram-se mais longe umas das outras numa sala de espera que as do grupo controle. Por outro lado, esforçaram-se mais na entrevista seguinte. Isto só por ver no fundo a palavra "money" escrita.
- Ancoramento - É a tendencia de usar como referencia o primeiro valor proposto.
- Confundir a facilidade com que nos lembramos de uma coisa com a frequencia com que ela acontece.
- Não nos preocuparmos com as probabilidades base de um acontecimento, que possam já ser conhecidas, quando procuramos determinar a sua probabilidade  (ver estatistica Bayesiana acerca de probabilidades à priori).
- Ignorar ou exagerar probabilidades pequenas.
- Falácia narrativa - A tendencia para aceitar uma narrativa plausivel como um conjunto de regras de causalidade que explicam deterministicamente um resultado. Depois das coisas acontecerem elas parecem sempre obvias, ainda que fossem (em muitos casos) impossíveis de prever.

Por descrever e demonstrar tão bem todos estes erros na tomada de decisões, Daniel Kahneman mostra como um dos axiomas basicos da economia está errado. O ser humano não é sempre racional.

Donde a importancia do trabalho de Daniel Kahneman para a economia. Não é possível pura e simplesmente ignorar os resultados das suas investigações e as suas implicações para as teorias economicas.

Ter recebido o prémio Nobel da Economia parece-me um bom sinal da abertura às suas descobertas.

Para outra critica ao livro feita do ponto de vista da economia proponho ir aqui.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Kalam x nada.

-O que é que faz dar um pontapé em nada?
-Nada.

-E multiplicar o nada por 2?
-Nada.

-E somar-lhe 2?
-Ficam os dois que já lá estavam.

-Então que lógica há em dizer que algo que actua sobre o nada o transforma em algo? Temos algum exemplo disso?
-Nenhuma. Nenhum.

- Então porque insistimos que algo tem de ter causado o universo "surgir do nada"? Nada, mas mesmo nada, se pode concluir ser capaz de causar que qualquer coisa venha do nada.

Ok - não estou a dizer que o nada a actuar sobre o nada é causa de algo. Estou a dizer que nada é causa de algo no nada. Certo?  Confuso?

Aliás, se calhar "nada" não existe. É um conceito que se refere apenas a... Nada.

Adiante. Proponho que se veja o video abaixo e tudo ficará mais claro:





E com isto o argumento de Kalam fica refutado. Suponho que teístas alegarão que por isso mesmo precisamos de Deus. Deus é capaz de fazer o impossível e logo criar algo a partir de nada. Deus é capaz de ser a sua própria causa. Etc. Tudo bem, cada um acredita no que quer - tem esse direito.  Mas isso quebra a racionalidade do argumento. Se aceitamos colocar algo que viola a lógica como solução, então porque apelar para a lógica em primeiro lugar? Se não nos preocupamos com a racionalidade, mais vale não nos preocuparmos com argumentos.

Suponho que a falácia de apelar para caso especial é uma tentação dificil de evitar. Ainda assim não estou a ver o que sobra do argumento de Kalam sem recorrer a ela.



http://www.youtube.com/watch?v=aD9MtIma5YU&feature=share

A falácia do empreendedorismo

O empreendedorismo parece ser, segundo uma direita actual sem soluções melhores, a panaceia universal para os problemas da crise.

Não só a apresentam como solução para o futuro, como a apresentam como explicação para o facto de alguns passarem dificuldades - é porque não são empreendedores. Se fossem, insinuam, agora estavam a viver à grande.

Isto é uma falácia.

Porque isso pressupõe que as novas empresas são todas, ou em larga maioria, bem sucedidas. E que qualquer um pode fazer a empresa que quer. Isto não é assim. Não há recursos ilimitados à mão para cada um  pegar e começar a usar... Em nada. Nem humanos,  nem materiais.  Tudo já tem um dono algures ou pelo menos alguém que se porta como tal, em termos económicos. A não se que se nasça dono, o caminho para ultrapassar este problema é o endividamento. Quanto maior o projecto, maior a divida inicial. 

Ideias novas e garantidas também são raras. Ou inexistentes, já que à partida não parece ser possível sequer prever que "start ups" vão ser bem sucedidas no longo prazo. 

E depois vem o resto da questão:

A maioria das empresas que começam de novo, da mão dos tais empreendedores, falham. Pelo menos nos Estados Unidos, onde é sempre mais fácil conhecer a estatistica. Cá, tenho poucas razões para acreditar que será melhor. Portanto empreender não é uma solução para a maioria, mas sim apenas para muito, muito poucos. É como dizer: "Estão mal? Não faz mal, alguns de vocês vão conseguir esgatanhar-se e criar algo e é isso que importa. Depois os que ja têm uma data de massa podem comprar esse negócio e ficamos todos contentes. Os outros azar, olha, é a vida..."

Mas é precisamente soluções que não sejam apenas para um ou outro que procuramos. Se não mais vale dizer abertamente que o que importa é que alguns se safam e os outros que se danem - pelo menos podemos perceber onde se quer chegar. 

Como disse, e como era de esperar com taxas de sucesso tão baixas, não há uma formula conhecida,  para o sucesso. De facto, a sorte conta imenso. A inteligencia também, é verdade.   Mas que sentido há em dizer: "Vocês são pobres porque são burros. Sejam mais espertos e já podem ter mais hipoteses. E depois olha, mesmo assim espero que tenham muita sorte, já que vão precisar.". Duh! Parece-me claro que isto também não é solução. 

E por isso eu considero o apelo ao empreededorismo como exlicação para a pobreza ou como solução futura, uma falácia do ponto de vista politico. Porque é uma solução que vai ser viável apenas para poucos. Vai deixar, caso todos vão na conversa, uma maioria de gente endividada. 

Tem de haver outra solução que contar com o empreendedorismo individual. A não ser que aceitemos que o nosso objectivo não é combater a desigualdade e a pobreza. Mas isso é um disparate que ninguem quer assumir. Não é?


PS: Estou a falar do empreendedorismo tal como ele parece ser considerado actualmente e tal como é colocado em cima dos ombros dos individuos. Não como poderemos fazer evoluir o conceito. Deve haver alguma solução para esta falácia.

Bibliografia recomendada: Daniel Kahneman,  "Thinking, fast and slow"

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Outra vez más noticias sobre a influencia das teorias da conspiração.

Teoria Cientifica:

-Procura explicações simples,
-Capaz de fazer previsões testáveis por pessoas competentes,
-Requer confirmação independente,
-Tem de ser consistente com os dados existentes.
-Funciona.

Teoria da conspiração:

-Procura explicações elaboradas, acrescenta entidades extraordinárias (cuja existencia não é demonstrável e não são necessárias para explicar nada), "a gosto", e alega processos complexos ignorando o peso que isso acresce ao onus da prova.
- Não faz previsões testáveis.
- Requer mesmo que se possa apelar para o facto de não ser possível confirmação independente, senão não era conspiração, certo?
- Opõe-se frequentemente a explicações mais simples baseados nos dados existentes. Requer a existência de dados ocultos, fantasiados.
- Funciona tão bem como a lotaria para acabar com a pobreza. Proporciona - no tipo de raciocinio que propõe -  que tudo possa ter uma ou várias histórias alternativas, vagas e intestáveis (histórias alternativas consistentes, testáveis e concisas é bom) das quais se escolhe a preferida por intuição. Em boa verdade, todas as teorias podem ser adornadas com entidades e processos extraordinarios e por esse caminho tudo pode ser uma conspiração cujo objectivo é o que se quizer.

Então como são possiveis os numeros que esta noticia do Público avança para os crentes em conspirações variadas? Será uma conspiração para nos fazer crer que o povo de um dos paises mais influentes no mundo está pejado de conspiracionistas?

É possivel porque as teorias da conspiração são intuitivamente apelativas. Estamos programados para ser mais sensiveis a perigos que aquilo que é real e temos a tendencia de aumentar a probabilidade desses perigos. Gostamos de nos sentir numa posição de superioridade intelectual, de controlo e acreditamos que isso é bom  pelo conforto imediato que trás - e logo acreditamos! Gostamos de sentir que estamos  na posse de informação previligiada. Depois é deixar a odisseia do "confirmation bias" entrar em acção, um pouco de apelo à ignorancia e como somos cegos à própria cegueira, voilá.

Em resumo: Explora uma data de erros sistemáticos em que somos capazes de cair se não procurarmos activa e conscientemente evitá-los.

No entanto, se envolvermos processos racionais mais lentos e precisos, se usarmos pensamento critico e cientifico -  mais cansativos também -  podemos compreender que a maioria dos apelos à conspiração populares são ocos.

Por mim tenho sérias dúvidas que haja repteis inteligentes entre nós mascarados de humanos, não existe o anti-cristo e muito menos se chama Obama, e o aquecimento global é verdade. Mas mais importante que a minha crença relativa nas coisas é a sua adequação às evidencias e ao resto que sabemos. E o processo cientifico proporciona uma melhor explicação. Recomendo que se volte a atentar na diferença entre os dois acima enunciada.

De todas as teorias da conspiração populares nos dias de hoje, uma das que considero mais perversa, é a negação do efeito dos gases de origem artificial no aquencimento global. Por isso deixo aqui o meu F.A.Q.