sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O site de Richard Dawkins é banido na Turquia

RichardDawkins.net foi banido na Turquia. De acordo com as notícias que circulam já um pouco por toda a parte, incluindo o próprio site de Dawkins e que tiveram origem num canal de televisão da Turquia, a ordem de tribunal terá sido emitida após queixas apresentadas por advogados de um autor Criacionista. Pelo que pude saber as queixas resumem-se a conflitos ideológicos e religiosos. Dawkins é um famoso defensor de Darwin e da teoria da evolução.


Não me parece que tenha sido um passo dado na direcção da Europa. De qualquer modo estou convencido que esta situação ainda vai ser alterada.


Para quem tiver curiosidade, Richard Dawkins tambem defende que o aquecimento global é antropogénico. Vai mesmo ao ponto de aconselhar ver o documentário de Al Gore sobre o assunto.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Wikipédia vs Wikipedia

Tenho aqui referido uma vez ou outra a Wikipédia e mesmo elogiado. Acho a Wikipédia na língua inglesa uma obra formidável em vários aspectos. No entanto a Wikipédia em Português não é a mesma coisa. O problema não é ter menos artigos, estes serem mais pequenos e por vezes rudimentares, o problema é a falta de rigor. Alguns artigos até são propaganda. Penso que com o tempo estes problemas vão se resolver mas para já existe o que pode ser chamado de falta de maturidade na versão Portuguesa. Existem bons artigos e bons esforços mas é preciso consulta-la com um grau de alerta elevado. Não deixo de deixar os meus parabens a todos os que a tentam tornar melhor.

Breves do dia.

A Igreja não perdoa a Darwin: Pensei que a parte difícil era compreender a evolução, afinal é mais difícil perdoar. Mesmo para uma Igreja.
Reiss é deposto, como previ, da Royal Society e Dawkins escreve uma carta sobre o assunto em que não mostra tolerância nenhuma para com o Criacionismo. E diz que Reiss só queria mostrar que, ao contrario dele próprio, é tolerante. Propõe que Reiss seja readmitido entre os cientistas mas que saia da Igreja onde é "ordained minister". Pede desculpa de ter na altura comparado a nomeação de Reiss, para a Royal Society, a um sketch dos Monty Pyton. Para quem não sabe Richard Dawkins é um prolifero divulgador cientifico além de ter publicado trabalhos originais. E ainda por cima sabe escrever muito bem. A carta pode ser lida no site da New Scientist mas eu aconselho mesmo é, se puderem, a ler qualquer um dos seus livros.
Enquanto que parece que as Igrejas estão a recuar os políticos estão a avançar com o Criacionismo. Palin a vice de Mcain é apontada como defensora do Criacionismo nas escolas. No país com maior produção de Tecnociencia do mundo.

O método cientifico

Sem querer fazer aqui uma entrada enciclopédica sobre o método científico ou sobre a definição de ciência, vou tentar deixar em linhas simples e o mais claras possíveis o que é a ciência e como funciona.

Portanto, o que é a ciência? O que a caracteriza?
Resposta curta: É o método científico.
O que é o método cientifico?
Resposta curta: É um método baseado na experiência sistemática.

Passo a passo:

1- Observação e caracterização do objecto de estudo. - Tentar reunir o máximo possível de informação sobre o assunto que queremos estudar, mantendo de fora o que não pertence a esse assunto. Pode demorar anos. Aliás pode demorar gerações.
2- Formulação de uma hipótese. – depois de reunida a maior quantidade de informação pertinente que nos foi possível, está na altura de por o cérebro a funcionar para imaginar uma solução que explique os dados observados. Podem ser precisos vários cérebros!
3- Experimentação. – Formulámos uma hipótese e agora a pergunta chave. Será que é verdade? Vamos fazer o “reality check”. Vamos ver se as coisas se passam como nós dizemos ou não. Se não, pode ser preciso começar tudo de novo.
4- Teorização.- Se a experiencia foi conclusiva e de acordo com a nossa hipótese essa hipótese começa a estar em condições de se chamar teoria. Essa teoria deverá permitir fazer previsões racionais e explicar o que já se conhece.

Cada um dos passos que eu referi tem os seus próprios sub-passos descritos e tipo de raciocínios implicados (dedução, lamina de occam, etc). Qualquer facto observável é passível de se submeter ao método. Mesmo fenómenos cuja ocorrência é muito baixa, ou seja, que acontecem raramente, são passíveis de se submeter ao método. Neste caso pedimos a ajuda de ferramentas matemáticas como a teoria da probabilidade e a estatística. Se um fenómeno não é observável pelos nossos sentidos podemos usar também outras ferramentas, como por exemplo microscópios, telescópios, aceleradores de partículas com detectores, etc… Adicionalmente o método é versatil. Existem na realidade varios métodos que são adaptações da ciencia à questão particular em estudo.
Sempre presente na ciência, e sem duvida um dos aspectos que também a caracterizam é a sua abertura à refutação. É preciso que tudo seja feito de modo que outros possam compreender e avaliar. E refutar ou sustentar conforme o caso.
5- Peer-review:
Um factor muito importante portanto é deixar escrito e arquivado o modo como colhemos as observações, como funcionam as nossas ferramentas e como as usamos, como foi testada a hipótese, etc. Tudo ao mais pequeno pormenor. Isto é mesmo muito importante porque quando chegamos ao passo 3 ou 4 as coisas ainda estão a começar. Chegou a altura do resto das pessoas que se dedicam ao estudo dos mesmos assuntos que nós - os nossos pares - esmiuçar completamente o nosso trabalho e tentar encontrar erros ou verificar, repetindo muitas vezes a experiencia, se estamos a dizer a verdade. Ou mesmo se fizemos a experiencia adequada!

Na prática as coisas funcionam assim: Se nos parece que esta tudo bem feitinho na nossa pesquisa, vamos tentar publicar na melhor revista da especialidade possível. Nessa altura o texto que descreve o nosso trabalho é submetido ao “peer-review”, a avaliação pelos pares. O "peer-review" faz parte do método. Pode surgir em qualquer fase do processo. Pode-se por exemplo querer publicar apenas observações. Continuando. Um júri da revista vai enviar o trabalho a um grupo de cientistas da nossa área de investigação e eles vão dar o seu melhor para tentarem evitar que o nosso trabalho seja publicado. Como a única maneira que têm de o fazer é encontrando erros, é a isso que se dedicam. Se passarmos no exame, então o texto será publicado. Mas agora toda a gente, em todo o mundo esta a ver o que nós fizémos e vai tentar ver por sua vez se é verdade. Muitos vão mesmo repetir as nossas experiencias, vão pegar na teoria e dizer “se isso é assim então tal deverá ser assado” e desenham novas experiencias para por a teoria que nos deu tanto trabalho a elaborar em causa.

Agora sim, depois disto tudo a nossa teoria terá passado a fazer parte do corpo de conhecimentos que representa a ciência. Uma tarefa difícil como se pode ver.
Outra caracteristica da ciencia é o facto de o corpo do conhecimento científico se poder e dever comportar como um puzzle em que as peças vão sendo apanhadas de varios sitios e se vão encaixando aos poucos. E ter uma nova peça a encaixar neste puzzle é motivo de grande orgulho. E para dizer a verdade uma peça que não encaixe também. Vai por uma data de gente a procurar onde está o problema.

Também se percebe por aqui que qualquer objecto de estudo novo é algo que os cientistas adoram. Não lhes passa pela cabeça deitar para o lixo algo que ainda não se conhece. É difícil ter a oportunidade de fazer uma grande contribuição científica. Nada como ir para onde ainda ninguém foi.

Continua a ser a melhor maneira possível de explicar o universo.
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Nota: Segundo os filósofos da ciencia a resposta à questão "o que é a ciência" ainda está em aberto. Essa discussão está fora do ambito deste post. Dito isto, é obvio que este post é uma simplificação que espero seja util para compreender a ciencia. Existem muitas outras questões que podem ser levantadas, naturalmente. Por exemplo, de que o método não é rigido e toma aspectos muito variados conforme o caso. Ao ponto de não poder ser usado para definir a ciencia.
Sugestões e comentários são bem vindos.
Continuação sugerida - O Consenso Científico:
Ou para uma versão detalhada do método científico adaptada a ensaios clínicos farmacologicos:

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Breves do dia.

1-Enquanto que a Igreja Anglicana perdoa a Darwin e mostra que Religião e Ciência não precisam de andar à batatada, membros da Royal Society (UK) querem a demissão do seu director para a educação depois de este ter proposto que se ensinasse criacionismo nas aulas. Michael Reiss veio explicar-se e retratar-se mas os estragos estão feitos. A sua carreira entre os cientistas provavelmente acabou, vai ter de voltar para a Igreja que foi de onde ele veio. O debate está agora também no Reino Unido, mas trata-se de um país com uma forte tradição cientifica e não acredito que atinja as proporções escabrosas das americanas. Quando o debate for sério em Portugal vai ser mais complicado.
Saramago, o nosso único Nobel vivo, dedica uma entrada no seu recém nascido blogue ao assunto do perdão a Darwin, mas apesar de um excelente estilo literário, menospreza e ridiculariza o facto. Não deixa no entanto de dar uns valentes pontapés no criacionismo. Vale a pena ler.
2-O criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, pede que seja implementado um sistema de classificação de sites baseados na sua credibilidade e dá como exemplo para explicar esta nessecidade a facil proliferação de cultos pela internet ou das teorias sobre os perigos do LHC. Eu acho que a Internet não precisa deste tipo de classificação institucionalizada acerca da credibilidade dos sites. Tem de ser livre para o bem e para o mal. Quem é que determina o que é certo e errado (Não estou a falar contra controlos parentais ou de permitir sites que alimentem ódios e afins!) Os motores de busca? Quem quiser saber o que diz a Britannica sabe onde ir procurar... E para ser feito pelos utilizadores comuns parece-me redundante com todos os forums e enciclopédias on-line que há para aí. Pelo menos enquanto a Wikipédia funcionar tão bem. (De um modo geral, pelo menos em língua inglesa, como é uma sintese originada em centenas de milhares de utilizadores com as mais variadas opiniões, acaba por ter artigos neutros e muito bem desenvolvidos. Uma espécie de peer review ao vivo e a cores). Já para não falar que existem sites que são a versão on-line de publicações mais antigas e com uma reputação a manter. O que é preciso é estimular o espirito critico e habitos de investigação.
3-O ártico descongela a níveis mínimos e a antarctida cresce. Parece contraditório mas não é. São mais noticias de alterações climáticas.
No seio da ciência a modelização atravessa maus dias, (ver revista Nature: "pushing the modelling envelope" nas histórias de hoje) e os defensores de "o-clima-até-pode-aquecer-mas-não-tem-nada-a-ver-com-o-facto-de-estarmos-a-fazer-a-maior-fogueira-da-história" rejubilam. Os modelos quase sempre dizem o que eles não querem. E não percebem que o que esta em causa é mesmo a ciência da modelização, não as teorias climáticas. Por acaso o facto de a antartida estar com mais neve tinha sido previsto anteriormente... Através da modelização! Foi sorte se calhar.

Teoria da Evolução

A Teoria da Evolução é uma das teorias mais importantes alguma vez estabelecida. Que Darwin a tenha elaborado sem conhecimentos alguns de genética é para mim motivo de espanto. Que ela tenha sido aceite pela comunidade científica da época, com os naturais detractores e após extensos debates, é certo, é uma prova de que as melhores ideias prevalecem. Também elas sujeitadas às mesmas regras da evolução. A própria Teoria da Evolução evolui, e os evolucionistas nem sequer gostam que lhes chamem Darwinistas. Neo-Darwinismo é melhor. Mas Sintese Evolutiva Moderna é a denominação correcta. Inclui diversas areas cientificas. Mas começou tudo com Darwin...

Não se pense porém que Darwin desenvolveu a teoria absolutamente sozinho ou isoladamente. O mérito é praticamente todo dele, o que quero dizer com isto é que ideias sobre evolução já tinham sido expressas antes e durante a sua investigação. De facto a primeira apresentação da teoria é feita em autoria conjunta com Alfred Russel Wallance com quem Darwin trocou correspondência. As teorias de um e de outro evoluíram separadamente, mas Darwin ao aperceber-se que Wallance tinha chegado praticamente aonde ele chegou, compreendeu que tinha chegado a hora em que tinha de publicar (aconselhado por Lyell). No entanto não queria fazer nada de moralmente reprovável e com a ajuda de dois amigos optou-se por uma publicação conjunta. Darwin estava sob grande stress por causa de um filho doente e foram na realidade os seus amigos Lyell e Hooke, ambos cientistas, que organizaram uma breve apresentação a que nem Darwin nem Wallance foram. Darwin ficou depois pressionado para completar o livro “Sobre a origem das espécies”, onde finalmente fez uma apresentação exaustiva e detalhada da sua teoria. O livro foi um enorme sucesso de vendas pois era e é acessível a todos. Lyell e Hooke (sobretudo Hooke), foram também o apoio de Darwin enquanto desenvolvia as suas ideias e mais tarde, depois da publicação do livro, grandes defensores da Teoria da Evolução.

O que terá permitido a Darwin compreender como as espécies evoluíam foi o estudo exaustivo da biodiversidade, a que as suas viagens ajudaram, sem que isso o distraísse da ideia, que ele tinha, de haver uma origem comum. Percebeu como havia uma gradação lenta de espécie para espécie, com pequenas alterações a fazer a diferença. Alterações essas que estavam muitas vezes a um passo das observadas entre indivíduos da mesma população. A teoria de Malthus que dizia que a população humana ao ritmo de crescimento a que seguia iria morrer sem alimentação suficiente que a sustentasse foi o gatilho para desenvolver o tema da selecção natural. Quando os alimentos escassearem, terá pensado, os mais adaptados sobrevivem, e deixam descendência que se lhes assemelha. A generalização desta ideia a outros tipos de pressões e condições, (como selecção sexual, predação, resistência a doenças) servia como motor evolutivo. Factores como o isolamento geográfico que ele também tinha verificado, ajudavam a separar linhas evolutivas. Faltava no entanto explicar como surgia o leque de variantes de onde a natureza extraia os mais aptos. Ou seja, de onde tinha vindo uma variedade tão grande entre os indivíduos da mesma espécie que permitia ao longo do tempo dar origem a uma mesma espécie. Essa variação, como ele propôs, deve-se ao acaso, mas só com os conhecimentos trazidos pela genética é que o mecanismo se começou a compreender. Darwin morreu em 1882 e a experiência que mostrou que o DNA podia transportar informação genética realizou-se em 1928. Só em 1953 Watson e Crick apresentavam a estrutura de dupla hélice do DNA hoje em dia aceite. No entanto o coração da teoria estava completo.
A genética é de resto o grande suporte da teoria da evolução nos dias de hoje. A genética explica como a informação passa de geração em geração e como se podem dar pequenas alterações nessa transmissão (de genes) que dão origem a características novas: - as mutações. É o acumulo de mutações geração após geração que dá origem a diversidade e à evolução das espécies.

Quanto ao estudo do registo fóssil, a paleontologia, outra área que tem vindo a suportar a teoria de evolução desde o principio, o que se verifica desde sempre é que encontramos animais mais semelhantes aos actuais nos extractos geológicos mais recentes e animais cada vez mais diferentes dos actuais mas a convergirem para uma origem comum, nos extractos geológicos mais antigos. Repare-se que bastava encontrar um fóssil de cavalo num extracto geológico muito antigo do tempo dos dinossauros para toda a teoria colapsar. Tal nunca aconteceu. Por outro lado faz a previsão verificavel que com o passar do tempo se vão encontrando fosseis transicionais.

Apesar disto, nos dias de hoje ainda há muita polémica à volta da teoria da evolução. Sobretudo nos Estados Unidos o criacionismo aparece como sendo uma teoria científica alternativa. Num estudo recente, 2 em cada 8 professores admitiram ensinar ambas as teorias simultaneamente. 2 em cada 100 ensina apenas criacionismo ou “intelligent design”. No entanto o mesmo estudo mostra que são os professores com menos formação científica a dar estas teorias como alternativas à evolução. Os tribunais americanos já decretaram sem eficácia que criacionismo e “intelligent design” são religião e não devem ser ensinados nas aulas de ciências.

Os obstáculos apontados à teoria da evolução são de facto os pontos mais difíceis de explicar de uma maneira clara se nos ficarmos apenas pela teoria de Darwin, mas já não é tão dificil se pegarmos no corpo total dos conhecimentos cientificos relacionados com a evolução que temos nos dias de hoje. O primeiro é relacionado com aparentes saltos evolutivos (macro-evolução: como se passa de repteis para aves ou mamíferos - não passa, na realidade eles são produtos modernos da evolução e além disso o processo é gradual e muito lentamente com ocasionais acelerações aqui e ali) e com o aparecimento de órgãos altamente especializados como os olhos. Escolhi os olhos como exemplo porque já o vi usado na defesa do desenho inteligente e porque posso usar uma ajuda do livro do Richard Dawkins (O Relojoeiro cego) sobre este tema. Não nos é possível encontrar em registo fóssil os precursores primitivos dos olhos, pois são demasiado frágeis, e onde é impossível fazer uma análise funcional. Mas temos a sorte de na natureza encontrarmos o órgão visual em diversas fases da sua evolução. Na forma mais simples é apenas um detector de fotões capaz de perceber intermitências na incidência de luz. Provavelmente a primeira célula capaz de fazer isto protegeu os indivíduos onde surgiu da sombra de predadores. Existe em alguns seres unicelulares. Por muito rudimentar que fosse permitiu aos seres onde surgiu ter uma ligeira vantagem sobre os outros que não a tinham. Mecanismos para captar fotões há muitos na natureza e fora dela, graças à energia que estes transportam. O ciclo da água funciona com fotões. Os fotões aquecem e ionizam moléculas. E o Sol tem sido uma fonte inesgotável. Para continuar, não deverá ser então difícil perceber que pequenos acréscimos nesta qualidade, de visão rudimentar, sejam benéficos de geração em geração. Richard Dawkins vê mesmo a evolução como a competição entre genes. O melhor gene vai trazer uma vantagem ao grupo de genes a que se encontra ligado, depois ao cromossoma que o transporta e por fim ao individuo que o tem e portanto ter mais hipóteses de se replicar para uma geração seguinte.
O gene é a unidade mais simples que contem informação genética. Um cromossoma tem uma quantidade elevada deles. A reprodução implica a transmissão de pelo menos parte desses genes de geração em geração. Um gene que sofra uma mutação pode codificar uma característica que aumente o sucesso do seu portador. Mesmo que essa pequena vantagem seja limiar, se ela existir, com o tempo vai se manifestar. Por varias razões. É de esperar, no nosso exemplo, que esse indivíduo deixe descendência pelo menos tão numerosa como um indivíduo normal, sem essa vantagem. E neste ponto já temos mais de um indivíduo com essa mutação. Este grupo de indivíduos vai ser comparativamente mais bem adaptado que um grupo similar sem esse novo gene. Vai viver mais tempo, ser mais forte, e sobretudo, ter mais hipóteses de deixar por sua vez descendência. E aqui começamos a ver como este novo gene, consequência de uma mutação recente, vai lentamente ocupar o lugar do gene que estava antes no seu lugar. Aqui importa perceber bem o lentamente. Dos professores que ensinavam criacionismo como teoria científica verificou-se também que uma grande maioria acreditavam que a humanidade tinha surgido nos últimos 10.000 anos. Isso é muito pouco tempo. O fóssil mais antigo de um esqueleto humano tem cerca de 130.000 anos mas estudos com base em genética sugerem que esse valor poderá ser 200.000. Quem não conseguir sequer imaginar o que são 200.000 anos tem que fazer um esforço. A compreensão de números grandes é de facto essencial para compreender a Evolução, quer para imaginar populações a evoluir em vez de um organismo de cada vez como para compreender a escala de tempo em que as coisas avançam. Aqui o senso comum trabalha contra nós. A nossa visão das coisas é deturpada pela nossa curta longevidade. Adiante.
As mutações, e alterações na informação genética podem não ser apenas referentes a um único gene. Alterações ao nível cromossómico podem verificar-se. São as mutações cromossómicas como delecções, polyplidia, etc. E um cromossoma, tem uma quantidade muito grande de genes. Pensemos nas implicações… Estamos agora na posse de conhecimentos que nos permitem visualizar os seres vivos a evoluir ao longo das centenas de milénio. Sim, acho que deve ser essa a unidade temporal que devemos usar para este exercício mental. Por favor caro leitor, não se acanhe. Tente no entanto não colocar neste contexto a sua própria existência. Vai evitar conflitos internos.
Um outro ponto que falta abordar, são as mutações neutras, aquelas que não têm vantagem imediata. Essas, não causando grave prejuízo, vão igualmente acumular-se no longo prazo. Até eventualmente dar origem a um conjunto de mutações que são ou boas ou más. Muitas vezes ficam como apenas uma maneira diferente de "dizer" a mesma coisa. O que também é bom.

Sem querer, para já, prolongar ainda mais este assunto, queria apenas referir algumas aplicações surpreendentes do conjunto das teorias evolutivas actuais:
1 - Informática: e algoritmos genéticos, inteligência artificial, teoria dos jogos, etc, etc, etc. Toda a área fica debaixo da designação comum de Computação Evolutiva, que basicamente integra os conceitos da evolução no desenho de programas. Os princípios de diversidade, mutação e selecção são introduzidos no computador que, a seu tempo, trará soluções novas e não directamente programadas pelo homem. Não estranhar que uma área de estudo que aqui pertence seja a criatividade artificial. Será que um dia vamos por maquinas a desenharem-se a elas próprias com bases em programas evolutivos?
2 - Medicina: Modelo do desenvolvimento de tumores: A ideia que uma massa tumoral representa uma multiplicidade de células mais que uma entidade singular é antiga, e a variedade de formas das células que a constituem é reconhecida como característica de malignidade (pleomorfismo) também à muito tempo, o que é recente é a verificação que essas células correspondem de facto a vários perfiles genéticos. Ou seja, num tumor, existem células que são originadas de diferentes mutações, e com diferentes códigos genéticos. O modo como elas evadem as defesas do organismo (desde o ultrapassar do mecanismo de reparação do DNA) é Evolutivo. Só as células que escapam às defesas anti-cancro e se alimentam bem é que se dividem. Tal como na evolução das espécies tem de haver um acumular de mutações em várias fases para chegar ao cancro. Um exemplo um pouco mórbido mas que mostra a Evolução observável praticamente em tempo real. Estirpes bacterianas resistentes a antibióticos são outro exemplo de evolução em tempo real.
3 - Antropologia e geografia humana: Vou só referir um estudo publicado a semana passada em que mostrava como era possível através do DNA, colocar com uma margem de erro mínima, um individuo no seu país de origem. O estudo foi feito apenas com descendentes de europeus. Curiosamente o estudo não distinguia eficazmente entre nós e Espanhois, o que interpretei como significando que somos mais parecidos entre nós que outras populações europeias. Não sei se a minha interpretação é correcta, pode ter-se dado o caso de se terem escolhido acidentalmente parâmetros onde não havia diferença e que se poderiam ter escolhido outros onde a distinção seria obvia. De qualquer modo antes de dizerem mal de “nuestros hermanos” lembrem-se que se calhar eles são mesmo “nuestros hermanos”.
4- Genetica.
5- Sociologia; Cultura; Psicologia - Tive de vir acrescentar esta em pós scriptum! Os memes, como me esqueci dos memes! Os memes; mais pequena unidade funcional de uma ideia comportar-se-ão como os genes, sendo que os melhores memes vingam no coletivo da inteligencia humana. Um conjunto de complexo de genes, perdão memes forma um memeplexo. Uma religião será um exemplo. A teoria da Evolução será outro. Bastante virulento por sinal.

O outro ponto difícil de explicar é a origem da vida. Esta tudo bem, assim se formam as espécies, as familias, etc, mas como apareceram? Embora esteja por definição fora do ambito da teoria da evolução acaba por ser um problema algo relacionado. Por exemplo, uma hipótese que eu penso razoável é que a evolução precede a vida. De facto uma notícia publicada hoje na New Scientist fala justamente disso. Dois biólogos matemáticos de Harvard, Novak e Ohtsuki, desenharam um modelo onde a variedade de moléculas no chamado “caldo primordial” era tanta que deveria haver reacções químicas permanentemente a acontecer. Terão surgido entre as moléculas pré-bióticas algumas que participavam em reacções que davam origem a elas próprias: a replicação. As que se conseguiam replicar mais eficazmente e rapidamente acabariam por substituir todas as outras. São os conceitos Evolutivos aplicados na explicação do surgimento de moléculas complexas e complexos moleculares. Segundo este modelo o aparecimento finalmente de vida terá também levado ao desaparecimento das moléculas pré-vida que não tinham utilidade. Este modelo parece no entanto que não é muito útil para tentar perceber como seriam essas moléculas.

Para a constituição do já referido “caldo primordial” existem muitas hipóteses. Embora certamente ainda haja muito por descobrir nesta área, há indícios de que a ciência deverá estar no bom caminho. Moléculas orgânicas têm sido identificadas a aparecer espontaneamente em meios inorgânicos em laboratório, na natureza e até descobertas em análises de meteoritos. Há também quem defenda que a origem da vida foi fora da Terra mas isso para mim esta ainda fora do alcance da ciencia. Para ja parece-me incrivel. Existe no entanto algum consenso no sentido de que toda a vida sobre o nosso planeta tem uma origem comum. A primeira celula viva é a culpada de tudo. E ela surgiu, evolutivamente...

Existe mesmo a hipótese de que a formação do Universo possa ser explicada de forma evolutiva. De entre os vários universos possíveis só os mais estáveis evoluíram para albergar vida. Mas admito, se desenvolver este tema, isto vai cheirar a pseudociencia. Ainda não vi nenhum texto científico ou produzido por uma autoridade no assunto que sustentasse inequivocamente e literalmente a hipotese do inicio do paragrafo. Mas parece-me que andamos lá quase.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Breve História da Ignorância

Até chegarmos ao nível de ignorância que temos hoje passaram-se muitos séculos e muitos homens geniais foram precisos para deixar um contributo lento mas progressivo. Posso dizer sem errar que a nossa ignorância de hoje é melhor que a de há 3000 anos atrás. Sim, melhor, mais sofisticada, mais definida, nem mais pequena, nem maior, apenas mais grandiosa.

Tal como outras histórias do saber ocidental, esta começa na Grécia Antiga, cerca de 500 a.C. com Sócrates. Como ele não nos deixou nada escrito, temos que confiar em Platão como veiculo das suas ideias. A ele se atribui a frase “só sei que nada sei”, constatação conhecida como Douta Ignorância. Não, não se trata de um doutoramento em ignorância, o que Sócrates queria dizer seria mais “quanto mais sei, só aprendo que nada sei”. Quem não acreditar na honestidade de Sócrates que releia os diálogos de Platão. Através deles ficamos a saber que Sócrates para provar que não era um sábio e muito menos “o mais sábio”, se dedicou a importunar potenciais candidatos ao posto para depois concluir que eles não eram sábios, uma vez que não sabiam mais que ele. Para um homem que defendia valores como os da amizade, esta procura por um homem mais sábio irritou os inquiridos e acabou por deixar para trás um rastro de inimigos que culminou na sua sentença à morte.

Platão e mais tarde Aristóteles não deixariam entregues ao alheio os seus méritos intelectuais e a filosofia começa a ganhar forma. É através deles que temos conhecimento de Socrates, que não deixou nada escrito. Nesta altura a filosofia divide-se em antes e após Sócrates, tal foi a sua importância. O facto de Aristóteles (aluno de Platão que foi aluno de Sócrates) ter sido professor de Alexandre O Grande e de este ter aberto caminho à machadada pelo mundo fora, impondo a sua ordem, parece não ter nada a ver com o assunto. Mas passariam muitos anos ainda até que um novo passo de tal dimensão fosse dado. E agora refiro-me ao Teorema de Godel.

Para isso, ainda nesta época, contribuiu um outro Grego, que formulou o Paradoxo do Mentiroso. Eubulides de Mileto terá dito: “um homem diz que está a mentir; é o que ele diz verdadeiro ou falso?”. Por vezes é confundido com o que disse Epimenides de Creta: “todos os Cretenses são mentirosos”. Se ele esta a mentir então os habitantes de Creta não são mentirosos, pelo que ele então não esta a mentir. Se ele esta a dizer a verdade então ele próprio está a mentir pelo que então estaria a dizer a verdade e não a mentir. Confuso? Sim. A auto-referência torna a frase circular e irresolúvel. Mas é o anteriormente citado Paradoxo do Mentiroso que tem uma relação directa com os Teoremas de Godel sobre incompletude, pelo menos é o que dizem aqueles que sabem mais do que eu.

Durante a Idade Média a Ignorância passou um mau bocado. Mais uma vez com Aristóteles ao barulho, mas sem que ele fosse objectivamente o culpado, a Idade Média eram só certezas. A palavra do antigo filósofo era a Lei. A Igreja tinha a palavra, e dava-a sobretudo a Aristóteles em matérias de coisas terrenas.

O renascimento foi um belo momento na história da ignorância, onde esta tinha uma aura de inocência e alimentava os espíritos curiosos e inquietos da época. Os Portugueses lançam-se ao mar e iniciam a idade das descobertas.

Por volta de 1650 começa a desenvolver-se a partir da correspondência entre Fermat e Pascal a Teoria das Probabilidades, que é já uma abordagem científica sobre a Ignorância. Determina a forma como devemos lidar com ela. E a forma como devemos lidar com ela é, probabilisticamente. Desde a medicina à mecânica quântica as suas aplicações são inúmeras.
Muitas vezes podemos não saber fazer a previsão de um certo fenómeno, mas podemos dizer qual a probabilidade de ele acontecer dentro de determinados parâmetros. É a educação da Ignorancia.
Nota: no dia a dia, faz a diferença entre o optimista e o pessimista. O optimista acredita que o melhor cenário é o mais provável de se verificar, o pessimista acredita o contrário.

O marco seguinte nesta história, a meu ver, tem de ser atribuído a Hilbert que em 1900 descreveu 23 problemas matemáticos pertinentes que careciam de solução. Ou melhor cuja solução era ignorada. Alguns foram resolvidos mas outros mantêm-se actuais (7 não foram resolvidos ou só parcialmente resolvidos de acordo com a wikipédia). Mais incrivelmente, o segundo provou não ter sequer solução como Godel viria a demonstrar. Hilbert contribui ainda com bases matematicas que possibilitam os avanços na fisica que se seguem. E a partir daqui caro leitor, é uma explosão do refinamento da ignorância:

Em 1901 Heisenberg descreve o princípio da incerteza com o seu nome que diz sumariamente que não podemos conhecer a posição e a velocidade de uma partícula ao mesmo tempo. Quanto mais conseguirmos saber de uma, menos vamos conseguir saber da outra.

Em 1926 Erwin Schroidinger formulava a equação que seria central na mecânica quântica e o mundo sub-atómico passava a ser probabilístico até aos dias de hoje. Einstein aborrecido dizia: "Deus não joga aos dados", mas ao mesmo tempo tornava tudo no universo relativo. Schroidinger escrevia-lhe uma carta onde contava a historia do gato que não esta vivo nem morto até que se olhe para ele. Godel, amigo de Einstein, tentava ajudar remexendo na relatividade. O grande passo seguinte seria dele mas não por ter aumentado o alcance da teoria da relatividade.

Em 1931 Kurt Godel , em resposta ao programa de Hilbert, apresenta os teoremas da incompletude. Ainda nos dias que correm são a ultima palavra sobre Ignorância. Hilbert procurava encontrar um conjunto de axiomas onde se pudessem formalizar todas as teorias conhecidas e encontrar a prova de que este sistema era consistente. Ou seja, queria unificar as teorias conhecidas num único sistema e que esse sistema fosse tal que não daria origem a contradições. Afinal de que serve um sistema que define que uma determinada expressão é simultaneamente falsa e verdadeira, ou em que é possível provar que 1+1 é igual a 3?. Pois foi o que Kurt Godel provou. Esse sistema todo-poderoso que englobaria todos os outros não existe.
Quanto mais consistente for um sistema, diz o teorema, menos completo ele é. Quanto mais completo for, mais problemas de consistência vamos ter. Como a matemática é a base de tudo, isto significa que nunca vamos ser capazes de saber tudo. A ignorância perpétua foi teorizada. Será que os problemas da física actual são já uma consequência do teorema de Godel?

Em Setembro de 2008 na ânsia de encontrar uma solução para os sistemas físicos teoricos em vigor (teorias não faltam) é posto a funcionar um aparelho que esmaga protões. O que se vai encontrar pertence ainda ao domínio da ignorância.
Continua em "Certezas? Não tenho a certeza". em 7 Novembro 2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC e o medo.

Por toda a Internet há um crescer de comentários motivados pelo medo de que o LHC venha a destruir o planeta. De tal modo alguns queixosos eram convincentes que me comecei a sentir desconfortável. Por isso fiz o que sempre costumo fazer nestas ocasiões. Fui tentar saber mais sobre o assunto.

As minhas conclusões são as seguintes:

1 -Certezas não há.

2- Há um consenso na comunidade cientifica no sentido de o LHC não representar perigo mesmo quando for utilizado na potencia máxima. As vozes de alarme entre os cientistas são muito pontuais e diria mesmo que são isoladas ainda que com um grande impacto mediático. A segurança é inclusivamente defendida por entidades institucionais Norte Americanas que não participam no projecto e que não têm ligação ao CERN, pelo contrario.

3-Os cálculos que levam a prever o aparecimento de entidades malignas (mBN, Strangelets, etc..) estão errados. Fazem interpretações bastante incorrectas das teorias existentes e dificilmente teriam notoriedade se não estivessem a prever o fim do mundo. Mesmo se estiverem certas é de salientar que se baseiam nas mesmas teorias que dizem que estas entidades, em aparecendo, não vão representar perigo. Ou seja, é preciso rebuscar e martelar muito nas teorias actuais não só para fazer aparecer alguns destes fenómenos como para os colocar em posição de destruir a Terra.

4-Mesmo na potencia máxima o LHC não vai lidar com colisões de valores comparáveis às que acontecem naturalmente no nosso próprio sistema solar quando os planetas são bombardeados com raios cósmicos.

5-Por alguma razão fizeram o LHC 300 pés debaixo de terra. muita coisa que pode correr mal sem aparecerem buracos negros. Mesmo assim não maneira de prever que haja danos que não sejam locais.

6-Foi dada a devida atenção a estas teorias precisamente pelo cenário catastrófico que prevêem e uma nova area surgiu na Física - a ética.

7-Metaconclusão- Apesar de não haver certezas, a probabilidade de se destruir o Planeta com o LHC é abaixo da probabilidade de o mesmo acontecer por um processo natural. A possibilidade de se fazer um belo buraco no chão é um bocadinho maior.

Nota de actualização: na manha de hoje 11-Set-08 a noticia "Sucesso na primeira tentativa de funcionamento do maior acelerador do mundo" - http://http//ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1342224 -

do jornal "Publico"
http://www.publico.clix.pt/

atinge os 180 comentarios de leitores Portugueses (numero elevado mesmo para paginas internacionais), e o tema é o mesmo. Penso que o CERN vai ter de ter o trabalho de se explicar melhor. De qualquer modo fica aqui também o link para a pagina do CERN sobre a segurança no LHC:

http://public.web.cern.ch/Public/en/LHC/Safety-en.html

O Grande Colisionador de Hadrões produziu as primeiras imagens

As primeiras imagens saíram do LHC e a experiência foi considerada um sucesso. Um primeiro feixe de protões deu a volta completa ao túnel e produziu as primeiras imagens. No entanto até que se ponham dois feixes de protões a circular no túnel a toda a velocidade em direcções opostas e em rota de colisão ainda vai demorar umas semanas. Em boa verdade não se sabe ainda quando.

Na realidade estamos em terreno totalmente novo. Em causa esta a busca de uma teoria unificadora e qualquer nova informação proveniente do LHC pode vir a ajudar. Os cientistas admitem que não sabem realmente o que esperar, até certo ponto. O Modelo Padrão (standard), que explica as interacções entre as partículas elementares (aquelas que se pensam ser os blocos de construção de toda a matéria) tem feito previsões excelentes sobre 3 forças fundamentais, mas mantém uma falha grave. Continua a não conseguir explicar a gravidade que apesar de ser uma força mais fraca, é tão importante na compreensão do universo. Reconhecem-se 4 forças fundamentais na física: A gravítica, a electromagnética e as forças nucleares fortes e fracas. Todas as outras derivam destas 4. Os modelos actuais explicam estas forças como a troca de partículas entre outras partículas. Confuso? Sim.

Temos as partículas que constituem a matéria como os quarks que formam os protões e neutrões, (os electrões são formados por leptões). Estas partículas sub-atomicas interagem entre si utilizando as forças acima referidas trocando partículas. Na força electromagnética são os fotões, na força gravítica serão os gravitões (nunca observados), na força nuclear fraca bozões W e Z e a forte, responsável pela integridade do núcleo, por gluões. muito, mas muito mais a dizer a este respeito, mas por agora chega.
A gravidade é bem explicada pela teoria da relatividade que descreve a gravidade como uma deformação do espaço-tempo, mas como referi, não encaixa de modo algum no Modelo Padrão.

Para confirmar a teoria é preciso encontrar o bosão de higgs que seria a mais elementar de todas as partículas e que daria origem a todas as outras e que para mais explicaria porque se portam como se portam. .

Para isso, nada como esmagar protões uns nos outros e apanhar os destroços.

No entanto, existem indícios recentes de que o Modelo Standard tem outras falhas. O físico Inglês Stephen Hawking apostou mesmo cerca de 100 euros que não a iríamos ver nunca, a essa a que chamaram nos media particula de Deus, o bosão de Higgs.

Quanto à utilidade de tudo isto... Penso que é preciso ser-se muito velho, mesmo muito velho do Restelo para considerar que compreender o universo não faz falta.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Large Hadron Colider e o 10 de Setembro

Amanhã é a inauguração oficial do LHC, um acelerador de partículas com um perímetro de 27km contruido entre a Suissa e a França que pretende estudar fenómenos que ocorreram no Big Bang. Quando estiver a funcionar a todo o vapor vai colocar protões a 99,99% da velocidade da luz em rota de colizão uns com os outros e ver o que sai. As expectativas são ambiciosas. Querem-se respostas a questões sobre a origem e natureza da massa, de que é feita a matéria negra, porque mais matéria do que anti-matéria... Alguns vão ainda mais longe: sugerem a produção de dimensões adicionais, novas forças, até a viagem no tempo. A energia produzida pela colisão será de cerca de 14 teraelectrovols, 7 vezes mais potente que o record actual em experiências do género, mas o que torna o LHC tão especial é a capacidade de o fazer num ponto tão pequeno como uma partícula de pó e assim recriar condições semelhantes às ocorridas instantes após o Big Bang.

Por isso alguns cientistas não acreditam na segurança destas experiencias e um processo em tribunal foi colocado para invibializar o LHC. Temem a formação de mini buracos negros que iriam lentamente assimilar a Terra. Os cientistas envolvidos no projecto têm inclusive sido vitimas de ameaças. O processo em tribunal terminou com a luz verde para avançar como planeado.

Mas para os que não se sentirem seguros fica aqui a explicação de porque é que o 10 de Setembro vai ser um dia como qualquer outro. Os mini buracos negros que os críticos temem que se produzam são possíveis teoricamente (actualização: talvez nem isso, ver "LHC e o medo") mas deverão ter uma duração proxima do infinitesimalmente pequeno. Por outro lado existem raios cósmicos mais potentes a bombardear o sistema Solar regularmente e ainda não vimos Júpiter e Saturno serem devorados.

Provavelmente existem na net, algures, alguém a vender protecção anti-mini-buraco-negro, mas creio que não vai ser preciso. Quero é ver os resultados da maquina.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Aquecimento Global Antropogénico

Ontem houve mais duas notícias sobre alterações climáticas que vêm servir de pretexto e exemplo para a abordagem deste problema actual e pertinente. Refiro-me à publicação de um artigo na revista “nature” que correlaciona o aquecimento global com a intensidade crescente dos furacões e à noticia de uma prateleira de gelo do tamanho de Manhattan se ter desprendido para o mar, na ilha de Ellsmere, no árctico Canadiano. E o problema compõe-se pelas alterações climáticas por um lado e por outro lado pela resposta insuficiente por parte do homem perante este cenário, sustentada por muitos que negam que essas alterações sejam causadas pelo homem. (Há quem negue o aquecimento global de todo, e quem apenas negue que seja causado pelo homem). Já li hoje comentários às notícias onde os defensores de um lado e de outro chegam aos insultos mútuos. No entanto a comunidade científica que se dedica especificamente a esta matéria, ao contrário do que se diz, é bastante consensual a culpar a actividade humana por este fenómeno que não prevê a alteração do ambiente no sentido mais conveniente à espécie humana. Estes cientistas dizem que a produção de gases com efeito de estufa aumentou drasticamente no fim do século XX e que está a ter como consequência o aumento das temperaturas médias em torno do planeta. O famoso gráfico em stick de hockey que mostra as temperaturas estáveis durante séculos (últimos 1000 anos) e a subir em flecha no fim do sec XX recebeu recentemente mais uma correcção em sentido positivo. Como tudo no mundo científico, esta sempre passível de ser melhorado. Digo, revista positivamente porque, com pequenas correcções, se concluiu mais uma vez que constitui a melhor aproximação possível para representar as variações de temperatura verificadas durante esse período e sugere que um aquecimento deste tipo é inédito nos últimos 1000 anos. Claro que quanto mais para traz no tempo andarmos maior a margem de erro mas é mesmo possível que estejamos a viver os dias mais quentes dos últimos 1,000,000 anos… Claro que o nosso planeta já foi mais quente noutras alturas, mas também era um mundo muito diferente. Não é a temperatura actual em si que esta em causa, mas sim a velocidade do aquecimento. E esse aumento coincide exactamente com o inicio da produção massiva de CO2 ( dióxido de carbono) pelo homem. Explicação mais simples? O homem queima combustíveis fosseis, a combustão liberta CO2, o CO2 é um gás com efeito de estufa, a temperatura começou a aumentar quando se começou a produzir CO2… Conclusões?
O aquecimento global é antropogénico.
Um aparte sobre o efeito de estufa. O nome é enganador, o mecanismo com que aquece a terra não é o mesmo de uma estufa. Refere-se à absorção de raios infravermelhos provenientes do solo terrestre por estes gases. Os raios infravermelhos traduzem-se em calor. O calor é novamente irradiado de volta para a terra formando-se um ciclo vicioso com uma fonte quase inesgotável, o Sol. Este fenómeno foi descrito primeiro por Joseph Fourier em 1824 (o mesmo a quem foi dado em homenagem o nome da transformada de Fourier), e estudado quantitativamente por Svante Arrhenios em 1896, muitos anos antes das coisas começarem a aquecer.
No método cientifico uma boa teoria deve ter a capacidade de fazer previsões que possam ser testadas. O principio do efeito de estufa previa portanto que se se aumentassem as concentrações de CO2 ( gás com efeito de estufa) na atmosfera que a temperatura global iria aumentar. Não era pensável sequer testar esta teoria mas infelizmente foi o que aconteceu. Aumentou-se a libertação de CO2 para a atmosfera e logo a Terra começou a aquecer. Agora de notar também que o aquecimento global não obriga a que seja homogéneo pelo planeta todo, e algumas regiões podem mesmo assinalar temperaturas mais baixas. Em média, e sobretudo bem visível nos oceanos onde as temperaturas tendem a oscilar mais devagar, há um aquecimento global. É obvio também que vamos ver oscilações nas temperaturas ao longo dos anos e haverá anos mais frios que outros enquanto que a longo prazo se verifica um aquecimento. 2008 por exemplo esta a ser mais frio que 2007 mas isso não representa uma reversão da tendência. Dos 11 anos mais quentes em registo nenhum foi há mais de 13 anos. A temperatura é medida directamente desde 1850.
Outra previsão que tinha sido feita era o aumento das tempestades tropicais, facto que estava a ser controverso porque na realidade em frequência não aumentaram muito. O que os dados revelados ontem suportam é que apesar de terem aumentado pouco em número são realmente muito mais fortes. E isso esta de acordo com a teoria.
Uma terceira previsão das teorias do aquecimento global é a chegada a um ponto de não retorno. James Hansen, climatologista da NASA acha que já o alcançamos,mas eu tenho fortes esperanças que ele esteja errado. Outros cientistas acreditam que este ponto será por volta de 2017. Será que queremos saber se é verdade?
E isso é algo que não compreendo nos negadores da teoria do aquecimento global antropogenica. Como podem ter tanta certeza do que estão a dizer ao ponto de por em risco a vida de futuras gerações e eventualmente até as suas próprias. São visíveis em muitos lugares efeitos actuais, já a acontecerem como os exemplificados nestas duas noticias.
E não, não houve uma época mais quente que a actual durante a idade média, não existem provas de que a Antárctida tenha sido verdejante (Greenland), na realidade aquilo é só rocha e permafrost e quem mais produz CO2 é quem mais tem a ganhar ao negar o aquecimento global antropogénico, não são os cientistas que ganham com esta teoria. Alias, ninguém esta a ganhar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Lamina de Occam e Crónicas da ciência

Numa primeira abordagem quero apenas esclarecer a minha visão para este blogue e a sua razão de ser. Vivemos numa época em que o conhecimento humano nunca foi tão vasto e aquilo que podemos construir com ele nunca foi tão evidente, e no entanto, sob o pretexto de manter uma mente aberta ou de que a ciência não tem explicação para tudo, cada um de nós é bombardeado com teorias mirabolantes sobre os mais diversos assuntos, desde a saúde à cosmologia e pelo meio, os valores da ciência são menosprezados, por vezes até por quem tem formação científica. São exemplos flagrantes desta agressão à ciência a crescente crença no criacíonismo e no “Desenho Inteligente”, a negação da Teoria da Evolução e Neodarwinismo; a negação do aquecimento global antropogénico; a proliferação de medicinas alternativas sem base nenhuma na evidencia; a utilização indiscriminada do termo “provado cientificamente” e a proliferação da pseudociencia; e por fim o renascer da feitiçaria… Não, não, quero insultar ninguém mas que nome dar às práticas de curas tipo reiki e leituras da alma etc?...

Deixarei a abordagem específica de cada um destes tópicos para mais tarde. Todos estes factos, na minha opinião, reflectem muitas vezes o desconhecimento do que é a ciência e do que ela não é. A ciência tem limitações que começam por ser as nossas próprias limitações mas ainda assim representa o nosso melhor esforço de compreender qualquer assunto e de adquirir conhecimento. A evolução da ciência acompanha a evolução da humanidade. Desde as cavernas até aos dias de hoje passou muito pouco tempo (do ponto de vista da vida sobre a terra) mas muita coisa mudou. Com compreensão do mundo melhorámos muito a nossa qualidade e esperança media de vida. Não é que o conhecimento científico não seja frequentemente mal aplicado, mas isso é outro problema. A questão é que pode e deve ser bem aplicado, e para ser aplicado, esse conhecimento tem de ser criado. (Talvez até seja essa a grande diferença entre nós e os animais: a capacidade de criar ciência). E se for bem aplicada, acredito mesmo que se pode traduzir num mundo melhor.

Por outro lado não creio ser inofensiva a aquisição de “conhecimento” gerado por outro modo*. Quer para a humanidade no seu todo como exemplificada pela inacção frente ao aquecimento global, quer para o individuo como exemplificado nos casos de atraso da procura de cuidados médicos (medicina baseada na evidencia) em favor de alguma “medicina” alternativa. E se as massas acreditam que o modo de resolver os seus problemas é com recurso a pedras magicas ou com as dicas do Prof. Hocuspocus quem é que sai prejudicado?

Por isto espero com este blogue fazer o trabalho da apologia da ciência, por gosto e por crença no método cientifico. Este não é no entanto um blogue cientifico. Pretendo falar sobre descobertas recentes em diversas áreas, mas pretendo igualmente opinar sobre elas. Espero poder faze-lo de uma maneira clara. Espero também que seja fácil ao leitor separar a minha opinião daquilo que é o facto ou noticia. Vi recentemente um jornalista de língua inglesa quase ser crucificado por dar mais opinião que notícia, mas como eu acho que os cientistas (e afins) têm direito a expressar a sua opinião, aqui fica o aviso. (O artigo era de facto de opinião mas tinha sido colocado por engano na secção de noticias).

O que eu não farei é apresentar como ciência aquilo que não é ou tentar misturar factos com opinião de uma maneira difícil de discernir o que é um ou o outro. Se eu o fizer, caro leitor, por favor diga-me.

O objectivo é apresentar factos e comentar sobre eles. Além de falar sobre assuntos actuais, espero também falar muito sobre a ciência propriamente dita. A começar pela navalha ou lamina de Occam.

E porque a navalha de Occam? Guilherme de Ockham era um teólogo, físico e lógico do século XIV e a quem se atribui o princípio com o nome dele e que eu considero ser o gérmen do espírito científico. Cerca de 200 anos antes de Galilieu Galilei, Guilherme de Ockham dizia que a explicação mais simples para algo é a mais correcta. Isto é, devemos tentar explicar uma questão com o menor numero de assumpções possível, sem a criação de novas entidades no processo. Razão pela qual muitas vezes “mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo”, uma vez que as mentiras tendem a ser muito elaboradas. E isto aplica-se quer na investigação criminal, quer no diagnóstico médico, quer no método científico. Por ser tão importante, tão simples e tão produtivo o escolhi como titulo. E porque lançou uma das primeiras pedras do pensamento cientifico. Uma lamina para cortar no que não interessa.
*Nota: Excepção para a Filosofia de um modo geral - e que não interessa explicar agora, pois o texto anterior esclarece a que me refiro. Considerei a Matemática e a Lógica ciências.