segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A ciência não se corrige.

É essa a opinião de Luciano, um bloguer com uma filosofia da ciência original e que se identifica como:

"Uma pessoa que é fã da aplicação do método científico para resolução de problemas corporativos, e especialista em ceticismo empresarial, suportado por frameworks de governança e auditoria. Também é um debatedor com especialidade na aplicação do ceticismo para desmascarar charlatães como Richard Dawkins, Daniel Dennett e Christopher Hitchers, além de seus seguidores. "

Pois este senhor diz que a ciência não é aberta a refutação. Ou melhor o que ele diz mesmo é que a ciência não se corrige. Mas depois de dizer que a ciência é o corpo de conhecimento adquirido cientificamente, era preciso que nunca esse corpo tivesse sido alterado para dizer que não se corrige. E era preciso igualmente dizer que ela não era aberta a refutação e discussão para garantir que não se corrige.

Por isso, ou eu não sei o que é corrigir ou então a ciência corrige-se. Não que o erro seja a caracteristica da ciência, como outros querem fazer crer, mas que a ciência se corrige é um facto.

E não é aberta a debate porque não é aberta a debate. Esqueceu-se, logo ali no meio do método, do "peer-review". E dos debates pós publicação, e dos congressos e sei lá mais o quê. Invoca Popper para sustentar a sua tese, mas não faz citações que possamos confirmar. Faz ameaças:

"E dá para dizer com segurança: se alguém usar esses conceitos deturpados de ciência, e tiver o azar de me encontrar em um debate, já fique sabendo de antemão que será esmagado de tal forma que depois terá vergonha até de olhar de novo no rosto de seus familiares."

Mas sinceramente, não há realmente necessidade de refutar o seu texto. Ele faz isso por si só. Porque de entre todas as vezes que repete que a ciência não se corrige (quer como argumento quer como conclusão - o que acaba por resultar na falta de argumentos para sustentar uma conclusão), e de entre todas os insultos que profere, lá no meio diz:

"O que acontece é que um cientista talvez tenha a sua pesquisa refutada por um outro, assim como no cinema a Pixar trouxe uma nova técnica que superou a antiga animação."

Hãa... Isso não é uma correção?

Mas a minha frase favorita ainda é:

"A ciência só poderia se corrigir se a ciência estivesse errada. Mas não estava. A definição de ciência segue a mesma de sempre"

A ciência não está errada enquanto tem a mesma definição. Boa. Faz as maravilhas de qualquer apaixonado pela ciência como eu.

E agora Popper no seu melhor:

«science is one of the very few human activities – perhaps the only one – in which errors are systematically criticized and fairly often, in time, corrected.» ("Conjectures and refutations: the growth of scientific knowledge").

Ver aqui o texto completo do Luciano:

http://neoateismodelirio.wordpress.com/2009/08/26/ciencia-x-religiao-retardo-mental/#comment-221

Update:

O Luciano Henrique respondeu-me em post aqui:

http://neoateismodelirio.wordpress.com/2009/09/03/a-dificil-arte-de-dialogar-com-os-neo-ateus-parte-2-ou-como-discutir-com-aquele-que-nao-le-o-que-esta-escrito/

Mas a sua justificação para dizer que a ciencia não se corrige é basicamente dizer que a ciência não se corrige porque não tem intencionalidade ou coisa parecida. Isso não só reduz o texto original a um conteúdo ainda mais pequeno, onde só sobram falácias de apelo emocional, como é rídiculo:

Ele explica assim:

" A lata de sardinha é passível de ser aberta: fato

Mas isso não implica que a lata de sardinha se abre"

Sim, ela se abre com um abre latas. E a ciencia se corrige com refutação.


O meu caro leitor siga o link e julgue por si próprio. Acho que não merece um post de resposta.

Update 2:

O Ludwig Krippahl do blogue "Que treta" escreveu um post muito bom sobre o texto do Luciano, (após as duvidas sensatas de se valia a pena ou não perder o tempo para isso...):
http://ktreta.blogspot.com/2009/09/corrigindo.html

Pôr o Bang no Big Bang

Porque é que se deu o big bang? Porque é que os objectos têm inércia? Porque é que o L.H.C. é tão importante?

Parece que a resposta a esta questão é o campo de Higgs. Ele está em todo o lado. Permeia todo o espaço, mesmo no vacuo. São as interacções com este campo, que dificultam a mudança de velocidade das particulas e que dão origem à massa. No dia a dia sentimos este campo sempre que aceleramos algo. Levantamos um livro, aceleramos o carro, etc.

O mecanismo de Higgs explica porque as partículas que levam a força fraca são pesadas e por outro lado porque as particulas do campo electromagnetico não têm massa (luz). Os fotões passam através deste campo sem esforço.

Pensa-se que este mesmo campo terá sido o responsavel por exercer uma pressão negativa sobre amatéria que nessa altura (pré Big-Bang) estava muito condensada.

Segundo a teoria da relatividade, a distorçao do espaço pela gravidade também é influenciada pela energia associada à massa em questão. Se comprimirmos uma mola de metal, por exemplo, ela cria um campo gravítico infimamente mais forte, do que se estiver liberta de forças. (Infimamente... Bem, isso depende do tamanho da mola, certo?). Ou podemos ter o mesmo efeito se a aquecermos (estamos a carrega-la com energia).

Analogamente, se se conseguir de algum modo exercer pressão negativa, o campo gravítico muda de acção. Passa a repelir. E é isso que se pensa que o campo de Higgs fez sobre a matéria, na altura imediatamente antes do Big Bang. Tornou a gravidade uma força repulsiva.

Agora imaginem o que acontece se temos a massa toda condensada num só sitio e com gravidade repulsiva. Voilá. Temos um Grande Catapum. (em Inglês Big Bang).

Esta teoria está toda certinha matematicamente, mas a partícula transportadora deste campo, (como o fotão é a do campo electromagnético), nunca foi observada. Há grandes esperanças que tal seja possivel nas experiencias levadas a cabo no CERNE com o LHC (ou Large Hadron Colider).

Parece que vai voltar a funcionar em Novembro. Eu espero que sim.

Fonte: Brian Green, " O Tecido do Cosmos" pela Gradiva

sábado, 29 de agosto de 2009

Adaptação às alterações climáticas pode ficar mais caro que o que se pensava.

Um novo estudo publicado recentemente vem demonstrar que as previsões anteriores sobre quanto custa adaptarmo-nos às alterações climáticas podem ser muito mais elevadas do que se pensava antes.

Esta nova previsão é muito importante no debate sobre as alterações climáticas. Porque um dos argumentos dos ditos cépticos das alterações climáticas é que mesmo que sejam reais, ficaria mais caro tentar evitar o contributo humano que as causa do que pagar o preço e adaptarmo-nos.

Por exemplo, começar a desalinizar agua, transportar a agua das cheias para as áreas desertificadas, usar mais ares condicionados e aumentar a assistência hospitalar para as novas doenças, etc.

Este novo estudo, não apresenta novos numeros. Muito simplesmente dirige-se a questões já abordadas e mostra que seria mais caro que o resultado do estudo anterior. Ou que há coisas que não foram abordadas e que custam dinheiro.

Ou seja, do ponto de vista puramente económico, mesmo para quem não está ralado com o planeta se transformar numa maquina gigante onde tudo acontece artificialmente, parece que isso é mais complicado.

Eu arrisco-me ainda a dizer que tornar a vida na Terra completamente dependente de suporte artificial, (ou simplesmente a caminhar nessa direcção), é uma loucura de consequências imprevisíveis. E isto dito por quem defende que somos dependentes da técnologia e que não podemos senão apostar nela para ter um mundo melhor. Isto é uma coisa. Dizer que ela é tudo o que precisamos é outra. E que ela nos pode resolver qualquer problema e mais algum é falso. Não ao nível tecnológico actual e previsivel no curto prazo. É que se não gostam da natureza, pensem que os meios humanos para sustentar vida artificialmente são muito caros.

Podem argumentar que ninguém está a defender que fiquemos só dependentes da tecnologia (e economia), mas é precisamente essa a consequência que eu vejo da atitude de "vamos adaptando-nos". Sem duvida que temos de nos ir adaptando. Mas temos de minimizar os estragos também.

Até podemos vir a contruir uma base na lua, no meio da aridez absoluta. Mas para quantas pessoas é que o conseguimos fazer e por quanto tempo? Não para uma população como a Terrestre. Nem interessa durante quantos segundos.

Os cepticos chamam a isto que eu estou a fazer, escrever sobre os limites da tecnologia e sobre o perigo das alterações climáticas, alarmismo.

Eu não sei se estou de acordo. Sim, é um alarme. Mas é despropositado? Não há dados cientificos suficientes para considerar que o risto é plausivel? Na minha opinião há. Porque eu não sou especialista no clima, mas sei como se faz ciência. Vozes discordantes há sempre, é a natureza do bicho! Mas como ja disse, para quem está de fora, é melhor confiar no que acreditam os 90% e não no que defende 10% (dos especialistas na matéria).

Este estudo vem mostrar que confiar no poder economico para ir resolvendo os problemas conforme eles forem aparecendo pode ficar mais caro que o que era usado até agora para defender essa abordagem. As conclusões não me espantam. Provavelmente quanto mais pensarmos no problema mais questões de caracter económico vamos descobrir.

Já para não falar que isto pressupõe que haja dinheiro para pagar as "redomas de vidro" em que teremos de viver(1). E quem não tiver esse dinheiro? Temos o direito de tirar o pouco que sobre às nações que mal produzem para comer? É problema delas.

Eu só vejo problemas nesta abordagem.

Notas:

(1) Eu sei que talvez esteja a exagerar, é uma metafora. E daí talvez não...

Ler noticia na Nature aqui:

http://www.nature.com/news/2009/090827/full/news.2009.871.html

Microscópios evoluiem ao ponto de se conseguirem ver moleculas.



A IBM deu um novo passo em frente com uma técnica que permitiu ver as primeiras moléculas ao microscopio electrónico. No artigo da "New Scientist" onde encontrei a noticia, há um comentário de uma equipa rival dizendo que "a resolução é a melhor que  já vi". E eu também. Nunca tinha visto moléculas ao microscópio. Atomos é possivel desde 1970, mas as moléculas não aguentam o procedimento, colam-se ao microscópio, etc. Para mais pormenores eu deixo a ligação no fim do post.

O que me fascina é ver a molécula como ela é, de uma forma quase directa.

Há várias maneiras de prever a sua forma e de as visualizar, mas esta é quase como estar a olhar. E a consistencia com o que se esperava ver é perfeita. Nenhum cientista terá ficado impressionado com isso, pois nem se poria em causa qual o seu aspecto ou como seria a sua visualização. Mas às vezes é bom lembrar que ver não é a unica maneira de conhecer. 

Trata-se de pentaceno. A imagem esquemática é sobre a sua síntese.

Link:

http://www.newscientist.com/article/dn17699-microscopes-zoom-in-on-molecules-at-last.html

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Você é criacionista?

Foi a pergunta do jornalista a Marina Silva, ministra do Meio Ambiente no Brasil e candidata à presidência.

A resposta é:

"É impossível crer em Deus se não crer que Ele criou todas as coisas, não é? E se nós não sabemos como explicar as coisas, então não devemos ter a pretensão de dizer que elas não existem, porque nós não sabemos como elas podem ser explicadas. E a fé é exactamente isso. É nos crermos sem entendermos. E eu certamente que acredito que Deus é o criador de todas as coisas e que esse criador tem um projecto, que as coisas não acontecem por acaso algures... Existe um projecto inteligente um projecto da inteligência que governa tudo isso."

Isto é o mesmo que dizer que ou no criacionismo ou no desígnio inteligente. E que acredita neles como explicação da realidade sem que isso precise de provas, pelo menos enquanto houver alguma coisa por explicar.

Até porque mais à frente explica que não acha mal que também se ensine evolucionismo nas escolas religiosas onde já se ensina criacionismo.

Espero que o Brasil não eleve ao mais alto cargo este tipo de relativismo cultural exagerado, sustentado por "apelos à ignorância" e "Deuses-das-lacunas". Bem explícitos na frase dela.

Marina Silva foi considerada pelo Guardian uma das 50 pessoas capazes de salvar o mundo. Sim, mas só pelo poder que tem. Pelo tipo de lógica não promete muito.

Não sou brasileiro, mas um pais como o Brasil, com a importância que tem no mundo, com o numero de habitantes que tem, e toda a cultura que produz, merece um presidente melhor que isto. Alguém que valorize a ciência e que tenha um discurso coerente com o conhecimento cientifico e que considere a ciência acima da crença.

Ver aqui a entrevista de onde é retirada a frase:

http://eoqha.net/2008/criacionismo/111-entrevista-com-a-ministra-do-meio-ambiente-marina-silva/

Relativismo cultural


quem acredite que a realidade muda com as nossas crenças. É um argumento frequente a favor das medicinas alternativas e tradicionais. É que não podem ser avaliadas pela ciência ocidental porque pertencem a um conjunto completamente diferentes de crenças. "É outra filosofia". Esta é a versão forte do relativismo cultural. É tudo tão relativo que só pode ser avaliado de acordo com o que cada um acredita. Ao fim e ao cabo, o que é a verdade? Será a minha a mesma que a tua? Certo?

Apelo à tradição

E para juntar à minha colecção de falácias cá vai uma bem portuguesa.

Apelo à tradição ou "argumentum ad antiquitatem".

É mesmo o que parece, não precisa de grandes explicações. Ser uma tradição, só por si, é insuficiente para validar seja o que for. Por exemplo: A tourada não passa a ser boa por ser uma tradição.

Podem ler mais aqui:

http://en.wikipedia.org/wiki/Appeal_to_tradition

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Falsificacionismo

Definir ciência é tão difícil como definir o que é o tempo. Karl Popper argumentou que o verificacionismo, para validar uma teoria cientifica não era suficiente. Era preciso que a teoria fizesse previsões e que estas fossem falsificáveis.

Ou seja, por mais cisnes brancos que eu veja, não posso concluir que todos os cisnes são brancos. Aliás pensava-se que isto era verdade até se encontrarem cisnes pretos na Australia. Verificar caso a caso uma afirmação não é suficiente para a validar.

Como Einstein disse: "mil experiências podem não provar que eu estou certo, mas apenas uma pode provar que eu estou errado". Aliás, Popper foi muito influenciado por Einstein e pela sua Teoria da Relatividade.

O que Popper propôs, e com muito sucesso, foi que uma teoria seria cientifica se e só se fizesse previsões que a pudessem refutar. Embora na altura Popper tenha sido aclamado como uma estrela no meio cientifico, que ansiava por uma demarcação clara entre a sua ciência e a pseudociencia, o Popperismo acabou por receber criticas severas que o obrigaram a tomar uma forma mais fraca (1).

Fazer previsões refutáveis não é o suficiente para definir uma ciência, pelo menos não mais do que o verificacionismo. Além do mais, anomalias existem, e por vezes não são suficientes para derrubar uma teoria que esteja muito bem cimentada. Nesses casos pode-se procurar primeiro se haverá outra causa para a anomalia, como um erro técnico de observação. Segundo Lakatos o falsificacionimo enfraquece perante esta abordagem (1).

O que parece ser consensual na comunidade cientifica e entre muitos filósofos de ciência, é que embora o Falsificacionismo não seja uma condição necessária e suficiente para concluir que uma teoria é cientifica, ele é não obstante um critério a observar. Mas numa forma mais moderada. (2)

Isto é, sozinho não chega, mas se uma teoria faz observações que são testáveis, em confronto com uma que não faz e tentam explicar o mesmo fenómeno, a primeira está neste ponto em vantagem. Porque isso, é um indicio forte da sua especificidade e rigor. Não é tão fácil fazer previsões especificas e que possam ser verificadas com teorias demasiado vagas ou fracas no poder explicativo (ou pura e simplesmente falsas).

Por exemplo eu posso explicar tudo como sendo um milagre. Um milagre é a obra de um Deus omnipotente e tudo acontece porque ele quer e faz. A chuva é milagre, o Sol é milagre, o tempo é milagre a gravidade é milagre, etc. É uma teoria muito completa. E consistente também. Mas tente-se fazer previsões acerca do mundo baseada nela. Como actua a gravidade, como se formam as gotas de chuva, o que é o Sol, e qual a natureza do tempo? Que previsões é possível fazer sobre estas questões usando a teoria do milagre? Nenhuma. Só dizer, "Seja o que Deus quiser". Isso não é ciência. Mas, muito importante, não é só por isso…

Quanto à dificuldade de testar certas previsões como argumento contra a falsiabilidade. Bem, eu estou com Popper nesse aspecto. É uma questão de esperar. Tem sido argumentado que muitas teorias que pareciam intestaveis foram-se demonstrando falsificaveis com o tempo. Só por ser dificil não conta.

Digamos que o Verificacionismo e o Falsificacionismo estão provavelmente em pé de igualdade nos dias que correm, mas uma outra coisa é igualmente tão importante ou mais como estas duas na definição de ciência:

Isso será o Peer-review. O debate, a discussão. O que se traduzirá em dizer que é cientifico aquilo que os especialistas de cada area consideram que são as afirmações cientificas nessa área. Como dizia Richard Feynman "ciencia é acreditar na ignorância de especialistas". Isto, utilizar o termo ignorância, porque outra característica intrínseca à ciência, e que eu não me canso de repetir é a incerteza e a capacidade de evoluir. As pseudociências são em regra estáticas(3). Ou de evolução ultra-lenta e erratica. Igualemente e já muitas vezes aqui por mim referido (meu critério preferido) , é a capacidade da ciencia se comportar como um puzzle em construção em que vai havendo progresso com interacção das peças entre si como de uma teoria com o resto da ciencia (3.1).

Mas este post era sobre o falsificacionismo e já estou a divagar. Mas o falsificacionismo surgiu precisamente na tentativa de distinguir ciência da pseudociencia. De onde até é normal que a conversa siga para aí.

Popper, no fim da sua carreira, e de acordo com as criticas de Lakatos, ficou mais interessado em encontrar as condições auxiliares de cada teoria que participariam na elaboração de previsões e análise da refutabilidade:

"he recognizes that scientific theories are predictive, and consequently prohibitive, only when taken in conjunction with auxiliary hypotheses, and he also recognizes that readjustment or modification of the latter is an integral part of scientific practice. Hence his final concern is to outline conditions which indicate when such modification is genuinely scientific, and when it is merely ad hoc"(1)

Notas:

(1)http://plato.stanford.edu/entries/popper/
(2) Por exemplo ler aqui, um cientista que faz um bom apanhado do estado da filosofica da ciencia e que acaba por concluir que o falsificacionismo deve ser identificado como um critério de ciência apesar de não ser unico: http://www.its.caltech.edu/~dg/HowScien.pdf
(3) "According to Paul Thagard, a theory or discipline is pseudoscientific if it satisfies two criteria. One of these is that the theory fails to progress, and the other that "the community of practitioners makes little attempt to develop the theory towards solutions of the problems, shows no concern for attempts to evaluate the theory in relation to others, and is selective in considering confirmations and disconfirmations" (Thagard 1978, 228)" em: http://plato.stanford.edu/entries/pseudo-science/
(3.1) "The various scientific disciplines have strong interconnections that are based on methodology, theory, similarity of models etc. Creationism, for instance, is not scientific because its basic principles and beliefs are incompatible with those that connect and unify the sciences ", George Rish; "Progress in science is only possible if a research program satisfies the minimum requirement that each new theory that is developed in the program has a larger empirical content than its predecessor. If a research program does not satisfy this requirement, then it is pseudoscientific.", Lakatos, fonte: http://plato.stanford.edu/entries/pseudo-science/

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Os 7 sinais de alerta.

1 - Evidencia anedótica (1), ou falácia dos numeros pequenos, normalemente vem sobre a forma de histórinhas  do tipo em que a vizinha da dona Maria perdeu 10 kg num dia só de olhar para o produto. Depois é só repetir e mudar o nome e morada.
2- Apelo à credulidade, tipo "abra a sua mente" ou "é preciso ter um espirito aberto". Sim, porque se se pensar muito no assunto somos uns caretas de espirto fechado que ninguem gosta. Ou o que é bom é acreditar nas coisas porque nos pedem para acreditar e não porque fazem sentido ou estão provadas.
3- Promessas milagrosas, do género panaceia universal ou solução instantanea, com promessa de cura da artrite e da taquicardia de uma só vez. Além de perder os tais kilos extra. Parente da famosa BANHA DA COBRA tm. Se é bom demais para ser verdade... Se calhar não é mesmo verdade...
4- Promessas misteriosas, como se houvesse um segredo guardado que só alguns eleitos podem ter acesso, "mas agora por uns miseros trocos tambem pode ser seu". Ou ter acabado de ganhar um prémio num concurso em que misteriosamente nem tinha entrado.
5- Ter escrito: "provado cientificamente". Sim, é verdade, é um abuso oque se faz para aí. Agora tudo é provado cientificamente, pelo menos até se discutir um bocado o assunto e afinal a ciência já não poder provar tudo. Tenho visto essa alegação poucas vezes em medicamentos genuínos, etc.
6- Ter o garante de grandes gurus que não provam o que dizem - Apelo à autoridade.
7- Falácia Ad-hoc. Ou falácia da teoria feita à medida das nossas necessidades. Descreve apenas uma coisa e mais nada. Funciona sem fazer previsões e não tem encaixe racional  absolutamente nenhum a não ser no seu sistema de credos próprio. Ok, esta pode não ser obvia, mas quando dá nas vistas não engana. É tanga.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mais falácias.

Aqui vão mais duas falácias para juntar ao roll das que já falei. São extremamente importantes e vale a pena pensar um pouco sobre elas. Estão na defesa de quase todas as crenças não cientificas:

Falácia da irrefutabilidade: Como o nome indica, é a falácia de propor uma teoria que não pode ser refutada. Não porque esteja correcta, mas porque não é possivel criar as condições em que a sua veracidade seja testada. Ou seja, não é possivel por a teoria à prova e avaliar se é correcta ou não. Para ser testavel uma teoria deve fazer previsões específicas que deêm um resultado objectivo sobre a sua validade quando testados. Previsões que possam ocorrer independentemente da teoria ser verdadeira não contam. Por exemplo: "é milagre".

Falácia do ambito limitado (ad hoc) : Quando a teoria explica apenas um fenómeno e nada mais. Como se estivessemos a procurar teorias independentes para cada fenómeno, sem que se articulem entre si ou possam explicar outros fenomenos conhecidos que estejam relacionados. Por exemplo: "Não tem efeitos adversos porque é absolutamente natural" - é uma explicação à medida da ideia que se pretende vender e que não explica mais nada. Existem produtos de origem natural que têm efeitos adversos e existem produtos de origem laboratorial que não tem mais efeitos adversos que qualquer outro produto, natural ou não.

Fonte: Tradução do guia das falácias de Stephen Downes por Julio Sameiro, no blogue "Crítica"

http://criticanarede.com/welcome-1.htm

Além desse site, considero muito interessante a abordagem do Duvida Metódica, onde os autores usam exemplos do dia a dia para ilustrar o estudo das falácias, ao mesmo tempo que colocam desafios aos seus alunos. Vejam aqui:

http://duvida-metodica.blogspot.com/search/label/Falácias%20Informais

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Espetar agulhas ajuda a melhorar a eficiência dos opiáceos. Que mais se segue?

Os defensores da acupunctura não se deixaram convencer quando testes após testes, a acupuntura foi sendo apagada pela sua rival "Sham". Em resposta, dizem, que as duas funcionam. Mas a "sham" foi um método engenhoso desenvolvido para fingir que se esta a fazer acupunctura. As agulhas não espetam. Tem ponta retrátil e cola em alguns casos, feita em pontos diferentes dos tradicionais noutros, mas não é acupunctura. Só que o paciente não sabe. E não sabendo, não pode ser influenciado pela crença que tem no tratamento, aquando relata a sua melhora à dor. Que era o ultimo reduto de eficacia da acupunctura.

Os acupunctores reagiram dizendo que então as duas funcionam. Quando um placebo é mais eficás que o fármaco ou procedimento a ser estudado, em ciência, conclui-se que o novo produto não funciona. Mas no mundo das medicinas alternativas, esse universo alternativo existente nas fantasias de alguns, conclui-se que funcionam as duas. Bravo. E descobrimos uma nova medicina.

E no estudo que eu vou criticar hoje, o autor propoe mesmo que se passe a considerar sempre que o placebo funciona. Certo. Mas será que não dá para perceber que o placebo é um efeito inexpecifico? Que o que se procura tem mesmo de ser algo que faça mais do que o placebo? Porque placebos há muitos. Dos outros é que há poucos. E o efeito placebo é muito limitado. E o outro não tanto. Sobretudo quando temos em conta que tudo tem efeito placebo, ou pode ter, se se acreditar minimanente na medicina, alternativa ou não. E que tal um chocolate quente?

Mas esta questão não é nova. O que é novo no estudo com que me deparei hoje, foi a alegação que a acupuntura melhorava a acção de outro fármaco. Bravo outra vez. O tal tratamento milenar afinal só serve para complementar tratamentos quimicos mais recentes? É isso que nos querem impingir?

Mas na minha opinião nem essa conclusão é correcta.

O que se verificou foi que entre a Sham e a real, não houve diferenças na dor relatada, mas por Tomografia por emissão de positrões, foi concluido que os que receberam a verdadeira acupunctura tinham mais receptores de opioides activos que os outros. O que torna o cérebro mais sensivel aos opiodes, potencialmente aumentando o efeito de qualquer opiacio administrado. O que não foi feito. O estudo conclui uma coisa para a qual não foi desenhado. O erro é crasso. Mas adiante.

Outro erro que pode explicar esta situação é que as agulhas foram deixadas espetadas nos pacientes recebendo a real e não na Sham. Isto devia ter sido evitado, deviam ser virtualemente identicas. Porque a unica conclusão logica a tirarassim é que deixar agulhas espetadas muito tempo aumenta os receptores de opioides em relação a elas serem tiradas imediatamente.

E se querem a minha opinião, se isso acontece é porque causa algum desconforto e dor. E se vamos dar opiacios não temos de espetar agulhas, não vá o paciente ser hemofilico.

Esta aqui o estudo que critico:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19501658?ordinalpos=2&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DefaultReportPanel.Pubmed_RVDocSum

Uma noticia dele aqui:

http://latimesblogs.latimes.com/booster_shots/2009/08/acupuncture-boosts-effects-of-painkillers-whether-natural-or-prescription.html

Uma critica mais elaborada que a minha pode ser encontrada aqui:

http://www.sciencebasedmedicine.org/?p=733

sábado, 15 de agosto de 2009

Sobre a Teoria da Relatividade (parte III) - A Teoria da Relatividade Geral

Com a Teoria da Relatividade Restrita Einstein tornou como referencia absoluta o espaço-tempo. O tempo e o espaço passaram a ser entidades relativas, isto é, de acordo com a velocidade de cada observador, iriam ser obtidas medições diferentes.

De tal modo que, se imaginarmos o espaço-tempo como um solido comprido, tipo salsicha gigante, vamos ver que as nossas observações são equivalentes a fazer cortes nessa salsicha. O que vier na nossa fatia são as nossas observações. E de acordo com a nossa velocidade, o ângulo com que cortamos a fatia, aumenta relativamente à fatia feita em repouso. Por isso, se estivermos em aceleração, ou seja a variar a velocidade constantemente, vamos fazer fatias curvas. Tal como a trajectória através do espaço-tempo para quem estiver a acelerar é curva.

O que Einstein compreendeu para conseguir incluir a gravidade na teoria da relatividade, é que a gravidade é equivalente à aceleração. Einstein chamou-lhe o principio de equivalência. Foi a primeira pessoa que compreendeu realmente que se estivermos dentro de um avião em queda livre, não sentimos nenhuma força a actuar sobre nós. Tal como se saltássemos com uma balança colada aos pés de uma ponte, durante a queda a balança mostrará uma leitura de 0kg. Tal como se estivessemos no espaço longe da Terra.

Por isso, e continuando o raciocínio que começámos, a gravidade é realmente uma distorção do espaço-tempo. Foi isso que Einstein teorizou usando matemática avançada para geometrias curvas.

Por isso, quando estamos de pé sobre o planeta, estamos realmente a acelerar. Se sentimos a influencia da gravidade, se sentimos uma força a actuar sobre nós, é porque estamos a acelerar. Só deixamos de ter forças gravíticas a actuar sobre nós, longe de matéria ou em queda livre. Aqui na Terra, ao sentir a força do chão sustendo o nosso corpo, estamos realmente a acelerar. A acelerar em relação ao novo referencial absoluto do espaço tempo, que está distorcido pela massa da Terra.

Sim, massa altera o tecido do espaço tempo. Einstein demorou 10 anos após a teoria da relatividade restrita para conseguir culminar nas chamadas equações de campo de Einstein, através das quais podemos fazer representações esquemáticas do "entortar" do tecido do espaço-tempo pela matéria.

Usando estas equações para prever o movimento de planetas e da luz, chega-se a valores muito mais rigorosos que seguindo as equações de Newton.

Notas:

Usei como fonte o livro "O tecido do Cosmos" de Brian Greene e publicado entre nós pela gradiva. Tudo o que escrevi está lá muito mais desenvolvido, e bem explicado. Naturalmente queria apenas escrever sobre a ponta do Iceberg. Tive no entanto o cuidado de usar apenas as minhas palavras, o que foi difícil devido à qualidade da escrita e da tradução. Já li outros livros sobre o assunto (incluído o "universo numa casca de nós" e a "breve história do espaço e do tempo"). Este foi o melhor até agora. Recomendo vivamente a todos os que querem saber onde vivem.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Sobre a teoria da relatividade II - relatividade restrita

Einstein desenvolveu a teoria de acordo com a observação empirica de que a velocidade da luz é 1080 milhões de quilómetros por hora relativamente a absolutamente tudo. Isto quer dizer que se corrermos a 1080milhões de quilometros por hora atraz da luz, ela vai continuar a afastar-se a 1080 milhões de kilometros hora de nós. Simples? Parece contra-intuitivo, mas é real.

Mais complexo ainda é que se uma pessoa fosse numa supernave a 810 milhões de kilometros por hora atraz de uma luz e outra ficasse parada a fazer medições, iriam estar em desacordo a que velocidade a luz se afasta da pessoa que se move na supernave. Porque para quem esta estacionário, a velocidade com que a luz se afasta da nave a será de 270 milhões de quilometro por hora. Que é a velocidade da luz  de 1080 milhões Km/h , menos o valor da velocidade da nave de 810 milhões de kilometros por hora. Mas o piloto da nave dirá que não, que a luz se afasta dele a 1080 milhões de kilometros por hora.

O que Einstein compreendeu é que as medições são diferentes porque as suas percepções do espaço e do tempo são diferentes. A formula da velocidade é o espaço sobre o tempo. Se os valores que eles encontram são discordantes para a velocidade, tambem tem de o ser para o espaço e para o tempo.

Portanto a conclusão de Einstein que a velocidade da luz é a mesma para absolutamente tudo, acabou com o tempo e o espaço absolutos. Estes passam a ser relativos à velocidade dos observadores. 

Para alem do movimento no espaço, passou tambem a haver movimento no tempo. Movemo-nos simultaneamente num e noutro. Newton pensou que o movimento no espaço era independente do movimento no tempo, mas o que estas conclusões dizem é que não é. Com a velocidade os nossos valores para espaço e tempo mudam, portanto quando nos mexemos no espaço estamos a movermo-nos tambem no tempo. 

O referecial de espaço absoluto que havia antes desabou. O referencial absoluto passou a ser o espaço-tempo. O espaço por si só passou a ser relaltivo - e o tempo tambem. 

O que nos movemos através do espaço não contribui para o movimento através do tempo. Porque a soma dos dois movimentos tem de ser a velocidade da luz. 

Que previsões esta teoria faz? Que seja possivel medir passagens de tempo mais lentas para objectos que se movam mais depressa. Porque algum do movimento através do tempo é transformado em movimento através do espaço.

A luz tem todo o seu movimento só através do espaço. Se quiserem, podemos dizer que a luz não envelhece. Não tem movimento no tempo. E por isso tem sempre a mesma velocidade independente do observador. Porque os observadores quando tiram num lado poem no outro, mas tem de estar em acordo em relação a um valor limite (maximo possivel)  de algo que só se mova no espaço.

Em 1971, Joseph Hafele e Richard Keating puseram relógios atomicos muito precisos a bordo de um avião que deu a volta ao mundo e deixaram outros em terra. Quando compararam os resultados os relogios que foram no avião acusavam ter passado menos tempo...

Sobre a Teoria da Relatividade (Parte I)

As teorias da física clássica eram tão boas a descrever o mundo, que os poucos problemas conhecidos - que deram origem à suposta existência do Éter - estavam quase esquecidos. Mas apenas quase.

Newton, conseguiu encontrar explicação para como o mundo observado se comportava. E com as suas teorias, podiam-se fazer previsões com um rigor que antes não eram possíveis. A que distancia vai cair uma bala de canhão, onde vão estar Vénus e Mercúrio quarta-feira à tarde, e porque é que os corpos caiem todos com a mesma velocidade. (Sim, os mais pesados, tirando outros factores, caiem à mesma velocidade que os mais leves. Porque é mais difícil -los a mexer, afinal são mais pesados. Dar o exemplo da pena não vale senão eu contraponho com um avião).

Mas uma grande anomalia surgiu quando se mediu a velocidade da Luz. Esta era a mesma em qualquer direcção que fosse medida, para qualquer velocidade da fonte e para qualquer velocidade do observador. Ou seja, se eu for a 120 Km/h na autoestrada e medir em relação a mim a velocidade de outro carro que vai a 100Km/h, a medição vai dar 20Km/hora. Que é a velocidade que esse carro tem em relação a mim. Por isso, é possível dar um pulo dentro do comboio e este não passar a toda a velocidade debaixo dos nossos pés. Porque seguimos à mesma velocidade. Agora acontece, que se se tratar da luz, o resultado é sempre o mesmo. Indo contra a fonte luminosa, perpendicular ou na mesma direcção. E as teorias clássicas da física não tinham explicação para esta anomalia que aparecia medição após medição, verificada n vezes por vários cientistas.

Foi então que apareceu em cena Albert Einstein que resolveu o problema de uma maneira muito simples.

Nota:

Esta é o primeiro de três "posts"sobre a Teoria da Relatividade que servem também como prologo para uma futura entrada sobre o Tempo (ainda estou a pensar nisso...). A continuação esta sob a etiqueta "Teoria da relatividade" abaixo. Segue então com a Teoria da Relatividade Restrita e termina com a Teoria da Relatividade Geral.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Se a ciência não fosse naturalista...


Fig 1- Novos desenvolvimentos teoricos para acabar com a fome no mundo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Algumas falácias.

Falacias são erros de raciocínio que estão descritos e classificados. Saber identificar esses erros pode ajudar a desenvolver melhores argumentos e chegar mais rapidamente a conclusões, já que eles aparecem frequentemente em discussões.

Por exemplo:

Falácia "argumentum ad hitlerum" - Usar o Nazismo ou Hitler para argumentar que algo é errado, independente de que coisa seja essa. O facto de Hitler fazer isto ou aquilo não torna por si essa coisa errada. Tal como tomar o pequeno almoço.

Falácia do jogador: - Pensar que depois de sair muitas vezes o mesmo valor, tem de sair outro na jogada seguinte. Por exemplo, se sair muitas vezes seguidas vermelho na roleta, pode parecer que a probabilidade de a seguir sair preto aumenta. Mas não, são acontecimentos independentes

Falácia do "homem palha" - consiste em criar uma versão simplificada do assunto em defesa pelo opositor para ser mais fácil ataca-lo - uma versão parecida mas não igual. Homem palha vem precisamente da ideia do  espantalho ( homem feito de palha) que é mais fácil de atacar que um homem verdadeiro. Facilmente conseguido, por exemplo, exagerando determinada posição  e aproveitando para a ridicularizar.  

Falácia "argumentum ad populum" ou "apelo à autoridade das multidões" - só porque muita gente o está a fazer não quer dizer que esteja correcto. 

Falácia "Cum Hoc, Ergo Propter Hoc" - Se C e D aconteceram ao mesmo tempo, C causou D. O que está errado se não se provar de outro modo a relação de causa efeito. Correlação não é o mesmo que causa. Semelhante à falácia "Post Hoc, Ergo Propter Hocque é assim: Se C aconteceu imediatamente antes de D, então C causou D. Não, e pela mesma razão, além disso coicidências existêm.

Falácia "Dois errados dão um certo" ou "um erro não justifica outro erro". Como por exemplo defender o acto de fumar porque já existem muitas outras coisas em que se correm riscos desnecessários. Como se correr riscos justifica-se por si só correr ainda mais.

Falácia do "apelo emocional" - subtipos: "argumentum ad metum", "argumentum ad invidiam", "argumentum ad odium" , "argumentum ad misericordiam", "argumentum ad superbiam". São argumentos que se destinam a manipular as emoções e com isso criar uma distração que afaste da lógica. 

Ad HominemFalácia do ataque ao homem, que tal como as anterios se destinam a criar uma distração da verdadeira matéria em discussão e de modo a criar vulnerabilidade no atacado. Muitas vezes é mal identificada porque em alguns casos o caracter de um individuo pode mesmo ser o assunto em discução, ou estar em causa, como por exemplo um candidato a presidente não poder ter antecedentes de comportamento duvidosos. No entanto a relevancia deve ser provada, uma vez que nem tudo é pertinente. Questões de aparencia fisica certamente não o serão.

"wishfull Thinking" -Que se traduz em "Como B é bom, então B tem de ser verdade. 

Falácia do  "apelo à ignorancia", ou "Argumentum ad Ignorantiam". É o argumento de que se não há evidencias para mostrar que P é falso, então P deve ser verdade. Exclui assuntos que tenham sido exaustivamente estudados e que sejam possiveis de provar pela negativa tal como a existência de unicornios azuis. O apelo à ignorancia está em dizer que eles existem na ausencia de um prova que impossibilite a sua existencia.Esta falácia é semelhante ao argumento tipo "Deus das lacunas" - Tentar encaixar uma determinada teoria nas lacunas do conhecimento cientifico. Ou seja, tentar usar o que uma teoria não explica para sem outro argumento impor uma nova teoria. Por exemplo, só porque a ciencia não explica tudo não quer dizer que não explique nada e que se deva aceitar uma teoria não cientifica. O nome Deus-das-lacunas vem da pratica histórica de atribuir a Deus tudo o que ainda não se sabia explicar, como por exemplo a chuva, os relampagos, etc. Conforme o conhecimento cientifico foi avançando, cada vez ficou menos espaço para fenómenos apenas passíveis de serem explicados por intervenção sobrenatural.

Argumento circular, "begging the question" - qualquer argumentação em que a conclusão aparece como uma das permissas ou uma cadeia de argumentação em que a conclusão é a permissa de um dos argumentos iniciais.

Pergunta carregada "Loaded question". Por exemplo, "és parvo ou fazes-te"? Ou "Ainda assaltas casas?".  A resposta simples à questão não permite a negação total. A questão está carregada com um afirmação que não se pode negar de um modo simples de sim ou não e cuja veracidade pode ser controversa ou completamente falsa. (Não sendo parvo, nem fazendo-se - e nunca tendo assaltado casas.)  

Falácia da "prova anedótica" ou de amostras pequenas. Usar historietas escolhidas a dedo para provar algo que requer amostras maiores e aleatórias como base de estudo. Como por exemplo concluir que chá de figado de porco é bom para a dor de barriga porque a vizinha um dia tinha dores de barriga e bebeu e logo ficou boa. Frequentemente e tipicamente não é possivel verificar sequer a veracidade dessa história.

Falácia de citar fora de contexto, "Quote mining" - Citar determinado autor de forma a que se consiga criar a percepção que ele disse o oposto do que queria dizer no texto original. Colocar a citação num contexto tal que o sentido é pervertido, de modo a desacreditar determinada ideia.

Falácia do "apelo à autoridade", quando se usa uma autoridade não provada para justificar a nossa argumentação. Ou se invoca uma autoridade de outra especialidade. Ou se faz o seu usi indevido. Por exemplo "só usamos 10% do nosso cerebro, foi Einstein quem o disse." A falácia é que Einstein não era neurologista. (E só por curiosidade também não foi exactamente isso que ele disse. Acho que lhe perguntaram porque é que ele tinha compreendido tanta coisa que os outros não tinham conseguido. E ele respondeu que se calhar usava 90% do cerebro emquanto que os outros estavam a usar 10%. Mas é dificil saber realmente o que disse porque não foi gravado.)

Fonte:

http://www.fallacyfiles.org/taxonomy.html

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Grande colisionador de Hadrões vai voltar ao activo em Novembro.

É o que noticia hoje a New Scientist. Vai começar a funcionar a metade da potencia porque alguns componentes deixam duvidas que suportem a potencia máxima. Mesmo assim, a 7Tev, é esperado que alguma coisa nova apareça. 

A noticia completa aqui:

http://www.newscientist.com/article/dn17566-large-hadron-collider-to-restart-at-half-its-designed-energy.html

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Porque discutir com criacionistas III (e com os outros pseudocientistas)

Quem faz a ciência é o cientista. Mas quem toma decisões é o poder politico. Nas suas mãos está o poder executivo, em maior ou menor grau. Tenta-se que esse poder seja o mais possível a materialização das necessidades e desejos dos povos que lideram. Mas por vezes, e apesar de eu acreditar que este é o melhor sistema possível, algumas das suas caracteristicas podem ser exploradas negativamente.

O criacionismo perdeu a batalha no meio académico algumas luas atrás quando alguém fez com a diversidade biológica o mesmo que outros tinham feito com a chuva, os relampagos, o fogo e as doenças. Isto é, encontrou uma explicação natural, e deixou de dizer que era um milagre.

Mesmo com o investimento feito pelo Discovery Institute em meios humanos e materiais, cerca de 95% dos biólogos (US) são defensores do modelo evolutivo.

Mas existe uma segunda via para os derrotados. Que é convencendo o povo em geral. Tentar na praça publica aquilo que não se conseguiu no meio académico. E onde é muito mais fácil impor argumentos (não somos todos formados em biologia). Atingindo uma determinada massa critica, a sua voz será ouvida. Serão então eventualmente adoptados por uma fação partidária que para o bem e para o mal está lá para representar a vontade das pessoas. E através da politica e opinião publica impor uma idealogia que de outro modo não tinha pernas para andar. E que pode demorar uma eternidade a fazer o percurso inverso depois de instalada.

Até podem manter-se uma minoria. As minorias são para ser ouvidas. E não estou a ser irónico. O que acontece é que isso também pode ser explorado negativamente.

E por via da vontade do povo, muitos ou poucos, aparece uma nova via para impor convicções pseudocientificas. O que não se ganha em termos cientificos, ganha-se em popularidade.

É o caso das medicinas alternativas, que com uma base popular tão forte como a que têm actualmente conseguem inclusivamente infiltrar o meio académico para desespero de muitos que lá trabalham. Mas o dinheiro para as faculdades tem de vir de algum lado e é preciso dar resposta às exigências das pessoas.

Por isso, eu acho que estas coisas não são para ser proibidas, isso é anti-democrático, mas sim para ser discutidos o mais possível. Logo desde cedo. Informar, debater, dialogar, refutar, etc. E isso é um pressuposto da democracia. É a participação das pessoas ser informada e não aleatória. E que as pessoas saberão quase sempre o que é melhor para elas. Mas para isso é preciso informarem-se.

Depois há sempre o problema de não se poder estar em todo o lado a toda a hora e considerar ter a verdade no bolso. A tarefa é quixotesca para poucos, mas apenas uma parte saudável do processo democrático se forem muitos.

E numa sociedade tão dependente do conhecimento, quem vir a ciência a arder num fogo pequenino, por favor tente apaga-lo. Não vá pegar e arder tudo.

Ouça-se mais o meio académico e o consenso cientifico (1).

(1) http://cronicadaciencia.blogspot.com/search/label/consenso%20científico

Seta do tempo e entropia.

Para além da nossa memória, não parece haver mais nenhuma razão para que se possa afirmar que o tempo flui num sentido ou noutro. Excepto se falarmos de entropia.

A descrição física do universo é simétrica em relação ao tempo. Isto quer dizer que quando pomos um filme a andar para trás, e se formos minunciosos e cuidadosos nas nossas observações, não vamos ver nenhuma violação das leis da física. Parece não haver nada que indique em que sentido o tempo flui se não fosse a entropia.

Este conceito surgiu da observação de que em qualquer processo há sempre calor perdido, porque não se consegue 100% de eficiência. É descrito na segunda lei da termodinâmica que afirma que diferenças de temperatura entre dois sistemas em contacto tendem a igualar-se, com trabalho a poder ser obtido a partir dessas diferenças, mas que também se perderá calor, sob a forma de entropia.

A entropia foi considerada como sendo uma medida da desordem, mas é mais aceite actualmente ser uma medida da homogeneidade da dispersão de energia. Isto é, a energia tende a espalhar-se uniformemente, sendo o cenário mais provável para um sistema o da maior dispersão geral da energia. De facto o conceito evoluiu matematicamente para uma abordagem estatística que pode ser aplicada a outras áreas do conhecimento, como por exemplo à teoria da informação de Claude Shanon.

Para saber mais proponho começar por aqui:

http://en.wikipedia.org/wiki/Entropy

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Porque discutir com criacionistas II

Para completar o post anterior, e porque achei que devia destacar esta questão, venho só acrescentar que há limites para o tolerável em discussões que se pretende terem alguma finalidade.

Alguns bloguers de ciência decidiram instalar medidas contra determinados indivíduos que promovem a sua ideologia através de Spam. Na realidade só me lembro de um... Mas adiante, esses indivíduos publicam comentários longos, repetidos e fora de contexto, sistematicamente dificultando tanto a discussão com eles próprios como de qualquer assunto a que se dedique o post.

Qualquer outro site tipo "youtube" ou jornal on-line já teria tomado medidas do género há muito tempo.

Como uso e abuso são coisas diferentes, deixo aqui a minha aprovação pelas medidas que estes blogueres tomaram - que não se destinam, a eliminar o dialogo, nem a critica (a).

Quero só salientar que esse tipo de atitudes também não serão toleradas aqui neste blogue e que esse individuo não terá aqui duas oportunidades. Uma será eventualmente demais.


(a) update: No caso do De Rerum Natura tenho de admitir que a coisa ficou mais complicada em termos de interação entre comentadores. Não tinha pensado nisso. Espero que encontrem uma solução em breve.

Porque discutir com criacionistas.

O Mats, no seu blogue "Genesis contra Darwin" diz assim:

"Sob o título de "Estudo Sugere que os Primeiros Animais Evoluiram em Lagos e não nos Oceanos"os evolucionistas da National Geographic News contradizem uma das crenças fundamentais da teoria da evolução. "(1)

Esta frase é aquilo que podemos chamar de intelectualemte desonesta. Antes de mais, a origem da vida não é um pilar de suporte da Teoria da Evolução. Quanto muito o modelo evolutivo poderá sugerir o tipo de processo que iniciou a evolução. Mas não é nada em que a teoria se baseie. A teoria, ou mais correctamente o modelo é sobre a evolução e não sobre a origem da vida. Que se estejam a descobrir evidências que suportem uma origem evolutiva da vida é absolutamente desnecessário para provar que há evolução. Mas estão-se a fazer essas descobertas. escrevi sobre isso diversas vezes. Esses posts estão sobre a etiqueta origem da vida (2).

A desonestidade ainda vai mais longe, se o que está em causa é o local onde a vida apareceu. E ainda por cima se se considera que estudos que sugerem que a vida surgiu num lago salgado em vez de no mar fragilizam ou contradizem a teoria da evolução. Porque é isso que o artigo diz (lago salgado em vez de no mar). Sigam o link! Como é que isso contraria a teoria da evolução? É mais um disparate criacionista pouco ralado com a lógica. Esse não é um aspecto fundamental da teoria - ser num lago salgado ou no mar.

Porque então perder tempo a responder a estas coisas tão óbvias? Sobretudo porque os criacionistas são tão poucos em Portugal?

Porque a Teoria da Evolução é uma teoria cientifica formidável, tão sofisticada como a mecânica quântica ou a teoria da relatividade e igualmente difícil de compreender. É preciso saber lidar com números grandes e probabilidades, entre outras coisas, para a perceber a fundo.

É fácil, para quem não se debruça frequentemente sobre o tema, pensar encontrar entraves. E os criacionistas abusam disso. Acho que é importante haver divulgação em nome da verdade. E estes debates ajudam a divulgar. Porque se não o fizermos, podemos ter que a aturar nas escolas em uns poucos de anos como acontece nos estados unidos. Em vez de estar à espera que os investimentos económicos dos criacionistas (3) não tenham impacto na população, mais vale apontar sistematicamente a sua lógica perversa.

Nem que seja porque a verdade é importante (4) e a ciência pode não ser a explicação perfeita, mas é o melhor que se consegue. E nós precisamos dela. A única hipótese de manter a humanidade com os números actuais e a viver em condições é usarmos toda a nossa tecnologia para nos dar essas condições. E os criacionistas querem redefinir o que é ciência para explicar determinadas coisas como tendo origem em entidades sobrenaturais. Querem usar a tecnologia mas destruir o método que lhe deu origem sem pensar em consequências. Em rigor, dizem que determinadas coisas que os contrariam não são ciência. A perversão é enorme.

Adicionalmente, a discussão faz parte do método cientifico, não exactamente com leigos que nem sequer sabem distinguir ciência de pseudociência, mas discutir com criacionistas parece-me um modo de mostrar porque a ciência explica as coisas da maneira que explica - e porque aceita como teoria uma coisa e não outra. Neste casos aceitou a teoria da evolução e rejeitou o criacionismo que foi um modelo aceite até Darwin e até por muitos cientistas importantes (se bem que muitos também não eram realmente biólogos, onde a dúvida fermentava...).

Já tenho falado sobre o principio da falsiabilidade várias vezes, e a Internet está cheia de explicações e justificações da sua importância, por isso hoje já chega.

Mas ao discutir com criacionistas acho que também nos apercebemos melhor do porquê de a ciência funcionar como funciona, com discussão honesta e aberta e exigência acerca das teorias que aceita.

E ao denunciar argumentos tão escandalosamente inadequados como este, chamar a atenção para o que sugere o seu uso.

Os criacionistas não são sequer capazes de explicar o mecanismo que impede um organismo de evoluir. A não ser a explicação do pecado original que diz que só nos podemos degradar e que as mutações TÊM de ser más. Porque Deus quer. E porque Deus criou. Mas isso não explica como funciona nada.

E só por curiosidade, porque não passa disso: Darwin achava que a vida tinha surgido num lago quentinho.

(1)http://genesiscontradarwin.blogspot.com/2009/08/afinal-vida-nao-comecou-nos-oceanos.html
(2)http://cronicadaciencia.blogspot.com/search/label/Origem%20da%20Vida
(3) Parque Discovery: http://discovery.pt/PDiscovery.swf
(4)http://cronicadaciencia.blogspot.com/search/label/verdade

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Evidências Anedóticas

Em passeio pelo site da Associação dos Divulgadores de Espíritismo de Portugal, uma associação que tem como objectivo o oposto daquilo que eu pretendo com este blogue, chamou-me a atenção o simbolo da N.A.S.A.

Por baixo dizia assim:

"Sabia que...
Em experiências realizadas pela NASA, em Uberaba, Minas Gerais, Brasil, em 1978, o Engenheiro Paul Hild constatou que a aura de Francisco Cândido Xavier era sentida num raio de dez metros, enquanto a de outros médiuns pesquisados se ficou por alguns centímetros?"

Não tinha links para lado nenhum, por isso fui pesquisar. Em lado nenhum há mais informação que a que está neste texto. Não há referencias em Inglês nos resultados do Google. Este senhor, Paul Hild não aparece também na Wikipédia em Inglês.

Fico sem saber os materiais e os métodos usados, onde foi realizada a experiencia, quais os fundamentos teoricos suportados pela ciência em que se baseia e muito sériamente, se este senhor existe sequer.

Mas o que se passa é que quem quiser repetir a experiencia para confirmar os resultados e conclusões não o pode fazer. Tem de aceitar crédulamente que foi assim que as coisas se passaram.

E depois dizem que são uma ciência:

"O espiritismo é uma ciência filosófica de consequências morais. Como ciência, investiga os factos espíritas. Como filosofia explica-os".

Ha...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Estruturas dissipativas II - Sistemas cognitivos que evoluiem e os outros.

A teoria dos memes, vem da analogia que há entre como as ideias se propagam e evoluem e a forma como o fazem as nossas características fenotípicas. O gene e o meme são as unidades básicas e funcionais de cada um dos processos.

Acerca do "post" de ontem (1) , sobre auto-organização, não pude deixar de reparar o seguinte:

As estruturas dissipativas só surgem em sistemas abertos, com uma fonte de energia externa, em sistemas longe do ponto de equilíbrio

E agora vou especular um bocadinho:

E se a entrada de energia é a questão crítica para um sistema físico evoluir contra a entropia, tendo portanto de ser aberto, então a entrada de informação será o factor crítico para um sistema cognitivo evoluir também. Sistemas cognitivos só evoluem se forem abertos. Se entrar constantemente informação. Sistemas cognitivos fechados onde a informação não entra não evoluem. Tornam-se dogmáticos e mantém-se estáveis e imutáveis ao longo do tempo. Como por exemplo o criacionismo.

A ciência não. A sua natureza empírica e o seu naturalismo metódico obrigam a procurar extrair toda a  informação que se conseguir do mundo físico. Foi isso um dos factores mais importantes que a terá permitido  evoluir. Isso, e a abertura à critica. 

Por isso refutações, sugestões e ideias são bem vindas. Há espaço embaixo para isso.

(1) http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/08/estruturas-dissipativas.html

domingo, 2 de agosto de 2009

Estruturas dissipativas.

Ilya Prigogine, prémio Nobel da quimica em 1977, dedicou-se ao estudo do aparecimento de estruturas mais organisadas, em contradição aparente com as leis da termodinamica que dizem que tudo caminha no sentido da desordem.

O que Prigogine descobriu é que em determinadas condições - sistemas abertos longe do ponto de equilibrio - se podem formar estas estruturas dissipativas (de entropia) e enquadrar focos de auto-organização. Uma estrutura dissipativa captura energia e exibe ordem.

Ele notou que apenas sistemas abertos evoluiem, os fechados não. Apontou como exemplos os fenomenos de cristalização, e da formação de furacões. Pode parecer estranho mas aquela coisa a andar à roda e a mover-se pela superficie do planeta é uma estrutura mais organisada que as moléculas de ar a baterem uma contra as outras desordenadamente.

Sistemas abertos são aqueles que trocam energia ou matéria com o meio exterior. Como na Terra, a entrada constante de energia solar. A entropia no Sol aumenta brutalmente, mas na Terra, não. No entanto se se considerar o Sol e a Terra como o mesmo sistema, já temos um sistema em que a entropia aumenta. Conclusão obvia é que não vai durar para sempre.

Prigogine conciliou deste modo a Teoria da Evolução com as Leis da Termodinâmica.

sábado, 1 de agosto de 2009

Machos e fêmeas como exemplo de aumento de informação.


Os criacionistas têm um problema com as mutações. Uma vez que admitem a sua existência vêm-se forçados a autenticas manobras ilusionistas para demonstrar que elas não podem aumentar a informação existente no ADN. O que, quando admitem que existem mutações prejudiciais, fazem.


Porque, a informação em si, é cega ao critério de bondade. Quem não é cego somos nós, seres conscientes, e sobre uma perspectiva realmente implacável, a selecção natural. Mas a informação já lá está.


De facto, quando surge uma mutação que origina uma doença genética, temos de aceitar em termos literais que a informação total disponível no genoma aumentou. Antes, não havia informação capaz de codificar(1) essa doença. Até porque, nem o ADN, nem a célula que o usa, têm maneira de saber, até a selecção actuar, se a mutação é boa ou má.


Mas vejamos em termos abstractos o seguinte:

Temos uma população de indivíduos, que para uma dada caracteristica X têm alelos A e B. Imaginemos que esse gene B que codificava para a mesma caracteristica X, por isso se diz alelo, sofre uma mutação num particular individuo. Esse individuo passou a transportar em vez do alelo B, o alelo novo que agora vamos chamar C. Mas na população em que ele vive, existe muita gente com o alelo B ainda . Por isso, se considerarmos esta população a enfrentar a selecção natural vemos claramente que há mais por onde escolher. No património genetico total existem agora os alelos A, B e C. A quantidade de informação aumentou.


Os criacionistas dizem então que as mutações são sempre más, e por isso é que a informação não aumenta. Mas infelizmente, as más noticias também são informação. Respondem então que não é possível uma mutação trazer uma caracteristica nova benéfica. Eu já aqui disse que quando elas surgem não são boas nem más e até dei o exemplo da anemia falsiforme que é boa em países onde há malária, porque protege do parasita e é má dos países onde não há, porque resulta numa anemia, ainda que se consiga viver com isso (senão não se tinha propagado tanto, certo? É frequente até aqui ao Mediterraneo e conheço pelo menos uma pessoa que a tem).


Mas existem mais exemplos, que também aqui já falei, como a capacidade de metabolizar citrato que foi adquirida por bactérias E. coli numa experiência exaustiva realizada ao longo de milhares de gerações de bactérias. Ou a capacidade de digerir Nylon, uma substancia que não existia na natureza até a começar-mos a deitar fora.


Mas um criacionista conhecido da blogosfera pela sua hiperactividade no "festival do copy-paste" acrescentou um argumento novo ao seu estafado material que me lembrou que era de facto um bom argumento para demonstrar o que acabo de escrever.


Ele diz assim:
“"os genomas estão a perder informação genética. Isso foi recentemente observado em estudos sobre o Cromossoma Y (que está a perder genes) e foi novamente confirmado no estudo de muitos mamíferos. "


Isto era para argumentar que o ADN se esta a deteorar. Mas vamos pensar sobre os factos.
Os cromossomas X e Y têm a mesma origem.  São virtualmente iguais excepto que ao Y faltam partes, porque é muito mais pequeno. Sabemos que deleções existem, o caro Prespectiva até confirma isso, e temos que o cromossoma Y é igual a um X a que faltam bocados (há inversões e outras mutações também mas para o caso, isso não é realmente importante, são mutações na mesma).  Por isso doenças como a hemofilia que estão ligadas ao cromossoma X são mais, mas muito mais frequentes nos machos, porque esse cromossoma X, herdado da mãe, portador do gene deficiente, não tem o seu alelo homologo no cromossoma y para interagir e determinar o fénotipo. Isto é, todas as características são determinadas por dois genes, em principio, um que vem do pai e outro que vem da mãe, excepto nas partes do cromossoma X que corresponde ao braço do cromossoma Y que falta. Esses genes determinam tudo aquilo para que servem sozinhos. Nas mulheres, para aparecer a hemofilia, já de si rara, precisamos que o individuo seja homozigótico, (tenha dois genes iguais) uma vez que o gene é recessivo. Ver figura.


Voltando ao essencial, temos então que por mutações passou a ser possível haver uma diferença fundamental entre dois grupos de individuos. Os machos e as femeas. Os homens e as mulheres. Sabe-se hoje que esse não é o único factor que determina o sexo, mas é muito importante, talvez o mais importante e o único que se conhecia durante muito tempo.
Resumidamente, onde antes só se conseguia ter XX ( o que representa quase sempre femeas nas espécies actuais), é possivel ter XY. E também XYY, ou só X e variantes com varias linhagens de celulas diferentes (quimeras), mas isso fica para outro post.
Quero ver agora como os criacionistas vão argumentar que haver machos e femeas representa uma redução na informação contida no DNA e que isso é uma coisa má. Porque segundo eles, até foi Deus que criou os dois sexos.

(1) Como já aqui discuti no CdC, existe uma diferença fundamental entre o tipo de armazenamento, processamento e tradução do ADN e outros códigos para que ele seja considerado literalmente um código. Todos os códigos requerem convenções, tal como o código de um programa de computador requer o código fonte. A convenção é algo combinado e requer de facto inteligencia e intencionalidade. Isso não existe na “codificação do ADN”, e de facto o próprio Watson Crick que descobriu o ADN e cunhou o termo no sentido biológico admite que a palavra mais correcta para usar seria “cifra” mas que código era mais sonante.
A imagem saquei da wikipédia.