sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Previsões do IPCC em acordo com o observado passados já 20 anos.

Para os valores de CO2 emitidos, as previsões do IPCC para as temperaturas, estão correctas. Os valores observados  estão bem no meio dos valores previstos.

Esta conclusão vem numa altura em que as previsões do IPCC fazem mais de 20 anos e já tem algum significado ver se estamos dentro do previsto ou não.

Em relação ao nivel do mar, já tinhamos visto que as previsões foram optimistas. É muito pior o que se está a verificar.

Via Ars Technica, aqui.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O fim do mundo afinal deve ser verdade.

Reparei agora que todos os meus calendários deste ano acabam em 31 de Dezembro.

Todos! Até os feitos na china.

Estamos perdidos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Lógica paraconsistente e lógica de valores multiplos.

No lógica clássica, as contradições não são toleráveis. Se algo pode ser verdadeiro e falso ao mesmo tempo num determinado sistema, então vale tudo. Os sistemas passam a precisar de ter os seus teoremas como axiomas (algo que se assume à partida que é verdadeiro, em vez de ter de ser provado)  e tornam-se sistemas triviais. Os lógicos chamam a isto, o principio da explosão.

No entanto, a necessidade de encontrar um sistema lógico que fosse capaz de lidar com contradições, nem que fosse pelo facto de diariamente nos esbarrarmos com elas, levou à procura de uma lógica que fosse capaz de lidar com contradições, sem explodir, e de uma maneira discriminatória (que não as ignore pura e simplesmente).

E então, no inicio do século passado surgiu a lógica paraconsistente, que em troca desta virtude, perde a extensão proposicional que existe na lógica clássica. Não é por isso uma extensão viável da lógica clássica.

Por exemplo, é preciso excluir pelo menos um destes 3 princípios, extremamente simples, claros, intuitivos, lógicos...


Introdução da disjunção: Isto é, podemos introduzir disjunções, "ou"s, em provas. Por exemplo, se o "peixe vive no mar" é verdade, também "o peixe vive no mar ou na terra" é verdade  -  se P é verdadeiro também P ou Q é verdadeiro.
Silogismo disjuntivo:  Ou seja, por exemplo em linguagem natural: "Ou os patos amamentam ou os patos são aves". "Os patos não amamentam os seus descendentes", logo "os patos são aves".  -  P ou Q. Não P, logo Q.
Transitividade: Por exemplo em relação ao tamanho: Se A maior que B e B maior que C, então A maior que C.

Normalmente a sorte cai ao silogismo disjuntivo, e de facto se A e nãoA podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, então o principio não faz sentido. Argumenta-se que para os programadores de software esta possa não ser a melhor abordagem e sim desistir da introdução da disjunção, porque lhes permitiria continuar com uma série de outras propriedades que eles precisam. Muitas vezes corta-se com ambos.

Existem outras séries de princípios entre os quais temos de fazer cortes, mas para simplificar, como exemplo do que são esses cortes, isto chega. Também serve para ilustrar que lógicas paraconsistentes há muitas e que andamos a fazer experiências para ver o que as coisas dão.

Como é fácil de prever, a lógica paraconsistente tem os seus críticos, embora não deixe de ter as suas utilidades (e alguns sistemas paraconsistentes são muito extensivos, permitindo uma série de inferências comuns).

Concordo com duas criticas: 1 - é muito mais intuitivo e aparentemente, lógico, aceitar o principio da explosão - volta e meia defendo esse mesmo principio contra aqueles que querem que aceitemos contradições - que assim vale tudo.  2 - a negação não pode ter o mesmo significado que tem na lógica convencional. Se aceitamos A e nãoA como verdadeiro, o não tem de ser apenas um operador mais fraco.

Se a negação tiver o mesmo significado que em lógica clássica, em boa verdade  me parece a mim que ou a lógica clássica é lógica, ou a paraconsistente é, mas não as duas. Ou seja, um meta-sistema lógico que abranja as duas tem de ser paraconsistente. Mas para ser paraconsistente não pode aceitar certos princípios da clássica. Adiante:

Há alternativas que sirvam para lidar com os mesmos problemas, nomeadamente de dados contraditórios do mundo empírico e a incerteza? Sim. Lógica de múltiplos valores e inferência bayesiana, lógica intuitiva, teoria de Dempster-Shafter, etc.

A inferencia bayesiana é um metodo de inferencia que usa regras que servem para atribuir probabilidades a uma hipotese (um pecado na estatistica clássica) e fornece um quadro de trabalho matemático onde esse valor é actualizado conforme aumenta a evidencia empirica. É muito importante em ciência.

As lógicas de valores multiplos, são lógicas que não contam apenas com verdadeiro e falso (lógica bivalente). A primeira da lista é a lógica trivalente (verdadeiro, falso e desconhecido). Depois a lógica tetravalente e por aí fora até à lógica  fuzzy (por exemplo muito usada em inteligência artificial) com infinitos valores  entre verdadeiro e falso, e lógica probabilistica.

A lógica de múltiplos valores tem imensas variações e interpretações. Está para além do intento deste "post" entrar nessa área a fundo (até porque tenho muito para estudar sobre isso).

Apenas quero mencionar que serve para exprimir incerteza, e que a  lógica de valores contínuos fuzzy não se deve confundir com logica de probabilidade mas que são matemátivamente similares. É a diferença entre falar de probabilidade de uma coisa acontecer ou do quanto próximo da verdade estará uma afirmação - na lógica fuzzy lidamos com graus de verdade, não probabilidades. Também vale a pena notar que existe extenso debate e criticas sobre estes tipos de lógica.

A verdade mantém-se sempre, no entanto, como algo que é propriedade dos conceitos e não da realidade. Ou seja, a verdade é sobre o conhecimento, não sobre o que as coisas são em  si (as coisas seriam sempre verdade nesse caso, e caso fossem mesmo coisas).

Em resumo, a lógica clássica  é mais bonitinha, mas lida mal com as contradições e incertezas da investigação empirica. E por isso precisamos de umas lógicas um pouco mais "ad-hoc", para casos bicudos.

Curiosamente, os nossos neuronios funcionam com algo mais parecido com lógica fuzzi. Eles aumentam ou diminuem a frequencia de despolarização para enviarem um sinal, embora por vezes só haja duas interpretações possiveis para essas variações.

Bibliografia:

 Vários artigos da wikipédia que fui lendo, andando para trás e para a frente e só sei por onde comecei - Paraconsistent lógic.

Good Math, Bad Math

domingo, 16 de dezembro de 2012

Atheist Census

http://www.atheistcensus.com/

PS: Não conhecia esta associação antes, mas não estou a ver que possa haver grande problema em dar o email e confirmar. Vai ser interessante depois ver a demografia do ateísmo.

A filosofia, em boa parte, também é empirica.





Cuidado com as confusões entre mapa e território, e suspeita de provas de existência "à priori" de seja o que for.

Especular sem uma ponte fenoménica algures, vale apenas o conceito, não o conhecimento de existencia.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A matemática é empirica, como toda a ciência.




A matemática é empirica. Não surge do nada das nossas mentes, surge como abstração do mundo empirico. E é o na sua origem e em muitos aspectos do seu desenvolvimento.

E o uso dos axiomas em formulação de sistemas formais variados é posto à prova, experimentando. Conforme funcionam ou não.

Claro que depois, descobrem-se regras que depois podem ser provadas, em teoremas, dentro desses sistemas e recorrendo ao que já se sabe.  Mas repito, isso é dentro desses sistemas, depois de escolhidos os axiomas.

Também no resto da ciencia não temos de continuar sempre a testar se o universo ainda é como era. Esse problema está em stand-by até sugestão em contrário.

E sistemas axiomaticos há infinitos. É realmente a gosto conforme se decide o que vão ser os axiomas. Mas nem todos servem para alguma coisa ou funcionam. Na practica, a matemática é bem empirica.

Isso é cada vez mais aceite e faz todo o sentido.

Vejamos  estes exemplos:

Euclides pensava que não havia outra geometria. Aquilo parecia a muitos antigos, a essência da realidade. No entanto mudar um dos axiomas mostrou que se podia explicar muito mais coisas.

Newton, ao contrário, deparou-se com uma falha na matematica para explicar o movimento. Criou o calculo diferencial para explicar o que precisava.

Os numeros complexos ou imaginários, foram desenvolvidos a partir da tentativa de resolver equações cubicas. Estava-se sempre a esbarrar no problema das raizes dos numeros negativos. E ganharam esse nome porque mesmo pessoas como Descartes, ao depararem-se com a necessidade desse resultado, o chamaram de imaginário.  De notar que por essa altura, muitos matemáticos viam os numeros negativos com desconfiança até que alguém mostrou que tinham uma explicaçao fisica bem boa. Donde se experimentou dizer que um numero era a raiz quadrada de menos um. Os numeros complexos  começaram a ganhar alguma compreensão quando se mostrou como se podiam integrar na trigonometria mas só foram completamente aceites quando se mostrou serem vectores. Muita física de topo hoje os envolve e são numeros como os outros.

De certo modo, muito na matematica actual é experimentar com axiomas e ver onde nos leva.

E na antiga, fazia-se o mesmo, mas era menos obvio para quem o fazia. Porque havia uma confusão entre a matematica ser a realidade ou não, coisa que hoje se compreende que é mapa.

Havia a ideia de que um triangulo só era compreensivel se existisse algo real, fora da nossa mente, como se fosse um triangulo ideal com que todos os outros eram comparados e identificados. Este idealismo é a causa de enormes atrasos na ciencia e da tendencia para confundir mapa e território.

A ideia de triangulo está nas nossas mentes - uma abstração induzida pela necessidade de usar "triangulos"  - para explicar outras coisas.

A matemática é recriada e experimentada para ver onde é que leva, se se mantem consistente com ela própria, etc.

A nossa mente é moldável. Existe por assim ser. As sinapses são criadas e destruidas conforme são uteis ou não. Conceitos foram criados por tentiva e erro.  Possivelmente como de resto tudo na vida. E ao fim de milénios de evolução, aquilo que foram antes modelos testados empiricamente, herdados e aperfeiçoados pelas gerações face à sua capacidade preditiva, parecem agora tão óbvios que assumimos que são quase realidade, ou verdades auto-suficientes.

Dizemos que 1 e 1 são 2, temos um sistema (aritmética de Peano) onde isso é quase tudo lógico.  Mas ser 1 ou 2 é uma coisa que não existe fisicamente. É antes aplicado para compreender o que se passa fisicamente. No espaço, no tempo, em determinados pressupostos de grupo e identidade, etc.

De resto não há dados sem teorias, nem teorias sem dados. O que sugere que os conceitos foram  induzidos, primeiro simples, cheios de erros e postas à prova até romperem pelas costuras. E vão sendo uns substituidos por outros. Alguns vão para os genes. Já perdemos o fio à meada, quase, de como tudo começou. A matemática parece toda independente da experiencia fisica e até antecedendo esta. Alguns julgam mesmo que o mundo foi criado de acordo com a matemática.

Mas ela existe mesmo para explicar a experiencia fisica, desde tempos imemoriais. É o que é mais plausível.

A matemática tem é o grau mais básico possivel de abstracção de todas as nossas conceptualizações. E isto contando com a lógica, à qual sabemos não poder ser reduzida, como queria Russel. No fundo é o mais simples e manipulavel que conseguimos criar que fosse util.


Assim, o empirismo é necessário a todo o conhecimento cientifico. Inclusivé à matemática. Nem noção de identidade tinhamos se não houvesse indução. Porque a identidade, a = a é uma abstração. O universo esta-se nas tintas para isso, não há coisas que sejam algo. Nós é que precisamos de as identificar para falar delas. E o problema da identidade, algo que parece tão obvio continua em debate até aos dias de hoje. Uns criticando o que não funciona nas definições dos outros.


Sugestão de leitura: "Conversas com um matemático", G. Chaitilin

Para ver como se fazem sistemas matemáticos brincando com os axiomas e além disso passar um bom bocado ler "Godel, Escher and Bach".

Outro post sobre o mesmo assunto: http://ktreta.blogspot.pt/2012/12/uma-nota-sobre-nota-parte-1.html

Não há falta de democracia na ciência. Qualquer um pode ser um cientista. No entanto não pode ter a sua própria realidade.


"fact (derived from the Latin factum, see below) is something that has really occurred or is actually the case. The usual test for a statement of fact is verifiability, that is whether it can be proven to correspond to experience. Standard reference works are often used to check facts. Scientific facts are verified by repeatable experiments."

Wikipédia, - "Fact".

"According to Hilary Putnam, a former student of Hans Reichenbach and Rudolf Carnap, making an observational/theoretical distinction is meaningless."

Wikipédia, - "Logical Positivism (objection)"



O Desidério Murcho decide manter a posição de que devemos regular qualquer crença que as pessoas queiram ver regulada em mais um "post" dirigido ao David Marçal. Ele começa exactamente assim:

"
O David opõe-se a que o estado dê o aval de legitimidade ao que os cientistas consideram cientificamente ilegítimo. Acerca disto eu penso duas coisas e ambas se opõem ao que pensa o David.

Primeiro, penso que é uma má ideia que aceitemos sem pestanejar que o estado passe certificados de legitimidade científica."
Bem, se é assim, então o Desidério devia, em nome da consistencia, ser também contra que o estado passasse certificados de legitimidade cientifica em coisas anti-cientificas 

E é esse o significado que a regulação vai ter. 

A outra parte do problema é o Desidério não reconhecer que o estado não tem outra hipotese, se quer tentar por ordem na casa, a vários niveis, quer seja um crime à mão armada, quer seja uma alegação de cuidados de saude, se não ver o que é factual e o que não é. E os factos mais confiáveis que conhecemos são os trazidos pela ciência. Porque narrativas diferentes colocam e são patognomonicas de partes em conflito. 

Ele diz assim:

"
Tal como era uma má ideia que no passado a igreja católica tivesse o poder de dar ou tirar um aval a uma ideia qualquer. A confusão do David aqui é pensar que no passado isso só era mau porque a igreja não passava os avais com base na ciência. Eu penso que o mal é haver avais únicos, que impedem sub-repticiamente a diversidade epistémica que, como a história nos ensina, é crucial para o desenvolvimento cognitivo da humanidade. E para haver diversidade epistémica, tem de haver erro, incluindo erro grotesco."
A questão é que não é preciso aceitar erro grosseiro. Isto é falso. Qualquer nova modalidade epistémica que pretenda revolucionar a ciência e a filosofia pode muito bem fazer a sua entrada em cena sem fazer cobaias de meio mundo. Como se disse, não se pretende proibir nada, e essas coisas andam aí. Por outro lado, a ciência tem sempre assimilado o que funciona, venha da filosofia ou do acaso, e temos uma ideia razoavel do que funciona como produção de conhecimento e uma muito melhor ainda do que não funciona. Sonhar e teorizar de enfiada, sem bases empiricas e sem testar, é uma delas. Tem usos variados, mas descrever a realidade e fazer previsões não é uma delas. É preciso que haja uma justificação melhor.

Na altura da Igreja Católica não havia discussão aberta. O conhecimento era imposto por autoridade e por antiguidade, e isso não permitia o desenvolvimento epistémico. Hoje há a possibilidade de qualquer um poder dedicar-se e especializar-se numa determinada area, e se descobrir algo de novo poder ser recompensado por isso. As criticas são cerradas e rigorosas aos novos projectos, mas são feitas publicamente e entre especialistas sobretudo, pelo que acaba por ser do interesse de todos ser o mais realista possivel e cada um vigia o outro. Recentemente um estudo manhoso sobre organismos genéticamente modificados caiu no descredito, mesmo sem precisar de ser revisto pelos seus pares mais chegados. Há uma grande interacção entre as areas cientificas e o que funciona são as mesmas coisas. A realidade afinal é a mesma. E a coisa não cai em ciclo vicioso porque há uma massa critica minima de forças em disputa neste meio tão competitivo e tão talentoso. Não impede que haja ovelhas tresmalhadas, mas é notavel e sinal de progresso que se consigam consensos. A melhor demonstração que esses consensos não são sonhos epistemológicos de mentes alienadas é o que tem sido possivel fazer com esses paradigmas que saiem dos consensos. É só olhar à nossa volta. Isso não precisa que se dê aval positivo à pseudociencia para se manter a funcionar.

Uma grande parte do conhecimento cientifico são factos e outra grande parte são teorias que explicam esses factos. Outra parte é o que descobrimos que funciona, epistémicamente, claro. Comportármo-nos como se estivessemos na estava zero, em nome de uma lotaria epistémica,  é um absurdo, que não corresponde ao nosso avanço intelectual. Mas acima de tudo o problema não é a falta de sentido democratico da ciência. Esta só procura explicar como são as coisas. O problema é a realidade estar-se nas tintas para o que queremos dela. O défice democrático, a haver aqui, é da realidade, não da ciência;e dos factos com que esta nos desafia.

Não há uma realidade pessoal "costum made". Provavelmente nem o Céu. O Desidério tem de aceitar isso.

No entanto, mesmo sendo uma realidade ao que sabemos implacável e muitas vezes cruel, ela é muito mais aceitável compreendendo-a, estudando-a e encarando-a do que enfiando a cabeça na areia, ou tapar os ouvidos e dizer "não estou a ouvir, não estou a ouvir". 

O Desidério continua: "Segundo, penso que usar o poder de passar avais de legitimidade científica é incompatível com o ideal de uma sociedade em que as pessoas são mais autónomas intelectualmente e mais conhecedoras da ciência."

Isto tem vários problemas. Um é que assume que as pessoas sabem em média o suficiente sobre o que é que dá sucesso à ciencia. O outro, que me preocupa igualmente é que assume que mesmo conhecendo as virtudes epistemologicas da ciência, estão a par de tudo o que passou (ou não)  por esse método rigoroso. São assumpções francamente erradas e perigosas que podem por qualquer um de nós no lugar do incauto. Quando vou ao médico não quero estar a fazer de policia de tudo o que ele faz. Quero saber que outros médicos, enfermeiros, farmacêuticos, biologos, fisiologistas, etc o fazem por mim, que se vou ao médico já tenho problemas suficientes.

"
Isto porque se as pessoas acreditarem em verdades científicas só porque estas têm o aval do estado, e não por compreenderem os seus fundamentos, não serão menos crédulas do que quem acredita no vidente da esquina."

Sim, não serão, aqui o Desidério tem razão. Mas o problema da educação cientifica tem ser resolvido em simultâneo e não ajuda dar sinais contraditórios aos leigos para o conseguir. De facto a ideia não é obrigar ninguém a acreditar em nada, nem pela sedução, nem pela força  mas sim mostrar-lhes porque sabemos que as coisas são como são. Mas esse trabalho está a ser feito. Não temos de optar entre educar ou aceitar que se legitimem tretas. Pelo contrário. Podemos educar e evitar que se dêem sinais confusos a quem quer e ainda está a aprender. E dar sinais de cuidado a quem não quer porque pode nem ter tempo para isso.

Por as coisas em pé de igualdade, menosprezando o sucesso da ciencia,  não é bom para a sociedade  - que precisa tanto de desenvolver a sua compreensão do universo onde vive. Isso destroi o argumento que usamos nos nossos filhos de que eles têm que estudar, nos professores que eles têm que ensinar, etc. Porque assim, vale tudo. E o que interessa, que é ensinar pensamento critico, fica profundamente aleijado. Em toda a sociedade.  Pela mensagem dada aos leigos, às crianças e pela falta de exisgencia que isso trará em profissionais. É o "ad populum" transformado em epistemologia com tempero de "ad ignorantiam".

"A cultura científica, que o David defende, é incompatível com a crença no que diz o David por ser ele a dizê-lo e por ele ter a autoridade do estado do seu lado."

Não. Porque o David Marçal não quer impor crença, apenas não deixar uma entidade que devia significar honestidade e respeito avançar com uma mentira. Não há imcompatibilidade nenhuma. E depois porque essa crença não perde a justificação por ela não estar escarrapachada em todo o lado - desde que esteja em algum  lado.

"Vale a pena acrescentar que a questão política de fundo é o facto de o David (como aliás quase todos os portugueses) ter uma concepção de estado diferente da minha"

Não será então razão para o Desidério deixar de dizer como devia ser o estado, pelas suas próprias convicções que o estado deve ser feito pelo que quer a maioria? E assim inclusivé decidir-se o que é real ou não? O Desidério continua sobre o que acha que deve ser o estado em prejuizo do que acha que o David Marçal acha que deve ser o estado. E isto porque não queremos que o estado dê uma ideia errada de uma coisa que sabemos com elevada confiança:

"Do seu ponto de vista [do David Marçal], compete ao estado, por meio dos seus avais e certificações, empurrar a sociedade numa dada direcção — na direcção que ele quer. Eu tenho uma concepção diferente: por meio dos seus avais e certificações, o estado tem por única função proteger terceiros e harmonizar conflitos de interesses, deixando a sociedade ir para um lado ou outro, consoante for essa a vontade de todas as pessoas que constituem a sociedade, e não apenas de quem tem a verdade científica do seu lado."

Pois. Isso tem vários problemas. O estado não tem outra hipotese que não ser guiar a sociedade. É para isso que existe. É por isso que elegemos lideres. Não podemos mandar todos ao mesmo tempo. E a democracia não é um sistema de conhecimento, é um sistema de legitimar o poder. Por isso não conflitua com a ciência. 

Depois, as tretas prejudicam todos - primeiros, segundos, terceiros, quartos... (menos os que estão a comercializar a coisa e às vezes até estes). E por fim, pode haver e é causa potencial de conflito de interesses ou consequencia disso, narrativas diferentes sobre acontecimentos e efeitos. Por isso o estado tem de intervir recorrendo ao que sabemos que provavelmente é a verdade. E aí entra a ciência (está a ficar repetitivo não é? Mas a culpa não é minha...)

"É defensável o género de paternalismo benevolente do estado que defende o David? Sim, claro. Acontece apenas que não conheço qualquer defesa que me pareça boa."

O Desidério começava por ter de compreender o genero de paternalismo que sugere o David para perceber que é melhor que o seu paternalismo de dizer "são tolos, deixa-los estar...". Concordo que ele não conhece qualquer defesa que lhe pareça boa. 

"O problema principal desta concepção de estado é que um estado que usa o seu poder para forçar delicadamente (ainda que não pela força das armas) as pessoas a aceitar certas práticas e ideias e rejeitar outras, está a impedir a própria autonomia mental que quer promover."

Só estará a "forçar" por não mentir. Por omitir uma orientação negativa. Não é uma grande afronta à liberdade intelectual, diria eu.

Não força nada ou limita nada. Não por sugerir que não se use homeopatia ou que ensinemos às crianças que têm poderes especiais. Só se pede uma posição passiva durante o debate público. No entanto a posição activa de permitir e legitimar parece ao Desidério uma defesa da liberdade. Da liberdade de escolher o marisco estragado. Da liberdade de pisar a mina de campo. Da liberdade baseada na ignorância.

Não estamos a discutir teoria das cordas, memética, multiverso ou outras areas cientificas que roçam a filosofia. Estamos a falar de coisas que são factos ou muito perto disso.

"Acreditar que a selecção natural é uma teoria verdadeira porque isso é o que está certificado pelo aval do estado é uma crendice tão tola quanto acreditar que é falsa porque é o que diz a Bíblia. "

Não. Nem por isso. Se partirmos de um e de outro principio, como dados não provados mas provisórios, vamos sempre conseguir compreender mais coisas partindo da evolução do que do criacionismo.

"Acreditar que as crianças índigo ou a homeopatia são crendices sem fundamento só porque não têm o aval do estado é uma crendice tão inane quanto acreditar que são verdadeiras porque eu gostaria que fossem verdadeiras e porque me fazem sentir bem."

Idem. Parte verdade, parte treta. Acreditar sem justificação é sempre pior que acreditar por ter uma justificação forte.  Por isso o David Marçal, eu e muitos outros também insistimos nessa area da divulgação. E pela minha parte gostaria que não fosse boicotada enquanto a mensagem não chega a todos. 

Mas acreditar "sem justificação" porque sabemos que resulta de consensos de especialistas cientificos a acreditar sem razão naquilo que resulta de palpites, eu prefiro a primeira. E é dos poucos apelos à autoridade que confio. Ninguém pode estar a par de tudo. Alguma confiança vai ter de dar algures a uma autoridade. Que seja o consenso cientifico.
Afinal eu gostava de saber se o Desidério quando vai ao médico está disposto a que haja uma regulação legal que diga que especie de coisas lhe podem fazer, ou se vai de mente aberta, decidir passo a passo o que lhe deve ser feito e acreditar que não lhe vão mentir sequer acerca dos actos que se seguem.

"
Tal como o David, preocupa-me os níveis assustadores de crendice na nossa sociedade"

Qual crendice? A de que legitimar a treta e ignorar o que sabemos sobre a realidade não é forçar nada, não é por ninguém em risco, e não é empurrar o mundo numa direcção, mas não o fazer é um atentado à liberdade? A mim preocupa-me que o Desidério tenha feito mais contra o pensamento critico e a divulgação ciência neste país, nos ultimos dias que muitos homeopatas nos ultimos anos.

" Contudo, penso que 1) a melhor maneira de o combater não é com a força dos avais do estado, mas sim com a força da razão."

Plenamente de acordo. 

"E, pior ainda, penso que 2) mesmo que com a força dos avais do estado fosse possível acabar com as crendices, eu opor-me-ia porque isso viola o direito inalienável que elas têm de ser crédulas."

De acordo que existe o direito à crença. Mas não o direito a ver a crença acreditada pelos outros ou legitimada pelo estado. O estado deve ser o mais possivel neutro, até não dar mais para estar quieto. E por mim ainda dá, neste caso.

De qualquer modo isto é apenas o zombie do espantalho do monstro do cientismo criado nos seus primeiros posts. 

As pessoas todas têm direito à crença. Mas se eu não posso obrigar os outros a dizer que a minha é que é boa (não posso, nem quero) os outros nao me podem obrigar a mim a dizer que a deles é boa. E se o estado não pode dizer abertamente o que sabemos sobre a verdade, para não ferir susceptibilidades, também não deve mentir e ferir outras além de enganar toda a gente.

"É esta a nossa discordância. E não vale a pena insistir que aceitamos o direito de as pessoas serem crédulas, ao mesmo tempo que rejeitamos o aval do estado. Isso é exactamente o mesmo que fingir que aceitamos os homossexuais mas rejeitar o aval do estado — o casamento entre eles."


Não. Queremos que o estado faça o que melhor podemos saber que é correcto. Mas são problemas diferentes. Continua a confusão do Desidério não se decidir se é a favor ou contra avais. E não fazer aval pela treta não impede que os homosexuais se casem.
A analise "linha a linha" do post do Desidério acaba aqui. Mas há coisas que passei por cima ou modifiquei para reduzir o tamanho do texto mas que decidi publicar na mesma. O mais importante está respondido. Algumas coisas estão mais elaboradas aí em baixo:


Por si só, o estado não pode dar avais cientificos. O estado não é uma instituiçao cientifica. - o Desidério parece dizer isso e terá alguma razão. Apenas pode dar voz à comunidade cientifica para que esta dê o seu parecer ao gasto de recursos estatais numa determinada area e da percepção desta que deve dar ao publico. E assim, depois,  escolher como a regular ou não e  escolher enfim  que mensagem dar a toda a gente que tem o direito de não saber epistemologia a potes ou dar erros de ortografia. Em nome da liberdade. Quem quiser que faça o que quer. 

Mas não podemos passar por cima do facto de que algumas coisas são boas para a sociedade e outras não. Serem factos cientificos é só uma garantia de confiança. São factos antes de mais nada.

De qualquer modo, não se pretende que isto seja um sistema a toda a prova, infalivel, perfeito. Apenas que seja um mecanismo não invasivo de fornecer alguma segurança a terceiros. Não invasivo porque a maior parte da regulação deverá pertencer aos pares quando não há grandes problemas nessa actividade. Quando há, por exemplo nos "con-artists", nos vendedores de banha-da-cobra,  jogadores (gamblers) profissionais, etc., o estado não tem outra hipotese senão minorar o dano em terceiros de acordo com o contexto e gravidade da questão. E a unica maneira de julgar os acontecimentos e os factos é olhar para os acontecimentos e os factos, e não para fantasias que se façam sobre eles. Se não até o assalto à mão armada podiamos disputar que se trata de um carinho. Ou que nunca existiu e é impossivel por natureza humana. Esse é o  trabalho da ciência.

De facto, os dados cientificos são cada vez mais usados em investigação policial, histórica, etc. Porque são dos mais confiáveis. O estado não tem maneira de fugir à realidade para proteger as pessoas. E para conhecer a realidade o caminho que melhor funciona é o da ciencia. E se pode haver coisas que são verdadeiras que nós não sabemos, a probabilidade destas serem encontradas em teorias milenares ou clones, que não encaixam com centenas de outras linhas de evidencia verificaveis independentemente, é muito reduzida. Por isso, e se não podemos deixar de olhar para o que é a realidade para ter justiça, progresso civilizacional, progresso tecnológico, etc, temos de nos regular de acordo com a ciência.

O problema com algumas crenças populares é que faria mais mal proibi-las que deixá-las estar. Isso iria criar resentimento e dificultar a discussão que poderá levar à compreensão do que afinal é a ciencia e do que ela diz. Mas o problema não é os factos serem cientificos como justificação insuficiente do ponto de vista epistémico. É mesmo para se conseguir manter o dialogo. Mas neste contexto, o minimo que se pede, é não dar a entender que tudo vai bem na terra do faz de conta. O Desidério não aceita isso. Mesmo se acha que o estado não deve dar avais de nada. Este ele acha que deve dar.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A apologia do debate público de ideias.

O Desidério Murcho, professor de lógica, nestes dias tem conseguido ser uma fonte de matéria inesgotavel para este blogue. Mas não pelas melhores razões. Para saber mais ver os posts anteriores. Eu não me preocuparia tanto com o que considero ser francamente errado nos seus comentários e posts se ele não fosse um autor conhecido com alguma visibilidade. Mas em alguns aspectos é. Não é uma E. L. James de vendas, mas também tem um bocadinho mais de creatividade.

Este meu post é sobre um dos seus últimos comentários e que pode ser abordado só por si.


Ele diz que é mau as pessoas discutirem pelos seus interesses ou mesmo discutirem de todo. Que o ideal era sermos todos uma carneirada sem lutar por ideias (nem verbalmente), e isso era a sociedade que ele queria (perdão que ele não quer, nem quer convencer que é o que quer, e muito menos discute nesse sentido.)

As suas palavras são estas:


"Eu não uso este blog e nunca usei as minhas intervenções públicas para empurrar a sociedade na direcção que me é mais favorável. Considero esse um dos problemas do mundo contemporâneo: há demasiadas pessoas a fazer activismo e a empurrar a sociedade para um lado ou para o outro em vez de tentarem contribuir para uma resolução imparcial e racional das nossas diferenças. A única coisa boa é que a generalidade das pessoas não quer saber dos activismos e limita-se a fazer a sua vidinha. Se não fosse isso, a guerra verbal e os truques de bastidores dos activistas rapidamente nos levariam à guerra, com homeopatas a matar médicos e vice-versa. É caso para dizer que o que nos salva é a indiferença."




Nossa senhora (nunca pensei dar-me a religiosidade). A discussão de ideias é o diabo em pessoa, o fim da humanidade!...  
Não importa que antes de isso poder acontecer a lei fosse a do mais forte no musculo, e que nessa altura em vez de palavras eram mesmos actos. Não importa o que ganhamos ao dar valor às palavras e em poder discutir ideias sem discutir caracteres. Não importa a liberdade que isso deu a tanta gente. Aquilo é o fim da picada.

E depois, todos podemos dizer que estamos a ser imparciais, e muitos acreditaremos que estamos mesmo. Ele assume que ele é que sabe quem está a ser imparcial ou não. Parece-me péssimo e discutivel. Todos podiamos fazer isso e o facto do Desidério acusar as pessoas que acusou, de estarem a pensar apenas nos seus interesses me sugere fortemente que ele próprio não compreende muito bem as pessoas. Mas passemos isso à frente, pensemos apenas na discussão de ideias pela defesa dos interesses de cada um. Vejamos o que isso nos trouxe, por exemplo:



Não há escravos, o regime feudal é muito mais permissivo, em muitos países ser-se ateu não é um crime, ser-se de outra raça idem, etc, etc, etc... Isto foi conseguido como? Deixando monarcas e teocratas fazerem o que achavam melhor?






Não, não estou a fazer um espantalho da acusação do Desidério. Ele diz que se as pessoas estivessem a fazer a sua vidinha e não discutissem é que era o que ele queria (perdão, não queria, apenas quer dizer, sem que tenha consequencias ou significado). Mas se as pessoas não disserem o que querem, ou alguém não o fizer por elas, as coisas não tinham saido da pré-história e da ausencia de direitos humanos que tem havido desde sempre, mas cada vez menos.





Não estou a ver melhor maneira de resolver conflitos de interesse que pela palavras. E mesmo assumindo que todos estão preocupados tanto com as vontades dos outros como com a sua prória, também não me parece que a informação e a resolução possa ser tão boa como pela discussão livre. Pelo menos até haver conexão interneuronal de individuo a individuo e sejamos uma massa compacta agindo sob a mesma consciencia em sincronia. Mas ainda não somos. E não sei se gostaria que fossemos, se bem que as formigas não se pareçam queixar. Mas eu estou satisfeito por não ser formiga.



Eu não me importo de ter amigos que acreditam na homeopatia, em Deus, ou até no fim do mundo. Reconheço o direito dos outros de defenderem as suas crenças como eu defendo as minhas. E reconheço que neste mundo  e para os outros, eu sou o outro. Por isso interessa me  também defender "o outro".



Sou contra a pena de morte mesmo dos piores criminosos, a crueldade contra pessoas ou animais, procuro não comer  carne de mamifero por lhes reconhecer emoções iguais às nossas. E defendo estas ideias activamente. Vou matar por elas? Claro que não. Com que sentido?



Entrar em guerra é assumir uma série de derrotas à partida. Inclusivé a perda provavel por aquilo porque se está a lutar. Mas por vezes, quando as pessoas gritarem a sua dor, justificarem os seus problemas e implorarem o seu alivio não funciona, não há outra alternativa. Felizmente hoje, não é bem assim em muitos sitios.

Pense-se só nisto que era frequente durante a idade média (e que devia ser bem melhor que a pré-história):



 - Uma pessoa era torturada perante uma acusação. O julgamento era feito após a confissão assim obtida. Poucos foram mortos, mas muitos acabaram por morrer em prisões sem a minima condição.

- Os nobres passavam a vida em disputas entre si. Um dos modos como o faziam era através de incursões pelas terras do outro, destruindo as colheitas e matando os trabalhadores das suas terras.
- Mesmo nos nobres, apenas o primogénito iria herdar tudo. Os irmãos mais jovens acabavam por ter de se alistar em exercitos, conventos, etc, para sobreviver, pois não lhes caberia nada, nickles, rien, após a morte do pai. 
- Não havia segurancia social. Não era estar mal feita, arruinada ou coisa do género. Era algo que nem passava pela cabeça daquela gente. O mais parecido era dar os restos aos pobres quando já não serviam para os próprios. 

- Os duelos e os homicidios por motivos de honra eram frequentes.





A idade moderna, a que se segue, acabou quando a população esfomeada derrubou a monarquia em França. Mais valia terem sido ouvidos com atençao. Muitos problemas se seguiram, mas no fim de contas as pessoas em todo o mundo ganharam um pouco mais de direitos (os outros monarcas acagassaram-se). O meu ponto é que apesar de ter sido por um péssimo meio - a violencia, ficar a morrer em silencio é que tinha sido pior. Além disso as mortes foram desnecessárias. Ninguém precisava de ter ido para a guilhotina. Não adiantou nada. Mas se calhar nesta altura já havia outra vez apenas uns poucos desregulados a lutar pelo poder, sem possibilidade de discussão publica e aberta de ideias. Pois era.

Os negros passaram a ser cidadões nos estados unidos, na decada de 50, quando uma senhora que era tão escura como um portugues se recusou a dar o lugar de autocarro a um homem branco (WASP).




Isto é só para ilustrar como a manifestação ordeira e o discurso verbais são importantes para a nossa sociedade, não para provar. Para isso basta notar que precisamos de gestão e de alguem a organisar seja o que for. E se essa pessoa ou grupo seguir apenas os seus interesses e nem tiver um bom conhecimento dos dos outros, os outros vão ficar de fora em muita coisa. 



E isto sem contar com a natureza humana, de haver sempre alguem que quer mais para si que o que quer dar. E mais uma vez que a melhor maneira de lutar contra isso não é ficando quieto, lançando bombas, mas sim divulgando, alertando, justificando. E isto é activismo. 



É uma das coisas melhores que temos em algumas sociedades actuais, a participação de todos para um bem comum, cada um a lutar pelo que mais significado tem. Ontem saiu uma lei que proibe ter peixes em aquário de balão. Eu não me lembraria de andar a lutar por essa causa publicamente, com tanto mais importante que há para aí. Mas estou contente que alguem o tenha feito. É bom que haja gente diferente com motivos diferentes. Tem dado bons resultados no longo prazo. Ás vezes as coisas não são ao meu gosto. Nessas alturas tento justificar porque e apresentar as minhas razões. E espero ser ouvido.



Dizerem-me que estou enganado pelo simples facto de estar a participar numa discussão? A lógica não segue. É preciso mostrar em que é que estou enganado. Dizer que estou apenas a servir os meus interesses sem pensar no bem comum, por estar a participar numa discussão? Idem. É perverso assumir isso à partida, e carece de prova. 





E é disto que é feita a democracia, é disto que vive a evolução das ideias.  
E todos queremos uma sociedade que valorize as coisas que gostamos e precisamos. E com que possamos contar. Temos de negociar isso e se estamos à espera que os outros adivinhem o que nós queremos e hajam de acordo, isso pode não funcionar. Eles podem ter pouco geito para adivinhar, e mesmo se passassem a vida a fazer inqueritos, duvido que conseguissem ver claramente todas as implicações sem uma discussão de ideias.



E não, não vamos acabar todos à guerra por causa de discutir ideias uns com os outros e de nos manifestarmos. Mas vamos ter menos guerras por causa disso.



E eu pergunto-me afinal: Porque se rala o Desidério com guerras? Quererá afinal que elas não existam? Será que vai defender essa posição?

Esta exposição é suficiente para mostrar porque discutir ou manifestar aquilo que consideramos correcto, mesmo que seja no nosso próprio interesse, tem tido sucesso ao longo do tempo. Pode não servir para provar que é a melhor maneira. Mas para já é o melhor que temos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A falácia ortografica. Desprezar um texto ou argumento porque tem erros ortográficos.

A língua é em grande medida uma convenção. Por isso temos tantas línguas diferentes, ininteligiveis entre si, apesar de se supor uma grande maioria delas ter uma origem comum.

Livros antigos, às vezes tão antigos como 100 anos, estão aos nossos padrões pejados de erros ortográficos, embora seja legível e indentificavel como sendo uma determinada língua.

No entanto, em coisas não convencionadas,  muita coisa que tem agora perto de 100 anos como conhecimento, mantém a sua pertinência. As bases não mudaram nada desde essa altura. A mecânica quântica e a relatividade são padrões porque ainda nos regemos, e Darwin viveu há 200 anos.

Isto acontece porque uma coisa refere-se ao que podemos saber que não depende da nossa crença e a outra depende muito da nossa crença, de como achamos que deve ser, de como os outros querem ouvir, de como queremos ser ouvidos, lidos, etc. E depende ainda de revisões por especialistas. Imensas. A língua evolui por via popular e por via erudita. A nossa língua de hoje passou por inúmeras alterações ad-hoc feitas do mesmo modo que a do actual acordo ortográfico. Do qual eu sou a favor, mas temos de tentar melhorar aquilo.

Mas isto é para dizer que a ortografia é apenas uma parte da forma da mensagem. Fazer de Nazi da gramática para excluir textos que não correspondem a uma data ortografia, desprezar o conteúdo do texto por isso e julgar assim sumariamente o autor é apenas uma falácia. Um Red Herring de quem quer usar um pretexto paralelo para não perseguir uma discussão.

Existem estudos e dados que todos podemos verificar que mostram sem sombra de duvida razoavel que a ortografia pode variar imenso sem que isso afecte a compreensão de uma mensagem. Por exemplo:

"Dizer que uma pvalara se escreve assim e não assado é uma questão pticamracente arbitrária.

Não é mátiatemca, não é algo como uma lei nratual.


A orafirtoga é uma cenonvção. É uma csoia que foi ddidecia como dieva ser (em opoçãsio a aglo que se dbescoriu como é). Não há uma oogrartfia moelhr que oruta por nnhuem pdraão que seja lgicóo. É uma coisa n0rmatiwa. Dcuiste-se se se deve ceronsidar a n0rm4 o que faz a mraioia ou se se deve forçar a moairia a feazr como mdaanm uns pcoous.  EM ambos os casos, o qeu é correcto a cada mntomeo, só o é porque uns cguonsee iompr a outros pela força a sua meianra de escrever.  Não há para essa ortogradia uma juicastifção rioacnal.

E doepis, mdua mituo dressepa.  Eolvui. E isso preace-me um não-polebrma.
Mas há miuta gntee a qeum isso faz uma cusãonfo tmenreda, vá se lá sbear pquorê. Têm de intisisr em crvonsear as pvralaas tal como estão. Se clhaar qiauerm  que faselasmos ainda Indo-europeu. Mtuios erros, é estcamétiente deadásagrvel. Mas é só isso.
De ftaco, não é reealmnte irtanmpote para tmiranstir uma magensem ernte seers hnoumas que a orafrtogia ejstea cecorrta,  como dstemonra este ttexo. Bsata un mimino, um nadinha, o sieuficnte para rnheecocer as pvalaras e está tudo bem.

Por isso, porque riao é que no mieo de duçiscões sobre coisas remenalete com impampcto nas nsaoss vaids tem de hvear srepme auelgm a contar erros ográrictofos? 

Pecare-me spreme uma coisa minhesqua e dropesposita que só serve para fazer juizos adpressaos e devisar a ançteão do que é imtaporte. 
Que hjaa uma nmora a suegir, tduo bem. Mas que hjaa uma oessbsão con iço é rcidíulo. 

Por isso, tentem compreender que um ou dois erros num texto, não tem significado nenhum. Façam o favor de perder tempo com coisas importantes, sim?"


Um estudo muito interessante da Microsoft que li há uns anos mostrava que o tempo perdido com os erros ortograficos era na casa dos milionesimos de segundo a décimos de segundo se fossem grandes erros. Não encontro esse estudo. Se alguém encontrar agradeço. De resto a procura por esse estudo veio mostrar-me que se estuda mais o problema dos erros de ortografia por assumir que é um problema à partida do que estudar em que se reflete esse problema. Para já só encontrei que diminui as vendas porque  as pessoas não gostam. Mas isso é uma questão estética pouco sofisiticada. Depois há alguma correlação entre dificuldades de interpretação e dar muitos erros ortográficos. Mas isso não é verdade para pessoas que lêem muito, pelo que será mais util como screening de problemas de compreensão que outra coisa.

De facto existem pessoas com boa capacidade de compreensão da escrita e de expressão mas que mantém alguma dificuldade em manter um texto livre de erros. A dislexia, que afecta muita gente muito produtiva e importante, é uma dessas condições.

Onde eu quero chegar, e para terminar, é que a ortografia não diz nada acerca do conteudo daquilo que está escrito. Até os dislexicos podem escrever perfeitamente, uma vez que por um leitor digital a ler o texto em voz alta é practicamente infalivel. Mas isso requer tempo e esforço e serve apenas para satisfazer caprichos de que existe algo de superior na ortografia.

Daqui a muitos anos, muitos dos temas que eu investigo e debato neste blogue serão certamente pertinentes, e a maneira como lidamos com eles hoje será igualmente determinante ( eu não pretendo ter a "verdade", ok, apenas contribuir a minha parte de cidadão preocupado). A ortografia actual será esquecida e ficará apenas o conteudo das palavras. Porque para quem não está muito habituado a uma determinada grafia, os erros não saltam à vista. A mim muitos erros saltam à vista, sobretudo se não forem escritos por mim, e na lingua portuguesa (Daniel Dennet queixa-se do mesmo problema por curiosidade). Em Inglês também. Mas lendo em francês ou italiano isso já não acontece. Porque não há uma espectativa e um preconceito tão forte acerca do que deve ser. Mas isso não é assim tão importante. É casual e efemero. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Não, legitimar a treta é mesmo má ideia.


Para o bem da sociedade e para a sua capacidade de produção, desenvolvimento etc, precisamos aprender e ensinar as coisas que estão mais bem justificadas.

E essas não são aquelas que são justificadas com o apelo à popularidade.

Sao aquelas que satisfazem outros critérios epistemológicos.

E para pagar o ensino do bolso de todos, para o bem comum, temos de escolher muito bem o que ensinamos. Quem quiser ensinar outras coisas tem de o fazer sozinho, é essa a liberdade, mas o que é pertinente e  importante acerca do mundo empirico é o que nos diz a ciencia.

Portarmo-nos como se não houvesse recursos limitados ou como se o conhecimento fosse todo igualmente verdadeiro, é um disparate. Os resultados das nossas acções são diferentes conforme o que fazemos e há coisas que dão mais resultados que outras. E os recursos são mesmo bastante limitados. Quer para outras coisas, quer para ensinar seja o que for.

É esse o erro de achar que devemos entregar os curriculos escolares à obra de leigos e pseudocientistas. É o desastre para todos, de recursos desperdiçados, quer humanos, quer materiais.

E isto sem contar com os danos de base, e de profundo atraso civilizacional que é propor que se a ciência errou no passado, é porque as suas afirmações são tão boas como as outras todas que passem pela cabeça de qualquer um.

A liberdade do crente nos dragões não é de ver dragologia ensinada na faculdade, secundário, ou regulada pelo estado. A discussão sobre essas coisas deve ser entregues a especialistas das areas afins. A liberdade do crente nos dragões é a de acreditar nisso e ninguém lhe querer mal por isso.

E isto todos concordamos até termos um capricho qualquer que quermos impor aos outros e dizemos que afinal também é assim - que a ciência já errou no passado por isso temos de aceitar que pode estar a errar agora, que a jsutificação racional não é assim tão importante, etc.

A liberdade do crente nas crianças indigo e nos dragões é o de ser respeitado enquanto pessoa, mas esse respeito não é estensivel à crença. Isto é, ele pode acreditar e defender o que pensa. Mas tem de aceitar ser contestado, criticado e ver a sua crença não ser aprovada nem respeitada pelos outros.

Além disso, a liberdade da escolha na asneira é uma pseudoliberdade. Na realidade é uma limitação, a opção não é real, é apenas realidade percepcionada.

Temos de fazer esforços colectivos para ver o que funciona e não funciona. E a ciência, com todas as suas falhas é o que ainda funciona melhor. É a melhor aposta a cada momento.

Neste quadro de liberdade pessoal vs liberdade da ideia, da existencia de consensos de especialistas cientificos , de recursos limitados e da necessidade de fazer o melhor possivel com o que temos, não há argumento convincente para que o estado sancione coisas que por tudo o que podemos estabelecer cientificamente, está errado.

Até porque se formos por aí, e não tendo todos recursos para estar o tempo todo a par de tudo o que é treta e não é, um dia somos nós a cair na esparrela.

Calro que toda a gente tem o direito a ser pouco inteligente e ignorante. Mas só por isso não têm o direito de dizer aos outros o que se deve ensinar na escola, que deve ser considerado real, e o que tem de ser pago pelo bolso de todos.

Até porque pseudociencias há muitas. Vamos escolher como?

Sinceramente o que vejo é estes argumentos (do Desidério Murcho, filósofo profissional),  a favor de legitimar a treta a aproximarem-se cada vez mais do relativismo. Afinal para defender isto lá tem de vir a menção que a ciencia se engana o que neste contexto sugere a leitura: a ciencia engana-se, logo tudo é permitido e tem de ser permitido. Fazer o melhor que podemos é cientismo.

Quando a verdade é que mesmo enganando-se, para a esmagadora maioria das pessoas racionais, se consegue mostrar que para cada momento, a melhor explicação é a da ciência. E isso faz este mundo de diferença desde a revolução cientifica.

Ou então desistam dos computadores, telemoveis, carros, e cada vez que tiverem doentes digam que é saúde já que vale tudo.

Este post pertence ao grupo de discussão de regular as medicinas alternativas:

(por ordem dos mais recentes para os mais antigos, incluido um do Ludwig Kripphal)

http://ktreta.blogspot.pt/2012/12/factos-valores-e-raciocinio-parte-1.html
http://www.cronicadaciencia.blogspot.pt/2012/12/liberdade-por-conhecimento-ou-por.html
http://cronicadaciencia.blogspot.pt/2012/11/nao-e-cientificismo-precisamos-mesmo-da.html
http://cronicadaciencia.blogspot.pt/2012/11/drama-e-argumentos-homeopaticos.html

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Liberdade. Por conhecimento ou por ignorancia?

Se tivessemos mais opções à escolha, mas também se essas opções fossem todas más e apenas considerádas viaveis por ignorancia, será que isso deve ser considerado mais liberdade também?

Ou se por outro lado, o conhecimento nos reduzir o leque de opções contempladas mas nos orientar para outras, isso será uma diminuição da liberdade? 

Eu penso que a resposta é que, no minimo, a qualidade da liberdade melhora com o conhecimento. No extremo, podemos até abrir e mesmo criar opções que não estavam abertas antes.

Isto ainda vem na sequencia da discussão sobre a regulação das pseudomedicinas, (mas é na verdade uma questão bastante abrangente, já lá vamos). Afinal se as pessoas escolhem um tratamento deve ser-lhes dado um tratamento e não um placebo. Se elas escolherem o placebo deve ser-lhes dado o placebo. Dar o placebo a quem escolhe tratamento, porque não sabia ver a diferença, parece-me uma diminuição da liberdade. Porque as pseudomedicinas são apenas uma opção porque as pessoas acreditam nelas. E nesse aspecto estão a ter as mesmas opções que alguém perante um "con artist" qualquer. A opção não é o que parece. Em boa verdade, não seria uma opção se houvesse uma melhor compreensão de questões básicas de epistemologia, ciência, fisiologia, patologia, etc. Nada que muita gente não pudesse compreender se não se dedicasse a isso umas valentes horas. Mas a maioria das pessoas não se lembra sequer que isso pode ser importante fazer.

Este problema é o mesmo que eu vejo levantado pelos teologos quando nos dizem que deus não nos dá mais provas da sua existencia para nos dar liberdade. Que essa mesma razão é a razão pela qual nos deixa fazer tantos disparates.

Tirando as medicinas alternativas e a religião, não vejo este critério ser considerado em mais nada. Médicos e advogados são julgados em caso de negligência, assim como em boa verdade, qualquer cidadão.

Por exemplo. Existem crianças estropiadas por pisarem minas de campo. Quem não avisaria a criança que está na direcção da mina a escolher outra direção se pudesse? E quem pensaria bem de alguém que pudendo fazê-lo, permancia calado. E se além disso ainda viesse depois argumentar que o fez para não tirar liberdade à criança?

A minha opinião é que a liberdade de ser aldrabado, pisar minas de campo, ou de facto cair em qualquer escolha desastrosa por falta de conhecimento e capacidade de previsão, é uma liberdade fraca, para usar um eufemismo. É realmente uma liberdade da treta.

Uma liberdade forte, será aquela que nós temos devido a um conhecimento básico das nossas opções. Tanto mais forte quanto mais capaz de fazer previsões correctas nós formos.

Esse é o tipo de liberdade que procuram dar a ciência, a moral e a ética. Pelo menos é o que deviam procurar dar. A liberdade de Deus e das pseudomedicinas é a liberdade da ignorancia, da escolha aleatória e da potencial desgraça.

Claro que Deus pode compesar tudo depois de nós estarmos mortos. Mas no caso das pseudomedicinas eu não vejo a coisa tão sorridente...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Questões frequentes sobre o aquecimento global.


1 - Porque o termo aquecimento global caiu em desuso?
Porque o aquecimento não se está a dar por igual em todo o planeta e há zonas onde inclusive não há aquecimento. Por exemplo, a maioria da energia retida vai para os oceanos, não para a atmosfera e continentes. Isto, pelos vistos, fazia confusão a muita gente preocupada com o nome das coisas. No entanto, a média mundial está a aumentar e nesse aspecto é de facto um aquecimento global. 

2- O clima já teve variações no passado. Como podemos saber que desta vez é por nossa causa?

3 - A Gronelândia significa "terra verde" na língua original em que foi batisada. Isso não quer dizer que até à pouco tempo em vez de gelo aquilo era verdejante de vida?
Os nomes servem para identificar as coisas, mas dizem muito pouco sobre elas. Podemos chamar coração a uma unha que não passamos a ter dois corações funcionais. Coisas bizarras surgem destas confusões como a constante lembrança por parte dos políticos que "crise" e "oportunidade" se escrevem da mesma maneira em Chinês (mas não em qualquer outra língua!). De facto a datação da grande massa de gelo da Gronelândia diz que ela tem no mínimo 100000 anos, o que sugere que qualquer pedacinho verdejante que houvesse quando Eric, "o vermelho" lá chegou, era mesmo pequenino.

4 - Sim, estamos a lançar CO2 para a atmosfera, e há de facto mais CO2 na atmosfera mas como sabemos que o CO2 atmosférico é maioritariamente "nosso" na origem? O CO2 aumentou sempre que a temperatura terrestre aumentou.
Porque a análise isotopica do CO2 atmosférico mostra que ele vem de fontes milenares - os combustíveis fósseis. E porque a analise de amostras de gelo mostram que o aumento actual do CO2 na atmosfera não tem precedentes para os últimos mil anos.

5 - Não há aquecimento desde 1998, (2005 ou outro qualquer), não é?
Há oscilações no aquecimento global, devido a ser um sistema tão complexo, por isso o gráfico não mostra uma curva ascendente ano após ano. É o erro de escolher amostras pequenas para tirar conclusões. E mesmo indo por aí encontramos factos alarmantes: Por exemplo, os anos mais quentes de sempre por tudo o que sabemos são 2010 e 2005. Este ano tivemos o período Junho-Agosto mais quente desde que há registo. E olhando para a "big picture" a coisa torna-se clara e mostra um aquecimento rápido global. É como dizer que a maré está a descer cada vez que uma onda começa a recolher ao mar, mesmo antes de vir a onda seguinte, quando a maré está realmente a subir. Nos oceanos podemos confirmar a mesma tendência e também antropogenia.

6 - Não há mecanismos de compensação?
Sim, há. Não estão a ser suficientes. Insistir neste ponto é como ter uma panela ao lume e insistir que não pode estar a aquecer porque o calor se pode perder para o ar à volta. Infelizmente muitos dos mecanismos de compensação naturais com capacidade para estabilizar a temperatura estão a desaparecer, como por exemplo as massas de gelo, ou o equilíbrio acido-base dos oceanos onde muito CO2 é armazenado fora da atmosfera. Insistir nisto e achar que podemos intuitivamente correr o modelo de todos os factores envolvidos,  é como dizer conseguimos "dobrar proteínas" "de cabeça". Precisamos de computadores para correr os modelos.

7 - Há algum consenso? Parece que existem boas razões de ambos os lados.
Há um grande consenso sim, mas entre especialistas, que é o que importa. A quantidade de trabalhos científicos que apontam para um aquecimento não antropogénico é mínima. Entre o público em geral não há de facto consenso, o que é um problema para se conseguirem fazer politicas ambientais baseadas na ciência. Existem algumas causas de nota, para lá dos negacionistas dizerem o que todos queremos ouvir.  Infelizmente o hábito de mostrar os dois lados da mesma história, em alguns média ditos "profissionais" ou até "de referencia", dando o mesmo peso a cada lado, resulta muitas vezes numa incompreensão da parte do público do verdadeiro estado da ciência.  E esta é uma materia bem complicada, cheia de matemática, química e física, onde pesar os argumentos não pode ser feito pela intuição apenas. Por outro lado, a internet dá voz a todos (e ainda bem), digam o que disserem e os negacionistas climáticos são muito barulhentos (atenção: isto não se resolve com censura, mas sim com divulgação e discussão: é preciso mostrar que a melhor explicação não é a negacionista). 

8 - Mas o O2 é bom para as plantas, qual é o problema? 
A verdade é que há muitos mais factores a ter em conta.

9- Não é tudo uma conspiração? 
Não é plausível. A maior parte das grandes industrias quer poder gastar energia à vontade. Quanto aos cientistas não há um motivo forte para que estejam a inventar dados. De qualquer modo, até os negacionistas procuram usar os dados científicos para seu proveito, se bem que tendam a escolher a dedo os que lhes interessam. Por outro lado, a teoria, os dados e as previsões dos modelos são consistentes nas questões de base. São imensas linhas de investigação que são convergentes. Podemos também referir que  o aquecimento global está previsto há mais de 100 anos quando se compreendeu o efeito de estufa em alguns gases e é fácil verificar a quatidade de combustivel fóssil que queimamos por todo o mundo. Por ultimo, para algo tão complicado e envolvendo tanta gente, não haver prova direta de conspiração apesar de um escrutínio severo que envolve invasão de privacidade e tudo, sugere fortemente que não há conspiração.

10- Não é melhor assim?
Algumas coisas vão ser melhores em sítios específicos. Mas de um modo geral não. Mais energia no sistema  Terra, vai dar origem a fenómenos mais extremos. Furacões mais fortes, maiores tempestades, inundações mais severas assim como secas mais graves, e piores ondas de calor, depende da geografia. O aquecimento médio e acidificação dos oceanos significa que as espécies terão um curto prazo de tempo para se adaptarem ou mudarem de localização (as que podem). Espécies agrícolas comuns pode deixar de ser produtivas nos novos climas. Factores mitigantes são necessários e os estragos gerais causados pelo aquecimento global vão aumentar o fosso entre nações ricas e pobres, até na Europa.