Os criacionistas têm um problema com as mutações. Uma vez que admitem a sua existência vêm-se forçados a autenticas manobras ilusionistas para demonstrar que elas não podem aumentar a informação existente no ADN. O que, quando admitem que existem mutações prejudiciais, fazem.
Porque, a informação em si, é cega ao critério de bondade. Quem não é cego somos nós, seres conscientes, e sobre uma perspectiva realmente implacável, a selecção natural. Mas a informação já lá está.
De facto, quando surge uma mutação que origina uma doença genética, temos de aceitar em termos literais que a informação total disponível no genoma aumentou. Antes, não havia informação capaz de codificar(1) essa doença. Até porque, nem o ADN, nem a célula que o usa, têm maneira de saber, até a selecção actuar, se a mutação é boa ou má.
Mas vejamos em termos abstractos o seguinte:
Temos uma população de indivíduos, que para uma dada caracteristica X têm alelos A e B. Imaginemos que esse gene B que codificava para a mesma caracteristica X, por isso se diz alelo, sofre uma mutação num particular individuo. Esse individuo passou a transportar em vez do alelo B, o alelo novo que agora vamos chamar C. Mas na população em que ele vive, existe muita gente com o alelo B ainda . Por isso, se considerarmos esta população a enfrentar a selecção natural vemos claramente que há mais por onde escolher. No património genetico total existem agora os alelos A, B e C. A quantidade de informação aumentou.
Os criacionistas dizem então que as mutações são sempre más, e por isso é que a informação não aumenta. Mas infelizmente, as más noticias também são informação. Respondem então que não é possível uma mutação trazer uma caracteristica nova benéfica. Eu já aqui disse que quando elas surgem não são boas nem más e até dei o exemplo da anemia falsiforme que é boa em países onde há malária, porque protege do parasita e é má dos países onde não há, porque resulta numa anemia, ainda que se consiga viver com isso (senão não se tinha propagado tanto, certo? É frequente até aqui ao Mediterraneo e conheço pelo menos uma pessoa que a tem).
Mas existem mais exemplos, que também aqui já falei, como a capacidade de metabolizar citrato que foi adquirida por bactérias E. coli numa experiência exaustiva realizada ao longo de milhares de gerações de bactérias. Ou a capacidade de digerir Nylon, uma substancia que não existia na natureza até a começar-mos a deitar fora.
Mas um criacionista conhecido da blogosfera pela sua hiperactividade no "festival do copy-paste" acrescentou um argumento novo ao seu estafado material que me lembrou que era de facto um bom argumento para demonstrar o que acabo de escrever.
Ele diz assim:
“"os genomas estão a perder informação genética. Isso foi recentemente observado em estudos sobre o Cromossoma Y (que está a perder genes) e foi novamente confirmado no estudo de muitos mamíferos. "
Isto era para argumentar que o ADN se esta a deteorar. Mas vamos pensar sobre os factos.
Os cromossomas X e Y têm a mesma origem. São virtualmente iguais excepto que ao Y faltam partes, porque é muito mais pequeno. Sabemos que deleções existem, o caro Prespectiva até confirma isso, e temos que o cromossoma Y é igual a um X a que faltam bocados (há inversões e outras mutações também mas para o caso, isso não é realmente importante, são mutações na mesma). Por isso doenças como a hemofilia que estão ligadas ao cromossoma X são mais, mas muito mais frequentes nos machos, porque esse cromossoma X, herdado da mãe, portador do gene deficiente, não tem o seu alelo homologo no cromossoma y para interagir e determinar o fénotipo. Isto é, todas as características são determinadas por dois genes, em principio, um que vem do pai e outro que vem da mãe, excepto nas partes do cromossoma X que corresponde ao braço do cromossoma Y que falta. Esses genes determinam tudo aquilo para que servem sozinhos. Nas mulheres, para aparecer a hemofilia, já de si rara, precisamos que o individuo seja homozigótico, (tenha dois genes iguais) uma vez que o gene é recessivo. Ver figura.
Voltando ao essencial, temos então que por mutações passou a ser possível haver uma diferença fundamental entre dois grupos de individuos. Os machos e as femeas. Os homens e as mulheres. Sabe-se hoje que esse não é o único factor que determina o sexo, mas é muito importante, talvez o mais importante e o único que se conhecia durante muito tempo.
Resumidamente, onde antes só se conseguia ter XX ( o que representa quase sempre femeas nas espécies actuais), é possivel ter XY. E também XYY, ou só X e variantes com varias linhagens de celulas diferentes (quimeras), mas isso fica para outro post.
Quero ver agora como os criacionistas vão argumentar que haver machos e femeas representa uma redução na informação contida no DNA e que isso é uma coisa má. Porque segundo eles, até foi Deus que criou os dois sexos.
(1) Como já aqui discuti no CdC, existe uma diferença fundamental entre o tipo de armazenamento, processamento e tradução do ADN e outros códigos para que ele seja considerado literalmente um código. Todos os códigos requerem convenções, tal como o código de um programa de computador requer o código fonte. A convenção é algo combinado e requer de facto inteligencia e intencionalidade. Isso não existe na “codificação do ADN”, e de facto o próprio Watson Crick que descobriu o ADN e cunhou o termo no sentido biológico admite que a palavra mais correcta para usar seria “cifra” mas que código era mais sonante.
Resumidamente, onde antes só se conseguia ter XX ( o que representa quase sempre femeas nas espécies actuais), é possivel ter XY. E também XYY, ou só X e variantes com varias linhagens de celulas diferentes (quimeras), mas isso fica para outro post.
Quero ver agora como os criacionistas vão argumentar que haver machos e femeas representa uma redução na informação contida no DNA e que isso é uma coisa má. Porque segundo eles, até foi Deus que criou os dois sexos.
(1) Como já aqui discuti no CdC, existe uma diferença fundamental entre o tipo de armazenamento, processamento e tradução do ADN e outros códigos para que ele seja considerado literalmente um código. Todos os códigos requerem convenções, tal como o código de um programa de computador requer o código fonte. A convenção é algo combinado e requer de facto inteligencia e intencionalidade. Isso não existe na “codificação do ADN”, e de facto o próprio Watson Crick que descobriu o ADN e cunhou o termo no sentido biológico admite que a palavra mais correcta para usar seria “cifra” mas que código era mais sonante.
A imagem saquei da wikipédia.
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