sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Anti-vacinação

De toda a pseudociência que tem invadido o nosso país a única que ainda não vi ganhar fortes defensores é a da teoria anti-vacinação que diz que a vacinação é causa de autismo. Os osteopatas há muito que são contra a vacinação mas nos Estados Unidos, que desde a ultima administração são um manancial de teorias da conspiração, a coisa tornou-se um fenómeno de rua, com artigos na “Rolling Stone”, campanhas com génios como a Britney Spears e uma série de outros peritos instantâneos a defender que a vacinação é ela própria uma conspiração de grandes farmacêuticas e da medicina.

É difícil exagerar nas vantagens que as campanhas de vacinação tiveram na saúde pública, e de como estas fazem ainda hoje tanta falta no terceiro mundo. Que as vacinas podem ter efeitos adversos também não é novidade, mas não é disso que se trata. Os riscos largamente compensam os benefícios, mas também não é disso de que se trata. Trata-se de um risco que não existe.
Trata-se de manipulação da opinião pública. Trata-se de mais uma onda de pseudociencia, para não variar acoplada a uma teoria da conspiração, com efeitos perto do criminoso na saúde infantil. A associação da vacinação ao autismo é tão treta como a ideia de que a terra é plana.
Numerosos estudos nos últimos anos, alguns em grande escala, tem vindo a demonstrar não existir relação de causa efeito. No entanto, esses peritos instantâneos, que dizem que sabem mais que a comunidade científica em peso, continuam a defender o impensável. Entre eles encontra-se Robert F. Kennedy Jr. ,politico notavel que começa a ser apontado como possível nomeado para a pasta do ambiente por Obama.

A comunidade científica começa a ficar inquieta com tal possibilidade, nomeadamente os médicos. A perspectiva de mais uma administração que quer transformar a ciência num assunto político é transtornante. Proponho a leitura dos blogues dos médicos americanos Steve Novella (1)e Orac(2)sobre este assunto. Ler os comentários é de extremo interesse também, sobretudo do blogue do Orac, onde a questão que se discute é o que se poderá fazer para evitar isso.

Esta pode ser mais um post com uma pitada de política, mas como tenho visto, a maior parte dos bloguistas de ciências até concorda comigo. O que se fizer na América vai ter repercussões no mundo inteiro. Espero não me ter enganado acerca da vitória de Barack Obama, não por mim, mas pelo que isso representa. A verdade é que esta possibilidade me deixa preocupado


(1) http://www.theness.com/neurologicablog/?p=414
(2)http://scienceblogs.com/insolence/2008/11/say_it_aint_so_barack_say_you_aint_serio.php
PS: As vacinas em causa são as contendo timerosal.

4 comentários:

Anónimo disse...

Apenas uma palavra: timerosal.

http://www.fda.gov/CbER/vaccine/thimerosal.htm#tox

No caso de adultos, estes têm o direito a recusar tratamento de forma discrecionária, no caso das crianças embora moralmente seja mais complicado de justificar esse direito deve recair nos progenitores/tutores.

Rui leprechaun disse...

In its report of October 1, 2001, the IOM's Immunization Safety Review Committee concluded that the evidence was inadequate to either accept or reject a causal relationship between thimerosal exposure from childhood vaccines and the neurodevelopmental disorders of autism, attention deficit hyperactivity disorder (ADHD), and speech or language delay. Additional studies were needed to establish or reject a causal relationship. The Committee did conclude that the hypothesis that exposure to thimerosal-containing vaccines could be associated with neurodevelopmental disorders was biologically plausible.

The Committee believed that the effort to remove thimerosal from vaccines was "a prudent measure in support of the public health goal to reduce mercury exposure of infants and children as much as possible." Furthermore, in this regard, the Committee urged that "full consideration be given to removing thimerosal from any biological product to which infants, children, and pregnant women are exposed."



Só isto deveria bastar para comprovar a inanidade de todos aqueles que continuam a pretender tapar o sol das evidências com a peneira das conveniências.

É extremamente lamentável, e isto para empregar um eufemismo, que se possa utilizar o mentiroso labelo de anti-vacinação em relação a um movimento crescente de pais responsáveis e preocupados que apenas pretendem que o mercúrio seja definitivamente banido como conservante de TODAS as vacinas e quaisquer outros produtos farmacêuticos, já que ele não tem lugar no metabolismo humano, sendo apenas reconhecido como um poderoso neurotóxico. Que tenha sido possível a administração de um tal veneno a recém-nascidos e bebés de poucos meses, durante 7 dezenas de anos é absolutamente inexplicável, sobretudo após o gravíssimo envenenamento na cidade japonesa de Minamata.

Aliás, a mera leitura de toda esta história e os longos anos em que todo o caso foi encoberto, enquanto as vítimas se continuavam a acumular, é um excelente (tristíssimo) paradigma da presente controvérsia tenebrosa em torno do tiomersal... mercúrio!... e o seu uso mais de 40 anos após a calamidade japonesa! Verdadeiramente elucidativo do interesse da indústria farmacêutica e as entidades reguladoras, na saúde e segurança da população que supostamente deveriam servir.

A questão central nem é a da possível correlação entre o tiomersal e o autismo ou outras desordens do foro cognitivo nas crianças, uma vez que não existe uma relação de causalidade comprovada, mas ela é tão somente biologically plausible, o que já é dizer bastante!

Aquilo que mais deve ser salientado é que a adição desse conservante apenas se torna necessária em vacinas que NÃO são produzidas em doses individuais, mas múltiplas. Quer isto dizer que teria sido possível logo desde o início, ou no mínimo desde o envenenamento pelo mercúrio, em Minamata, eliminar a necessidade do tiomersal simplesmente fabricando somente doses individuais, o que apenas teria como consequência o aumento da despesa em embalagens, sem qualquer outra relevância médica.

Este sim, é um horrendo exemplo de economicismo criminoso, tanto mais que há vacinas administradas quase logo à nascença, e que sempre contiveram mercúrio até há poucos anos. Actualmente, várias vacinas contra a gripe e ainda contra o tétano, contra a difteria, contra a encefalite e contra a meningite continuam a ter o tiomersal como conservante, em doses de 25 µg/0.5 ml.

Logo, apesar da situação ter melhorado nos últimos anos, o mercúrio continua a ser injectado em bebés de tenra idade, o que invalida as afirmações dos que afirmam não se ter assistido a nenhuma diminuição nos casos de autismo após a eliminação do tiomersal nas vacinas, já que este continua a ser usado em várias delas... espantoso!

Por fim, a correlação entre a vacinação e o autismo deve também ser estudada em crianças que nunca foram vacinadas, como é o caso de algumas comunidades religiosas nos EUA, entre outros exemplos.

Este artigo é bastante elucidativo quanto a esta hipótese, a qual parece que ainda não mereceu até hoje honras de estudo aprofundado.

The Age of Autism

Muitíssimo mais há ainda a dizer sobre tudo isto, até porque a génese dos factores ambientais nestas gravíssimas desordens neurológicas não é despiciendo. Ainda para mais, quando nenhuma causa ou explicação segura foi ainda avançada, todas as hipóteses são possíveis e todo o cuidado é pouco!


PS: Sem esquecer a fortíssima agressão representada pelas vacinas tríplices, e a coincidência (?) temporal da sua administração com a regressão no desenvolvimento cognitivo e afectivo de muitos bebés submetidos a elas.

João disse...

Leprechaun:

Na practica, o que esta a resultar da campanha acerca da associação entre o autismo e a triplice é na anti-vacinação. Daí o título.

O objecto da discordia é se o autismo pode ou não ser causado pelo uso de determinadas vacinas. É isso que é usado nas campanhas anti-vacinação, é sobre isso que é o post.

Se me parece boa ideia injectar compostos com mercurio nas crianças. Não, não me parece, mas o mundo não é a preto e branco. E a diferença entre uma dose e outra de uma substancia pode fazer a diferença. Se o melhor que arranjaram até agora para atacar essas vacinas foi a questão infundada do autismo, então provavelmente a segurança é elevada. De qualquer modo, tanto quanto sei, esta-se a procurar eliminar o mercurio das vacinas.

Para tua informação eu tambem sou um pai preocupado, e na revisão do problema que fiz cheguei à conclusão que não há razões para este alarme. Trata-se de má interpretação de resultados (correlação não é garante de causa), com muita desinformação à mistura.

Se aparecer um estudo que mostre que o problema é real eu mudo de ideias e faço um novo post.

Até lá, não tem base cientifica ou médica.

Por isso o label de anti-vacinação é aplicavel no caso de uma campanha infundada, levada a cabo por pais, politicos e estrelas à procura de protagonismo, que não pensam nas consequencias do que fazem. Porque se é verdade que eu sinto compaixão pelos pais de crianças autistas, não lhes dou o direito de procurar um bode-espiatório qualquer que ainda por cima pode causar danos aos outros.

Como o Ludwig chamou a atenção no seu blogue, vacinar não é só para proteger o vacinado. É para proteger tambem o que os rodeiam.

Já agora, lê o link deixado pelo anonimo acima. Também é interessante.

João disse...

E lê o que o Neurologista académico de Yale, S. Novella tem a dizer sobre o assunto:

Aqui:
http://www.csicop.org/si/2007-06/novella.html