A preocupação da ciência, aquilo que é o seu objecto são os factos. Sejam eles quais forem. Se acontece, então é passível de ser cientificamente estudado. E como nunca é demais referir, os cientistas são ávidos por factos. Sobretudo se forem novos e trouxerem novas hipóteses a considerar. A crença de que a ciência nega factos à partida é falsa. E tem sido um argumento abusivo por parte de quem defende fenómenos sobrenaturais e outros tipos de bruxaria. Não existem fenómenos sobrenaturais. Se esses fenómenos existirem, sejam quais forem, então são tão naturais como o orvalho matinal ou a evolução das espécies.
Não estou a dizer que não existem anomalias na investigação científica, ou seja resultados que não correram como o esperado e não têm aparente explicação. Mas essas anomalias são quase sempre interpretadas como erros de metodologia e as experiências são repetidas e normalmente a anomalia não. Se se repete, deixa de ser uma anomalia e passa a ser um facto que carece explicação, o que vai deixar a comunidade cientifica excitadíssima e em cerrada competição para encontrar primeiro a explicação. As histórias de cientistas que abdicam em grande parte da vida pessoal em busca de explicações não são fantasia. Einstein era em muitos aspectos um exemplo.
O problema dos alegados fenómenos sobrenaturais ou paranormais, e a razão pela qual continuam a sê-lo (sobrenaturais) é porque não se repetem quando existem condições de os descrever rigorosamente. Nunca passam da narrativa pessoal com apelo incondicional da credulidade do leitor ou ouvinte. E essa narrativa nunca é rigorosa e está sempre marcada por interpretações individuais, em muitos casos até, por pessoas que são elas próprias crédulas, não estando a tentar enganar ninguém conscientemente, mas estando elas próprias enganadas.
Apesar de haver defensores que esses fenómenos se repetem sempre em determinadas condições (se não, não era possível haver consultas espíritas, leituras de aura, energias inteligentes, medicinas “alternativas”, etc.), as tentativas efectuadas para o verificar cientificamente dão sempre para dois lados. Ou fraude ou nada de novo.
Alguns defensores do paranormal, cuja honestidade até é de registar, alegam que a ciência não os pode verificar porque eles ocorrem com uma frequência inferior ao acaso. Mas isto é o mesmo que dizer que esses fenómenos são coincidências mal interpretadas. Se eu adivinhar em 50% das vezes de que lado uma moeda vai cair, com que lógica posso argumentar que em essas 50% das vezes o sucesso foi devido a conseguir prever o futuro?
O exemplo que eu dei foi óbvio, mas algumas alegações de médium tiveram de ser submetidas a análise matemática para se explicar a realidade, ou não realidade. Resumidamente, quando se começam a lidar com muitas hipóteses e com muitos factos simultaneamente, a percepção humana é levada a reter as hipóteses correctas e esquecer as falsas. As hipóteses são também formuladas com um fraco grau de especificidade para poderem ser consideradas certas numa variedade de cenários diferentes. Diminuir a especificidade aumenta sempre a sensibilidade, ou seja a probabilidade de ter um positivo (Diz-se que aumenta a quantidade de falsos positivos).
Por exemplo, isto é o que é feito na astrologia e naqueles programas de televisão em que um médium procura na audiência alguém que tenha um familiar que tinha um colar vermelho. E depois o colar passa a pulseira, depois a lenço, depois a relógio. E depois diz que o nome dessa pessoa é algo como Lara. E depois passa a Clara e depois a Mara e finalmente entre as 50 pessoas alguém conhece uma Sara. Em relação à nossa vida pessoal, além do truque de debitar muitas hipóteses inespecíficas por unidade de tempo ainda há a ter em conta aquilo que é chamado na língua Inglesa de “cold reading”. Que resumidamente é a capacidade que algumas pessoas têm de tirar conclusões a partir de pequenos detalhes. E aqui não há nada de sobrenatural. Trata-se de se conhecer bem a espécie humana, o mundo e de se ser um bom observador. As histórias do Sherlock Holmes ilustram esta noção, ainda que com um personagem fictício.
Isso ajuda a debitar menos hipóteses, mas graças à riqueza da nossa vida pessoal o mesmo método de “adivinhação” pode ser usado. Experimente-se, usar um horóscopo da semana anterior e pedir a alguém que o leia, de Janeiro a Dezembro, sem dizer o título, para ver se consegue acertar qual era o correspondente ao seu signo. Se pelo menos metade deles não for razoavelmente adequado, o astrólogo em questão devia ter umas aulas de psicologia.
Isto tudo para dizer que as crenças no paranormal são isso mesmo, apenas crenças, ou na melhor das hipóteses, como eu tenho lido na sua defesa, opiniões. E as opiniões têm de ser respeitadas.
Tudo bem, as opiniões têm de ser respeitadas. Eu respeito quem me diga que a trilogia do Senhor dos Anéis é uma grande obra, mas se me disserem que aquilo tudo aconteceu realmente e eu negar estou a desrespeitar uma opinião? Não. Porque não era uma opinião, era uma afirmação de que algo era factual quando não era. Era uma refutação. E qualquer sistema cognitivo decente tem de ser aberto à refutação. É um garante da qualidade na ciência por assim dizer.
O problema é que esses alegados fenómenos bizarros não são factos. Não acontecem. E começo mesmo a achar que os cientistas mais sérios deviam deixar de gastar dinheiro com isto. Os resultados são sempre os mesmos. Já para não falar que incluem sempre uma serie de pressupostos que também não se verificam.
Por isso digo opiniões são opiniões, factos são factos. Venham eles. E a minha opinião muda. Mas sinceramente, perdi as esperanças há muito tempo.
Não estou a dizer que não existem anomalias na investigação científica, ou seja resultados que não correram como o esperado e não têm aparente explicação. Mas essas anomalias são quase sempre interpretadas como erros de metodologia e as experiências são repetidas e normalmente a anomalia não. Se se repete, deixa de ser uma anomalia e passa a ser um facto que carece explicação, o que vai deixar a comunidade cientifica excitadíssima e em cerrada competição para encontrar primeiro a explicação. As histórias de cientistas que abdicam em grande parte da vida pessoal em busca de explicações não são fantasia. Einstein era em muitos aspectos um exemplo.
O problema dos alegados fenómenos sobrenaturais ou paranormais, e a razão pela qual continuam a sê-lo (sobrenaturais) é porque não se repetem quando existem condições de os descrever rigorosamente. Nunca passam da narrativa pessoal com apelo incondicional da credulidade do leitor ou ouvinte. E essa narrativa nunca é rigorosa e está sempre marcada por interpretações individuais, em muitos casos até, por pessoas que são elas próprias crédulas, não estando a tentar enganar ninguém conscientemente, mas estando elas próprias enganadas.
Apesar de haver defensores que esses fenómenos se repetem sempre em determinadas condições (se não, não era possível haver consultas espíritas, leituras de aura, energias inteligentes, medicinas “alternativas”, etc.), as tentativas efectuadas para o verificar cientificamente dão sempre para dois lados. Ou fraude ou nada de novo.
Alguns defensores do paranormal, cuja honestidade até é de registar, alegam que a ciência não os pode verificar porque eles ocorrem com uma frequência inferior ao acaso. Mas isto é o mesmo que dizer que esses fenómenos são coincidências mal interpretadas. Se eu adivinhar em 50% das vezes de que lado uma moeda vai cair, com que lógica posso argumentar que em essas 50% das vezes o sucesso foi devido a conseguir prever o futuro?
O exemplo que eu dei foi óbvio, mas algumas alegações de médium tiveram de ser submetidas a análise matemática para se explicar a realidade, ou não realidade. Resumidamente, quando se começam a lidar com muitas hipóteses e com muitos factos simultaneamente, a percepção humana é levada a reter as hipóteses correctas e esquecer as falsas. As hipóteses são também formuladas com um fraco grau de especificidade para poderem ser consideradas certas numa variedade de cenários diferentes. Diminuir a especificidade aumenta sempre a sensibilidade, ou seja a probabilidade de ter um positivo (Diz-se que aumenta a quantidade de falsos positivos).
Por exemplo, isto é o que é feito na astrologia e naqueles programas de televisão em que um médium procura na audiência alguém que tenha um familiar que tinha um colar vermelho. E depois o colar passa a pulseira, depois a lenço, depois a relógio. E depois diz que o nome dessa pessoa é algo como Lara. E depois passa a Clara e depois a Mara e finalmente entre as 50 pessoas alguém conhece uma Sara. Em relação à nossa vida pessoal, além do truque de debitar muitas hipóteses inespecíficas por unidade de tempo ainda há a ter em conta aquilo que é chamado na língua Inglesa de “cold reading”. Que resumidamente é a capacidade que algumas pessoas têm de tirar conclusões a partir de pequenos detalhes. E aqui não há nada de sobrenatural. Trata-se de se conhecer bem a espécie humana, o mundo e de se ser um bom observador. As histórias do Sherlock Holmes ilustram esta noção, ainda que com um personagem fictício.
Isso ajuda a debitar menos hipóteses, mas graças à riqueza da nossa vida pessoal o mesmo método de “adivinhação” pode ser usado. Experimente-se, usar um horóscopo da semana anterior e pedir a alguém que o leia, de Janeiro a Dezembro, sem dizer o título, para ver se consegue acertar qual era o correspondente ao seu signo. Se pelo menos metade deles não for razoavelmente adequado, o astrólogo em questão devia ter umas aulas de psicologia.
Isto tudo para dizer que as crenças no paranormal são isso mesmo, apenas crenças, ou na melhor das hipóteses, como eu tenho lido na sua defesa, opiniões. E as opiniões têm de ser respeitadas.
Tudo bem, as opiniões têm de ser respeitadas. Eu respeito quem me diga que a trilogia do Senhor dos Anéis é uma grande obra, mas se me disserem que aquilo tudo aconteceu realmente e eu negar estou a desrespeitar uma opinião? Não. Porque não era uma opinião, era uma afirmação de que algo era factual quando não era. Era uma refutação. E qualquer sistema cognitivo decente tem de ser aberto à refutação. É um garante da qualidade na ciência por assim dizer.
O problema é que esses alegados fenómenos bizarros não são factos. Não acontecem. E começo mesmo a achar que os cientistas mais sérios deviam deixar de gastar dinheiro com isto. Os resultados são sempre os mesmos. Já para não falar que incluem sempre uma serie de pressupostos que também não se verificam.
Por isso digo opiniões são opiniões, factos são factos. Venham eles. E a minha opinião muda. Mas sinceramente, perdi as esperanças há muito tempo.
Continuação sugerida:
12 comentários:
Olá, João. Precisamente: factos facti sunt e as opiniões pertencem a outro saco.
Os fenómenos ditos sobrenaturais organizam-se em dois grandes grupos: os de manifestação fictícia e os de manifestação real. Estes segundos são, na verdade, fenómenos naturais que, por sua vez, explicam-se, cientificamente. Acontece, porém, que, se nalguns casos a explicação científica atinge um consenso perto da unanimidade, noutros, porque o cepticismo teimoso pode ser tão pernicioso quanto a crendice acrítica, a explicação científica mantém-se com científica mas impermeável a uma aceitação que a valide em termos globais.
Saberá, certamente, que decorreram séculos para que se validasse o heliocentrismo e a penas por que passaram, até então, os seus defensores. A História recorda-nos o vaor incomensurável do Tempo.
Não lhe peço, obviamente, que se torne crente mas... não perca as esperanças, homem! ;-)
Denise:
Crendice acritica não é ciencia.
E já agora aproveito para lhe perguntar. Como conseguiu apagar mensagens no meu blog?
Onde é que eu afirmei que crendice acrítica era ciência ?!
Qualquer pessoa consegue apagar os comentários que redige em qualquer blogue. Mas só os seus próprios comentários. Faça essa experiência num blogue qualquer...
Apaguei os meus porque o teclado está a falhar e o texto chegou cheio de gralhas...
Denise:
Obrigado pela informação, não sabia. Pensei que só eu podia apagar comentarios. O meu blog so tem uns meses como pode ver.
Em relação à questão anterior, tem razão de facto não diz. O que diz acerca da ciencia é: "...mas impermeável a uma aceitação que a valide em termos globais".
Quer esclarecer?
Vou agora dar aulas... esclareço à noitinha :)
O João pode apagar os comentários eliminados, para não ficar tão feio :)
... feio, o layout e não o João... :)))))
Olá, João. De regresso e com o esclarecimento devido: "Acontece, porém, que, se nalguns casos a explicação científica atinge um consenso perto da unanimidade, noutros, porque o cepticismo teimoso pode ser tão pernicioso quanto a crendice acrítica, a explicação científica mantém-se com científica mas impermeável a uma aceitação que a valide em termos globais." Procurei explicar esta afirmação através do recurso à teoria heliocêntrica como exemplum. Terá sido um choque, na altura,(e sabemos que assim foi) a dissolução da perspectiva geocêntrica. Apesar das evidências, a ciência protestou e protelou... durante um largo tempo.
Mutatis mutandi, há evidências que a ciência "canonizada" não reconhece nem valida, marginalizando os cientistas que as apresentam fundamentadamente.Isto é: factos e não opiniões (se bem que nem a perspectiva científica esteja isenta da vertente opinião - mas esta é outra conversa.
Resumindo: o sobrenatural não existe e a ciência, com o tempo, encarregar-se-á de explicar a naturalidade de todas as coisas.
O que se pode, entretanto, ponderar, é se o conceito com que uso o termo «naturalidade» é o mesmo com que o apreende...
Espero ter sido clara.
Aproveito para num à-parte manifestar o meu desagrado pela deselegância com que, nos seus comentários mais recentes, se dirigiu ao conjunto de pessoas que procuraram desmistificar conceitos ali no DRN e no qual me enquadro... :-(
edenise:
Nenhuma das alegações que faz acerca da ciencia é pertinente. E não, factos bem documentados e reproduciveis não são negados, como não me canso de repetir. Quanto às teorias, essas estão sempre a ser postas à prova. Falei sobre isso nas minhas entradas "o metodo cientifico", "consenso cientifico", "certezas? não tenho a certeza." e "opiniões são opiniões, factos são factos"
Quanto a elegancia, que elegancia ha na sua referencia a Copernico? Sabe em que seculo ele viveu? Não me vai falar do apredejamento até à morte do senhor que inventou a roda!!! E a insistencia na credulidade alheia que os espiritas fazem para serem ouvidos, é elegante? E o abuso que fazem do conceito de ciencia?! (presumivelmente para poderem continuar a tirar proveito da tecnologia). Não é deselegante? E eu ter pedido referencias factuais desde o principio e não vir nem um! E acusarem constantemente a opiniao alheia de os insultar enquanto reservam para si proprios o direito de alegar à toa o que bem vos apetece, chamar cegos, ignorantes, etc, aos outros? Isso não é deselegante? Irra...
E depois voces passam a vida a dizer que "os outros" videntes e espiritas é que são os charlatões. E a opinião deles, já não é de respeitar? Qual é a diferença? Como se distinguem entre voces os "bons" dos "maus" se a vossa taxa de sucesso (la naquilo que alegam) é a mesma?
A vossa teoria cor de rosa não se torna verdade so porque vos parece que era bom!
Denise:
E diz:"Resumindo: o sobrenatural não existe e a ciência, com o tempo, encarregar-se-á de explicar a naturalidade de todas as coisas."
Isto significa o que? Que vamos ter de acreditar em qualquer coisa provada ou não, argumentando na possibilidade de uma prova futura?
Qual é a elegancia deste raciocínio?
A referência a Copérnico era um exemplo. A História está recheada de exemplos que nos sao úteis no presente para a construção do futuro. Não é novidade para si, por isso, não percebo que não tenha compreendido a referência que optei por apresentar.
Quanto ao resto, continua a confundir tudo, mesmo depois das anteriores tentativas de elucidação... por isso ficamo-nos por aqui. Até porque não gostamos, ambos, de retórica que possamos considerar deselegante: nem eu da sua nem o João da minha.
Despeço-me com uma observação positiva relativamente à construção do seu post mais recente.
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