terça-feira, 29 de março de 2011

Bem vindo ao seu cérebro.

"Bem vindo ao seu cérebro" é a tradução literal do nome do livro vendido  em Portugal com o titulo "Cérebro - Manual do Utilizador".  Tinha sido muito mais correcto manter o sentido original do titulo, já que o livro ensina muito mais acerca do que é o cérebro do que o que devemos fazer com ele. É certo que sabendo como funciona podemos ter uma ideia melhor de como o usar, e o livro está cheio de pequenas notas práticas sobre o que melhora ou piora o funcionamento deste órgão. É um pormenor insignificante, mas apeteceu ser picuinhas já que  gosto muito mais do titulo original. E é menos pomposo. Adiante.

A simplicidade com que está escrito, por vezes com uma prosa infantil de livro de escola, esconde não só o trabalho enorme de bastidores que tem um livro com este conteúdo, como a pertinência e rigor cientifico do próprio conteúdo.  

Não carrega demasiado na forma como se chegou a esta ou aquela conclusão, não está quase referenciado em relação a quem descobriu o quê ou quem disse o quê. É um livro de divulgação cuja maior ambição me parecer ser o de poder ser lido por todos.

Aconselho a todos os que quiserem uma abordagem leve (enganadoramente leve) mas não inconsistente ou incorrecta do que se sabe actualmente sobre o mais complexo órgão do nosso corpo. E para tirar a teimas sobre uma data de mitos que por aí circulam.


Cérebro - Manual do Utilizador, pela Pergaminho
ISBN 9789727118571




segunda-feira, 28 de março de 2011

Simplicidade Revisitada.

Princípios de Simplicidade



A Lâmina de Occam, Elegância e Parcimónia



Um dos princípios mais unanimemente aceites em todo o processo do conhecimento humano parece ser o de que a simplicidade de uma explicação ou teoria é uma vantagem. Em vários aspectos, se não todos.



Desde filósofos a cientistas e até teólogos, todos ou quase todos, têm incluída na sua caixa de ferramentas a simplicidade. De facto, o seu primeiro enunciado é atribuído geralmente a Aristóteles e parece coincidir com os princípios do conhecimento em si mesmo (no mundo ocidental). A nossa filosofia nasce aí. Aristóteles disse:



“Quando todos os outros aspectos são idênticos, deve aceitar-se como superior a demonstração que deriva de menos hipóteses ou postulados”



Muito mais recentemente, Einstein dizia que “uma teoria deve ser tão simples quanto possível, mas não mais do que isso”.



Passando por Kant, Popper, Tomás de Aquino, Newton, Galileu, Lavoisier, são muitos os que têm defendido uma versão ou outra dos princípios de simplicidade no conhecimento. Têm sido princípios extremamente fecundos. A justificação de porque é que a simplicidade é uma virtude metodológica ou epistemológica é que é mais complicada. (E até mesmo se é uma virtude metodológica ou epistemológica ou ambas, mas isso está para além do âmbito deste texto.)



Embora os princípios de simplicidade estejam intrinsecamente relacionados e não sejam claramente distintos, a tentativa de os explicar obriga a que sejamos concretos (simples?) a dizer a que nos estamos a referir. E isso leva a criar definições. De acordo com os filósofos, logo numa primeira abordagem, temos de separar a simplicidade em dois princípios:



A simplicidade sintática ou elegância e a simplicidade ontológica ou parcimónia.



A simplicidade sintática diz respeito ao número e clareza das hipóteses que são necessários para a explicação.



E a simplicidade ontológica diz respeito ao número de novas entidades que temos de postular para explicar algo.



A Lâmina de Occam é vulgarmente considerada como referindo-se a simplicidade ontológica e é frequentemente enunciada assim: “As entidades não devem ser multiplicadas para além do necessário”.



Esta distinção é importante não só pelas tentativas de justificação serem diferentes, mas porque existe por vezes um compromisso entre um aspecto e outro da simplicidade. Digamos que ao acrescentar de um lado estamos a tirar do outro. E é preciso ver para que lado a balança pende.



Por exemplo: Dizer que o vento é o resultado de um ser mágico como a fada-do-vento, é uma explicação elegante. É sintaticamente simples. E é completa para o que se propõe. A vontade da fada explica o vento. Mas é uma explicação ontologicamente complexa, pois leva a ter de postular uma entidade extra para explicar o vento. Se tirarmos a fada da explicação, temos de nos socorrer de uma bateria enorme de outros conhecimentos para explicar porque há vento a soprar. É sintaticamente mais complexa. O equilíbrio da importância destes aspectos, qual é que valorizamos mais, também não é claro. Neste caso, a atribuição de intencionalidade a fenómenos naturais, o apelo ao sobrenatural, fez sentido como sendo a resposta mais simples, até muito recentemente, quando aspectos de uma explicação naturalista se tornaram evidentes.



O contexto em que se julga uma teoria é importante, obviamente. Aquilo que se sabe é importante. Para o que se sabia, digamos, há 6000 anos atrás, aquela resposta podia ser a mais elegante e a mais parcimoniosa possível – notar que os princípios não dizem que não podemos postular novas entidades, apenas que devemos evitar fazê-lo se para isso não comprometermos poder explanatório.



Para continuar com este exemplo e agora colocando-nos no contexto cientifico dos dias de hoje, este é um caso em que é fácil explicar a razão porque devemos preferir a simplicidade.



Como todos os mecanismos e entidades usados para explicar a deslocação de massas de ar à superfície da Terra estão eles próprios bem estabelecidos e provados, (assim como os passos intermédios), isto leva a uma situação “fácil” de justificar em que de um lado, temos a explicação científica, e do outro, a explicação científica mais a fada, em que a fada-do-vento aparece como uma entidade neutra, não interventiva – e portanto sem significado explanatório. Em suma, não faz sentido dizer que a fada lá está de qualquer maneira, apesar de ser igual a não estar para todos os efeitos. Vejamos:



A= explicação científica.



B= explicação científica + fada



A é melhor que B se ambas são iguais em tudo o resto. Porque assim, a fada não está lá a fazer nada. Acaba assim por tornar a teoria mais complicada do que aquilo que queremos explicar, e a isso chama-se complicar. E quem diz a fada, diz qualquer outra coisa que seja supérflua.



Podemos sempre adornar uma teoria com entidades a gosto se as fizermos neutras, mas se esse é o caso, porque o haveríamos de fazer? Não com a desculpa de estarmos a compreender ou a explicar melhor algo. Se a verdade é que essa entidade está de facto lá, sem fazer nada, é melhor dizer que então ela não pertence à explicação. Dizer que ela é neutra e passiva é também dizer que não há maneira de ter informação sobre ela. Se há maneira de saber, então vai haver mais tarde ou mais cedo uma diferença pratica entre os testes às duas teorias.



Mas casos tão claros como este não são a regra no meio da discussão científica e filosófica. As situações em que as teorias dizem exactamente o mesmo (ou fazem as mesmas previsões) são raras, e além disso é preciso pesar diferentes aspectos de como se mede a simplicidade e do que queremos com ela. A justificação de porque é que a teoria mais simples é a melhor, segundo Sober (1994) por exemplo, deve ser feita caso a caso – o que em última análise torna estes princípios inúteis, já que nos obrigaria sempre a ter outra justificação que não a simplicidade. O que a tornaria supérflua, pelas suas próprias indicações.



Haver outra justificação é de facto o que acontece a maior parte das vezes, mas a posteriori. Felizmente temos mais ferramentas. Que acabam precisamente por mostrar que a explicação mais simples era a maior parte das vezes, a melhor.



Os princípios de simplicidade são úteis desde a investigação policial ao diagnóstico médico. Apenas por vezes se torna difícil dizer qual a teoria mais simples:



Em que medida? Em termos ontológicos ou sintáticos, qual é mais importante? Em termos de quantidade, ou qualidade isto é, número versus variedade? E com que objectivos? Para decidir o ónus da prova, para saber que teoria tem mais probabilidade de estar certa ou para dizer qual permite um campo de investigação mais frutuoso? Ou para dizer qual está mais perto da verdade?



Podemos dizer que justificamos a simplicidade porque sabemos que funciona. Ou seja, usando a indução. Usamos como prova tudo o que se conseguiu explicar e prever recorrendo a estes princípios. Mas aqui caímos no problema de justificar a indução. E analogamente estamos a explicar a simplicidade com as coisas a que ela própria deu origem, o que é uma regressão infinita.



No entanto, se o universo se comportar sempre como até agora, (facto que se tivéssemos como certo seria uma justificação para a indução, pois a questão da causalidade estaria simplificada), não há grande perigo em depositar alguma confiança na simplicidade. Não há razão para acreditar que ela vá agora de repente deixar de funcionar. Pelo menos se além disso, o cérebro humano não perder a tendência natural que tem para complicar e que é compensada por esta crença na simplicidade.



Talvez estes princípios tenham de ser tomados mais correctamente como sendo pressupostos básicos para questionar quando soubermos o suficiente, mas não para já.



Esta crença é de tal modo difícil de justificar que Einstein dizia mesmo que era o que o cientista tinha de mais parecido com a fé religiosa. A crença na simplicidade.



A título de nota e para não prolongar este texto demasiado vou mencionar apenas o tipo das tentativas actuais de justificar a simplicidade:



De acordo com o princípio de simplicidade em causa:



1- Justificações a priori, metafisicas ou teológicas para a parcimónia e elegância

2- Justificações naturalistas e científicas para a parcimónia (simplicidade ontológica)

3- Justificações por estatística e probabilidades para a elegância.

Bibliografia: Entrada "simplicity" na Stanford Phylosophy Enciclopaedia on-line


domingo, 27 de março de 2011

Falsificacionismo. Demonstração gráfica.

Falsificacionismo.

Popper dizia que se não é falsificavel não é ciência. Porquer?

A preto são os dados reais que podem ser obtidos. A vermelho os previstos pela teoria.
Como me diverti bastante a fazer o outro post do "ensaio visual" acerca da completude e consistência  e como há muita gente que não compreende o porquê da necessidade do falsificacionismo, decidi explicar o dito cujo de um modo gráfico.

O que está na imagem acima não é um peixe maluco. A linha grossa a preto representa os dados que a natureza tem para dar acerca de determinado aspecto da sua existencia. Dados esses que nós ainda não conhecemos todos. Temos no entanto o modelo A, que foi feito com os dados conhecido até então, imaginemos por exemplo com os da parte mais final de todas da cauda (por isso puz o olho à frente, para que não haja duvidas do que estou a falar, a ciencia é mesmo assim). Os resultados que o modelo A devolve são toda a area a vermelho e que inclui uma grande parte da linha grossa preta - a que corresponde à realidade.

Conclusões:
Isto quer dizer que se não testarmos o que a teoria promete que vai acontecer, nunca vamos saber que ela está bastante errada - area vermelha à volta da linha preta.

Pois se apenas compararmos os dados experimentais (sem testar as previsões teorias, portanto a linha a preto) e tentarmos ver se encaixam na teoria, eles vão encaixar sempre. Mas a teoria está errada. Tem muitos falsos positivos. É demasiado vaga. E fazer teorias vagas é facil e não é cientifico.

Ao eliminar teorias com muitos falsos positivos estamos a fazer teorias mais especificas. Menos vagas. Que são realmente sobre o que estamos a tentar explicar.

Se a teoria prevê correctamente medições que de outro modo não eram esperadas, é porque temos uma boa razão para achar que conhecemos o comportamento da entidade que pretendemos conhecer. Se a teoria é capaz de prever o que acontece a seguir ( em todos os aspectos), é uma demonstração que sabemos algo acerca do como as coisas se processam. É uma maneira de ultrapassar alguns problemas relacionados com a indução como fonte de conhecimento.

É por isso que uma teoria explicar resultados conhecidos e acertar em resultados previstos são coisas diferentes. Um milagre é uma explicação que abrange tudo. Mas não faz previsões sobre observações expecificas, por isso não é cientifica. Na realidade não explica nada, é apenas passar de um mistério para outro. Mas depois de perceber o falcificacionismo isso fica mais fácil de perceber.

domingo, 20 de março de 2011

O que pensam os filósofos.

Crentes de variadas teorias e entidades imaginadas gostam de dizer que as suas entidades se provam filosoficamente.

A lei acercas das medicinas alternativas existe porque o Jorge Sampaio quando era Presidente da República decidiu que tínhamos de deixar a porta aberta a outras "filosofias" para explicar a doença.

Os crentes em deus falam em provas metafísicas e insistem que a ciência não pode testar deus, sem com isto perceberem que estão a dizer que deus não existe para todos os efeitos.

Os relativistas mais extremos - felizmente raros - insistem que tudo depende do observador e da sua filosofia, portanto afirmando que não haverá uma realidade extra cognitiva.

Por outro lado, sabendo que em qualquer actividade (desde a ciência à moral, à politica, etc)  há sempre uma minoria que defende franjas rídiculas de pensamento, é importante saber o que é mais provável que seja a melhor conclusão.

Ou seja, é importante conhecer os consensos para saber o que pensa a maioria dos experts de uma determinada área, pois de outro modo ficamos com uma data de teorias contraditórias defendidas por vezes por lunáticos. Não estando por dentro do grupo de especialistas, a nossa melhor aposta é tentar saber o que a maioria pensa.


Então o que pensam os filósofos? Na maioria das coisas estão em desacordo - tal como eles próprios já tinham previsto. O que revela que há coisas que ainda não sabemos minimamente sequer como abordar.

Mas há outras que são consensuais.

Que a realidade existe. Que deus não existe. Por exemplo.

Mesmo o Naturalismo tem 49% de "votos a favor". Contra 25% de Não-naturalismo ou 25% de Outro.

O Relativismo só é defendido por 2,9%.

Por isso, definitivamente dizer que a filosofia serve para provar tudo o que passa pela cabeça de alguém é treta. Isso é filosofia de franjas. É escolher as cerejas. É má argumentação. É uma falácia de apelo à autoridade, já que pretende em inúmeros casos valer por si só.

A maioria dos filósofos reconhece que há coisas que são treta. E que há coisas para as quais não temos resposta. Mas o que não se sabe não prova nada.

Ver mais aqui:

(notícia)  http://www.gmilburn.ca/2009/12/11/reality-morality-controversy-and-consensus-in-philosophy/

E aqui a página do estudo:

http://philpapers.org/surveys/results.pl

Via Facebook, Pedro Amaral Couto.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ser apenas placebo é pouco. Muito pouco.

O efeito placebo é mais um efeito de percepção do que fisiólogico.

É um efeito da crença e não do tratamento.


É para aí que as evidências apontam cada vez com mais certeza.

Abaixo segue a ligação para uma Cochrane review que conclui não haver efeitos clinicos significativos atribuiveis ao placebo.

http://onlinelibrary.wiley.com/o/cochrane/clsysrev/articles/CD003974/frame.html

A ler. No fim tem uma versão para leigos, se bem que em lingua inglesa.

domingo, 13 de março de 2011

A ciência e a Natureza.

Há quem diga que a ciência, ao reduzir o estudo de algo às suas partes significantes mais simples, está a tirar-lhe a beleza. Mas não é verdade. O meu interesse pela ciência está muito ligado ao meu gosto pela natureza, pela beleza que o meu cérebro encontra desde as coisas mais simples às mais complexas deste universo e de como saber mais sobre elas acaba por fortalecer ainda mais esse gosto.


É verdade que a beleza está na mente, não está nas coisas. Somos nós que a vemos lá. Mas isso não é um problema. Enquanto nós formos nós. Enquanto sentirmos.

Não deixamos de sentir como sentimos só por compreender como isso se processa nos nosso corpo. Nem de admirar a beleza de um pôr-do-sol só por sabermos que essa beleza é uma propriedade atribuída por nós.

Não é preciso também postular espiritualidades misteriosas e misticismos bizarros para usufruir destas características humanas. Nós, humanos, em regra, gostamos da natureza. Gostamos dos amigos, da família, da terra onde crescemos e essas coisas dos poemas.

Temos é maneiras diferentes de explicar as coisas. Uns acham que tem de haver uma alma para que isso faça sentido. Outros acham que a alma é uma ilusão e que a consciência é tudo o que há. Naturalmente que eu pertenço ao ultimo grupo, mas argumentar que esta é a melhor explicação não é o âmbito deste posta.

Apenas dizer que ao compreender não só não se  destrói o que se compreende mas aprende-se a apreciar ainda mais. O que já estava antes não se perde.

Apenas ficamos com  mais pormenores para apreciar.

Por isso tenho vindo a colocar aqui algumas das minhas fotografias da natureza. Todas as que estiverem sobre o rotulo "fotos natureza" foram feitas por mim e acredito que revelam, no mínimo, o gosto que tenho pelo ambiente natural que nos envolve. Desde pormenores, a cenários abertos. A bichos, a plantas. O meu apreço pelo mundo é indissociável da vontade de o conhecer.

Espero que agrade também a quem veja. Há coisas que sabem melhor se forem partilhadas.

 As duas de cima são na Serra da Estrela. A cá de baixo é perto do guincho. Verão vs Inverno! :P

sábado, 12 de março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Anémonas!

Quando a maré baixa  faz pequenas pocinhas cheias de vida para explorar. Algumas proporcionam padrões de cores e formas verdadeiramente bonitas. Esta fotografia foi feita perto do guincho.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O que prova a ciência?

Ora aqui está uma pergunta que confunde muita gente. É muito difícil.


Mas a resposta é...

A adequação à realidade. Testada pela capacidade de prever resultados.

Quantos mais melhor. Provavelmente estamos no caminho certo se o mapa prevê correctamente o que nos aparece no território. Senão, há algo errado.
Isto é metafísica para alguns. Eu chamo-lhe ciência. E sei que esta maneira de provar coisas funciona porque permite por seu lado fazer uma série de novas previsões até chegar à tecnologia que entra pelas nossas casas. Para além de prever que se façam constantemente mais descobertas capazes de fazer previsões elas próprias. O que acontece com enorme regularidade.

Então, ou tudo é uma ilusão, ou o que prova (ou não) a ciência é a própria realidade.

Podemos adornar esta questão de muitas maneiras. Mas serão adornos supérfluos.

sexta-feira, 4 de março de 2011

A metafisica prova a existência de coisas?

Nunca o conseguiu fazer por si só sem refutação. E não o deverá fazer, porque deixou de ser essa a sua procura.

Isto se distinguirmos a metafísica da ciência.

E se o fizermos, como é aceite que acontece em maior ou menor grau, a metafísica não é sequer sobre a existência das coisas no território da realidade.

Desde que surgiu a ciência,  a metafísica por si só, passou a dedicar-se a estudar o que representam os conceitos, como se relacionam, o que podem significar e até que conceitos podemos criar e o que podemos concluir deles. Mas sempre no plano dos conceitos. Estuda as propriedades de conceitos, sem que uma propriedade do conceito seja efectivamente ser real. O que é real não é um conceito. Ou é conceito ou é real. (1)

Como os conceitos são entidades mentais, todas as suas propriedades são mentais também. As propriedades reais são as das coisas.

Qualquer confusão dos termos é confundir o mapa e o território. E a separação entre um e outro é uma das coisas que a ciência tenta resolver.

E tenta resolvê-lo vendo se as previsões que os conceitos fazem encaixam nos dados empíricos que vamos encontrar. É o teste. A experiência.

O que não precisamos, e sabemos pela experiência, é estar a repetir sempre as mesmas experiências. Por isso podemos criar teorias. Teorias cientificas que são conceitos que fazem previsões sobre medições.

Sem ser por manipulação próxima destes conceitos não se consegue que uma das propriedades mentais do conceito seja prever resultados dos dados dos sentidos. O mundo empírico é a arena da ciência. O mundo da metafisica só lida com conceitos capazes de fazer previsões quando os importa da ciência. Mas deixou de se preocupar com essa propriedade de um conceito, simplesmente porque a parte da metafísica  que se preocupa com isso é a que evoluiu para se chamar ciência.

O objecto da metafisica são os conceitos. O da ciência é tanto quanto possível a realidade. Foi como estes sistemas de conhecimento evoluíram. Podíamos trocar os nomes que haveria sempre um a preocupar-se com o "deve" e com o "como podia ser" e outro sistema a preocupar-se com o "como é" e "como funciona".

Coisas como a moral que são construções humanas têm duas vertentes. São conceitos e são reais. Mas não são reais como conceito, são reais como coisas ou acções. E são-no porque nós os criamos. Esses conceitos passam a ser reais, mas sempre só em determinada medida. Se nós (ou seja quem for que cria) desaparecermos, desaparecem connosco. E dizem sempre respeito a nós próprios e à nossa mente mesmo que se refiram também a outras coisas. São reais enquanto actos ou criações nossas. E nesse momento já não são realmente conceitos. São coisas como as outras.

Se a ciência for o que descreve a realidade, a metafisica é o que isso implica ou pode implicar para nós.

(1) Esta conclusão é de Kant e surge na crítica das provas metafísicas da existência de Deus, de resto a sua refutação é aceite por muitos teólogos que procuram agora a ponte fenoménica cientifica para provar que deus existe, e a vêm no "fine tuning". O resto das ideias são minhas.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Jairo dos Disparates e o deus à Lapalisse, segunda parte.

Na primeira parte demonstrei a desonestidade intelectual inerente a todo o espírito do blogue "Neo Ateísmo". Nesta segunda parte abordarei a critica tola que o Jairo dos Disparates faz do meu post sobre o onús da prova, que era a defesa de que o principio da parsimónia ontológica é suficiente para determinar quem tem o onús, independente de quem faz determinada afirmação - desde que mostre, claro está, que pode aplicar o príncipio da parcimónia. Vamos ver então as alarvidades que o Jairo dos Disparates debita para fazer justiça à sua alcunha. ( o meu post pode ser encontrado na etiqueta onús da prova).

As primeiras linhas - tudo comentado à Jairismo:

" Quanto ao "anti-ateus", ler a apresentação deste blogue." Done, ver o post anteior.

"Quanto ao ónus, está escrito no meu texto que tanto o ateu como o crente em Deus têm a responsabilidade de provar as suas posições."

Sim, tu afirmas isso. So...?

"Quem faz pausas de agnosticismo são os neo-ateus."

Então o Jairo colocou-se na posição de ter de apresentar prova que deus existe. Se não está claramente a dizer que neste momento não afirma que deus exista - que é o que eu chamo de agnósticismo instântaneo e criticava no meu post. Ele que escolha.

Depois continua ( a negrito as citações extraidas do meu post e depois o comentário dele que ficava sem sentido - mesmo nenhum -se não se visse a que se referia, tal é a pertinencia e o conteúdo da coisa):

 "Eu acredito que a afirmação “deus não existe” é mais plausível, muito mais plausível, que a afirmação “deus existe e é um ser omnipotente, omnipresente, omnisciente, bom e justo”, porque é o que os factos permitem concluir."
Vamos então analisar quais serão esses factos. Mas antes, atenção ao abrigo que o João das Tretas escavou, para o caso da coisa lhe correr mal:

"E que além disso afirmo que mesmo que deus existisse, não está descrita uma maneira inequívoca de saber o que ele quer e pensa, por isso não se pode sustentar nenhuma afirmação como sendo a sua vontade."

Bem, então que se despache a apresentar os tais factos que tornam mais plausível a crença ateísta. E prove também que nenhuma afirmação sobre a vontade de Deus poderia ser sustentada, caso Ele existisse. Com esta brincadeira, o João das Tretas já tem duas afirmações por provar. Adiante:"

Bem, ele é que tem de se despabar a ler, eu já tinha o texto escrito. É o que dá achar que qualquer disparate contra o interlocutor funciona a nosso favor. Mas voltando ao príncipio:
Não "escavei" nenhum abrigo para mim. "Escavei" sim 7 palmos de terra para sepultar a esperteza saloia do argumento anti-ateu. É que se dizem que há coisas que podemos basear na palavra de deus, têm de sustentar essa afirmação especificamente. Mas acontece que as evidências apontam para haja uma enorme variedade e dissonancia nas afirmações e vontades atribuidas a deus. Caso o Jairo não tenha reparado e parece que nunca deu por isso, há pouca coisa que não tenha sido já atribuída a deus. Mais disparates em seguida:

" Mas qual céptico? O que temos aqui é um ateu a alegar ter factos que demonstram a crença na inexistência de Deus como a mais plausível. E que, mesmo existindo, não se poderia saber qual a vontade de Deus. Fazer duas afirmações e pintar-se como "céptico" não é argumentar. O que não resiste a uma pequena dose de cepticismo são as tretas do João. Já detectámos três alegações por provar. Às duas acima referidas, junte-se a alegação de que o João é céptico. Também terá de demonstrar isso. Vejamos se o fez:"

O Jairo não percebeu nada. Eu apresentei a minha posição  para a demarcar da posição do ceptico eventual que alegasse o principio da parcimónia para transferir o onús da prova. Fui explicito que a minha posição neste particular era que eu podia demonstrar que deus é um hipotese pouco  plausivel para acrescentar à descrição deste universo.  E no fim do texto referi que neste particular - a questão do onús da prova, não da prova em si - aceitava um apelo às massas, já que as observações têm de ter evidendias independentes e aqui os numeros interessam. As massas neste caso podem não provar nada. Ou podem provar. Mas colocam o onús da prova em quem as quer contrariar. É uma questão practica e apenas ultrapassavel com argumentação. Eu por conseguinte não tenho a posição do céptico que também defendo, mas que ultrapasso em certa medida (aceito que deus tem de ser provado com elevado grau de segurança em relação à sua existencia e comunicabilidade).

Em resposta à minha invocação do príncipio da parsimónia reformulada de modo a dizer que quem trás novas entidades para um corpo de conhecimentos é que tem a prova o Jairo tem a dizer o seguinte:

" Onde está a justificação de que Deus é uma nova entidade? Cheira-me a petição de princípio... Quando o ateu diz que a entidade Deus não existe, tem o ónus de o provar. Quando o teísta afirma a existência dessa entidade, também. Dizer que Deus é uma "nova entidade" vale tanto como eu dizer: "quem retira uma entidade estabelecida do plano da realidade, tem o ónus da prova". Aliás, isto até valeria mais, porque o teísmo precede o ateísmo."

Aparentemente para o Jairo o que conta é a antiguidade de uma alegação. Mas o que tem acontecido é que o corpo de conhecimento sobre os fenómenos naturais aumentou de tal modo que excluiu deus de tudo o que era pertinente deus estar se fosse de facto um deus como o que propoe a religião em relação aos pontos chave. Quem quer colocar deus nesse corpo de conhecimentos, está no ponto de vista do conhecimento a trazer a nova entidade. A crença é velha, mas como conhecimento ainda nem nasceu. Quem o conseguir fazer vai consegui-lo pela primeira vez.  Por isso isto é treta:

" Historicamente quem desafia o teísmo, é o ateísmo; e não o contrário. Mas isto não serve como prova da existência de Deus (o plano da realidade não depende das crenças, a veracidade destas é que dependem do primeiro). Então, isto também não serve como prova da inexistência de Deus. Continuando:"

Pois, mas não me parece nada e sem duvida não pelas razões que apontas. Se queres que deus seja uma entidade provada à muito tempo, tens de mostrar isso. Mas careceste em provar. Quanto a mim, mantenho de pé que sabemos que funcionou ao contrário. Cada vez deus foi perdendo menos espaço de acção conforme fomos compreendendo o que nos rodeia. As razões que havia para acreditar nele, as velhas, ainda existem na cabeça de gente que considera que a terra tem 6000 anos ou que está suportada nas costas de uma tartarga. Mas felizmente há quem compreenda que esses argumentos são treta. Vieram outros e todos foram refutados. Os metafísicos forma metafísicamente refutados, os empiricos, estão a ser empiricamente refutados.  Deus como conhecimento e não apenas crença não existe. O grau de duvida não é razoavel.

" A alegação de que tudo é imaginação até prova em contrário é uma falácia medonha. Ausência de prova não é prova de inexistência, muito menos de imaginação."

Não quando temos um estudo exaustivo que revela ausencia. Se queres que uma coisa seja mais que imaginação tens de mostrar a sua plausibilidade no minimo dos minimos. Tens de demonstrar que há algo que a distingue de ser apenas imaginada.  Se não tens um mundo cheio (infinitas) de entidades imaginadas para resolver e isso não faz sentido nenhum. O onús está em quem as apresenta.

" Para concluir que um relato é meramente imaginado, são precisas provas nesse sentido."

Sim, mas o que sabemos sobre o mundo muitas vezes chega para dizer que essa alegação não é plausível e que não vamos deitar tudo que sabemos fora para a aceitar como possível. É o contexto que temos que o Jairo está a fingir que desconhece, vermos mais disto à frente.

"  Para além do erro genérico sobre o que é uma posição neutra perante ausência de provas"

Não é erro. Erro é de ignorar o que já se sabe.

A ausencia de prova que requer uma omissão inexplicável no corpo de conhecimentos não é uma ausência de prova qualquer. É a prova de ausencia. No mínimo carece de plausibilidade. O problema é gente confusa que considera ausencia de prova por exemplo a ciência não dizer por extenso "Deus não existe". A ausencia de prova quando  o conhecimento se aproxima do que a ciência é hoje em dia, é algo que por si só preve que a hipotese de estarmos `a beira de uma grande descoberta é pequena. A ciência analisou todos os factos em que pode por mão e assumir que há factos que estão aí que vão revolver a ciencia ao contrário é um disparate.

" o João das Tretas também está a dar como certo que temos ausência de provas na questão de Deus. Para o neo-ateu, a questão de Deus é nova. Estava aqui a sociedade humana descansadita no seu milenar passado, tradição, cultura e filosofia ateísta, e começaram agora uns quantos a dizer que Deus existia...."

Voltamos ao mesmo. Como crença é antiga. Mas como conhecimento filosófico ou cientifico nunca foi estabelecida. É nova nessa liga das melhores explicações.  Aliás nem nova é porque não está lá já há muito tempo. É verdade que ja esteve. Se quer voltar a estar tem de ser provada "de novo". Eu acho que deus era a melhor explicação quando não sabiamos nada sobre genética, sobre a electricidade, sobre a fisiologia, etc. Mas essa já era. Tem de vir um novo argumento. Eu não digo que a alegação é nova. Mas neste momento será uma nova aquisição para o corpo das melhores explicações que temos se a admitirmos. É assim tão dificil de perceber?

" Se há um default relativamente a proposições, é a ignorância assumida."

Errou outra vez. Se não se sabe nada de nada, tens de se assumir que não se  sabe. Tudo bem. Se sabes alguma coisa não podes estar a dar o mesmo valor a existirem  fadas que a existirm bacterias. E por aí fora. Não tens de assumir ignorância de tudo o que já sabes. Isso é um disparate. As afirmações têm de ser julgadas de acordo com aquilo que nós já sabemos. Já não estamos no inicio da exploração ciêntifica. Essa posição de estaca zero para tudo já não serve. Se não sabes o que há para lá do Barreiro, não podes assumir que tudo é possivel. Se não tens sempre um numero infinito de hipoteses que tens de dar o mesmo valor que a outras mais plausiveis. Se este argumento não te chega vais ser surpreendido pela estatistica B

"Dizer que uma proposição é verdadeira ou imaginária, é tomar uma posição de conhecimento sobre ela."

Claro. Mesmo que seja provisório, porque certezas não há, temos já para uma série de afirmações um cenário cognitivo para a avaliar. É dificil compreender isto certo?

"Se o João das Tretas diz que Deus é imaginário, e comparável a entidades como "fadas" e "deuses", tem de provar isso. Não pode fingir que a sua posição é neutra ou agnóstica. Isso é mentir."

Asneira grossa de negligência ou vontade de aldrabar: Eu não finjo que é agnóstica. Estava a defender pontos de vista diferentes. Deixei claro logo no inicio e no fim do texto qual era a minha posição.

De qualquer modo ainda bem que assumes que fadas ou deuses  não existem (tem de ser só um é?). Porque se queres prova da inexistência sem aceitares que a prova da ausencia vem da ausência de prova após pesquisa sistemática então não tens maneira de provar a tua assumpção.

Deus é comparavel a fadas e outros deuses, como os dos Nórdicos, porque não tem maisa trazer acerca da sua existência que esses deuses ou entidades sobrenaturais. O que é indistinto da fantasia tem de ser considerado como fantasia. E depois mudar de ideias se surgirem provas. É aí que tem de estar abertura de espírito. É aceitar as provas se elas vierem, porque deitar fora o que já aprendemos  e inclusivé o que aprendemos sobre a capacidade humana de mentir, é um disparate.

" É precisamente por isto ser loucura cognitiva que também é a conclusão inversa "todas as entidades são irreais(imaginação) até prova em contrário"

Sim, tens de abordar esta afirmação em dois contextos. Um, o original é de que ela é para determinar o onús da prova e não a prova. O onús da prova é algo que é suposto ser de uma parte apenas, é para dizer qual das partes tem a carga de ter de provar. Por isso posso abordar o problema numa questão de Verdadeirou ou Falso apenas. Em lógica bivalente tens aquelas possibilidades que referi.

O outro aspecto é que no contexto de dar um valor ou não dar, portanto uma lógica trivalente, dizer que não há conhecimento pode implicar ter de haver uma omissão inexplicavel no conjunto do conhecimento. Ou seja, pode não ser verdade que não se forma conhecimento só porque um determinado assunto não foi testado. Em lógica trivalente a negação de veracidade, para evitar dar o valor verdade ao que não tem, não é o descolnhecimento. É o valor falso na mesma. Por isso importa a probabilidade à prioria, como em estatistica Bayesiana. Mas eu nem defendo que devemos usar uma lógica trivalente. Devemos usar uma lógica que tenha todos os graus de confiança para um critério de verdade, por exemplo no intervalode  0 a 1 em que zero é falso e 1 é verdade. E aí podemos aferir graus de plausíbilidade e só temos de assumir desconhecimento quando de facto houver desconhecimento. O que proponho é usar lógica Bayesiana sempre que possível - não é possível se não houver conhecimento nenhum prévio (apesar de haver matemáticos que dizem que pode). Isto permite regeitar o valor de 1 sempre e à partida. E aceitar valores satisfatóriamente próximos de 1 por uma questão de plausibilidade. E plausibilidade é tudo o que temos pois muitas verdades absolutas já cairam para que pensassemos de outro modo.

" -É verdadeiro porque não há provas de que seja falso.
-É falso porque não há provas de que seja verdadeiro."

Sim, chama-se apelo à ignorância que é precisamente o contrário do que estou a defender. É não dizer que não sabemos o que de facto sabemos. Nota no entanto que isso é lógica informal, que depende do contexto... Como o onús da prova...

"Já demonstrei que o ateísmo, tomada de posição e alegação de conhecimento à questão "Deus existe?", não é uma hipótese nula."

Não. É a afirmação resultande de testar essa hipotese. Duh!

"Hipótese nula seria afirmar "Não sei""

Isso era se a hipotese fosse " eu sei que deus existe" mas a hipotese é se deus existe ou não.

"Essa posição dá ao ateu o ónus de a provar. "

De provar que os conhecimentos que temos é isso que dizem, mais nada. Mas é practicamente obvio. A cada criança que pisa uma mina terrestre e a cada criança que nasce com sida e a cada teoria naturalista, a coisa vai sendo provada. É uma questão de tapar os olhos e tentar não ver.

" O ateísmo não é nulo ou neutro sobre Deus."

Não, não é, descobriste agora? Nem o cepticismo tem de ser apenas  para pedir provas. Pode simplesmente dizer quem tem o onús sem tomar uma posição. Mas pode tmabém avaliar o que já se sabe e formular uma resposta que é válida até prova em contrário, porque é o que se sabe nquele momento. E que no conjunto de conhecimentos que temos quem não distingue as alegações que faz da imaginação tem de mostrar que afinal há qualquer coisa.

" Certo. E as coisas não deixam de existir fora do pensamento, só por se pensar que elas não existem. Logicamente, isto não serve como argumento para a existência de Deus. Então, o inverso também não serve como argumento para o ateísmo. São tautologias elementares."

Só que se tudo o que tens é a crença...Tens um deus que não se distingue da creça... Isso serve? Agora, a prova está na ausencia de prova num cenário em que consegues descrever quase toda a realidade que nos envolve, com poucos buraquitos. Se tu não sabias não é culpa minha. Mas a ciência não explicando tudo não deixa deus como interventivo. Pelo menos à nossa volta.

"  sabemos que dizer que há entidades criadas pela imaginação, é fácil. Mas nem todas as entidades são criadas pela imaginação. Por isso, devemos excluir as alegações que mais não têm em sua defesa do que a mera crença na inexistência de determinada entidade"

Tudo bem. O que é alegado sem prova pode ser refutado sem prova. Para os dois lados. Completamente de acordo. Mas eu refuto deus porque justifico com o facto de haver algo como a ciência.

" Parece-me que as alegações do João sobre Deus se encaixam neste quadro..."

Parece, mas está errado. Isso é só porque és ignorante e usas o que não sabes para dizer que não existe. A diferença é que eu posso dizer que a ciência fez uma procura sistemática e tu não.  Fundamentas o teu desconhecimento da prova naquilo que não sabes mas que qualquer um pode verificar. Tens igual para a troca? Mais do mesmo à frente.

" Exacto. E pela mesma razão, temos de distinguir entre a crença na inexistência de Deus e a inexistência de Deus como facto. Eu estava à espera que o João o tivesse feito neste texto, quando o introduziu alegando ter factos para a plausibilidade da crença na inexistência de Deus. Estou a ficar desiludido..."

É sempre uma questão de plausibilidade. E entre acreditar, não acreditar ou acreditar que não conseguimos aferir plausibilidade há uma opção que é acreditar que a plausíbilidade é elevada para que deus não exista. As razões que distinguem a descrença em deus da crença na descrença são afirmações que eu posso fazer que descrevem uma realidade sem deus e que posso verificar depois que se confirmam. Seja na queda dos graves, na epidemiologia de uma doença, na distribuição da sorte e do azar, no resultado da reza, do que as pessoas atribuiem a deus, etc. Tudo coisas que qualquer um pode fazer e não alego ser especial para o verificar. Como os teístas.

" Deus está na evolução das formas de vida, no funcionamento da vida, está na evolução aparente do cosmos, está no curso da saúde, no funcionamento da consciência. Está no surgimento das coisas a partir do nada, está no aparecimento de organização. Isto assim dito, serve como argumento ou prova da existência de Deus? Então, o inverso também não serve como prova do ateísmo. O João das Tretas saberá a diferença entre afirmar e argumentar?"

A diferença está naquilo que tu devias saber e não sabes. Que não há intencionalidade possivel em coisas que tu descreves como acontecendo sempre de determinada maneira. A ciência não inclui deus nas formulas porque essa hipotese não acrescenta nada necessário. Esse deus é desnecessário, logo não é o que é apregoado pelas religiões. Se lá queres por deus na mesma põe. Mas é um deus que é igual a existir ou não existir para todos os efeitos. E um que não é possivel distinguir da imaginação. E um que não intervem em nada. Mesmo que fiques satisfeito com isto, torna muito fraca a alegação de que deus está lá de qualquer modo.

Isto deixa a possibilidade de existir um deus que não queira ser descoberto. Mas não deixa a possibilidade de existir um deus benévolo, participativo, omnipotente, etc.

" Ou a metafísica é aferição da realidade, ou não é. Não pode ser e não ser simultaneamente. O João das Tretas defende que não é. Portanto, cometeu auto-contradição. A sua afirmação pretendeu ser lógica e é analisando-a logicamente que a demonstramos como falsa. "

Mais disparate. Vou parafrasear Kant para te ajudar. A metafisica estuda conceitos.  Ser real ou não (fora da mente) não é uma propriedade de um conceito. Ser real ou não é propriedade daquilo que o conceito descreve. Agora acrescento eu: A ciência é aquilo que ajuda a distinguir entre o que é conceptual e o que é real. Se queres confundir mapa e território é contigo.

" Por exemplo, se uma definição for logicamente contraditória, ela não pode ser real. Logo, torna-se desnecessário procurá-la. Se a metafísica não é aferição da realidade, a lógica é o quê?"

A questão que o Jairo Disparate parece esquecer é que a lógica é algo que aprendemos empiricamente e muitas coisas que pareciam ilógicas afinal acontecem. Porque é sempre preciso recorrer a indução para dizer o que as variaveis ou conceitos  com que estamos a lidar são no plano da realidade. Nunca foi conseguido provar-se nada sem ser refutado. A não ser recorrendo à  plausibilidade pela ciência. As teorias cientificas fazem previsões como nada antes conseguiu fazer.

" Por definição, o "impossível" não pode ser feito"

Sim, mas para deus não devia haver tal coisa que não pudesse ser feita. Deus é limitado pela própria lógica que criou? Ou esteve sempre escravo dela?

" Não é possível averiguar e provar a inexistência de uma entidade conceptualizada? Olha que é, João das Tretas, olha que é... "

Claro que é. Não disse o contrário! Mas é averiguando se o conceito corresponde à realidade no território, não ficando a pensar se é ou não sem fazer nada e a olhar para o mapa. Não se pode confundir nunca mapa e território, mesmo que seja dificil - o que parece para o Jairo é. Só pela manipulação conceptual não consegues. Não é propriedade de um conceito ser real. Real é o que o conceito representa. Tens de recorrer à ciencia para isso. Se usares o conhecimento cientifico podes conseguir fazer previsões sobre a realidade de um conceito. Tem-se conseguido. De outro modo não e a metafisica já não é sobre isso há seculos. É muito mais sobre o que os conceitos representam para nós, se podemos ter conceito de todo, e até como poderiam ser noutros cenários. Saber se o mapa que desenhamos corresponde ao território só a ciência tem conseguido fazer. Mesmo que não compreendas porquê, observa que é o que está a acontecer.

" O que eu estou a fazer é a analisar o texto iniciado com a promessa de que há factos que demonstram a inexistência de Deus. Até agora, não vi nada..."

Há! O teu apelo à própria ignorancia. Eu chamei para a mesa da discussão o conhecimento cientifico. Tu dizes que a ciência não é naturalista e não explica o que eu disse que explica. Não vez porque não queres. Qualquer um pode ver o que a explicação naturalista já demonstra. E a culpa de não saberes o que qualquer um pode saber é minha? Duh!

" E admite que não provou"

Não. Admito que não provei tudo mas que trouxe vários argumentos que tornam mais plausivel, muito mais plausivel a afirmação deus não existe que a  afirmação deus existe. E que isso é importante. Se tu não vez isso, a culpa não é minha.

" - Y prova cientificamente que X não existe. Não vou provar esta afirmação e quem duvidar dela está a colocar em causa a existência de Y. Aliás, está a colocar em causa a própria ciência! Porquê? Porque eu digo."

É assim y prova cientificamente que X não existe. Expliquei porque! Pareces que te esqueceste. Quem põe em causa Y está a por em causa Y.. Se o que dizes é que a ciência é válida mas não diz que deus não existe então é porque não percebes o que significa naturalismo, o principio da parsimónia, etc.

Diz lá qual é a parte que não percebes para eu explicar outra vez.

" No contexto do conhecimento actual, onde não faltam observações e conhecimento metafísico para os quais Deus é uma resposta perfeitamente racional, "

Outra vez o disparate da metafisica. A metafisica não mostra a existência de nada. Já discutimos isso. Mesmo se podes criar o conceito de deus e criar uma sistema onde ele é plausivel.  Tens de mostrar que esse sistema corresponde à realidade para além do conceptual e que o conceito se aplica. Nunca ninguém conseguiu provar a existencia de nada metafisicamente que não fosse apenas metafisico. Isto é metafisicamente apenas provamos a existencia de conceitos  e de mapas. Não de territórios. Isso é com a observação empirica. Se não faltam observações eu gostava de saber quais são. Estou aberto a elas. Mas chama-lhe o que quiseres, prova lá que deus existe já que o afirmas tão categóriamente.

"  a ciência desenvolveu-se em culturas religiosas e os seus maiores nomes são religiosos."

Irrelevante. Isso não é verdade no momento actual. Naturalmente que até Darwin foi. Darwin mostrou que a afirmação até aí completamente lógica de que as coisas simples têm de vir das mais complexas era errada e deu um exemplo enorme. Eu também acharia que essa era a melhor explicação se vivesse antes de Darwin. Tal como Newton e Galileu. Mas eles defendiam o principio da parsimónia e se vissem onde esse principio nos trouxe tambem tinham largado a crença.

Só falta explicar o titulo do post, a parte do Lapalisse. É que o Jairo diz algures que se A=A é porque  é racional defender a existencia de um criador da lógica. Ou seja, verdades de Lapalisse são o que prova a exitencia de deus. Tudo bem. Se aceitarmos que esse não deve ser um deus que salva, que está em todo o lado, que é omnisciente, etc.

Jairo dos disparates e o deus de Lapalisse (primeira parte)

O Jairo Entrecosto, que escreve quase exclusivamente disparates, pediu-me que escrevesse um post a chamar-lhe Jairo dos Disparates -  "João, chuta lá isso." , disse ele, quando eu o avisei que o faria se ele continuasse a manter o seu insulto à minha pessoa (ver ligações).

O entusiasmo da resposta foi tal, que aquilo que era só um "teaser" para lhe chamar a atenção  para o disparate de estar a insultar em vez de argumentar, tornou-se em mais um motivo de um post, que assumo desde já, não vai trazer nada de novo para quem o conhece ou às nossas disputas no "Que Treta".

Agora o Jairo imita o estilo do Luciano Ayan, mas o disparte é o mesmo. (disparate com disparate dá disparate, certo?) É só por dizer que para além do disparate que diz, tambem se vai elogiando a ele próprio enquanto escreve, e vai classificando as afirmações dos outros para além das criticar.  Para quem ainda não conhece, suba a bordo. Quem já conhece suba também. A limpeza do disparate vai começar. Acho que vou gozar também com o estilo. Ele merece e é mais divertido.

Ele escreveu um post em que me chama João das Tretas e que justifica que não é um ataque à pessoa - ad hominem - dizendo que eu me chamo João e só digo tretas. Daí o nome de Jairo dos Disparates. Jairo é o nome, Disparte é o que diz.

Vamos começar pelo absurdo da razão para existir o um blogue chamado " NeoAteísmo Português" que é na realidade apenas para atacar os Neo-Ateus. Quem julgue tratar-se de um blogue isento e imparcial na análise do neo-atéismo, desengane-se. Vamos atentar às suas próprias palavras e ver ao que ele se opõe enquanto caracteristicas do neo-ateísmo:

"Este blogue será oposição, denúncia e refutação intelectual impediosa de todos os que insultam publicamente o sentimento e liberdade de consciência religiosa dos cidadãos portugueses, promovendo discursos de ódio ao crente em Deus, ao classificá-lo, precisamente por ser crente, como ameaça ao bem-comum, inimigo, imoral, ignorante, irracional, anti-científico, inculto, incivilizado, supersticioso medroso, desumano, totalitário, potencial sanguinário ou mente atrasada semelhante a crente no pai-natal."
  
Como se está a referir a Neo-Ateus, é esse mesmo o titulo do blogue podemos ver que à partida considera que o individuo que assim é por ele identificado como neoateu promove discursos de ódio, etc, e que lhe fará oposição. Qualquer dúvida acerca do que significa "análise honesta deste tipo de militância" está completamente esclarecida. E que é que o Jairo dos Disparates não gosta nos Neo-ateus? Que coisas são essas que o distinguem do bom ateu e que o fazem escrever um blogue só para os refutar sem piedade? Vamos ver:


" -Ateu que se auto-promove como militante contra a ignorância, mitologia e superstição."
Não percebo se o problema está em auto-promover-se se em ser contra a ignorância, a mitologia ou a superstição. Para quem se auto-promove para fazer uma "análise honesta" do neo-ateísmo era de esperar que admitisse essa liberdade aos outros, em vez de a  reservar para si. Gostaria que ele provasse que o Neo-Ateu não pode avançar com argumentos contra a ignorância, a mitologia ou a superstição. Se por outro lado o Jairo disparata ao ponto de querer manter a ignorância, a mitologia e a superstição como sendo conhecimento sólido, gostaria também que provasse a sua alegação. "
 

"-Publicita-se defensor do pensamento crítico, céptico, racional e lógico."
Aparentemente esta é outra coisa que o Jairo considera que tem de ser denúnciada se não for feita por si próprio.  Não fosse ele que promete uma " refutação intelectual impediosa ". Ou então essa refutação intelectual que ele alega está à partida de pensamento crítico, céptico, racional e lógico, uma vez que alegar defender esses valores publicamente é coisa ruim. Sim, é um disparate. Mas vamos ver mais, ponto a ponto sobre esta apresentação. É necessário pois ainda não tinha comentado aqui este blogue."

"-Acredita no progresso da humanidade através da promoção de uma cosmovisão naturalista, na
qual não há espaço para respeitar a religião, que considera fonte de obscurantismo social, científico e moral, responsável pelas maiores barbaridades, guerras e genocídios ao longo da História."
Sim. A cosmovisão naturalista trouxe a ciência e a tecnologia. É uma questão de abrir os olhos para ver de onde estão a vir os beneficios reais para a humanidade. Mas para quem considera como o Jairo que a Idade Média foi uma das épocas mais brilhantes da humanidade é natural que fique um bocado confuso. Quanto ao espaço para respeitar a religião é algo que precisamos separar em duas partes para  perceber o disparate. Respeito pela practica privada e respeito pela divulgação enquanto verdade. A primeira não  representa um problema. Um crente tem o direito de ser crente. A confusão do Jairo está em não admitir que as coisas que são defendidas por serem religiosas têm de ter o mesmo tratamento que as outras. E há obviamente dois pesos e duas medidas para aceitar argumentos fundamentados na existencia de deus que da existência de fadas ou duendes. É necessário tomar os argumentos religiosos pelo que eles dizem e não pela suposta crença que é a vontade de deus ou têm o seu aprovamento. Naturalmente que se a religião apresenta argumentos e directivas morais sobre várias coisas e as coloca num contexto de serem aprovados por deus, ou por ele sancionados, devia apresentar provas disso. Mas isto o Jairo não se rala. Vê antes como um problema quem considera que se não provou que deus existe, não provou que comunica com ele, apresente livremente e sem censura a argumentos que pretendem ser os Verdadeiros por estarem em linha com o que deus quer. Naturalmente que aceitar esses argumentos sem criticar o pressuposto é uma fonte de obscurantismo. Quanto às guerras, o Jairo que vá ver. Não são todas as maiores. Mas são uma data delas. Até Hitler usou Cristo para promover o antisemitismo. Mas naturalmente que o Jairo SABE quem é que tem acesso a falar por deus e não falar.
 

"-Intitula o seu ateísmo processo racional e conclusão científica, e categoriza a religião como irracional e anti-científica."
Outra coisa que o Jairo não faz. Não se intitula como racional. Logo o problema deve estar em ser neo-ateu, só por si. Não em considerar o seu processo de pensamento racional. 
Quanto a considerar que a religião é irracional é natural que se excluimos a intencionalidade de deus de todos os fenomenos observaveis, ao explica-los de outro modo que não precisa de deus, dizer que deus lá está de qualquer maneira reflete mais teimosia e vontade de acreditar que racionalidade.  Viola o principio da simplicidade ontológica que está provado empiricamente ser a única via que produz resultados para explicar observações empiricas. Se deus não porporciona observações empiricas e se não é possivel conhecer algo de outra maneira sem uma ponte fenomémica algures, acreditar em deus tem o mesmo valor que acreditar em fadas ou duendes ou outras coisas das quais não podemos dizer que não existem com toda a certeza precisamente porque não existem e não podem ser observadas. Mas como certezas nunca há, temos aqui uma explicação plausivel, num conhecimento onde a plausibilidade pode ser o melhor que temos, e onde temos de escolher as melhores respostas e não as piores. A racionalidade está aí. 
Por isso, não só intitula como o argumenta na prática. Não pretende haver algo sobrenatural algures ou natural que seja para justificar as afirmações que faz. Simplesmente ao descrever tão completamente a natureza, e vendo o que evoluímos por começar  a aceitar que "as entidades não devem ser replicadas para além do necessário"ao não encontrarmos após pesquisa exaustiva efeitos que tenham de ser atribuidos a deus, não faz sentido dizer que ele está lá de qualquer maneira. Até porque como o Jairo disse, a ciência é naturalista e explica quase tudo o que podemos observar. E o quase aqui chega porque deus era suposto ser bom, estar em todo o lado, etc. Tem caracteristicas que são testáveis. Que fazem previsões sobre observações da intencionalidade de deus que não se encontram após procura exaustiva. Dizer que há um deus que não podemos observar é dizer que há um deus que é igual a não existir para todos os efeitos. Esse deus pode existir e nada poderemos dizer dele. Mas também não podemos por palavras na sua boca pela mesma razão.
Depois de procura exaustiva e sistemática tem sido empiricamente comprovado que não é um apelo à ignorância dizer que algo não existe porque não foi encontrado. É racional. Menos para o Jairo. Permite eliminar satisfatóriamente todas as entidades para as quais não se encontrou prova da sua existencia onde elas deviam estar.


-Redefine o conceito de "Estado Laico e Neutro" como aquele em que a religião deve ter um estatuto diferente das restantes manifestações sociais e culturais não estatais, pela negativa:
a)Nenhum representante do estado no exercício das suas funções ou dinheiro público pode ser associado a evento, cerimónia ou homenagem religiosa.
b)Nenhum líder religioso deve ter o direito de se expressar como tal em relação às leis públicas.
Não é isso. Aqui o que se pretender não é dar menos valor à religião que a outras actividades de entretenimento. É dar-lhe mesmo o mesmo valor que a outras. E manifestar que só pode ser considerado conhecimento aquilo do qual se produz prova ou demonstração de elevada plausibilidade já que prova mesmo só na mamtemática. Há aqui um espantalho que tem de ser notado. Mesmo que se admita que deus é algo acerca do qual não podemos dizer que não existe apesar de se tornar uma entidade superflua para descrever a natureza, e assumamos uma posição de agnósticismo, não podemos deixar que se fundametem ideias só por terem origem em lideres religiosos. Se o lider religioso fundamente de outro modo e racionalmente as suas ideias pode bem ser lider estatal na mesma. Tal como o Francis Collins pode ser cientista. Não pode é introduzir ideias da religião e confundi-las com conhecimento.

-Cria, é membro ou simpatiza com associações denominadas "ateístas" ou "de ateus", que dizem ter por objectivo representar e defender os interesses dos ateus, agnósticos, cépticos, não religiosos, pensadores livres, humanistas e laicistas, as quais defendem propostas e projectos políticos non sequitur do ateísmo, agnosticismo, cepticismo, não-religiosidade, livre-pensamento, humanismo ou laicidade.
Sem dúvida que pertencer associações é algo que pode ser perigoso. É melhor o Jairo falar contra isso já. 

-Faz da crítica à religião organizada o tema principal da sua militância, considerando portanto que isso é sinónimo e prática "ateísta".

Se é ateu é porque conclui que deus não existe. Se deus não existe porque haveria de achar normal fundamentar regras na sua palavra? Haja pachorra. O Jairo quer é ateus quietos e calados. 
Eu não quero religiosos quietos e calados. Aliás tenho pedido neste blogue uma sociedade activa e tentado promover o debate.  Quero é que as suas ideias sejam debatidas exactamente como as outras e que não se lhes seja dado nenhum tratamento especial.  Talvez esta nuance escape ao Jairo. Mas é importante. Eu não deixo de ser contra a pena de morte por a Igreja defender que não se deve matar. Está correcto no meu padrão de escolhas. Idem para uma data de outras coisas. O que eu afirmo é que essas alegações da Igreja têm de ser discutidas livres da associação falaciosa da palavra de deus.

-Pensa que TODAS as religiões se fundamentam na ideia "Fé", e redefine esta palavra como sinónimo de "crença", considerada sem "motivo real".

Isso talvez se deva ao facto de não haver argumentos sólidos a favor da existencia de Deus. O que eu e outros procuramos e debatemos acticvamente. Mas o Jairo parece achar que procurar onde as provas deviam estar e não as encontrar, não é prova que não existam provas. Elas existem talvez noutro planeta, eventualmente, mas eu tendo a considerar que quando digo que não há provas estou a falar deste planeta e nesta espécie de hominideos. Mas se o Jairo dos dispartes, deixar os disparates e conseguir  provar eu passo a acreditar em deus. Sem stress. Mesmo que depois tenha ainda  de me provar como é que faz para saber o que ele quer. Mas mais sobre isto à frente. Na segunda parte.

Notas e referencias:

O post referido que deu origem à discussão é este:

http://neoateismoportugues.blogspot.com/2011/02/joao-das-tretas-e-o-onus-da-prova.html

A maravilhosa apresentação da desonestidade intelectual está aqui:

http://neoateismoportugues.blogspot.com/2010/09/apresentacao.html

Pode ser visto nos comentários desse post porque é que eu digo que o Jairo é que pediu


terça-feira, 1 de março de 2011

O coração como pequeno cérebro e pseudociência relacionada.

Segundo me contaram, passou num canal qualquer num destes dias, um documentário que falava do coração como o "pequeno cérebro". Seria investigação nova e promissora e até me recomendaram que falasse dela aqui. Pois aqui vai:

Pelo que pude averiguar o termo "pequeno cérebro" tem origem num artigo de um senhor chamado Armour, escrito em 1994, que eu não pude ler, mas de que encontrei uma apresentação pelo mesmo autor(1). Tudo o que refere é que há neurónios no coração e à volta dele e que estes neurónios têm influencia na mediação do ritmo cardíaco. Nada de especial. Chama-lhe de facto "pequeno cérebro", logo no título, mas falha redondamente a dar uma explicação para tão pretensiosa denominação. Não há qualquer outra alegação extraordinária nessa apresentação, e títulos exagerados é algo a que estamos (infelizmente) habituados.

É que neurónios a processar informação (é o trabalho deles) há pelo corpo todo, assim como agrupamentos e redes deles, e se chamamos ao coração "pequeno cérebro" temos de chamar pequeno cérebro a qualquer rede neuronal que exista, desde os intestinos, à bexiga, passando pelos músculos, vários  plexos, aos  gânglios do simpático e parasimpático etc. Estaríamos cheios de pequenos cérebros (2).

De notar que o sistema nervoso autonomo simpatico e parasimpático são em grande parte responsáveis pela resposta cardiaca. Adiante.

Como disse, se considerarmos pequeno cérebro algo como plexos ou gânglios teríamos muitos mais pequenos cérebros. Por exemplo no blog Neurologica, o Steven Novella critica um autor que quer por o segundo cérebro no aparelho digestivo (3) onde a quantidade de gânglios nervosos e neurónios envolvidos é de facto enorme.

De resto sabemos que o "grande cérebro", o lá de cima, conta com os "pequenos cérebros" todos para construir um mapa do corpo e dar assim origem às emoções. As emoções são programas de acção corporais  desde as visceras até aos musculos que são mapeadas e processadas no cérebro em sentimentos de emoções. 

Resumindo, é tolice andar a chamar pequeno cérebro ao coração, senão pequenos cérebros havia muitos. Por outro lado, o cérebro, o verdadeiro, é capaz de um processamento de tantas fontes de informação diferente em paralelo e dar respostas tão globais em simultâneo que não faz sentido andar a falar em pequenos cerebros pelo corpo. Só temos defacto uma unicade de processamento geral, e na melhor das hipoteses cada hemisfério seria o mais próximo que temos de "pequeno cérebro".

A minha contestação ao nome não é por não gostar de metáforas. É porque não é mesmo adequado. E isso levantou a minha dúvida quanto ao resto do que poderia ter sido dito nesse documentário.

A procura pela origem do termo "pequeno cérebro" para designar o  coração, que afinal é uma alegação que tem cerca de 20 anos e não é fruto de nenhuma descoberta recente, levou-me até uma empresa chamada Heartmath (4). É aí que mais tarde ou mais cedo as referências vão dar e foi já a partir daqui que cheguei à apresentação do Armour.

 
A Hearthmath vende uma máquina que mede a variação do ritmo cardíaco e que promete atingir um estado de "coherencia" dos vários sistemas organicos através do seu uso. (mative o "h" extra em coHerencia para não confundir com coerencia que é o que falta aqui).


O termo  "coherencia" é aproveitado da mecanica quântica e é relativo à interferência de ondas quânticas de probabilidade. Coisa que é um fenómeno que não acontece à escala macroscópica mas que os autores decidiram usar de um modo que não dá para perceber quando estão a importar mais fenómenos quanticos para a biologia ou quando estão a inventar simplesmente ou até a dizer banalidades vagas. Coherencia para eles é a sincronização de várias funções vitais e da optimização das suas ondas ciclicas (!). Dizem que se atingirmos um estado de coerência que passamos a pensar melhor, somos mais criativos, etc. É só usar a tecnologia por eles descoberta. Existem de facto ritmos e variações de ritmo na fisiologia, mas o modo como propõe que esses ritmos se devem sincronizar e o que dizem que se conseguepor esse modo é absolutamente inédito. Infelizmente não me parece ter plausíbilidade nenhuma.

Todo o site da Heartmath cheira a pseudociência misturando factos ciêntificos com teorias originais pouco plausiveis (como esta da coherencia), que são fundamentadas em artigos por eles próprios produzidos ,  publicados em revistas tão pouco credíveis como o "Jornal of alternative and complementary medicine" e companhia.

O seu investigador mais referido  chama-se  McCraty e é ele que propõe a chamada coherencia fisiológica e diz coisas como " é postulado que conforme o numero de pessoas a adicionar energia coherente ao campo global, isso ajudará a estabilizar ciclos de feedback mutuamente benéficos entre os seres humanos e a própria Terra."(4)

E isto logo no primeiro artigo da lista de bibliografia que eles facultam para consulta. Este tipo de coisas requerem evidencias fortes para fundamentar. Fortíssimas! É uma alegação para além do extraordinário a precisar de evidencias mais que extraordinárias para justificar mandar a ciência tal como a conhecemos para o caixote do lixo e reformular tudo de modo a que afirmações como esta façam sentido. Não é o tipo de coisa que possa ser dita com se se estivesse a propor que correr cansa, e publicar em revistas de credibilidade duvidosa. A não ser que a credibilidade duvidosa lhes chegue e não precisem de persuadir um publico culto e exigente...


Mas há mais, muito mais.

Précognição: "parte da decisão e acção  empreendedora que não é baseada na memória ou raciocínio mas na consciência de uma informação vinda do futuro energéticamente codificada." (5)

Propor que a seta do tempo não existe, ou seja, que a causalidade possa ser direcionada para o futuro ou o passado, coisa que teria de acontecer para haver informação vinda do futuro, contraria tudo que sabemos, não só de fisica mas do conhecimento geral como ser dificil ganhar a lotaria, ser preciso estudar para passar exames, os casinos estarem a ganhar dinheiro, etc. Já para não falar do termo "enérgicamente codificada"...

Parece que têm ainda um plano para "medir efectivamente as ondas cerebrais e cardiacas do planeta Terra" (6). Em tempo real, dizem eles! (não vá haver dúvidas do que estão a fazer).

Dizem ainda que são uma instituição sem fins lucrativos, apesar de venderem uma série de coisas para que possamos levar uma vida mais centrada no coração.

Acrescento ainda que dei uma vista de olhos nos artigos que eles publicam para provar as melhorias reais no rendimento das pessoas. E que achei que eram muito fracos, por não serem duplamente cegos e não terem controle com placebo. Têm controle,  mas sem substituição por um placebo qualquer, o que à partida permite atribuir qualquer efeito de tratamento no estudo da "coherencia" ao efeito placebo. Sabemos que basta falar em histórias de sucesso antes de um exame para melhorar os resultados. Mas sinceramente acho que não vale a pena perder muito mais tempo com isto.

É apenas mais uma pseudociência. E citando directamente sem tradução só mais uma pérola irresistível:

"Research has shown that 0.1Hz is the human resonant frequency—the frequency at which spirit, heart, mind, emotions, and body are in resonant"

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Referencias:
(1)http://www.heartbrain.org/resources/2006hbsummitproceedings/articles/littlebrain_heart.html
(2) http://en.wikipedia.org/wiki/File:Gray838.png
(3) http://theness.com/neurologicablog/?p=118
(4) http://www.heartmath.org/research/research-publications/coherence-bridging-personal-social-global-health.html
(5) http://www.heartmath.org/research/research-publications/before-cognition-the-active-contribution-of-the-heart.html
(6) http://www.heartmath.com/about/institute-of-heartmath.html