terça-feira, 23 de junho de 2009

Considerações sobre o efeito placebo.

O efeito placebo, no sentido mais geral, não corresponde a um efeito ou a uma causa. Se for definido como as melhoras observadas no paciente após administração de uma substancia inerte, temos logo incluídos no efeito placebo questões como:

- evolução natural do curso da doença

- alterações na percepção da doença pela parte do paciente (o que leva a relatar melhoras)

- erros de medição ou de diagnóstico

- factores psicológicos

- complicações com outras doenças.

Voltando atrás um bocadinho. Decidi escrever este post, porque existe o argumento por "médicos alternativos", que a sua terapêutica funciona com o efeito placebo. Adicionalmente há muita gente que considera que o efeito placebo é um efeito biológico tipo "mente sobre o corpo". Mas evidências clínicas ou biológicas inequivocas de tal efeito são fracas.

Em medicina ciêntifica, compara-se o tratamento com o placebo, que é uma substancia inerte. Se o placebo tem melhor ou igual efeito, a conclusão é de que o novo tratamento não funciona. Não de que o placebo funciona.

Porquê? Porque no estado actual da ciência, quando descontamos os erros de diagnóstico, as alterações da percepção do paciente (sobretudo por condicionamento e expectativa), e as variações normais do curso natural da doença, a verdade é que sobram apenas vestígios do efeito placebo que possam ser atribuidos a factores psicologicos.

E destes factores psicológicos, provas da sua pertinencia, são apenas encontradas em doenças com uma componente psicosomática elevada, em que nós deveriamos pensar provavelmente onde está realmente a origem do problema quando possivel (causas do stress ou baixo estado de espirito).

A hipertensão, por exemplo. Uma pessoa só por estar a ser tratada, se confiar no tratamento, vai sentir-se mais calma e isso vai ter um impacto em medições físicas (nunca bioquímicas). Outras doenças ou condições que aparecem neste grupo são a asma, as depressões, as condições que causam dor (e aqui surpreendentemente, por exemplo a hipertrofia da prostata).

Em estudos em que o paciente não sabe se esta a tomar placebo ou o tratamento (isto é, sabe que o que está a tomar pode ser apenas placebo), o efeito placebo quase desaparece em virtude da duvida - só o tratamento funciona mesmo. Em um estudo em que se comparou placebo com não tratamento, o resultado foi que não havia diferença. Em estudos em que a avaliação de melhoras é feita por um observador externo que não sabe quem esta a tomar placebo este efeito também cai notoriamente. Em um numero brutal de doenças todo o efeito placebo é atribuido às outras causas que não a psicologica ou neuromediada (variação normal da doença, melhora de problemas concomitantes (incluindo stress), erros de diagnóstico, e alterações na percepção. Por exemplo não efeito placebo no crescimento de celulas cancerosas, na replicação bacteriana, etc...

Mas por exemplo a dor é um sintoma que é muito ligado ao efeito placebo. Porque? Porque não existe um instrumento capaz de medir a dor. É sempre por relato do paciente. E este declara melhoras muito conforme as suas expectativas e estado de espirito ( e é no estado de espirito que o placebo pode actuar).

Existe ainda muita coisa que não se sabe, mas defender que o efeito placebo trata ou pode ser a base de uma pratica terapêutica é um abuso. Nem que seja porque é incontrolável, inespecífico e que existe também nos medicamentos normais. Que além de terem o efeito biológico, ainda tem o psicológico, seja porque neuromediadores este funcione (se funciona).

Um bom placebo para mim, são umas boas férias.

2 comentários:

Fernanda Poletto disse...

Além de abuso, pode ser uma grande irresponsabilidade...

Abraços,

Fernanda

João disse...

Sem duvida,

Obrigada pela visita.