Não confundir relativismo com relatividade. Na relatividade as leis são as mesmas, as medições pontuais é que são diferentes. Na relatividade vivemos todos no mesmo universo, no relativismo ((na forma que eu estou a criticar) cada um vive no seu. Idem aspas para os fenómenos quânticos que dependem do acto de observar. Quem ainda não sabe o que é o Gato de Schrodinger, xô, vá descobrir. E depois volte.
A Ciência, como se pode adivinhar, é maioritariamente, largamente, e essencialmente anti-relativista. Exceptuando, li algures, algumas franjas intelectuais menos brilhantes na sociologia e psicologia que insistem que a realidade varia com a nossa cultura.
Este tema foi um dos assuntos quentes das chamadas "Guerras das Ciências" que opôs as ciencias "duras", como a física, a matemática, a química, às "moles" como a psicologia e a sociologia. Como o bom senso ganhou, a selecção natural tratou de cortar as ideias mais inadaptadas e o debate é cada vez mais pequeno. Especificamente a psicologia está uma ciência cada vez mais objectiva, nomeadamente com a integração com a neurologia, e é uma ciência de pleno direito. Chamei-lhes "moles" não por escárnio mas por comparação com o termo "software" dos computadores. E depois porque nós somos moles. Não era a sério.
Surpreende então que ao ir ver o que diz a lei que regula a actividade das medicinas alternativas tenha encontrado o seguinte (1):
"Consideram-se terapêuticas não convencionais aquelas que partem de uma base filosófica diferente da medicina convencional e aplicam processos específicos de diagnóstico e terapêuticas próprias. "
O que é que isto quer dizer? Que temos doenças diferentes de acordo com a nossa filosofia? Que a tuberculose só é causada por uma bactéria em quem acredita na biologia? São afectadas pela nossa cultura? Não temos cancro se não acreditarmos nele ou for contra a nossa religião(2)?
Ou diz que apesar de termos as mesmas doenças podemos concluir que o diagnóstico pode ser feito de acordo com a nosso filosofia? O que pressupõe que haja vários processos de diagnóstico que apesar de terem filosofias diferentes dão o mesmo resultado. Mas em que universo? Os miasmas, os chis, e xis são tudo coisas diferentes e mais diferente ainda é espetar agulhas, dar agua quase pura ou fazer festinhas. Onde está a intersecção? E com a ciência moderna, que integração tem? Outra vez a mesma questão: De acordo com a nossa crença muda a doença? E se o diagnóstico é diferente em que raio se baseia o tratamento? Que consistência há nisto?
Quem quiser seguir o link, vai ver que até 2005 devia ter sido feita uma avaliação científica das medicinas alternativas. Não sei onde foi publicado esse resultado. Mas à partida, não há nada de científico sequer na lei. Ela pressupoe uma forma bastante forte de relativismo. Chamem o Dawkins!
A visão da ciência acerca das medicinas alternativas e complementares, é que tem de se submeter ao "reality check" e testar em testes controlados, randomizados e duplamente cegos (3) se são eficazes ou não. Para já encontrou-se pouca coisa que possa ser aproveitada (4), apesar dos proponentes destas pseudociências terem invadido as universidades e se estar a gastar rios de dinheiro a testar as coisas mais incríveis.
A plausibilidade destas pseudociências, com explicações mirabolantes acerca da fisiologia e patologia é muito baixa. Isso não é suficiente para descartar o seu estudo, mas devia ser suficiente para instilar alguma cautela na sua abordagem.
Regular a sua actividade legalmente sem evidências e sem plausibilidade é um exagero. Porque de facto, só num universo relativista em que cada um tem a sua realidade ou no seu universo próprio é que é possivel que elas sejam verdadeiras terapias, mas francamente, hipóteses de isso ser verdade estão fortemente exageradas! Não neste universo.
Leitura sugerida:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/10/medicinas-alternativas-e-as-outras-uma.html
(1)Lei nº 45/2003 : http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LEGISLACAO/LEGISLACAO_FARMACEUTICA_COMPILADA/TITULO_I/lei_45-2003.pdf
(2) a história de um rapaz que não admite ter cancro porque a sua religião diz que não existe, ver aqui: http://www.theness.com/neurologicablog/?p=537
(3)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/10/medicinas-alternativas-e-as-outras-uma.html
(4)http://www.sciencebasedmedicine.org/?p=195
Mais sobre o relativismo e as medicinas alternativas:
http://www.quackwatch.com/01QuackeryRelatedTopics/altbraid.html
Sem comentários:
Enviar um comentário