O homo sapiens conhecido como Prince Charles, defende uma série de disparates como práticas médicas e médico-veterinárias. Como por direito de nascença é melhor que os outros homo sapiens, mesmo sem ter feito nada para isso, tem audiência que não acaba. É um disseminador de memes privilegiado, teve um tipo de sorte que só cabe a um punhado dos 10 biliões de habitantes da Terra. Podia fazer diferença, mas não teve sorte na capacidade de pensar criticamente e compreender ciência básica. Os memes que dissemina são aleijados.
Quer tratar doenças com agua. Não é muito diferente em termos de treta, das roupas do outro rei, que também não tinham nada que as fizesse ser roupas. Umas são ar, outras são agua. Ar não é roupa e agua não é medicamento. Nem tem memória.
É caso que para dizer que o monarca vai de fato de banho. E a escorrer agua.
Cepticismo, naturalismo e divulgação científica. Uma discussão sobre o que é ou não matéria de facto.
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- Propriedades emergentes e a mente.
- Leitura a frio vs mediunismo/etc.
- O que é o cepticismo?
quinta-feira, 12 de maio de 2016
quarta-feira, 11 de maio de 2016
O John Oliver tem razão. O jornalismo de ciência é mau. E ainda há mais que ele não disse.
Como diz a "Ars Technica", o "rant" do John Oliver acerca da ciência e da comunicação da ciência é merecido.
A intensidade com que a comunicação social nos despeja com a interpretação mais sensacionalista possível, de estudos de qualidade heterogénea, descontextualizada e contraditória, é de tirar a qualquer um do sério. E fora do sério mas com toda a razão, o John Oliver toca na maioria das feridas. Não vou repetir as que ele foca. Vejam o video abaixo. Vou acrescentar apenas umas picuinhices que não parecendo, ainda são importantes.
A replicação, a plausibilidade do estudo, a qualidade do desenho, etc, são tudo coisas importantes. Mas para além disso existe outra coisa que só o tempo traz. A importância de um estudo cientifico está muito ligada ao tipo de evolução que ele permite trazer à ciência ou como dela faz parte. Estudos que integram um plano de investigação progressivo, ou seja, um plano de investigação que vai abrindo portas a novas previsões para testar, e que permite interpretar e passado de um modo mais consistente e completo, são o tipo de estudos que consideramos ciência. São como peças de um puzzle a encaixar e a dizer como deverá ser a seguinte.
Se são estudos, que apesar ou não de integrarem um tema, não levantam novas questões que possam ser testadas (e falsificadas), requerem explicações ad-hoc, são incompletos e inconsistentes nas explicações que trazem, e as anomalias só se acumulam, isso é pseudociência. Como um todo, esses estudos são planos de investigação degenerativos.
Esta critica à apreciação de um estudo e do seu valor, é um passo acima da que vem da máxima implícita no discurso do John Oliver de que "não é ciência até ter sido replicado". E isto é uma boa máxima, já que em média um estudo é refutado em cerca de 6 meses (a replicação normalmente não vem nos média e nem na comunidade cientifica tem muita divulgação e de facto não é sempre tentada, já que "vale pouco mérito"). Mas um estudo tem de facto de ser replicado para ser levado a sério e normalmente se é algo muito importante, alguém tenta replicar ou esmiuçar o estudo até ao mais pequeno pormenor. A comunidade cientifica compete por recursos e não perdoa o disparate por aí além. Mesmo assim, a não replicação de estudos ( ou a sua não divulgação) por falta de mérito e recursos é de facto um problema por resolver. É preciso mais.
Mas acima de tudo, para que as suas conclusões - de um determinado estudo - sejam aceites para além dos factos (que até podem ser replicados embora a conclusão esteja errada), tem de pertencer a um plano de investigação progressivo e não degenerativo.
Isto é o que dizem os filósofos da ciência, originalmente por Lakatos, que tem a proeza de resolver os problemas não resolvidos por Popper de uma maneira muito satisfatória e que permite sustentar que ciência é o conhecimento que é feito das melhores explicações possíveis. Quando deixa de ser a melhor explicação possível é porque é preciso encontrar outra. Isto é o que os cientistas têm andado a fazer. Ou a tentar fazer. Com um sucesso bastante porreiro.
Outra coisa que o John Oliver não toca, é a estupidez dos documentários apresentarem todas as ideias dispares acerca de um tema com a mesma "neutralidade".
Dão o mesmo tempo de antena aos vários intervenientes, o mesmo ênfase (e aqui já é quando temos sorte), e depois o pessoal que tire as suas conclusões. Está errado. Leigos, por definição, não estão preparados para comparar determinados argumentos intuitivamente. E está a ajudar a ter uma sociedade com dois pesos e duas medidas - um para a ciência (mais exigente) e outro para a treta (nada exigente). Existem coisas que são matéria de especialista, cuja argumentação completa ultrapassa qualquer documentário de poucas horas e não pode ser apresentada como se a opinião de cada um pudesse ser apresentada ao lado de um trabalho metódico e auto-correctivo. Ao menos que promovam debates sérios onde as tretas possam ser confrontadas ponto a ponto por quem tem a capacidade de o fazer.
E agora o John Oliver. É do melhor que anda por aí. E sim as TED talks são "hit or miss".
A intensidade com que a comunicação social nos despeja com a interpretação mais sensacionalista possível, de estudos de qualidade heterogénea, descontextualizada e contraditória, é de tirar a qualquer um do sério. E fora do sério mas com toda a razão, o John Oliver toca na maioria das feridas. Não vou repetir as que ele foca. Vejam o video abaixo. Vou acrescentar apenas umas picuinhices que não parecendo, ainda são importantes.
A replicação, a plausibilidade do estudo, a qualidade do desenho, etc, são tudo coisas importantes. Mas para além disso existe outra coisa que só o tempo traz. A importância de um estudo cientifico está muito ligada ao tipo de evolução que ele permite trazer à ciência ou como dela faz parte. Estudos que integram um plano de investigação progressivo, ou seja, um plano de investigação que vai abrindo portas a novas previsões para testar, e que permite interpretar e passado de um modo mais consistente e completo, são o tipo de estudos que consideramos ciência. São como peças de um puzzle a encaixar e a dizer como deverá ser a seguinte.
Se são estudos, que apesar ou não de integrarem um tema, não levantam novas questões que possam ser testadas (e falsificadas), requerem explicações ad-hoc, são incompletos e inconsistentes nas explicações que trazem, e as anomalias só se acumulam, isso é pseudociência. Como um todo, esses estudos são planos de investigação degenerativos.
Esta critica à apreciação de um estudo e do seu valor, é um passo acima da que vem da máxima implícita no discurso do John Oliver de que "não é ciência até ter sido replicado". E isto é uma boa máxima, já que em média um estudo é refutado em cerca de 6 meses (a replicação normalmente não vem nos média e nem na comunidade cientifica tem muita divulgação e de facto não é sempre tentada, já que "vale pouco mérito"). Mas um estudo tem de facto de ser replicado para ser levado a sério e normalmente se é algo muito importante, alguém tenta replicar ou esmiuçar o estudo até ao mais pequeno pormenor. A comunidade cientifica compete por recursos e não perdoa o disparate por aí além. Mesmo assim, a não replicação de estudos ( ou a sua não divulgação) por falta de mérito e recursos é de facto um problema por resolver. É preciso mais.
Mas acima de tudo, para que as suas conclusões - de um determinado estudo - sejam aceites para além dos factos (que até podem ser replicados embora a conclusão esteja errada), tem de pertencer a um plano de investigação progressivo e não degenerativo.
Isto é o que dizem os filósofos da ciência, originalmente por Lakatos, que tem a proeza de resolver os problemas não resolvidos por Popper de uma maneira muito satisfatória e que permite sustentar que ciência é o conhecimento que é feito das melhores explicações possíveis. Quando deixa de ser a melhor explicação possível é porque é preciso encontrar outra. Isto é o que os cientistas têm andado a fazer. Ou a tentar fazer. Com um sucesso bastante porreiro.
Outra coisa que o John Oliver não toca, é a estupidez dos documentários apresentarem todas as ideias dispares acerca de um tema com a mesma "neutralidade".
Dão o mesmo tempo de antena aos vários intervenientes, o mesmo ênfase (e aqui já é quando temos sorte), e depois o pessoal que tire as suas conclusões. Está errado. Leigos, por definição, não estão preparados para comparar determinados argumentos intuitivamente. E está a ajudar a ter uma sociedade com dois pesos e duas medidas - um para a ciência (mais exigente) e outro para a treta (nada exigente). Existem coisas que são matéria de especialista, cuja argumentação completa ultrapassa qualquer documentário de poucas horas e não pode ser apresentada como se a opinião de cada um pudesse ser apresentada ao lado de um trabalho metódico e auto-correctivo. Ao menos que promovam debates sérios onde as tretas possam ser confrontadas ponto a ponto por quem tem a capacidade de o fazer.
E agora o John Oliver. É do melhor que anda por aí. E sim as TED talks são "hit or miss".
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divulgação científica
segunda-feira, 9 de maio de 2016
Actualização sobre a acupunctura.
A acupunctura continua com uma
popularidade notável, arrastando consigo o resto da medicina tradicional
chinesa. Na altura em que na china não se praticava medicina cientifica, a esperança média de vida era péssima, o que não abona muito a favor da eficácia destas práticas tradicionais. Além disso, muitas das doenças que elas se propõem hoje tratar são doenças crónicas, típicas de uma civilização com longevidades elevadas. Ainda a notar nas inconsistências da acupunctura está a capacidade de produzir agulhas finas e estéreis como as usadas hoje - não era possível há centenas de anos atras - o que torna a acupunctura atual uma coisa muito mais recente do que é alegado. A electroacupucntura então já nem se fala. Há de
facto muita coisa que não faz sentido nas afirmações dos defensores da acupunctura
mas a mais forte a apontar é a falta de plausibilidade cientifica e o mau desempenho em testes bem desenhados. Todas as
afirmações devem ser avaliadas de acordo com a qualidade da justificação que têm. E a verdade, é que se não fosse Mao, e uma história mal contada, esta pratica estava esquecida e enterrada.
E
essa justificação tem de incluir tudo o que se sabe acerca da realidade, e
naturalmente do que é pertinente para avaliar a afirmação. Por isso temos de
considerar a plausibilidade à priori antes de fazermos qualquer teste. Senão, estamos a descartar tudo o que já foi estabelecido como conhecimento como se não valesse nada, e
isso não faz sentido. A matemática que permite fazer cálculos usando a
plausibilidade de uma afirmação perante um determinado teste, ou seja, a probabilidade à priori, é a estatística
bayesiana. Porque testes positivos aparecem sempre que se repetir uma experiência vezes suficientes,
e não é por isso que se manda tudo o resto que se sabe às urtigas. A ciência
funciona porque aposta na consistência, não na quantidade de explicações que
aceita, só porque alguém acredita ou porque tiveram sucesso em poucos testes, testes mal
desenhados e escolhidos apenas entre os que deram o resultado que se queria (vulgo "cherry picking"). Por isso se diz que "afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias".
Encontrei um calculador bayeziano on-line para quem quiser experimentar. Tenho uma explicação simplificada do que é a estatística
bayesiana aqui.
Então, decidi ver qual era o estado da atual
pesquisa cientifica sobre a acupunctura. E parece que até os mais exigentes investigadores andam à procura de "qualquer coisa onde isto possa ser útil" dado a
quantidade de coisas em que têm tentado avaliar a sua eficácia. Mas o panorama é o esperado e de acordo com as conclusões anteriores. Os testes são mal desenhados, insuficientes, e não permitem
concluir eficácia excepto nalguns casos que sugerem, na mesma, ser pouco significativo. Neste
cenário, e perante a falta de plausibilidade cientifica, a probabilidade que
devemos dar à eficácia da acupunctura é perto de nenhuma. Ou seja, pouco mudou no mundo cientifico quando à validação da acupunctura desde que a investiguei a ultima vez.
Aqui está uma compilação da avaliação de testes a que a acupunctura foi submetida, (pela Cochrane). Clique no link por favor, e veja caso a caso. Foi praticamente o que fiz (saltei um ou outro, admito, porque estava a ficar monótono).
Dado o resultado dos estudos sistemáticos (e revisão das metodologias dos testes) em face de tudo o que se sabe sobre a realidade, a a minha conclusão é: A acupunctura continua a ser pseudociência e não tem lugar na medicina. A minha justificação é: A acupuncura não prova ser capaz de ter um efeito significativamente superior ao placebo na esmagadora maioria das situações estudadas, não apresenta uma justificação cientifica, e leva a um campo de investigação regressivo onde continua a ter de ser defendida por evidencia escassa, anedótica e baseada na popularidade e crença pessoal.
A humanidade viveu baseado nesse tipo de conhecimento durante 200 mil anos em que pouco ou nada evoluiu. A escrita permitiu o nascimento de uma forma de registo e divulgação, e o nascimento da ciência aconteceu sob esta nova aptidão, passado mais uns milhares de anos, um pouco por todas as civilizações, embora muitas vezes apenas pontualmente. Há cerca de 600 anos, na Europa deu-se a revolução cientifica. O poder que nos trouxe foi incomparável com o que tínhamos até agora. O mundo entrou em rápida mudança. Quando é usado para o bem permite as longevidades actuais tão elevadas, a baixa mortalidade infantil e até a erradicação de algumas doenças. Permite que as classes médias vivam melhor que lordes medievais. O caminho a seguir é claramente outro do que o da pseudociência.
Aqui está uma compilação da avaliação de testes a que a acupunctura foi submetida, (pela Cochrane). Clique no link por favor, e veja caso a caso. Foi praticamente o que fiz (saltei um ou outro, admito, porque estava a ficar monótono).
Dado o resultado dos estudos sistemáticos (e revisão das metodologias dos testes) em face de tudo o que se sabe sobre a realidade, a a minha conclusão é: A acupunctura continua a ser pseudociência e não tem lugar na medicina. A minha justificação é: A acupuncura não prova ser capaz de ter um efeito significativamente superior ao placebo na esmagadora maioria das situações estudadas, não apresenta uma justificação cientifica, e leva a um campo de investigação regressivo onde continua a ter de ser defendida por evidencia escassa, anedótica e baseada na popularidade e crença pessoal.
A humanidade viveu baseado nesse tipo de conhecimento durante 200 mil anos em que pouco ou nada evoluiu. A escrita permitiu o nascimento de uma forma de registo e divulgação, e o nascimento da ciência aconteceu sob esta nova aptidão, passado mais uns milhares de anos, um pouco por todas as civilizações, embora muitas vezes apenas pontualmente. Há cerca de 600 anos, na Europa deu-se a revolução cientifica. O poder que nos trouxe foi incomparável com o que tínhamos até agora. O mundo entrou em rápida mudança. Quando é usado para o bem permite as longevidades actuais tão elevadas, a baixa mortalidade infantil e até a erradicação de algumas doenças. Permite que as classes médias vivam melhor que lordes medievais. O caminho a seguir é claramente outro do que o da pseudociência.
Etiquetas:
acupunctura,
medicinas alternativas e complementares
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