segunda-feira, 9 de maio de 2016

Actualização sobre a acupunctura.


E essa justificação tem de incluir tudo o que se sabe acerca da realidade, e naturalmente do que é pertinente para avaliar a afirmação. Por isso temos de considerar a plausibilidade à priori antes de fazermos qualquer teste. Senão, estamos a descartar tudo o que já foi estabelecido como conhecimento como se não valesse nada, e isso não faz sentido. A matemática que permite fazer cálculos usando a plausibilidade de uma afirmação perante um determinado teste,  ou seja, a probabilidade à priori, é a estatística bayesiana. Porque testes positivos aparecem sempre que  se repetir uma experiência vezes suficientes, e não é por isso que se manda tudo o resto que se sabe às urtigas. A ciência funciona porque aposta na consistência, não na quantidade de explicações que aceita, só porque alguém acredita ou porque tiveram sucesso em poucos testes, testes mal desenhados  e escolhidos apenas entre os que deram o resultado que se queria (vulgo "cherry picking"). Por isso se diz que "afirmações extraordinárias requerem provas extraordinárias".

Encontrei um calculador bayeziano on-line para quem quiser experimentar. Tenho uma explicação simplificada do que é a estatística bayesiana aqui.


Então, decidi ver qual era o estado da atual pesquisa cientifica sobre a acupunctura. E parece que até os mais exigentes investigadores andam à procura de "qualquer coisa onde isto possa ser útil" dado a quantidade de coisas em que têm tentado avaliar a sua eficácia. Mas o panorama é o esperado e de acordo com as conclusões anteriores. Os testes são mal desenhados, insuficientes, e não permitem concluir eficácia excepto nalguns casos que sugerem, na mesma, ser pouco significativo. Neste cenário, e perante a falta de plausibilidade cientifica, a probabilidade que devemos dar à eficácia da acupunctura é perto de nenhuma. Ou seja, pouco mudou no mundo cientifico quando à validação da acupunctura desde que a investiguei a ultima vez.

Aqui está uma compilação da avaliação de testes a que a acupunctura foi submetida, (pela Cochrane). Clique no link por favor, e veja caso a caso. Foi praticamente o que fiz (saltei um ou outro, admito, porque estava a ficar monótono).

Dado o resultado dos estudos sistemáticos (e revisão das metodologias dos testes) em face de tudo o que se sabe sobre a realidade, a a minha conclusão é: A acupunctura continua a ser pseudociência e não tem lugar na medicina. A minha justificação é: A acupuncura não prova ser capaz de ter um efeito significativamente superior ao placebo na esmagadora maioria das situações estudadas, não apresenta uma justificação cientifica, e  leva a um campo de investigação regressivo  onde continua a ter de ser defendida por evidencia escassa, anedótica e baseada na popularidade e crença pessoal.

A humanidade viveu baseado nesse tipo de conhecimento durante 200 mil anos em que pouco ou nada evoluiu. A escrita permitiu o nascimento de uma forma de registo e divulgação, e o nascimento da ciência aconteceu sob esta nova aptidão, passado mais uns milhares de anos, um pouco por todas as civilizações, embora muitas vezes apenas pontualmente. Há cerca de 600 anos, na Europa deu-se a revolução cientifica. O poder que nos trouxe foi incomparável com o que tínhamos até agora. O mundo entrou em rápida mudança. Quando é usado para o bem permite as longevidades actuais tão elevadas, a baixa mortalidade infantil e até a erradicação de algumas doenças. Permite que as classes médias vivam melhor que lordes medievais. O caminho a seguir é claramente outro do que o da pseudociência. 

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