sábado, 13 de junho de 2009

2,5 mil milhões de dolares depois não há novos tratamentos "Alternativos"

É este o título de uma notícia (1) da Associated Press, que vem chamar a atenção para um problema adicional acerca da investigação das alternativas .

E esse problema é o económico. Está a gastar-se demasiado dinheiro para a falta de resultados que se tem nas medicinas alternativas. Acho que é tempo de parar, olhar para os estudos que já existem e avaliar se faz sentido continuar.

Como tenho aqui escrito, estas "medicinas", não chegam a ter mais efeito que o placebo, excepto em casos muito raros, que de qualquer modo não representam nunca uma descoberta crucial para o tratamento de algo.

Se houvesse alguma plausibilidade nas explicações que apresentam, ainda faria sentido continuar a investir, mas com a ausência de resultados que há, aliada à implausibilidade "a priori" destas curas de fantasia, parece-me que a maior utilidade de continuar estes testes é ter mais argumentos para manter estas práticas longe dos hospitais e para melhor poder divulgar ao publico a sua ineficiência.

A maior parte destas medicinas, com excepção da fitoterapia, apresenta explicações cuja lógica pertence só ao seu universo, e avança conceitos que a serem provados, não só revolucionariam a fisiologia e patofisiologia, como a química e a física.

E poucos acham incrível que se ponham em causa fatias brutais do conhecimento científico, com teorias tiradas do chapéu, enquanto se tenta aplicá-las directamente em seres humanos sem mais nem ontem. Sem sequer estudos de segurança. Pacientes que sempre à espera da panaceia universal se apresentam como uma espécie de cobaias num trapézio sem rede. Porque não há uma rede de vigilância abrangente. Não uma Ordem. Não há notificação quando as coisas correm mal.

As razões porque tal fenómeno segue um aumento de popularidade, (para além de má divulgação científica), estão ligadas à dificuldade de provar a ineficiência destes tratamentos de um modo rigoroso sem gastar tempo e muito dinheiro.

Os factores que levam a que isto seja caro e exigente estão explicados no meu primeiro post sobre medicinas alternativas (2) mas são sumariamente: A necessidade de grupos grandes de pacientes em amostra aleatória, bem diagnosticados, e os testes duplamente cegos e com controlo - para compensar fraude, remissões espontâneas de doenças autolimitantes, efeito placebo, ciclos normais de variação de sintomatologia, etc.

Por fim, noto que estes 2,5 mil milhões de dólares não saíram dos bolsos dos contribuintes portugueses, foi dos americanos, mas a penetração das medicinas alternativas é igualmente alta cá.

Não devemos aprender com o que vem de fora?

(1)http://www.msnbc.msn.com/id/31190909/ns/health-alternative_medicine//
(2)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/10/medicinas-alternativas-e-as-outras-uma.html

2 comentários:

Rui leprechaun disse...

Mas que misteriosas alternativas são essas, afinal? É que a base ou o bê-á-bá de toda a prática médica reside, em essência, nos 2 factores principais que podem promover a cura das doenças, a saber: a química para o corpo e a psicologia para a mente!

Fitoterapia e farmacologia representam a parte da química, embora também existam processos físicos de tratamento, e a crucial relação do terapeuta com o paciente fornece o elemento psicológico de confiança e empatia sem o qual não pode haver resultados.

Ou ainda, só se cura quem de facto quer curar ou é encorajado para tal, e para isso tem de haver razões válidas para viver e não vegetar ou morrer. De certa forma, é isso que o efeito placebo também mede, ou seja, de que forma o organismo se reequilibra a si próprio sem necessitar dessa química externa. Sim, talvez esses milhões até fossem melhor empregues em investigar os íntimos mecanismos de autocura, mas uma tal pesquisa é bem mais difícil e exigente do que simplesmente testar terapias ou drogas cuja componente química ou física é mais facilmente mensurável.

Nesta questão "alternativa", existe também uma dificuldade adicional de ordem filosófica, digamos, subjacente ao tal universo conceptual que, pelo menos em aparência, pode contradizer ou chocar com alguns conceitos científicos aceites. E ainda assim, isso nem é obstáculo inultrapassável, como se demonstra no caso da acupunctura e a medicina tradicional chinesa.

Já agora, e por falar nela, em essência só há 3 sistemas terapêuticos tradicionais, sendo os outros 2 a medicina ayurvédica e a medicina natural ou popular espalhada um pouco por todas as culturas. De certa forma, Hipócrates deu um carácter mais científico às práticas empíricas naturais, pelo que a medicina tal como hoje a conhecemos começou por essa união de empirismo e tradição com ciência e observação.

Why can't it be like that NOW?!

Ah! só para realçar aquela que é, sem sombra de dúvida a falha mais grave da medicina científica altamente despersonalizada... números e estatísticas, that's all!... basta recordar que até no xamanismo tribal estão presentes os 2 pilares básicos: química (fitoterapia) e psicologia (religião, rituais).

É deveras espantoso que, em pleno séc. XXI, mais de um século após Freud e quase um século depois da medicina psicossomática, um tal aspecto fundamental do processo de cura esteja quase completamente ausente e não se lhe ligue patavina... a pílula mágica faz tudo e acabou-se! Yoga, meditação, tai-chi, oração, visualização são ainda marginalmente admitidos como práticas coadjuvantes válidas, mas bem mais em teoria do que no terreno concreto. Soa tudo muito vago e imaterial - pior ainda, religioso... argh! - e afinal a mente não passa de processos químicos e eléctricos neuronais, certo? May be, it's possible indeed, still...

You CAN NOT replace personal medical attention and loving care with robot-like interaction... we are much more than mere machines that just need maintenance and replacement from time to time!

De um modo geral, pode até dizer-se que os tratamentos resultam para quem neles acredita e investe o seu tempo e dinheiro e fé, porque esta também é essencial à saúde e bem estar do Ser Humano. Logo, quiçá os tais milhões também se pudessem aplicar melhor a dar educação aos profissionais de saúde em aspectos básicos de relacionamento pessoal e empatia ou partilha, respeito e apreciação e integral aceitação pelo outro ser humano que, em determinadas circunstância, busca o seu conselho e assistência profissional.

Like it or not, "sham" artists do it much better than health care providers and physicians. Quiçá até seja esta a razão pela qual gente culta, educada e com formação científica - incluindo médicos e outros profissionais de saúde - também recorre às tais alternativas... cause they do!

Nem só de pão vive o homem... e nem só os fármacos curam!!!

João disse...

Leprechaun:

Os hospitais podiam ter mais médicos e mais enfermeiros e mais trabalhadores e psicologos e sociologos a acompanhar os doentes e quartos melhores com vistas bonitas e comida de qualidade.

Se é isso que queres dizer estou de acordo.