A "dor dos tolos" é um argumento a favor do dualismo mente-cerebro do filósofo Saul Kipke. Ele diz que se reconhecemos o ouro dos tolos por parecer ouro mas não ser, é a pirite, também deviamos conhecer a "dor dos tolos". Mas ele diz que quando temos dores, temos mesmo dores, não se dá o caso de ser só parecer.
Segundo ele, se a dor fosse um estado neurológico, conseguiriamos conceber uma dor dos tolos tal que se a pessoa achasse que estava com dor ela poderia estar enganada porque não estava no estado mental da dor. Seria a dor dos tolos.
A questão é que o estado mental da dor é um padrão neuronal complexo. E não é tão simples como ter ou não ter.
Uma pessoal que ouve uma história de tortura não sente um pouco a dor imposta? Sim. É o "como se" a dor fosse real. Não é isto um candidato a dor dos tolos? Estará neste caso o estado neural igual a se a dor fosse real? Não. A sensação é a mesma? Também não. Poderia ser a mesma? Não creio, mas serve para ilustrar como a questão é enganadora.
E os "membros fantasma" que dão dores horriveis? A dor está apenas no estado mental, e a configuração é completa: a dor é real embora o membro não. Não é esta a questão que o autor pôe mas é um caso importante para avaliar a questão.
A questão é sentir dor sem ter o quadro completo de dor. Penso que não, que não será possivel ter uma sensação de dor complexa e completa sem ter todos os neuronios do padrão verdadeirso a disparar na intensidade certa. Penso que o padrão é tão complexo e envolverá tantos circuitos (como a integração com informação do género onde doi, porque doi, etc), que só um desarranjo grande nos neuronios (loucura total com synpses inadequadas em muitos sitios) poderia dar origem a uma situação de dor relatada a nivel consciente (verbalizada ou não) sem haver todo o padrão neuronal no cerebro. O que eu penso é que isso não objecta a posição materialista de que estados mentais são estados neurais.
Ou seja, sentir dor sem o quadro completo de dor a nivel neuronal seria antes um suporte do dualismo. Isso não acontecer num cerebro normal em condições normais - já que o como se numa pessoa lucida não tem a mesma intensidade e complexidade da dor real - só vai no sentido da equivalência mente matéria.
Eu acho que além disso, o que Kripke quer saber é se a gente pode sentir dor sem realmente a sentir.
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