Vamos começar por falar um pouco do ciclo do carbono, e ja lá chegamos. É preciso.
A quantidade de CO2 na atmosfera também resulta, tal como no caso do oxigénio – e em interação com este - de um equilíbrio entre o que é produzido e o que é consumido (ou retirado da atmosféra). Não é uma coisa estática.
Num esboço rápido podemos dizer que plantas e algas convertem o dióxido de carbono em glicose e agua durante o dia, e os animais e outros seres vivos aeróbios, libertam-no o tempo todo. Há ainda a fixação de CO2 pelo mar e reservas enterradas debaixo do solo como o petróleo, cuja fixação se deu há milénios atras. A quantidade que é absorvida pelo mar é sensivelmente a mesma que é fixada pela biosfera.
O equilíbrio da concentração deste gás na atmosfera antes da revolução industrial era nas cerca 280 partes por milhão e agora está nos cerca de 390 ppm. A principal razão foi termos começado a tirar carbono desses reservatórios subterrâneos e voltado a polo na atmosfera. Como sabemos isso? Por três razões:
1 – pelas variações das concentrações dos isótopos, o que sugere a entrada de “novo carbono” no ciclo (a).
2 – o decréscimo paralelo das concentrações de O2 – diminuiu de acordo com o previsto para a combustão de recursos fosseis com o petróleo.
3 – sabemos que os valores de CO2 na atmosfera estavam estáveis há milénios antes da revolução industrial, altura em que começamos a queimar combustível e a transformar florestas em pasto. Ou seja, temos um aumento, temos uma fonte, é difícil dizer que não é da fonte que vem o aumento.
Há ainda a acrescentar, no contexto de um aquecimento cada vez menos plausível de negar, a libertação de CO2 que esta preso em grandes massas congeladas - permafrost. O aumento da temperatura também diminui a capacidade de dissolução de gases na agua por isso é de esperar que o aumento da temperatura do mar vá contribuir para o aumento de CO2 na atmosfera, não porque este deixe de captar totalmente CO2 mas por começar a faze-lo mais lentamente. Quanto é difícil de prever porque há mecanismos compensatórios difíceis de contabilizar totalmente. Mas estamos tão longe de um ponto de equilíbrio que estes mecanismos dificilmente conseguirão fazer alguma diferença:
Neste momento estamos a produzir mais 80% do CO2 daquele que é consumido por todos estes processos.
Voltando às plantas, é de notar aqui que não só elas consomem CO2 na fotosintese como o CO2 é usado até 1000ppm em estufas para aumentar o seu crescimento. É por isso possivel prever um mecanismo de feed-back negativo que leve a diminuição de CO2 se essas plantas encontrarem as condições nesseçárias para se desenvolverem - uma vez que mais CO2 e mais crescimento também implica necessidade de mais nutrientes como o azoto. Há ainda a possibilidade do azoto vir do mesmo sitio de onde vem o excesso de CO2, ou seja, dos combustíveis fosseis, e equilibrar as maiores necessidades, mas isso não se sabe com rigor. Também ainda não se sabe com rigor em termos de valores como funciona esta relação do azoto (N) com o dioxido de carbono em termos de ideal para para as plantas. Mas na melhor das hipoteses, apenas resolvermos o problema das necessidades de azoto.
As plantas têm ainda necessidades especificas de temperatura e humidade (e de uma relação ideal entre estas para cada especie) que são coisas que estão em causa precisamente pelo aumento do CO2.
O efeito de estufa não é um ponto de controvérsia frequente uma vez que é um facto estabelecido à centenas de anos, desde o tempo de Napoleão, por Fourier. A previsão de que iria aquecer o planeta, mudando o equilíbrio entre os infravermelhos que são absorvidos e os que voltam para a atmosfera, é que nunca se pensou fazer para ver se acontecia. O problema é que está a acontecer.
Não sendo o único nem o maior contribuir para o efeito de estufa, o CO2 é no entanto o gas com esta particularidade que esta a aumentar mais depressa a sua concentração na atmosfera. Por isso é lhe apontado o dedo com mais frequência. E com mais razão.
Sem a introdução do efeito de estufa pelo CO2 nos modelos climáticos não se consegue encontrar outra justificação para o aquecimento global. E mais uma vez, temos uma causa e um efeito conhecido. Estar a dizer que é coincidência é uma afirmação injustificada. Não é apenas a correlação. É que há um mecanismo conhecido capaz de explicar a correlação entre o aumento de CO2 e a temperatura. É como fazer uma fogueira e dizer que o fumo que está a sair vem do chão abaixo da fogueira ou coisa do género.
E agora voltando outra vez atrás. Porque é que o aumento de CO2 não é benéfico para as plantas?
Porque o CO2 aumenta a temperatura indirectamente.
E porque este aumento de temperatura, que até pode ser bom para algumas plantas (ocorre-me que as plantas tropicais podem assim crescer na Gronelândia), não o é para todas. Muitas das plantas que cultivamos para alimentação sofrem um impacto negativo com o aumento de temperatura.
Tal com já tinha referido no post anterior, muitos (todos ?) parâmetros ambientais não são do género “quanto mais melhor”. Têm pontos de valor óptimos variáveis de espécie para espécie. Para além da menor agua disponível no solo, quer por haver menos chuvas quer por aumentar a evaporação, para além das maiores necessidades em nutrientes, muitas das plantas de cultivo, simplesmente, não gostam de temperaturas médias muito elevadas.
Este facto poderá ser em alguns casos compensado pelo efeito positivo do CO2, mas não como regra.
Por outro lado, o aumento previsto de condições extremas, com picos de temperatura, chuvadas e secas, vai causar danos em culturas.
Como tenho vindo a salientar, tudo depende dos valores que estamos a falar. De quanto é a temperatura? De quanto é a humidade do solo? Etc. No âmbito desta questão dos pontos de estabilização resumi algumas coisas no post sobre os alvos de estabilização (1).
Os modelos prevêem que o resultado final vá ser um aumento do custo de produção e da quantidade de produto agricula. Mas isto já está fora do ambito deste post que era apenas falar sobre o ciclo do carbono e a vantagem de alterar o ponto de equilíbrio da concentração para as plantas.
O que importa reter aqui, é que o dioxido de carbono (durante o dia) até pode servir de fertilizante, mas tem demasiados efeitos secundários para o considerar um “medicamento” seguro para administrar à escala mundial.
Fonte:
ISBN: 0-309-15177-5, 190 pages, 7 x 10, (2010)
This free PDF was downloaded from:
http://www.nap.edu/catalog/12877.html
Stabilization Targets for Atmospheric Greenhouse
Gas Concentrations
Committee on Stabilization Targets for Atmospheric
Greenhouse Gas Concentrations; National Research
Council
(1) http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/07/alteracoes-climaticas-impactos-futuros.html
(a) Na realidade esta parte é muito interessante. Como as plantas preferem C12 ao C13 e como o petroleo tem origem em plantas e algas, se mandarmos deste carbono para a atmosfera é natural que a relação entre C13 e C12 diminuia. E isso é o que se esta a passar. Aleém disso, através de arvores milenares podemos ter uma ideia da relação de C13/C12 através dos seculos. E o que encontramos é que começou a baixar mais rapidamente agora.
2 comentários:
isto sim é giro
agora saber o que vem depois...
ontem foi às 3 da matina
hoje inda a esta hora, há alguns de vocês...enfim
http://beforeitsnews.com/story/132/082/ESA_Satellite_Image_Animation_Shows_Giant_Iceberg_Calving_from_Greenland_Glacier.html
e se quiser responder ao eco-tretas
sobre o glaciar que sofreu o calving estar a "crescer"
basta ver as fotos de 1991 estão nesse link
Almost 19 years ago to the day, this 19 August 1991 ERS-1 SAR image shows a much longer ice-tongue protruding further towards Nares Strait, a few days before the calving of three large icebergs. The dot line across the glacier indicates the line of fracture of the icebergs in 1991.
umas imagens ajudavam, já que se quer fazer paladino de causas perdidas, eu já desisti na década de 90 e era mais novo que os seus amigos include Jão Vasco é presentemente, na altura era menos infatil e tinha mais bom senso involui....
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