terça-feira, 10 de agosto de 2010

De onde vem o oxigénio?

Resposta rápida: Das cianobacterias. Até as plantas lhes devem a sua capacidade de fazer a fotosintese.

Nos meus intercâmbios de informação com alguns dos "cépticos" do aquecimento global, deparei-me por mais de uma vez com a convicção de que o homem não tem a capacidade de alterar substancialmente o cenário ecológico em que hoje vivemos. Pareceu-me que esta crença era mesmo uma das razões bases dos que teimam em não admitir as consequencias dos nossos actos no ambiente.

Parecem acreditar que a Terra é uma fonte infinita de recursos, estável como uma pedra e imutável contra todas as alterações. Mas não é. E a vida sobre a sua superfície, mais que uma vez e em mais de uma maneira alterou o ambiente à volta. E o homem, quer pelos seus números populacionais quer pelos seus recursos é aquele habitante terrestre que tem de facto o maior potencial para causar impacto.Não estou a dizer que esse impacto é nesseçariamente mau. Isso cabe-nos em parte a nós escolher e dar rumo às coisas. Mesmo que não se faça nada diferente do que estamos a fazer, temos de admitir que isso é em si uma escolha.


Uma das maiores alterações que os habitantes da Terra lhe deram foi a sua atmosfera rica em Oxigénio. Aproximadamente 21%. Se tivermos em conta que o Oxigénio é uma substancia altamente reactiva, que tem uma capacidade enorme de reagir com outras substancias - daí vem o nome oxidação - já ficamos com uma ideia da dificuldade de manter um nível tão elevado deste na atmosfera.

A resposabilidade de tal crueldade (para os anaerobios)  foram as cianobacterias. Altamente adaptaveis, crescem quase em qualquer lado e em qualquer condição, eram tal como os restantes seres vivos seus contemporaneos, anaerobias. Mas o produto metabólico final do seu processo energético era um tóxico fatal para quase todos os outros seres vivos da altura, o nosso oxigénio. Mesmo eliminando um produto tóxico e tendo uma capacidade adaptativa tão boa, demoraram milhões de anos a mudar a atmosfera. Mas ganharam uma batalha colossal. Os organismos com quem elas competiam na altura são os antepassados do que consideramos hoje os extremófilos - seres vivos que vivem, aos olhos da ecologia actual, em situações extremas. Na altura era a regra.

As próprias plantas, por um processo de endosimbiose, adquiriram a capacidade de usar a luz do sol para produzir energia das cianobacterias. Os cloroplastos são originados de cianobacterias que começaram a viver dentro das células das plantas. De resto as cianobacterias ainda hoje gostam de viver em associações com outros seres vivos.

São responsáveis por 20 a 30% do oxigénio atmosférico mesmo nos dias de hoje onde as plantas e outras algas assumem o seu papel no ciclo do Oxigénio, por isso, com alguma liberdade diria que somos também simbioticos com elas.

O oxigénio, que nós usamos para queimar combustiveis e para respirar não tem uma fonte infinita. É aqui produzido e consumido. Para deslocar o ponto de equilibriu em que ele se encontra basta queimar demais ou destruir os organismos que são fulcrais na sua renovação. E nós parecemos estar a fazer as duas coisas. Convém salientar mais uma vez que por si só, o oxigénio não é muito estável. Aliás, se não fosse essa tendência que tem para reagir com outros elementos ele não teria sido por sua vez o responsável pela alteração da superfície terrestre.

Eu sei que as alterações no equilibrio ciclo do oxigénio não são aquelas que mais têm relevância nos problemas ambientais. A alteração do ponto de equilíbrio de outro ciclo,  o do dióxido de carbono, que parece ainda nem sequer foi atingida é que está a alterar as condições de vida na terra. Mas nós não vamos demorar milhões de anos a alterar a sua concentração. Ja o estamos a fazer desde a revolução industrial. E ao contrário das cianobactérias, que mudaram a atmosfera só pelos seus números, nós além de sermos muitos ( e eu desejo que possamos ser de facto muitos), também estamos a produzir CO2 com as nossas máquinas.

Estamos a produzir CO2 a nivel industrial. Mas para nossa desgraça, ao contrário do que aconteceu às cianobacterias, isso não é muito conveniente. Elas acabaram com a competição dos anaerobios estritos, tornaram-se imprescindiveis para uma série de seres vivos. Mas as alterações que se prevê virem da alteração do ciclo de carbono, o qual nós produzimos mais 80% do que aquele que é consumido, têm impacto negativo forte na maior parte dos seres vivos que formam o ecossistema do qual nós dependemos.

Eu acho que o episódio das cianobactérias é interessante, pois permitiu a nossa existência e não só, mas também por isso, é um episódio que pode mostrar como a vida na terra é dependente de ciclos, pontos de equilíbrio e não de uma fonte externa de recursos infindável.

Por nota final, gostava ainda de referir que há pontos de equilíbrio que dependem de outros. O CO2 é capaz de acidificar os oceanos. Mas não é preciso que estes cheguem mesmo a ficar ácidos para que aconteçam problemas graves. Qualquer pessoa que tenha tentado manter corais vivos artificialmente num aquário sabe que estes, por exemplo, vivem apenas numa faixa muito estreita de valores de PH, temperatura, luminosidade e densidade. E os recifes de coral são a maior reserva de biodiversidade à face da terra. E falo dos corais para dar um exemplo.

Há coisas que parece que são infinitas, não pensamos sequer que possam estar em causa. O mar parece enorme mas toda a agua é apenas 0,1% da massa terrestre. Na melhor das hipóteses e contando que haja agua dissolvida muito abaixo da crosta. A Terra é um planeta pequeno mesmo para o nosso sistema solar. Tudo o que cá há é em pouca quantidade e a espécie humana quase cobre já toda a superfície. Há humanos em todo o lado. E se queremos que continue assim, temos de fazer escolhas. E perguntas para pensar. Certo que o que eu estou a dizer é que mundaças sempre ouve. Mas a questão é se é esta a mudança que queremos. Ja que a estamos a fazer, convém ter a certeza:

Queremos um mundo mais quente?

E de onde vem o oxigénio?


Figuras: A primeira, mais acima, é a Terra à noite. Os pontos de luz são de origem humana. Achei que era ilustrativo tanto da nossa capacidade de alterar o planeta como da nossa elevada população e distribuição pelo mundo. Mesmo se os pontos fossem algas a produzir CO2 ja era qualquer coisa.

A segunda e ultima, cianobacterias ao miscroscópio. Yep. É por causa delas que ca estamos. Senão tinhamos de passar o dia bem quietinhos a fermentar qualquer coisa. Não podiamos queimar glicose para viver. Nem tinhamos oxigènio nem tinhamos glicose.

4 comentários:

tempus fugit à pressa disse...

sem querer ser desmancha prazeres o barba rija tem razão num ponto
há muita informação, para um post

as plantas exceptuando as leguminosas que fixam o N2 da atmosfera, com simbiontes bactérias e cianobactérias nostoc spp anabaena sp etc logo há azoto até a mais na atmosfera
não se consegue é fixá-lo biológicamente nas plantas

o trigo russo tal como o português necessita de muita água nos meses antes da formação do grão e não suporta temperaturas altas, queda das inflorescências e grãos

os egípcios têm há 4000 anos variedades que suportam 45ºC e mesmo os 50º (por falar nisso o Iraque teve máximas de 54º não são máximas absolutas) portanto desde que irrigado podemos adaptar outras variedades
o cultivo de cereais em regime de sequeiro em portugal e noutros lados será difícil
mas os seus 200 % de aumento estão longe
há perdas enormes de grão no paquistão e rússia mas produções recorde noutros sítios
é que enquanto o petróleo for barato podem-se fixar electricamente Megatones de n2 sobre a forma de nitratos e transportá-los

logo a limitante de nutrientes para as plantas cultivadas não existe e estas cobrem a maioria dos ecossistemas terrestres

tempus fugit à pressa disse...

o oxigénio mesmo sem fotossíntese
os quase 21% o2 demorariam milhões de anos a esgotar-se
só lançamos uns ppm extra de CO2
é uma tonelagem imensa

mas mesmo que fossem 100ppm/ano
são apenas 100/1.ooo.000
1/10.000=0,01% extra por ano
ou seja mesmo com estes valores
10.000 anos para o CO2 aumentar para os 1%=10.000ppm
(obviamente neste caso não seriamos vénus mas não teríamos muita água líquida)
e o o2 diminuir o mesmo
mesmo contando com absorção similar no oceano o que é impossível pois a partir de dada concentração torna-se insolúvel
presentemente os 0,0394%
já são um problema se aumentasse
mais você morria assado centos de milhares de anos antes de morrer
sufocado
mecanismos de retroacção ou(feedback como se queira ) há vários
funcionarão´?
estes geólogo tem umas teorias
giras, sobre a possibilidade de desenvolvimento de anomalias
frias com temperaturas mais altas
já aconteceu no passado mas não nas presentes condições
http://www.youtube.com/watch?v=UqejKv9asvs&feature=channel

João disse...

DSAA:

"logo a limitante de nutrientes para as plantas cultivadas não existe e estas cobrem a maioria dos ecossistemas terrestres"

"é que enquanto o petróleo for barato podem-se fixar electricamente Megatones de n2"

Ou seja, dar a mesma origem a um azoto reactivo , não o N2, mas o No2 ou o NO3 que tem o CO2 que aumenta a temperatura e seca o solo.

Não sei se é uma boa ideia.

João disse...

Quanto a ser uma causa perdida, logo se ve.

Por favor, não podes dar melhor forma ao teu texto?

Não me parece que esteja sem interesse, mas assim ninguem te liga.

E arranja um perfil decente. Não leves a mal, é para teu interesse. Acho.

E não andes a mudar de um para o outro omo se fosses a nuvem ...