segunda-feira, 15 de abril de 2013

A austeridade do ponto de vista de um ceptico.

A austeridade é a politica económica que diz que devem ser os pobres a pagar a incapacidade dos ricos de aplicar efectivamente a sua riqueza (nem investir nem emprestar querem, muito menos pagar impostos) para que haja crescimento.

Em vez de ir buscar o dinheiro onde ele está, a ideia da austeridade é tão burra como ir tentar  buscar dinheiro a quem menos tem. E para dar a quem? A quem menos tem também? Para isso começavam por não o ir lá buscar.

Normalmente com o argumento que as empresas e os ricos criam postos de trabalho, e como se o verdadeiro objectivo das empresas não fosse apenas ter lucro, em vez de taxar o capital proveniente desse lucro, procura-se taxar o trabalho. É uma assimetria enorme nos esforços pedidos.

E uma data de gente sem capital, na esperança eventual de um dia ficar cheio de capital, talvez porque acredite que se vive numa meritocracia ( e cada um de nós tem tendencia para achar que é melhor que os outros), ou que vá ganhar a lotaria, defende que de facto os ricos merecem todo o dinheiro que têm. Ou talvez acreditem que todos podem abrir empresas e ficar com os lucros das suas próprias empresas como se houvessem recursos infinitos e espaços para infinitas empresas. Ou então ainda se calhar é para se armarem em fortes, tal qual o miudo que se espalha no chão e se levanta todo direitinho, a tentar não coxear e a dizer que não doeu nada.

Defendem portanto que 0,001% das pessoas merecem ter practicamente 20% da riqueza. E por aí fora a desporporção continua.  6 biliões de pessoas, ou seja 99,9%  partilham apenas 19% da riqueza que sobra. Que moral é esta? Que discrepancia de mérito pode justificar isto?

Nesta sociedade todos parecem fazer falta para que tudo funcione. Se não igualmente, pelo menos nada que justifique uma diferença tão grande. Apenas há uns que se puseram na posição de fazer as regras e garantem que as regras dizem que os outros não valem grande coisa. Uns acumulam capital enquanto outros acumulam dividas a quem tem capital. E faz as regras. É que ter riqueza dá poder e poder dá riqueza.

Lutar por riqueza, recursos e ideias é em grande parte uma lotaria. Mandar o povo tornar-se empreendedor é como dizer: "amanhem-se!" mesmo sabendo que não dá nem para 1/3 destes.

Parece-me mesmo, tal como a austeridade é imposta, que estamos a pedir o maior esforço a quem mais as coisas custam. Com impacto na qualidade de vida, na saude, na própria e nos seus filhos e provavelmente por muitas gerações. Por isso não me falem em espantalhos de premiar quem mais merece. Nada justifica estas desigualdades e esta má distribuição dos esforços. Afinal o esforço devia ser premiado.

A solução, na minha maneira de ver, é substituir a austeridade por um estimulo economico com origem na redistribuição da riqueza. É preciso ir buscar o dinheiro onde ele está. Não onde ele não está.

Os seres humanos são notávelmente semelhantes entre si. De facto parece que descendemos todos de uma população ancestral de cerca de 10.000 individuos. Qualquer argumento que procure racionalizar a discrepancia de riqueza de um modo tão implacavel está condenada a falhar na justiça, na moralidade e na biologia. E não resta muito mais. Há!... resta na estabilidade mundial. Sim, está a falhar também. A crise é mundial - deixar alguns acumular riqueza sem limites e reger a seu belo prazer deu nisto - e agora é a teoria de que espremer os pobres que resolve o problema. E as desigualdades e o desemprego são causas de guerras. Já chega não?

Dizem também que são ciclos. Suavizem esses ciclos com melhor distribuição dos esforços e da riqueza, num estado mais social e menos selvagem.

Não é preciso acabar com os ricos. Eles podem andar aí na sua vida de ricos que a mim tanto me faz. Mas não podem ser tão ricos. Têm de ajudar a acabar com a pobreza, a miséria e outras coisas que não têm nada de existir.  É que num mundo de recursos limitados o que se acrescenta num lado tem de vir de outro. Só se houvesse recursos livres e ilimitados é que fazia sentido dizer que cada um tem o que se esforça por ter. Assim, o que uns têm é tirado a outros. E se razão pode haver para alguma, moderada e simbolica  desigualdade, nada justifica a actual.

Exemplos empiricos: Eu sugiro o modelo nórdico para começar. E nunca, mas nunca por a democracia em causa.



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