terça-feira, 16 de outubro de 2012

As desigualdades.

Portugal é um dos países da europa onde as desigualdades são mais marcantes. De acordo com medições do coeficiente de Gini, que mede precisamente a desigualdade económica, só no nordeste da Europa encontramos países com a mesma quantidade de desigualdade.

Os melhores são mais ou menos os do costume. Norte da Europa e Europa central. Eles distribuem melhor a riqueza produzida que nós. Muito melhor. 

Segundo o que se pode ler no Público, isso vai piorar ainda mais entre nós.

E o que nós sabemos sobre isto, é que a desigualdade é um factor de instabilidade social, revoluções e mesmo guerras. Não há de facto justificação, para uma sociedade que funciona como um organismo, em que cada um dos seus órgãos cumpre uma parte do processo, que haja discrepâncias tão grandes no valor atribuído aos seus constituintes. 

O argumento de que é preciso premiar quem se esforça mais, não impede que haja uma redução na diferença de rendimentos, já que para premiar não são necessárias diferenças tão dramáticas como as que verificamos nos dias de hoje e ao longo de tanto tempo. Isto acontece em boa verdade por todo o mundo. 

Há muita margem de manobra para diminuir as desigualdades.

Os ditos prémios a serem realmente prémios serão tão díspares entre as pessoas que pouco poderão ter a ver com o mérito ou falta dele. Têm mais a ver com quem pode não querer distribuir aquilo com que pode ficar, e em tentar racionalizar a questão. E depois, há muitas mais maneiras de premiar o esforço e o bom trabalho. A medalha e o oscar, etc, valem muito mais que o ouro em que são feitos. E afinal,  ainda há todo o conjunto de posições de poder que podem e devem ir para quem mais merece - alguém tem de organizar as coisas. E o poder e a glória sempre foram motivos humanos, pelos quais podemos distribuir os prémios. Ou seja, há uma margem muito grande para reduzir as desigualdades nos rendimentos. Justificada pela importância e papel que todos cumprem.

A prova de que a cenoura à frente do burro não é tudo o que precisamos para ter bons produtos e boa produções é ilustrada por coisas boas feitas de graça - completamente trabalho oferecido - como o sistema operativo Linux, que se pode descarregar à borla, a suite de programas de produtividade Libreoffice, o programa de edição de imagem Gimp, a wikipédia, associações humanitárias e de caridade, etc... 

Ou olhar para muita da ciência produzida pela história fora, já que os cientistas nunca foram remunerados de acordo com a contribuição que deram e muito menos a dedicação que muitas vezes tiveram. O melhor com que podem contar para enriquecer, ainda hoje, é o prémio Nobel. E quanto a patentes... Essas ficam as firmas com a maioria delas como se vê pelas disputas em tribunal - elas nem pertencem às pessoas que as criaram. 

De qualquer modo, existem estudos recentes, sistematizados e empíricos  que suportam esta afirmação de que não precisamos de forçar a desigualdade para ter produtividade, seja pelas razões que apontei ou não.

E isto é para argumentar contra as desigualdades no mundo, nem sequer só em Portugal. E faço-o, acima de tudo, chamando a atenção para o fato de que funcionamos como um organismo onde cada órgão cumpre um papel fundamental. Cada profissão faz falta. Até os... Adiante.

O argumento dos riscos também já não pega. Afinal já percebemos quem é que corre os riscos realmente.

Para o caso português em particular, podemos até usar o argumento de que todos os países que estão melhor que nós na Europa distribuem melhor a riqueza. Por isso nós devíamos fazer melhor do que o que estamos a fazer, sem medo de perder o resultado do "incentivo a quem merece mais".

E em boa verdade, toda a Europa, que agora é uma união económica, tem culpa disto que por cá se passa. Só porque estamos na periferia, longe, em vez de nos ajudarem a resolver os problemas, dão-nos austeridade - austeridade que acaba por custar mais a quem menos tem. Se funcionasse, ainda se aturava, talvez... Mas não. A austeridade está a falhar e o ressentimento das pessoas aumenta. 

E o ressentimento vem sobretudo das desigualdades. Quando o problema é distribuído por todos, como acontece em casos de catástrofes naturais, não se vê aumento da instabilidade social. Vê-se entreajuda e empatia. Ressentimento vê-se quando há crises em que os sacrifícios não são distribuídos equalitariamente e a coisa é óbvia. 

As grandes desigualdades dão buraco. Dão crime, violência e revoluções. E são injustificáveis moralmente.

Ou então, onde estão agora aqueles que eram tão importantes para a sociedade que se dispuseram a guardar a esmagadora maioria da riqueza? É a altura de mostrar que valem o que ganharam e que podem fazer a diferença.

Porque temos de fazer como se a história não nos ensinasse nada? Porque temos de fazer as mesmas asneiras uma e outra vez? Não temos...

Agora sabemos mais... Temos de reduzir a desigualdade. E a riqueza tem de ser melhor distribuída  Em todo o mundo isso é preciso, mas nós até somos dos piores casos e onde podemos fazer mais diferença é onde estamos. 

E as pessoas... Precisam de se lembrar que a violência só piora tudo. Há mais maneiras de exigir também.

Suporte bibliográfico e leituras aconselhadas:

No BMJ; desigualdades guerra e pobreza: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1122240/
Inequality.org - http://inequality.org/
Estudos empíricos recentes contrariam a noção de que a desigualdade leva a crescimento económico: http://www.jstor.org/discover/10.2307/2565487?uid=3738880&uid=2&uid=4&sid=21101273781791
No longo termo não há perda de eficiência com diminuição da desigualdade IMF; http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2011/09/berg.htm

2 comentários:

Francisco disse...

De acordo! É uma opinião sensata, daquelas que precisavamos de ouvir em tempos tão conturbados. E não se trata de ser de esquerda ou direita, trata-se de bom senso.

João disse...

Olá Francisco,

Obrigado pelo comentário.