sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Regular as medicinas alternativas

De acordo com uma notícia do Público, uma associação de médicos alternativos, ganhou um processo que obriga a que estas praticas sejam reguladas em 8 meses. Visitando o site deles não me foi possível saber que  medicinas alternativas eles propõem pelo que vou assumir que são todas as mais faladas.

As chamadas medicinas alternativas, que não são muito mais que elaborados placebos, são de fato práticas extremamente populares. Isso torna a sua regulação um berbicacho.

Como definir má prática quando não há procedimentos comprovados? Como permitir que se façam diagnósticos baseados em princípios pré-científicos e francamente incompatíveis (uns dizem que é o Qi, outros as subluxações, outros os miasmas, etc), quando hoje sabemos que o corpo não funciona como eles pretendem que funciona? Quem diz quem é que pode formar médicos alternativos se não podemos investigar  resultados empíricos sistematicamente? Tuff questions.

Se se proíbe isto completamente vão surgir logo as queixas do costume e as acusações de conspiração que a "Big Farma" é que quer ficar com os lucros todos... Como se eles não quisessem também dinheiro e a "Big Farma" estivesse de algum modo impedida de ganhar dinheiro com isto.

Mas para lá dos maus argumentos, a verdade é que proibir, provavelmente, não é muito democrático. Se as pessoas não estiverem a lesar ninguém não têm direito de escolher o que querem? Lá está, o problema não é impedir que as pessoas possam escolher as medicinas alternativas, elas têm de o poder fazer. Têm é o direito de não ser lesadas se não souberem o que estão a escolher.

Se se permite isto sem mais nada, então estamos a admitir que a nossa sociedade suporta que se vendam serviços e produtos que não existem ou não funcionam como anunciado. Isso é bom?

E depois, há outro problema ainda. Vai-se regular de acordo com o quê? A antiguidade? A popularidade? São falácias lógicas. Não há nada de melhor no Reiki, Quiropratica (não a parte das massagens mas alegações  de tratar subluxações que não existem) ou Homeopatia, só por serem velhos, que em qualquer pratica alternativa inventada hoje que explore o efeito placebo de igual modo. E isso de facto acontece com regularidade nos dias que correm com maior ou menor sucesso.

Médias altas para entrar em medicina? Faça a sua própria.

Então, se não devemos proibir as Medicinas Alternativas e as pessoas devem ser livres de "escolher o seu próprio veneno" (as they say), como devemos de maneira segura regular isto? De modo, claro, que se protejam ao máximo as pessoas de alegações infundadas?

Penso que, tal como acontece em muitas coisas e por variadíssimas razões, o ideal seria através de termos de responsabilidade. Ao paciente deveria ser dado a assinar um termo de responsabilidade em como este reconhecia que estava a participar de livre vontade em procedimentos sem suporte cientifico para resultados melhores que placebo e que a responsabilidade da escolha é apenas sua (pelo esposto antes penso que não pode ser de outra maneira). A pratica é regulada perante a definição e enquadramento específicos e condicionada à apresentação do termo de responsabilidade.

Penso ainda que os praticantes de medicinas alternativas não se oporiam fortemente a isto. Eles atacam frequentemente a ciência para defender as suas convicções, por isso não vejo que seja problema lá dizer que não há suporte cientifico e podiam dormir mais descansados sem estarem preocupados com tudo o que estão a deixar de fazer.

Eu por mim, como não quero forçar ninguém a nada (excepto, talvez a vacinar-se já que isso é problema de todos), ficaria satisfeito por ser proposto um texto que pelo menos alerte as pessoas acerca do que se sabe do que estão a escolher.

2 comentários:

ADEK disse...

Uma vez vi em directo o prof Vaz Carneiro propôr ao Dr Choy um estudo científico sobre as medicinas complementares, para integrar o Instituto de Medicina baseada na evidência e ele respondeu logo que tudo o que fazia era já testado, em grupos de estudo de 10 e até 20 pessoas.

João disse...

Não conhecia isso. É pena ele não ter aceite. E não deixa de ser curioso, já que se ele acredita naquilo é uma oferta bastante generosa. Dizer que se fez estudos vale tanto como o ar em que foi dito...