quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Acupunctura é 5% melhor que placebo. Isso chega?

Não. Não chega.

Mas é o que diz um meta-estudo recente sobre a acupunctura que conclui que ela deve ser recomendada para determinados tipos de dor crónica (o tipo de dor que devia ser raro na china há uns séculos atrás).

A diferença entre fazer a falsa acupunctura ou a verdadeira acupunctura, neste mesmo estudo, foi de 5% na redução da dor. Redução essa avaliada subjetivamente - não há outra maneira. Ou seja, a dor é sempre uma questão de percepção e logo bastante variável de acordo com outros factores que afetem os pacientes. Donde, uma redução de 5%, é bastante perto de nada. Clinicamente não é relevante, ninguém iria dar por isso.


Estatisticamente, também não chega para provar que a acupunctura é mais que placebo; embora seja neste meta-estudo estatisticamente significativo para  os valores de P usuais, é importante notar que se estamos a usar valores de P iguais aos que usamos para coisas bastante bem explicadas, então estamos a colocar um "bias" forte no sentido da acupunctura.

Alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias, por isso não podemos aceitar um valor de P vulgar.

Porque não podemos esquecer que não há um mecanismo plausível para a acupunctura ultrapassar o efeito placebo e não há evidência que funcione para mais nada do que alguma vez se alegou que poderia funcionar - aliás como não me canso de notar, a dor cronica é desde algum tempo o ultimo reduto desta pseudociência .

De resto o "bias" dos autores é bem notável ao concluir que a acupunctura deve ser recomendada, quando o grau de melhora que teve relevância estatística foi 5%. Eles devem saber que relevância estatística e relevância clinica não são a mesma coisa, mas talvez se tenham esquecido...

Aliás, "bias" como o identificado aqui, pode bem ser a origem dos tais 5%. Ou aqui.

O que é certo é que isto se traduz agora em desinformação do público.

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