quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Mitos sobre a gripe A

Via New Scientist.

Mito :A gripe A mata tanto como a outra, não mais.

R: Não se sabe realemente quanto mata a gripe A, mas os numeros normalemnte disponiveis e vulgarmente usados não podem ser comparados, pois os valores que saiem para a gripe A referem-se ao numero de casos que se tem a certeza que a gripe A foi a causa de morte. Os numeros de mortes atribuidos à gripe noutros anos são mais vagos e incluiem mais situações.

Alem disso, a gripe está a afetar as pessoas jovens e saudaveis, a que se juntarão as mortes pelo frio quando o inverno se instalar...

Mito : Se não tem febre não é gripe A:

R: Metade das pessoas afetadas não tem febre.

Mito : Só pessoas com problemas de saude são gravemente afetadas.

R: A maioria das crianças que morreram com gripe A eram saudaveis. Grande parte dos adultos tambem.

Mito : A vacina não é segura.

R: Falso. A vacina é tão segura como qualquer outra vacina. Riscos há sempre, mas quando o risco de não tomar é muito maior que o de tomar, os profissionais de saude aconselham a vacinação. Quando os riscos são muito, muito baixos é facil pesar as coisas. O fenomeno "anti-vacinação", que agora chega à vacina da gripe, é uma crença injustificada sem fundamento. (desculpem a redundancia, mas é para não deixar duvidas...)

Mito : Agora que já há vacina o problema está controlado

R: Infelizmente a vacina não chega para todos. Era bom que profissionais que estiverem em posição fulcral na dispersão da epidemia se deixassem vacinar. Vacinar serve para proteger os outros tanto quanto aos próprios.

Ver mais aqui:

http://www.newscientist.com/special/swine-flu-myths-that-could-endanger-your-life


Nota: o meu post não é uma tradução literal. É um resumo com algumas alterações. Outra coisa que nunca fica mal lembrar é que as grávidas são 4 a 5 vezes mais susceptiveis a formas graves da gripe. Devem ter ainda mais atenção e cuidados.




quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Da sinapse à moral.

É vulgar dizer que a moral esta fora da ciência. Que não é possivel o rigor cientifico numa aboradagem à moral ou que esta nem pode ser feita.

A minha opinião é mista. Sim - para não ser possivel abordar abrangentemente a questão da moral com o rigor e metodos cientidficos. E não, para a moral ser totalmente inacessivel à ciencia.

Vou tentar desenvolver para me explicar:

Não conhecimento mais solido que o cientifico. Há é coisas que não se conseguem determinar cientificamente. Por falta de tempo, por falta de meios, ou pela própria natureza. Convenções e escolhas, estão para la do actual poder da ciência. Mas o nosso cérebro é a base física da nossa mente, e não nada que indique que o nosso pensamento não é uma coisa deste mundo. Ou seja, o nosso pensamento é um fenomeno emergente dos circuitos neuronais do nosso cerebro e das influencias fisicas que nele actuam.

E do nosso pensamento emerge a moral. Pode ser impossível descrever a moral a um nível tão baixo como o do conjunto das sinapses de todos os cerebros que nela participam. E que seja simultâneamente um modelo preditivo, capaz de ser utilizado para prever decisões, por exemplo.

Mas isso não quer dizer que, de certo modo, uma abordagem de alto nível (ao nivel de manipulação de conceitos complexos como morte, sofrimento, etc) não possa ser enquadrada numa abordagem cientifica.

quem não percebe nada de ciência e quer mistificar a mente, (e o pensamento), é que enfia o barrete do dualismo.

A ciência também não pode prever que bola vai sair primeiro no totoloto. Isso quer dizer que é um problema que transcende a ciência? Não. Quer dizer que ha demasiados imponderaveis em causa. É mais um problema de abordagem pratica que teorico.

E é algo analogo ao problema de reduzir a moral às suas unidades básicas, as sinapses. Quaquilhioes delas! Mesmo que ja soubessemos como são os circuitos neuronais de todos os seres humanos, ainda tinhamos de computar o resultado de milhoes de mihoes de circuitos, compostos por milhões de milhões de sinapses.

É impossível de abordar a este nível. Tem de ser abordado ao nivel de conceitos e trabalhar com unidades menos simples mas manipulaveis pelo esforço intelctual.

Mas uma vez compreendendo melhor quem somos, como funcionamos, porque é que sofremos com isto ou aquilo, o que é normal e saudavel desejar, etc, e usando um pensamento critico sobre os conceitos, podemos ainda usar ferramentas cientifico-matemáticas como as sondagens, estatistica, etc, para compreender melhor o que se passa com os grandes numeros das massas.

A ciencia pode pois ajudar e muito a desenvolver a moral humana. Não está completamente fora do seu alcance. E a neurologia só agora esta a dar os primeiros passos. A psicologia é hoje uma ciencia tão rigorosa como a biologia, e a sociologia para lá caminha.

O medo da ciencia que têm aqueles que dominam outras formas de conhecimento é razoavel, se não quiserem aceitar a evoluçao. Se forrem dogmáticos. Coisa que a ciencia não é, pois apressa-se a integrar novos factos quando estes emergem, mesmo que para isso se tenha de corrigir.

A ciência tem as melhores respostas possíveis, quando as tem, há é coisas que não se consegue usar a ciência. Mas a historia sugere que o futuro tem menos lacunas que o presente.

Deus das lacunas.

O naturalismo metódico é aquilo que os criacionistas e defensores do ID (que é realmente criacionismo com outra roupagem), querem eliminar da ciência. A abordagem naturalista, que é sumariamente, procurar causas naturais para os fenomenos naturais, exclui necessáriamente a intervenção sobrenatural. 

Não podemos mais atribuir os trovões a um Deus, a chuva a  outro, etc. Nem tudo ao mesmo. A não ser que possamos trazer evidências ou provas que mostrem isso. Se não indica que essa é inequivocamente a solução, temos de procurar outra. Não é por não a termos que podemos atribui-la ao que mais nos convém. Dá trabalho. Não agrada a muita gente.

Mas o que a ciência sugere fortemente, é que esse é o caminho a seguir. O do naturalismo. Ao longo de seculos, foi a unica abordagem que criou conhecimento tão consistente, tão completo e em tão pouco tempo.

Porque ao procurar uma explicação natural para as coisas, começámos a encontrá-las. De facto, encontrámos explicação para tanta coisa, que o espaço deixado para intervenção sobrenatural, ficou muito reduzido. Ficou reduzido a pequenas lacunas do conhecimento cientifico.

De notar que isto não é o mesmo que dizer que a ciencia regeita "à priori" que existam Deuses , fantasmas ou duendes, por exemplo. Apenas que se eles existem, então vamos ter que encontrar observações que só possam ser explicadas pela sua existência. Tal como por exemplo a observação directa de tais seres - mas de um modo credivel, não por histórias de diz que disse ou evidencia anedótica. 

Se o sobrenatural existe, e coisas com causa sobernatural acontecem, só temos de as encontrar. E cá por mim, passam a ser tão naturais como tudo o resto. Se há fantasmas, que se mostrem evidencias. E eles passam a ser matéria da ciencia. Tal como Duendes ou magia. Se aparecer um Duende em frente ao mosteiro dos Gerónimos, ele passa a ser tão objecto da ciência como o macaco ou o cão.

O problema, é que coisas que não tenhamos a ideia como aconteceram, que estejam de tal modo mal compreendidas que se possa apontar uma origem sobrenatural são cada vez menos. E destas as que poderão sugerir diretamente uma intervenção sobrenatural ainda menos. Talvez o unico exemplo seja a criaçao do universo. O que deixa a inquietante pergunta de que é que andou o Criador a fazer depois disso. E ainda mais, quem o criou a Ele.

Na realidade, dizer que algo é sobernatural, não faz sentido nenhum. Ou existe ou não existe. Se existe, então deve haver alguma evidencia que exista. Se estamos a discutir a existencia de um ser omnipotente, omnisciente e omnipresente ainda menos sentido faz que não encontremos evidencias inequivocas da sua omnipresença, omnisciencia e omnipotencia. Pelo menos, se ainda argumentamos que Deus é interventivo. Se isto fosse verdade, eu diria que Deus era tão natural como qualquer outra coisa.

Porque senão temos que aquilo que entendemos por sobrenatural é caracterizado por ser aquilo que não se pode provar que existe nem identificar onde se manifesta a sua existencia. O que em teoria, é possivel, mas é pouco plausivel. Porque se não se pode provar nem identificar onde se manifesta a sua existencia, é uma maneira de dizer que não acontece. 

E isto não tem nada a ver com as coisas que nós não podemos saber por questões de medição pratica ou de numero de ponderáveis. Isto é, não é por não sabermos que numero vai sair na lotaria que podemos atribuir esse resultado a Deus. Porque sabemos minimamente o que se está a passar. E é tudo neste mundo. Ou não é por não sabermos o pensamento especifico de uma pessoa especifica num momento especico que temos uma falha no conhecimento cientifico. Porque temos uma ideia muito boa de como funciona o cerebro. E não é uma que sugira intervenção divina.

É por isso, que se chama Deus-das-lacunas ao deus que intervem no mundo natural. É porque só sobram umas pouquinhas de lacunas. E é isso que os criacionistas e dualistas querem fazer.

E é por isso que a ciência tem uma descrição do universo diferente da religião. Descrevem causas diferentes e apresentam justificações diferentes. Uma diz que as coisas que observamos têm causas naturais, todas ou quase, faltam umas lacunas, e a outra diz que há coisas que só Deus pode ter feito, mesmo quando se identificam causas e explicações naturais e precisas para esses fenomenos. 

Uma aceita a palavra irreprodutivel de uns poucos como portadores da verdade absoluta e a outra, a ciencia, poe em causa tudo o que é dito e feito, dentro e fora dela. Porque só pela palavra de um homem ou 10 ou 20, não se faz ciencia. Einstein não foi aceite cientificamente por ter uma figura simpática. Mas sim porque as suas teorias fizeram previsões que foram confirmadas, além de serem capazes de explicar tudo o que ja se conhecia. E de, claro, isto poder ter sido confirmado por todos os que estavam em posição de o fazer.

Senão tinhamos profetas também na ciência. E não temos. Temos pessoas que descobriram coisas que os outros puderam confirmar.

E que nos permitiram chegar a numeros populacionais impensaveis, e a esperanças médias de vida loucas e fazer coisas que qualquer homem de há 300 anos diria que eram magia.

Deus continua sem dar sinais de vida, mas a tecnologia atravessa a sociedade. E se bem que por vezes ela seja mal utilizada, também não é Deus que tenta proteger as vitimas do seu abuso.

Quem se questiona abertamente sobre o universo, e procura respostas, sabe que só a ciencia foi capaz de proporcionar algumas. E que outras entidades, que por definição conveniente, escapam à pesquisa cientifica, não passam senão de elaborados pressupostos que não explicam nada. 

A ciencia reduz deus todo-poderoso a um deus-das-lacunas.

E é por isso que os religiosos andam tão activos ora em redefinir ciência, ora em dizer que quem a pratica não sabe nada sobre ela, ou mesmo, tentar dizer que é tudo verdade ao mesmo tempo. Mas isso, tudo verdade ao mesmo tempo, só se for em universos separados. Neste em que vivemos, a melhor descrição que temos é a dada pela ciencia. 

É possivel conceber um deus omnipotente, omnisciente, omnipresente e ainda por cima moral à luz do conhecimento cientifico? Sim, penso que como exercicio de pensamento é possivel. Mas não é plausível.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Blogosciência climática.

Este post vem a propósito da discussão recente entre os Blogs "Real Climate" e "Deep Climate" com o "Climate audit" do Steve McIntire.

O Steve McIntire é uma dos dois mais famosos cépticos do aquecimento global. Recentemente diz que encontrou provas de que o gráfico de Mann, (o famoso "Hockey Stick" que descreve as temperaturas na Terra uma data de séculos) para trás, está errado.

Diz ele que foram escolhidas a dedo as arvores utilizadas para servir como "proxy" das temperaturas. "Proxy" é o termo que se dá, neste caso a uma fonte de informação indireta da temperatura. São usadas arvores milenares e medidos os seus aneis de crecimento, para saber que anos foram mais quentes. Ja se sabe que podemos saber a idade da arvore pelos aneis e dizem os dendrocronologistas que podemos saber tambem como era o clima nesse ano.

Segundo o Steve McIntire (SM), as arvores usadas para fazer o gráfico não foram obtidas à sorte. Foram como que escolhidas, intencionalmente ou não, de modo a dar origem ao gráfico que mostra que estamos a viver os anos mais quentes desde os ultimos 1000 anos.

SM, redesenhou o gráfico de Mann usando todos os dados a que teve acesso, e eles não mostram o aquecimento anormal dos ultimos anos. SM diz que isto prova que ou a dendrocronologia não vale nada ou os dados estão viciados.

O senhor que tratou de fornecer os dados das arvores ao Michael Mann, que elaborou o gráfico, diz que obteve os dados de cientistas Russos. Os Russos, de acordo com o próprio SM responderam dizendo que sim, que isso tem de ser feito porque arvores jovens não dão informações capazes, que vão mandar mais amostras para que toda a gente possa ver que isso é assim. Dizem que se tem de escolher as árvores mais velhas, com aneis maiores, para que se possa concluir seja o que for.

Os defensores de Mann, do "Real Climate", começaram por dizer que existiam muitos mais proxys a dar origem ao mesmo resultado de que as ultimas decadas têm visto um aquecimento sem precedentes.

No "Deep Climate" a importancia da refutação da critica de SM é dada à parte tecnica. Que refazer o gráfico de Mann com mais amostras dá origem às mesmas conclusões. Que a amostra tem de ser calibrada (como em muitas medições), que o filtro usado por McIntire era errado, etc.

Podem ler aqui a critica do Deep Climate:

http://deepclimate.org/2009/10/06/delayed-oscillator-on-divergence/

Entretanto o SM avançou para outras críticas e o Real Climate também. A minha conclusão é que este episódeo é mais um daqueles que os cépticos dizem que descobriram a prova de que é tudo uma fraude ou parecido e depois com uns pequenos erros corrigidos, se comprova que não passavam disso, pequenos erros ou talvez nem isso. Foi o mesmo com o Sol, com outras acusações ao "Hockey Stick", com a não subida de temperatura durante estes ultimos dois anos, etc.

E eu avanço este post para a segunda parte.

Isto é tudo conversa entre blogues. Nada disto passou por revisão pelos pares antes da publicação, não há um ranking do artigo nem da revista. É uma confusão. Eu estou habituado a ler artigos cientificos publicados em revistas cientificas. Têm um resumo, têm uma introdução breve, estão bem referenciados para as duas partes da polemica (quando há), têm uma conclusão, são claro e não ambiguos, e refletem obviamente o trabalho de polimento que levou ao produto final publicado. Claro que há graus de qualidade variavel, mas até a qualidade se torna facil de avaliar quando as coisas são feitas como deve ser.

O SM em vez de publicar artigos cientificos, opina no seu blogue, numa fraseologia correta, mas em textos que em ultima análise dizem pouco por si. A autoreferencia é enorme e absurdamente incompleta: é preciso seguir todos os "links" para se perceber o que se esta a ler, e é preciso ir ler outras coisas para ter uma ideia da veracidade da questão. Demorou alguns dias (não inteiros claro!) para escrever o sumário acima, enquanto me esforcei loucamente para ser uma espécie de peer-reviwer dos blogues de uns e de outros. Porque quero saber a verdade. Ou o melhor que dela se pode extrair.

Como é que sei o que pensam e argumentam os dendroclimatologistas? E os estatisticos? Isto não passa pelo crivo de um "peer-review"!

É claro que quem está em falha aqui é o Steve McIntire, que tem apenas 1 ou 2 trabalhos publicados em revistas cientificas. Os outros blogues, como o Real Climate ou o Deep climate, aparte de fazerem divulgação e um esforço por respoderem às acusações em tempo real, são constituidos por cientistas que publicam em revistas de ciência. Que se sujeitam ao "peer-reviwe", e à aceitação ou não por uma revista conceituada (mas é muito importante referir que por publicar não fica, e as revistas ganham importancia conforme o impacto dos seus artigos).

Como esta foi uma das criticas que os blogueres do "Real Climate" lhe fizeram, o SM respondeu dizendo que não acha a critica mal de todo, ao contrário dos seus seguidores, porque ainda não pôs o sistema de "peer-review" à prova! Um processo que faz parte do método, que é imprescindivel. E ele diz que ainda tem de o por à prova:

" this is not a point that I've placed at issue at this blog because, in my opinion, I haven't fully put the system to a full test (but this issue is definitely on my radar.)" SM in climate audit

É louco! Claro que o "peer-review" tem falhas. Mas tudo tem falhas. Isso não quer dizer que seja mau. Quer dizer que é o melhor possivel. Com "peer-review" é melhor que sem "peer-review". É mais um passo na critica e discussão cientificas. Imprescindivel.

Os blogues são, a meu ver, muito importantes como ferramenta de divulgação, como comunicação, etc, etc, etc. Mas acho que não devem substituir, pelo menos nos moldes actuais, o processo normal de produção de ciência.

E eu, para fazer como o "Climate audit" do antigo engenheiro de minas Steve McIntire, não vou deixar aqui links a não ser para o que me der na bolha.

Como este texto em que o seu blogar pseudocientifico é refutado:

http://deepclimate.org/2009/10/07/let-the-backpedalling-begin/

Eu não sou um cientista do clima. É uma area complexa e dificil de acompanhar. Portanto, tento manter-me aparte da discussão e tento guiar-me pelos trabalhos publicados e metanalises, e escrever sobre o que é o consenso cientifico.

Começo a acreditar que os cepticos do clima, querem minar a ciencia por dentro, de resto como todos os pseudocientistas. Tinha deles até agora uma ideia diferente. E é sobre isto que é este post enrome. Não é sobre o aquecimento global. É sobre o método cientifico.



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Religião e ciência.

Existe alguma contradição entre a religião e a ciência? Alguns cientistas acham que sim. Outros acham que não. Alguns religiosos também já não acham que haja. 

Então que fundamentos pode ter esta questão?  Sugiro pensar sobre quatro princípios cientficos. Todos eles podem e devem ser "googlados" para saber mais:

1 - Lâmina de Occam - diz que as entidades não devem ser multiplicadas para alem do necessário

2- Falsificacionismo - Uma teoria deve ser capaz de fazer previsões testáveis que a possam falsificar

3- Verificacionismo - Uma teoria deve explicar tudo o que se conhece e pode ser observado.

4 - Naturalismo - As causas para os factos observados na natureza devem ser procuradas na natureza. 

Estes princípios não são rígidos é certo. Mas são pertinentes.


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Outra vez a auto-hemoterapia.

Tenho escrito sobre diversas praticas pseudocientificas que querem fazer passar-se por medicina, mas nenhuma me deu origem a uma avanlanche de criticas tão grande como o que escrevi sobre a auto-hemoterapia. Gozei com a homeopatia, reuni trabalhos que apontam para a ineficacia da acupunctura, denunciei a atitude ambigua dos proponetes da chiropraxia, etc. Os criacionistas fizeram uma vez um bocado de barulho, ouve outra vez em que fui atacado por um bando de Trolls que pareciam saídos do Xbox live, mas são os defensores da auto-hemoterapia que ganham o prémio pela persistencia.

Decidi publicar todos os comentários que aguardavam moderação e responder sumáriamente em post. Se for responder ponto por ponto, exaustivamente, não faço mais nada e quem quiser saber mais, até pode encontrar aqui neste blogue sob o rotulo medicinas alternativas os fundamentos das criticas que vou fazer.

A auto-hemoterapia consite em tirar 5 a 20ml de sangue circulante para injectar no musculo. Isto para além de dor e inflamação local, se foi feito com os devidos cuidados de assépcia, não deve dar origem a mais nenhuma alteração visivel ou testavel. Se for repetido no tempo, a inflamação muscular torna-se relevante e a perda de sangue dará lugar a sinais de regeneração de sangue. Fantástico. Isto quer dizer que estamos a curar alguma coisa? Sim, que o corpo está a tratar de resolver o problema da inflamação muscular e da perda de sangue (em principio é de esperar destruição de globulos vermelhos durante o processo). Mas em resumo, o corpo esta a resolver o problema que nós estamos a causar. 

O que está no sangue acaba por chegar aos tecidos (duh!) não sendo preciso injectar sangue no musculo para que os antigeneos lá cheguem. Li em qualquer lado que este era um mecanismo proposto de funcionamento. Mas mais ridiculo é saber-se desde há décadas que o que é colocado no sangue é o que tem resposta organica mais rápida. Precisamente porque chega mais depressa a todo o lado. 

Isto não tem plausibilidade cientifica nenhuma. 

Há uns 100 anos atrás, tudo o que passava pela cabeça de um médico, experimentava-se. Às vezes até parecia que funcionava, mas com o tempo, muitas práticas rídiculas desapareceram conforme a medicina se tornou cada vez mais numa ciência. Há no entanto ainda alguns remanescentes de algumas destas coisas, como a acupuntura, a homeopatia, etc, que querem impor-se por insistência num argumento "ad antiquitatem" (argumento pela antiguidade), e na evidencia anedótica, que sabe-se, é a pior maneira de produzir conhecimento.

Mas eles defendem que tudo o que passa a meia centena de anos ou assim, mesmo que esteja desacreditada por testes sistemáticos e não tenha plausibilidade nenhuma, passa a ser verdade. Se isso fosse assim, então o melhor era para com a investigação cientifica, porque as velhas crenças é que são a tal coisa. Mas indo por aí há um problema. Elas não se entendem umas com as outras, como se ouvessem várias realidades e pior. Não se entendem com a realidade. Postas à prova, não passam. Nem queiram saber o que era o mundo se voltassemos a fazer como vem nos livros antigos. O argumento pela antiguidade é uma falácia conhecida. Que até  já aqui tinha falado (ver etiqueta falácias).

A outra coisa que insistem muito é na evidencia anedótica. Que é mesmo anedótica porque não presta. E pior ainda, é insistir na evidencia anedótica persistentemente para provar algo. Não é pelo diz que disse que se faz ciência.

Depois o argumento das lacunas. Que a ciencia é uma coisa de "verdades provisórias". Não, a ciencia é sobre o melhor que se pode saber a cada momento. Mesmo olhando para as coisas erradas que a ciência disse no passado, a regra é verificar que mesmo com o que se sabe hoje, essa afirmação cientifica era a melhor afirmação que se poderia fazer na epoca para uma dada coisa. E mesmo hoje, significa muitas vezes a segunda melhor afirmação que se pode fazer. Como a Teoria da evolução de Darwin em comparação com o Modelo Evolutivo, ou a mecânica de Newton em compração com a Relatividade, ou como frequentemente sucede na medicina moderna em que são descobertas coisas a cada dia. O argumento das lacunas, tentar arranjar espaço para a treta no meu das lacunas do conhecimento cientifico é trafulhice. E conforme as lacunas se vão fechando pode-se ter uma ideia de onde vai dar este argumento.

E agora  uma nota sobre algo que ainda não tinha tocado neste blog:

Em veterinária também há efeito placebo.

Os animais são sensiveis a uma maior atenção dos donos e sobretudo os cães parece terem uma capacidade especial para compreender o estado de espirito das pessoas. Adicionalmente, coisas paralelas ao placebo mas muitas vezes confundidas com ele são muito importantes. A percepção do dono do animal ou do veterinário (um pouco menos mas tambem real)  sobre a melhoria são muito significativas como causando uma variação face à realidade. Os donos são muito sugestionáveis. E como os proprietários não sabem à priori o curso normal da doença, podem ser induzidos a achar que - ou devia estar melhor ou devia estar pior. E fazem fé nas conclusões tiradas, como infelizmente já vi. Por isso os testes têm de ser tal como nas pessoas, isto é,  duplamente cegos. Donos e veterinário não sabem quem recebe placebo e quem não recebe. E para evitar variações normais do curso das doenças, têm de ser feitos em grande escala. Pelo menos 50 pacientes. Depois, se mesmo assim há erro, então imaginem se for feito só num bicho e narrado pelo visinho debaixo que viu acontecer com o cão do tio? Mas assim é a melhor maneira possivel conhecida. Que eu saiba existe pelo menos um estudo em vacas, sistematico e rigoroso a que a hemoterapia foi sugeita e não deu resultados. Podia estar a inventar e insistir agora que acreditassem na minha palavra. Mas não estou. Posso se quiserem e tiverem a lata de mo pedir de ir buscar a referencia.

Por fim o argumento do teste à força. Têm de testar mais. Mas quem paga? Fazem-se uns testes. A coisa não tem plausibilidade. Os testes são pouco promissores. Face a coisas com resultados promissores e com maior plausibilidade, porque se há de gastar o dinheiro nestas coisas? Tem-se gasto uma fortuna a testar pseudoterapias alternativas para acalmar as vozes populares que pensam ter a revolução da medicina no bolso. Estas crenças custam uma fortuna. 2,5 mil milhões de dolares foi quanto se gastou nos EUA. Não valeu a pena. E se eu disser que tenho a cura para o cancro feita com cabelo e unhas de rato também não vale a penas ir a correr testar. É preciso começar a escolher criteriosamente para onde vão os nossos recursos limitados.

Nota: Quando alguem diz que tem curas para muitas coisas... Com o mesmo processo de cura... É mentira.