"Quando as médias de variação globais são incluídas, nós obtemos consistentemente uma identificação positiva (ao nível de significancia de 1%) de uma impressão antropogénica nas alterações de temperatura oceanica das camadas superiores, assim substancialmente fortalecendo a actual evidencia [nesse sentido])"
- traduzido do abstract de "Human induced global ocean warming on multidecadal timescales" publicado na Nature Climate Change.
Neste artigo encontramos os resultados obtidos através de correr uma boa quantidade de modelos climáticos, com e sem "forcing" antropogénico, para compreender os resultados das medições observadas da temperatura dos oceanos.
São usadas novas medições e estimativas da temperatura nestes modelos, em resposta de trabalhos anteriores que mostravam haver "bias instrumental" nos conjuntos de dados.
O facto do resultado deste novo trabalho apontar no mesmo sentido que trabalhos anteiores, é tal como diz no abstract, de extrema importancia, pois mostra a convergência de resultados e corrobora previsões teoricas. Ainda mais quando usa um aparato generoso de modelos.
Parece que ainda há muita gente que acha que pode simplesmente olhar para os dados e decidir se o aquencimento existe ou não. Pior, parecem existir muitas pessoas que pelo mesmo processo defendem que se lhes parece que o homem não tem capacidade para alterar as propriedades do nosso planeta é porque isso deve ser verdade e que isso é suficiente para estabelecer a crença de que os modelos matemáticos são treta.
As coisas não são assim tão simples e existem teorias e formulas derivadas dessas teorias que é preciso usar para saber para onde apontam as evidências. E é preciso avaliar os dados e resultados desses dados com método para extrair conclusões racionais, não chega olhar e atirar se é significativo ou não. Também para isso existem formulas. E depois é preciso juntar tudo e interligar as formulas todas e ver o que dá. Isso são os modelos. Mas são tão complicados que requerem bons computadores para os correr. Achar que se consegue chegar a um melhor resultado olhando e palpitando é ridiculo e anti-cientifico.
Quem o faz devia no minimo mostrar que é capaz de fazer esses calculos mentalmente, mas naturalmente que sabemos que o que fizeram foi mandar as formulas às urtigas e dizer o que intuitivamente lhes parece ser verdade. Mas se intuitivamente nós soubessemos o mesmo que a ciencia nos pode dar, não tinhamos andado a viver ao relento na savana durante 200000 anos. Parece que há quem ainda não tenha percebido a diferença.
A negação da intervenção do homem no clima terrestre é uma pseudociencia. E, como as outras, ao que tudo indica, uma que não augura nada de bom a vir de lá.
Não está nas mãos de pessoas individuais alterar o curso dos acontecimentos que estão a dar origem às alterações climáticas. São precisas mudanças de politica a nível mundial. Mas para isso precismos que as pessoas, individualmente, compreendam o que se está a passar. Só assim podem formar massas que sejam capazes de pressionar quem lidera o mundo.
Infelizmente, este é um tema altamente politizado, um em que está demonstrado que as pessoas seguem a cor politica do grupo onde estão inseridas para evitar conflitos ( mais uma vez... é preciso separar a discussão de ideias de discussão pessoal...).
Os ciêntistas estão, em grande maioria (ver aqui nos EUA por exemplo) , de acordo que o aquecimento é antropogénico - o que sugere que não estando os cientistas livres de tendencias, a ciência continua a ser um mundo onde se conseguem gerar consensos. No entanto o publico divide-se, e parece polarizar-se cada vez mais com o aumento da literacia cientifica, algo que foi uma surpresa, já que se esperava que o aumento da literacia cientifica aumentasse a capacidade de escolher correctamente.
Não basta que os negacionistas se apoiem em teorias da conspiração, em critica cega dos modelos climáticos (sem mostrar onde modelos bem concebidos podem resultar num aquecimento como o que estamos a ter sem recorrer a "forcing" com CO2). Não basta que se apoiem em credos tão ingénuos como "o homem não consegue mudar o planeta". Aparentemente, a envolvente social é mais forte e é capaz de tornar este tipo de argumentação (que não aceitariam em qualquer outra circunstância) como sendo suficiente.
Não havendo maneira de fugir ao "bias" completamente, eu defendo que o melhor método encontrado para o evitar foi o cientifico. E este requer a confirmação independente, a formação de programas de investigação, e o estabelecimento de teorias pela convergencia de resultados. Requer consensos. Isto tudo temos na ciência que estuda o clima. Na realidade o aquecimento global é a confirmação de uma previsão cientifica feita ainda no tempo de Napoleão. E fazer previsões é uma das marcas caracteristicas da ciência.
É preciso que olhemos, não para o que o publico pensa, seja este um publico atento ou não, mas para o que os cientistas pensam. É preciso largar os argumentos fracos e tentar perceber porque os cientistas dizem o que dizem. E a comunicação social e divulgadores de ciencia deviam antes de mais ter a preocupação de fazer isso, em vez de pretender fazer ciência climática em seus sites e blogues.
Acabar com esta tragédia da percepção do risco pelos leigos devia ser um objectivo da divulgação cientifica. E a cada um de nós pede-se que seja capaz de pensar por si (isto é, não aceitar uma ideia só para ser mais aceite socialmente) e que por favor o faça. E que tenha a mente aberta. Não essa, a outra.
Cepticismo, naturalismo e divulgação científica. Uma discussão sobre o que é ou não matéria de facto.
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