Isto é, outra vez a questão de provar uma negativa. Para os defensores de pseudociências não pode ser possível provar uma negativa. Insistem nisto quase todos. Não pode ser possível provar que não existem espíritos, não pode ser possível provar que não existem energias inteligentes, etc.
Desta vez é o presidente da firma de produtos homeopaticos Boiron - o Christian Boiron em pessoa - que insiste que lá porque não se conhece o mecanismo de acção da homeopatia não podemos dizer que não existe – que não é cientifico. É cientifico. Podem provar-se negativas.
Em ciência, e como eu tenho já dito, depois de procurar exaustivamente um mecanismo ou entidade e não o encontrar, a conclusão é que não existe. E isso foi o que se passou com a homeopatia. Primeira eram os miasmas, depois a memória da agua, etc. Nenhuma dessas alegações se demonstrou ser verdade, após procura exaustiva e sistemática.
O que pensam que vai acontecer com a particula de Higgs se não for encontrada nas condições em que devia aparecer? Ou com a supersimetria? Ou com todos os outros medicamentos (que não sendo rotulados de alternativos) não encontrem eficacia e mecanismo de acção comprovados?
Para mais, não existe nenhuma diferença lógica funcional entre uma afirmação positiva e uma negativa, já que pela dupla negação temos a afirmação original “de volta”. Isto pode ser usado para converter afirmações positivas em negativas e fazer avaliações lógicas. Ver este artigo aqui acerca disto.
Temos de ver que de entre as coisas que se procurou exaustivamente e não se encontrou prova é de que tenha de existir um mecanismo de acção. A homeopatia não funciona, logo não encontrar o mecanismo de acção é o esperado. O Christian Boiron diz que a homeopatia trata muita gente. Mas isso não é verdade. Do mesmo modo, quando repetimos sistematicamente testes que dizem que não há eficácia, a conclusão é que não há eficácia. Não é que “apesar de ainda não termos demonstrado que havia eficácia logo, não quer dizer que ela não exista”.
Na prática, provar uma negativa pode dar mais trabalho porque pode exisgir que se repita uma experiencia até deixar de ser plausivel aceitar que exista esse efeito. Ou, até chegar a um ponto, onde esse efeito mesmo que exista, é tão reduzido que não tem significado (como por exemplo o efeito de mais uma ou duas moleculas de agua ingeridas por dia).
Mas sem efeitos e sem mecanismo de acção nem vale a pena estar a arranjar problemas que nem sequer são verdadeiros. Pode-se provar uma negativa.
Cepticismo, naturalismo e divulgação científica. Uma discussão sobre o que é ou não matéria de facto.
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