sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O ateu é ateu porque não quer acreditar?

Não creio. Eu pelo menos ponho a minha vontade de parte. Não acredito em divindades porque não há razões para isso. Procuro de facto não acreditar em Deus porque me dá jeito, mas daí a recusar a sua existência porque quero?

Não. De todo.

O Prof. Miguel Panão diz o contrário:

"No Cristianismo, se Deus transcende o mundo, também está nele imanente, implicando isso que está presente, e se está presente podemos fazer uma experiência dessa presença.Quem não a faz é porque a recusa na negação da existência de Deus , limitando deliberadamente essa experiência, não porque lhe seja negada a possibilidade de a fazer."(1)



Como é que é "deliberadamente" se o raciocínio  começa com uma afirmação injustificada e impossível de provar? Na qual assenta todo o resto?

Eu respondo antes que se Deus lá estivesse e se é possível senti-lo, eu então senti-lo ia. E mesmo que só possa sentir a Sua presença quem nele acredite, era preciso mostrar que não acreditar em Deus é uma escolha não condicionada pela evidência existente. Ou seja, que há tantas provas para acreditar como para não acreditar. Ora isto é falso. Se bem que a inexistência de provas não seja prova da ausência, de um modo geral, quando nós procuramos sistemática e metodicamente e não se encontram efeitos ou factos que sejam inequívocos dessa entidade temos de admitir que não existe. Se apesar disso insistimos que existe, então estamos a acreditar porque queremos, de facto. Mas para não acreditar basta aceitar a conclusão mais plausível de que as entidades não devem ser replicadas para alem do necessário.

É como dizer que as plantas têm consciência e só vê quem acredita. E que quem não vê é porque nega deliberadamente que essa experiência. Mesmo que não haja nada que sugira que as plantas têm consciência.

Ou ainda melhor, isto é análogo às roupas do rei. Mas o rei vai nu. Não me digam que eu não vejo as roupas porque decidi deliberadamente limitar essa experiência.

Agora imaginemos que Deus existe e eu não sinto isso. Que de facto podemos provar que Deus existe se sentirmos. Para já isto não tem confirmação independente, uma vez que por definição só sente quem acredita. Por outro lado, que culpa tenho eu de não sentir? É minha? Deus cegou o olho interior capaz de o ver, e a culpa é minha? É uma escolha deliberada? Acho que há aqui desonestidade intelectual ou muita distracção pela parte do Miguel.

(1)http://cienciareligiao.blogspot.com/2010/09/como-interagem-ciencia-e-fe.html?showComment=1284710481370

PS: Além do mais aquilo é completamente circular, pois era a reposta à pergunta de como é que sabe que ele existe. Logo está a dizer que existe porque sente. E justifica que sente porque existe. E que eu nego essa experiência "deliberadamente".

2 comentários:

Miguel Oliveira Panão disse...

Caro Joao,

Se bem que a inexistência de provas não seja prova da ausência, de um modo geral, quando nós procuramos sistemática e metodicamente e não se encontram efeitos ou factos que sejam inequívocos dessa entidade temos de admitir que não existe.

A frase é contraditória. Se não tens provas na inexistência de Deus, não "tens" de admitir que não existe. Muito pelo contrário, tens de considerar essa hipótese e explorar os diversos conceitos.

Eu penso que as tuas palavras estão carregadas de dogmatismo. Não vês, " tens de admitir que não existe". Não sentes, "tens de admitir que não existe". Não encontras razão, "tens de admitir que não existe". Mas tens porquê?

É como dizer que as plantas têm consciência e só vê quem acredita.

É uma metáfora comparável que sustenta o teu argumento? Como?

Não me digam que eu não vejo as roupas porque decidi deliberadamente limitar essa experiência.

Plantas, roupas, coisas, seres entre outros seres, causas entre outras causas ... nada que tenha a ver com Deus como realidade que tudo determina (Pannenberg).

João disse...

"A frase é contraditória. Se não tens provas na inexistência de Deus, não "tens" de admitir que não existe."

Não. Repara bem que não é contraditoria. Porque a ausencia de provas so não é prova de ausencia quando a procura não é exaustiva. É uma falacia informal que so é falacia quando não se fez nada para descobrir.

Porque quando a procura é exaustiva podes provar pela negativa. Como se pode provar que não existem unicornios ou fantasmas.

"Eu penso que as tuas palavras estão carregadas de dogmatismo"

Por causa do tens que admitir? Tens de admitir porque é racional. Não admitir é um apelo à ignorancia.

"É uma metáfora comparável que sustenta o teu argumento? Como?"

Porque tal como o teu deus nada aponta que exista mas quem defender a cosnciencia das plantas pode apontar para não haver provas da ausencia.


"Plantas, roupas, coisas, seres entre outros seres, causas entre outras causas ... nada que tenha a ver com Deus como realidade que tudo determina (Pannenberg)."

E falas-te em dogmatismo? `O Miguel... Como é que sabes que existe um ser nessas condiçoes? Porque o Pannenberg disse?

Chama-se a isso apelo à autoridade. Coisa que tu fazes constantemente em vez de argumentares. Se esse senhor sabe como sustentar a afirmação e é compreensivel então explica tu. Se não sabes sequer explicar, então dizer que ele disse isso é me indiferente.

Crenças ha muitas e essa é só mais uma. Justificar é que é mais dificil.

Se consideras que tudo é deus, então resta-te demosntrar que tudo merece ser chamado deus.

Mostra como é visivel os sinais de vontade propria dele.

Se me vens dizer que a vontade propria dele é que tudo aconteça como se "a realidade que tudo determina" seja sem sinais de intecionalidade então tens de me dizer como é que descobriste que apesar de não haver sinais de intencionalidade ela esta la.

E se deus nãio quer que se note que ela esta la, como é que havias de descobrir.

Se de deus quer que tu descubras diz-me la como é que foi. Foi algo que so lhe possas atribuir a deus inequivocamente? Ou é mais um feeling?

Queres convencer-me que ha umas pessoas como tu que são capazes de ver deus e outras como eu que apesar de perderem tempo com isso não o vêm. Como as roupas do rei?

Eu acho que isso é abusar da credulidade. Ou eu acredito e sou dos vossos, ou então estou a negar crer acreditar.

Isso é demais Miguel. Diz como podes ter a certeza de que é deus e talvez possamos ter uma conversa seria.

Assim é a coisa do costume.

E diz-me ainda, como é que se eu não encontro deus em lado nenhum depois de procurar, como é que a culpa é minha, mero mortal e não de deus.

E se isso é para aumentar a minha liberdade como é que ter a informaçao limitada me aumenta a liberdade.

Ha.. Porque tipos como tu me avisaram...

Pois é, mas tipos como tu, não desfazendo, contam coisas diferentes. Ainda hoje tive a discutir com o prespectiva que ja sabes o qeu diz.

Portanto, se ha algo que determina toda a realidade quero saber como é que sabes isso.

Porque a explicação masi plausivel para explicar deus quando ele não tem efeitos conhecidos no mundo fisico é que ele é uma fantasia.

Como sabes que não é? Confias assim tanto nesse palpite porque?