terça-feira, 7 de setembro de 2010

A teoria da evolução e o ateísmo.

Como disse no post anterior, muitos cientistas pré-darwinianos eram não só teistas como eram criacionistas. Depois de Darwin quase todos os cientistas de relevo são evolucionistas, e muitos são ateus. Actualmente nas academias de ciências, os ateus proliferam entre os seus membros e mesmo entre filósofos profissionais essa parece ser a tendência.

A teoria da evolução parece-me ter sido o ponto de viragem. Na realidade a sua primeira vitima terá sido o próprio Darwin que conta que a sua crença em Deus se manteve durante quase todo o período em trabalhou na teoria da evolução. Segundo ele, foi gradualmente deixando de acreditar até ser completamente ateu na ultima fase da sua vida.

Os criacionistas costumam dizer que acreditar na evolução é consequencia de não se aceitarem acções de seres subrenaturais para explicar coisas  naturais. Mas como se pode exemplificar com o próprio darwin, o problema(para os criacionistas) não é esse. Podia acrescentar que a maioria dos catolicos, que aceitam deus como o criador, aceitam também a teoria da evolução.

O problema (para os criacionistas e crentes)  não parece ser o alegado materialismo acabar com a crença em deus. Parece-me mais ser a teoria da evolução provar a legitimidade de uma abordagem materialista e com isso levar a uma perda da crença em deus.

Mas ainda não é este o mecanismo principal pelo qual a evolução leva a descrença. Ha algo muito mais fundamental no pensamento teísta típico que é abalado... Porque a teoria da evolução refuta convincentemente o argumento de que as coisas relativamente evoluídas têm de vir de uma ainda mais evoluída. (Santo Agostinho)

Num universo onde existe um processo capaz de explicar como pode haver um ganho de complexidade sem a intervenção de seres conscientes e inteligentes, a necessidade de recorrer a Deus para explicar tudo cai por terra. Mesmo se essa tendência se mantém, (de atribuir intencionalidade a coisas aparentemente complexas, como se vê nos argumentos de "fine tuning"(1)  ), ela fica bastante debilitada com a demonstração de que o mais sofisticado pode vir do mais simples.

E se as crenças têm ao longo do tempo evoluído no sentido de permitir a perda de terreno para a ciência ao deixar de atribuir intencionalidade a  trovões, ventos, chuvas,  etc, aceitando que são fenómenos naturais devidos ao acaso, a verdade é que com a evolução o assunto é muito mais complexo.


Mesmo a religião católica (evolucionista) debate-se com o problema de ter dizer entre que dois seres pai e filho foi injectada a alma , um problema não só insolúvel teoricamente, como ridículo se não quiserem aceitar a hipotese de meias almas ou almas só mais ou menos imortais.  E também perde o argumento de que as coisas complicadas têm de ter um criador consciente. Não têm. A evolução mostra isso.

Se o processo evolutivo é inteligente em si é outra questão. Mas para já falta-lhe a capacidade de criar cenários e testar hipóteses em memoria antes de as por em pratica. Não é sequer capaz de determinar um objectivo. Não tem consciência, nem consciência da consciência como um ser humano. É no entanto um processo de tentativa e erro (mutação/selecção) tal como a aprendizagem humana.A analogia é tão profunda que existe uma teoria neurológica que explica a inteligencia como um processo evolutivo ao nível da sinapse. O Darwinismo neural.


Mas isso fica para outro dia

(1)O "fine tuning " é o argumento mais moderno de atribuição de intencionalidade a observações e  factos complexos. Mais actual mas a falacia é a mesma  de quando chamavam Zéfiros ao vento e atribuiam a tempestade a Thor (ou a chuva a S Pedro).  O universo e particularmente o nosso sistema solar parecem ter sido criados para ter vida inteligente. Parecem. Mas a verdade é que na quase infinidade de planetas da galáxia e na quase infinidade de galáxias do universo é de esperar que haja seres a interrogarem-se pela sua aparente afinação para a vida inteligente, precisamente nos planetas onde a vida inteligente pode surgir. E se é possível haver universos diferentes com outras constantes é de esperar que a vida inteligente surja a questionar a aparente afinação para a sua existência apenas nos universos onde pode existir. Dizer depois que existirem universos onde pode haver vida inteligente prova a existência de Deus explica tanto como dizer que uma pêra cai da árvore porque é a sua tendência natural.Tal como disse, desde a teoria da evolução temos um exemplo de que as coisas que parecem complexas não precisam de outras mais complicadas para as explicar. Pelo contrário. Se a complexidade requer explicação então postular a entidade mais complexa que é possível conceber para explicar essa complexidade é como lavar nódoas com agua ainda mais suja.

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