Depois de mais de 3000 ensaios clínicos não foi possível encontrar resultados consistentes que suportassem a eficácia da acupunctura.
A pergunta é: vale a pena continuar?
Se não fosse pela crença popular, a resposta racional seria não. Mas como a crença é o ponto de partida em vez do ponto de chegada nestas coisas, certamente que a acupunctura ainda não morre aqui.
Este é um excelente artigo sobre o assunto e que explica o estado da coisa.
Cepticismo, naturalismo e divulgação científica. Uma discussão sobre o que é ou não matéria de facto.
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- Leitura a frio vs mediunismo/etc.
- O que é o cepticismo?
quinta-feira, 30 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
A crença de estar morto.
O Sindrome de Cotard é uma condição raríssima em que a pessoa afectada pensa que está morta.
Os casos descritos - desde sempre - podem contar-se pelos dedos de uma mão. Por isso, também não tem sido possível estudar a doença adequadamente. Mas temos algo de novo e muito interessante.
Um caso recente bem identificado e alta tecnologia que permite "olhar para o funcionamento do cerebro", pela primeira vez mostrou o que se pode passar num cerebro de um doente com sindrome de Cotard.
Não se podem tirar grandes conclusões quando o numero de casos é tão pequeno (n=1!). Mas os achados do PET-Scan são notáveis e parcialmente consistentes com... as próprias afirmações do paciente. Não com o facto de estar morto mas com outra afirmação que o doente fazia: a de que não tinha cerebro.
De facto, o metabolismo cerebral estava em média 22% abaixo do esperado. Valores tão baixos não são vistos sequer em depressões "major". Morto o cerebro não estava, mas também não estava a funcionar nada de geito.
Mais, algumas zonas afectadas incluiam aquelas consideradas importantes para a formação do "reconhecimento do eu", ou seja, a formação da consciencia.
Não é de estranhar, talvez, que num estado de tão baixa funcionalidade o cerebro não fosse capaz de reunir os processos necessários para formar uma consciencia normal.
Estes individuos podem morrer à fome porque não se alimentam sozinhos - dizem que não é preciso; não têm prazer; não cuidam da higiene pessoal e não têm qualquer proposito em viver. De facto insistem que estão mortos e querem ver-se livres do corpo. Não vivem sem grandes cuidados de terceiros.
O que é notável, digo eu, e talvez seja isso que torne a condição tão rara - já que precisa de ficar sobre uma fina linha de actividade minima - é que sobra o suficiente de auto-reconhecimento para o cerebro se dar a si próprio como "morto". Não creio que sem nenhum mapeamento de si próprio isto pudesse acontecer.
Este caso creio que poderá vir a ser bastante importante no estudo da consciencia e parece-me que encaixa perfeitamente na ideia de que a consciencia emerge da criação do mapa do nosso próprio cerebro integrado num corpo e num ambiente externo.
Aparentemente, aqui temos uma espécie de zombie ao "estilo filosófico". E não, não podemos esperar que se comporte exactamente como se tivesse uma consciencia alargada.
Para finalizar, é de referir que o doente evoluiu muito positivamente e embora ele próprio considere que não está completamente bem, retomou uma vida nomal, autónoma e tira prazer de estar vivo.
Artigo original, cientifico aqui.
Via New Scientist, aqui.
Os casos descritos - desde sempre - podem contar-se pelos dedos de uma mão. Por isso, também não tem sido possível estudar a doença adequadamente. Mas temos algo de novo e muito interessante.
Um caso recente bem identificado e alta tecnologia que permite "olhar para o funcionamento do cerebro", pela primeira vez mostrou o que se pode passar num cerebro de um doente com sindrome de Cotard.
Não se podem tirar grandes conclusões quando o numero de casos é tão pequeno (n=1!). Mas os achados do PET-Scan são notáveis e parcialmente consistentes com... as próprias afirmações do paciente. Não com o facto de estar morto mas com outra afirmação que o doente fazia: a de que não tinha cerebro.
De facto, o metabolismo cerebral estava em média 22% abaixo do esperado. Valores tão baixos não são vistos sequer em depressões "major". Morto o cerebro não estava, mas também não estava a funcionar nada de geito.
Mais, algumas zonas afectadas incluiam aquelas consideradas importantes para a formação do "reconhecimento do eu", ou seja, a formação da consciencia.
Não é de estranhar, talvez, que num estado de tão baixa funcionalidade o cerebro não fosse capaz de reunir os processos necessários para formar uma consciencia normal.
Estes individuos podem morrer à fome porque não se alimentam sozinhos - dizem que não é preciso; não têm prazer; não cuidam da higiene pessoal e não têm qualquer proposito em viver. De facto insistem que estão mortos e querem ver-se livres do corpo. Não vivem sem grandes cuidados de terceiros.
O que é notável, digo eu, e talvez seja isso que torne a condição tão rara - já que precisa de ficar sobre uma fina linha de actividade minima - é que sobra o suficiente de auto-reconhecimento para o cerebro se dar a si próprio como "morto". Não creio que sem nenhum mapeamento de si próprio isto pudesse acontecer.
Este caso creio que poderá vir a ser bastante importante no estudo da consciencia e parece-me que encaixa perfeitamente na ideia de que a consciencia emerge da criação do mapa do nosso próprio cerebro integrado num corpo e num ambiente externo.
Aparentemente, aqui temos uma espécie de zombie ao "estilo filosófico". E não, não podemos esperar que se comporte exactamente como se tivesse uma consciencia alargada.
Para finalizar, é de referir que o doente evoluiu muito positivamente e embora ele próprio considere que não está completamente bem, retomou uma vida nomal, autónoma e tira prazer de estar vivo.
Artigo original, cientifico aqui.
Via New Scientist, aqui.
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quinta-feira, 23 de maio de 2013
Intestável.
Dizer que é intestável e que ultrapassa os processos de verificação e falsificação sistemática - que são na sua forma moderna o melhor que se sabe sobre testar algo - é o mesmo que dizer que não podemos saber.
Na ciência o empirismo domina esses testes. A afinidade com a fenomenologia é característica. Na filosofia nem por isso. Mas o mecanismo é, em termos abstractos, o mesmo.
Mesmo só através de experiências de pensamento e raciocínio puro, as ideias têm de passar pelo processo de ver como encaixam com tudo o resto que se sabe e que implicações têm (que levem a novas verificações). Muitas das ferramentas usadas na filosofia neste processo até são de origem directamente empírica como por exemplo a lógica informal. E quando se fala em empirismo já parece ser aceite que o teste é parte do processo.
E se passam por esse teste, passam por teste empírico indirectamente. Estamos a verificar se encaixa na nossa realidade.
E mesmo em ciência quase todos os testes são indirectos. A semelhança não é assim tão fraca. Há uma distancia maior ao teste empírico na filosofia, mas mantem-se uma ponte fenoménica algures.
Adiante.
Se dissermos que existe um espírito que habita o relógio da praça do comercio mas é um espirito intestável - e querer que isso seja conhecimento (?), filosofia (??) que valor epistemológico pode ter isso? Como sabemos então que ele está lá? Auto-revelação? Aceitamos qualquer ideia que nos ocorra? Ou vamos ver como se sai essa ideia comparando com tudo o que se sabe e ver o que a justifica? E aceitar que se não encaixa com o que se sabe e não faz previsões significantes então está a precisar mesmo é de provas extraordinárias para não cair no baú das tretas.
Esse é o problema da filosofia. É haver quem queira que o que não se pode saber seja parte da filosofia. Deixando assim esta de ser uma forma de conhecimento e passando a misturar conhecimento com qualquer fantasia (a fantasia está cheia de coisas intestáveis, que note-se, não têm maneira de ser distinguidas umas das outras e de qualquer outra coisa intestável. Não há testes para isso! Nem mentais - esse é o espírito da coisa). Mas esta é uma crença de muitos filósofos - que a maioria da filosofia é intestável - ainda que quando pegamos em livros de filosofia vemos que muitas das suas mais famosas ideias passam por experiências de pensamento (em que o teste é mentalmente recriado) e são, pelo menos em princípio testáveis. A própria falibilidade da indução é testável - assim como a sua utilidade. E a aparente infalibilidade da deduçao, idem.
Assim, com esta amizade ao intestável, é vulgar ver passar todas as afirmações extraordinárias sobre a realidade para o ramo da filosofia. Claro que com a alegação de que são intestáveis. Assim se evitam provas extraordinárias para afirmações extraordinárias.
Mas a filosofia que é intestável, é uma nulidade. É apostar numa roleta epistémica que nem sequer diz quando se acerta. Não é conhecimento. E se não é conhecimento, mesmo se na forma mais especulativa (e afastada do teste empírico mas não de todo sem ligação a qualquer ponte empírica), não devia ser filosofia.
Claro que os filósofos vêm dizer que não sabemos o que é o conhecimento, que o teste não se valida a ele próprio, que a indução não valida a indução, que não somos infalíveis, que pode haver nova informação que nos leva a corrigir o que sabíamos etc. Mas isso só é um problema grave se vivermos numa confusão entre mapa e território e pretendermos que existe algo como a realidade feita palavra. Provavelmente tal mapa realista não é possível. Podemos ter mapas melhores e mapas piores, mas isso poderá ser tudo.
O conhecimento é apenas um grau elevado de plausibilidade para uma afirmação e certezas absolutas provavelmente não existem. Como podemos esperar sequer que a palavra seja a realidade? O Verbo? Não podemos. Talvez por isso Godel tenha conseguido mostrar que vão haver sempre falhas no conhecimento.
Por isso procuramos modelos que funcionem e não verdades absolutas. Mas considerar que devemos aceitar como filosofia o intestável porque o teste só nos dá o melhor possivel mas não a verdade absoluta é um "non sequitur". Temos sempre de fazer testes.
E se não o fazemos directamente no campo, repito, a ideia é que podemos fazê-lo usando as ferramentas racionais que criámos e as abstracções que sabemos (não absolutamente) que funcionam.
Para finalizar, na pratica, uma afirmação para ser intestável (sem que isso seja uma questão pontual ou tecnológica) tem de ser tão vaga, ambígua que não diga nada que a possa comprometer! Ou então, tão deslocada de tudo o que se sabe que nem se percebe se pode ser testada. Isto também só por experiência de pensamento devia ser possível ver que não serve para nada. Por isso os exemplos da história, da moral, etc, como sendo intestáveis são treta. São testáveis. Se não faz sentido, se se descobrem provas que refutam, se não funciona para um fim escolhido, etc, perde plausibilidade. E se 1+1 só fossem 2 no papel e por decreto, já não se usava essa abstracção para nada, pois de nada era uma abstração.
Há quem queira que a filosofia seja a tal coisa sem qual tudo fica tal e qual. Eu não estou de acordo. Precisamos de boa especulação racional. Mas essa é, pelo menos em principio, testável.
(A maioria dos filósofos segundo as songagens do Phill Papershttp://philpapers.org/archive/BOUWDP, é empirista, naturalista, realista moral e até não-humeana. Neste contexto a tendência para o teste empirico é solida.)
Na ciência o empirismo domina esses testes. A afinidade com a fenomenologia é característica. Na filosofia nem por isso. Mas o mecanismo é, em termos abstractos, o mesmo.
Mesmo só através de experiências de pensamento e raciocínio puro, as ideias têm de passar pelo processo de ver como encaixam com tudo o resto que se sabe e que implicações têm (que levem a novas verificações). Muitas das ferramentas usadas na filosofia neste processo até são de origem directamente empírica como por exemplo a lógica informal. E quando se fala em empirismo já parece ser aceite que o teste é parte do processo.
E se passam por esse teste, passam por teste empírico indirectamente. Estamos a verificar se encaixa na nossa realidade.
E mesmo em ciência quase todos os testes são indirectos. A semelhança não é assim tão fraca. Há uma distancia maior ao teste empírico na filosofia, mas mantem-se uma ponte fenoménica algures.
Adiante.
Se dissermos que existe um espírito que habita o relógio da praça do comercio mas é um espirito intestável - e querer que isso seja conhecimento (?), filosofia (??) que valor epistemológico pode ter isso? Como sabemos então que ele está lá? Auto-revelação? Aceitamos qualquer ideia que nos ocorra? Ou vamos ver como se sai essa ideia comparando com tudo o que se sabe e ver o que a justifica? E aceitar que se não encaixa com o que se sabe e não faz previsões significantes então está a precisar mesmo é de provas extraordinárias para não cair no baú das tretas.
Esse é o problema da filosofia. É haver quem queira que o que não se pode saber seja parte da filosofia. Deixando assim esta de ser uma forma de conhecimento e passando a misturar conhecimento com qualquer fantasia (a fantasia está cheia de coisas intestáveis, que note-se, não têm maneira de ser distinguidas umas das outras e de qualquer outra coisa intestável. Não há testes para isso! Nem mentais - esse é o espírito da coisa). Mas esta é uma crença de muitos filósofos - que a maioria da filosofia é intestável - ainda que quando pegamos em livros de filosofia vemos que muitas das suas mais famosas ideias passam por experiências de pensamento (em que o teste é mentalmente recriado) e são, pelo menos em princípio testáveis. A própria falibilidade da indução é testável - assim como a sua utilidade. E a aparente infalibilidade da deduçao, idem.
Assim, com esta amizade ao intestável, é vulgar ver passar todas as afirmações extraordinárias sobre a realidade para o ramo da filosofia. Claro que com a alegação de que são intestáveis. Assim se evitam provas extraordinárias para afirmações extraordinárias.
Mas a filosofia que é intestável, é uma nulidade. É apostar numa roleta epistémica que nem sequer diz quando se acerta. Não é conhecimento. E se não é conhecimento, mesmo se na forma mais especulativa (e afastada do teste empírico mas não de todo sem ligação a qualquer ponte empírica), não devia ser filosofia.
Claro que os filósofos vêm dizer que não sabemos o que é o conhecimento, que o teste não se valida a ele próprio, que a indução não valida a indução, que não somos infalíveis, que pode haver nova informação que nos leva a corrigir o que sabíamos etc. Mas isso só é um problema grave se vivermos numa confusão entre mapa e território e pretendermos que existe algo como a realidade feita palavra. Provavelmente tal mapa realista não é possível. Podemos ter mapas melhores e mapas piores, mas isso poderá ser tudo.
O conhecimento é apenas um grau elevado de plausibilidade para uma afirmação e certezas absolutas provavelmente não existem. Como podemos esperar sequer que a palavra seja a realidade? O Verbo? Não podemos. Talvez por isso Godel tenha conseguido mostrar que vão haver sempre falhas no conhecimento.
Por isso procuramos modelos que funcionem e não verdades absolutas. Mas considerar que devemos aceitar como filosofia o intestável porque o teste só nos dá o melhor possivel mas não a verdade absoluta é um "non sequitur". Temos sempre de fazer testes.
E se não o fazemos directamente no campo, repito, a ideia é que podemos fazê-lo usando as ferramentas racionais que criámos e as abstracções que sabemos (não absolutamente) que funcionam.
Para finalizar, na pratica, uma afirmação para ser intestável (sem que isso seja uma questão pontual ou tecnológica) tem de ser tão vaga, ambígua que não diga nada que a possa comprometer! Ou então, tão deslocada de tudo o que se sabe que nem se percebe se pode ser testada. Isto também só por experiência de pensamento devia ser possível ver que não serve para nada. Por isso os exemplos da história, da moral, etc, como sendo intestáveis são treta. São testáveis. Se não faz sentido, se se descobrem provas que refutam, se não funciona para um fim escolhido, etc, perde plausibilidade. E se 1+1 só fossem 2 no papel e por decreto, já não se usava essa abstracção para nada, pois de nada era uma abstração.
Há quem queira que a filosofia seja a tal coisa sem qual tudo fica tal e qual. Eu não estou de acordo. Precisamos de boa especulação racional. Mas essa é, pelo menos em principio, testável.
(A maioria dos filósofos segundo as songagens do Phill Papershttp://philpapers.org/archive/BOUWDP, é empirista, naturalista, realista moral e até não-humeana. Neste contexto a tendência para o teste empirico é solida.)
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