sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Uma guerra fundamentada em evidência anedótica.


Segundo um artigo do Público, Colin Powel quer explicações da CIA e do Pentágono por não se terem apercebido que o informador que lhe indicaram  (para saber se existiam no Iraque armas de destruição maciça) estava mentir (1).

Mas a questão não é só esta.

Isto significa que milhares de mortos e estropiados resultaram da mentira de um único homem que viu esta como a melhor maneira de derrubar o regime de Sadam Hussein.

Colin pode considerar isto culpa de outros?

Não, se souber que a fonte era apenas um homem, sem confirmação independente, e sem outras provas. Testemunhos individuais não têm valor como prova, sabemos isso a partir de várias linhas de investigação. Fazem parte daquilo a que se chama “evidência anedótica” porque não valem mais que a sua mera menção(2). Ou seja, não é para apagar, mas também não serve para tirar conclusões. É insuficiente.  

O erro não está em ter ou não percebido que o homem mentia. O erro está em considerar um testemunho isolado, sem verificação independente, não suportado por provas físicas, totalmente assente no "acreditem em mim" como sendo uma prova.

Colin Powell faz a segunda asneira ao publicamente acusar orgãos de investigação, de um problema que ele será o responsável, numa atitude de desinformação, talvez a ver se o povo ainda percebe menos do que ele sobre o valor das evidências, ou de demonstração de uma ignorancia chocante para um homem no cargo dele. Já para não falar na enorme falta de bom senso. 

Ele sabia que a informação provinha apenas de um homem: 

De acordo com a mesma noticia, ele disse: “(...)descrições em primeira mão de fábricas de armas biológicas… A fonte é uma testemunha que vigiou uma dessas instalações”.

Os serviços secretos alemães, que foram quem indicou a testemunha à CIA não se deixaram convencer. Os americanos sim. Sim?  

Colin Powell quer fazer-nos acreditar que a CIA ou ele próprio não sabem que testemunhos individuais são a forma de evidência mais fraca que existe?

Eu acho que isto não bate certo. Não faz sentido nenhum. De certeza que num país onde há relatos de encontrar o Elvis ou de raptos por extraterrestres (com abuso sexual!) aos milhares por ano, que a CIA sabe o mesmo que os cientistas descobriram há décadas. Os testemunhos individuais valem nicles (mesmo se forem de cientistas! - tem de haver verificação independente e/ou sistemática). Se fôssemos acreditar em tudo o que já foi testemunhado por uma ou até várias pessoas mas que não pode ser confirmado, o mundo era um lugar pejado de duendes, fadas, discos voadores, vampiros, Elvises, deuses, profetas, orbs, elfos, etc., etc., etc...

Uma guerra foi iniciada por base em evidencia anedótica. E C.P. diz que o problema foi a CIA ou o Pentágono não terem percebido que ela  - a testemunha - estava a mentir.  

Não, o problema foi valorizar-se uma coisa que não vale praticamente nada(3). Nunca. É um erro de lógica usar evidencia anedótica sem mais provas (2)(3). E sinceramente é isto que devia vir também na noticia do Publico. Uma parte da noticia é "Colin Powell acredita em provas anedóticas". Ou então quer fazer de nós parvos.

Certo que ele é Americano. Mas a decisão dele afectou o mundo inteiro.



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