quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Criação a partir do nada e radiação de Hawking

Outra das excentricidades da mecânica quântica é a previsão de que a matéria se está sempre a produzir a partir do nada. Pares de partícula e anti-partícula aparecem espontâneamente para logo a seguir colidirem e extinguirem-se de uma vez. No fim, nada se perde, nada se cria, tudo ficou como antes.

Stephen Hawking, fez a previsão teórica de que se isto acontecesse em cima  do horizonte de acontecimentos de um buraco negro, ficando as duas partículas separadas pela linha de fronteira, uma cairia no buraco e a outra poderia escapar-se. Não haveria aniquilação. Um fotão seria emitido - o resultado seria a radiação de Hawking.

Até agora não havia maneira de medir esta radiação, pois criar buracos negros no laboratório não é muito prático. Mas um grupo de cientistas conseguiu criar uma maneira de aprisionar e puxar uma das partículas para  simular a queda para dentro do buraco negro.

O que aconteceu foi que isso criou fotões dentro das frequências previstas pela teoria. Naturalmente que agora que o trabalho foi publicado vai ser analisado a pente fino. Mas em principio deu mais uma prova da capacidade predictiva da mecânica quântica e da possibilidade de criação de matéria a partir de uma flutuação quântica. Apenas da indeterminação nasce matéria.

Os crentes que estão sempre preocupados com a criação a partir do nada que "tem de ser impossível" deviam prestar atenção a estas coisas. É que o aparecimento da matéria não depende da vontade de ninguém. É ao acaso - e de acordo com as probabilidades quânticas. Literalmente nasce da indeterminação.

Via New Scientist:
http://www.newscientist.com/article/dn19508-hawking-radiation-glimpsed-in-artificial-black-hole.html

Sobre a mecanica quantica:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/09/sobre-mecanica-quantica.html

5 comentários:

alfredo dinis disse...

Caro João,

S. Tomás de Aquino aceitou a hipótese de o universo não ter sido criado a partir do nada mas ser co-eterno com Deus.

Os cristãos nada dizem sobre o modo como de dá a criação. De facto, de uma concepção estática da criação, hoje os cristãos têm uma ideia de criação como um processo contínuo que está ainda em acto. Isto não significa que Deus tenha que aparecer nas equações que constituem as teorias e as leis científicas.

Por conseguinte, das teorias sobre a origem do universo nada se pode inferir sobre a acção criadora de Deus.

Cordiais saudações,

Alfredo Dinis

João disse...

Alfredo Dinis:

" Isto não significa que Deus tenha que aparecer nas equações que constituem as teorias e as leis científicas."

Claro que tem. Se não, onde esta a vontade deus? A intencionalidade? É que se tudo acontece como tem de acontecer, mecanicamente, não é correto injectar mais uma entidade no processo. Que traz consigo uma propriedade que contradiz a formula, que é a intencionalidade.

Ou então deus quer que por mais que estudemos o assunto apenas encontraremos respostas livres de deuses. Mas isso é apostar que deus está lá e que sabemos isso mesmo contra a Sua vontade.

É como a consciencia das plantas. Se nada aponta para que exista, depois de tudo o que se tem estudado, como podemos dizer que está lá na mesma?

alfredo dinis disse...

Caro João,

A exigência feita por ti e por muitos não crentes de que Deus apareça nas fórmulas matemáticas das equações relativas às leis e teorias científicas é certamente um dos maiores equívocos do ateísmo.

Seria o mesmo que exigir que o treinador de uma equipa de futebol se encontre em alguma posição do campo de jogos durante o jogo para acreditarmos que há um treinador. Mas isso seria ridículo e, de facto, impossível. Nem vale a pena dizer que bastaria olhar para fora do relvado para identificar o treinador. É que não é impossível que uma equipa esteja a jogar sem treinador, por exemplo, quando se dá a transição de um treinador para outro. Olhar para fora do relvado poderia permitir-nos ver o treinador ou não ver treinador nenhum. O que não seria possível era encontrá-lo olhando para cada pormenor do campo de jogos.

Saudações,

Alfredo Dinis

João disse...

A questão é que não era suposto o treinador estar dentro do jogo.

E deus é suposto estar dentro deste jogo. Que não esta é o meu argumento.

João disse...
Este comentário foi removido pelo autor.