sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Hockey Stick: Conclusão?

Acabei de ler as ultimas entradas do blog do Steve McIntire e quer-me parecer que a ultima controversia acerca do "hockey stick" está a esbater-se.

Acho que posso resumir assim:

Foi usada informação proveniente de estudos russos para produzir uma analise, liderada por Briffa em 2000  e em 2008, que serviu para integrar os "proxys" usados na construção do "Hockey Stick" por Mann e outros.

O Hockey Stick tem sido criticado por McIntire, e as criticas têm sido ouvidas, mas a conclusão a que se chega é que o clima esta mais quente agora que nos ultimos 12 séculos.

A nova disputa de argumentos acaba da mesma maneira, com S. M. a querer que os cientistas do clima pelo menos aceitem que não tinham dito quantas amostras usavam em 2000 (Briffa). 

Acho que deviam aceitar isso, até porque para o que é realemente importante, se estamos a ir na direção certa, mostrou-se que era indiferente. Mostrou-se que não houve intenção de manipular os resultados e nem o McIntire quer que se pense que alguma vez disse isso. O que não disse mas deixou a insinuação (pode ver-se o que ele disse nas notas do meu post de ontem).

Parece-me é que talvez Briffa tenha usado os dados de que dispunha na altura e que era só aquilo  e talvez até nem soubesse que a amostra era pequena demais para usar o metodo RCS (que ele de facto usou). Quer-me parecer também que só não foi induzido em erro, isto é, só não teve um resultado irreal, porque os russos escolheram de facto as amostras que eram importantes - e que levou a um numero tão pequeno. Em 2008, repete a mesma abordagem, usa o material dos russos, mas desta vez indica o numero de amostras. O que desperta a desconfiança de S.M. ao comparar com as amostras e dados disponiveis. Erradamente. Pois as amostras que foram retiradas eram anomalas mas não o suficiente. Produz um grafico só com essas amostras que dizem que não há aquecimento recente (que nós sabemos haver por outras medições) e põe em causa o valor da dendrocronologia.

A escolha dos russos foi baseada na idade das árvores, estado de concervação das subfosseis, compressão da amostra (artefacto da extração?) e não sei de cor se não estou a falhar nada. 

Hantemirov, um dos russos envolvidos no estudo, está para apresentare em breve o seu trabalho em publicações de peer-review, pois precisa de o fazer para completar o seu doutouramento. Soube da controversia e escreveu uma carta que S.M. publicou (decentemente), explicando que tinha de ser assim e que para mais iria publicar (ja estava feito) um estudo com uma  amostragem maior (tudo) que mostrava que a seleção que ele tinha feito não alterava as conclusões.

Briffa refaz o gráfico com os dados todos e mais uns quantos e chega ao gráfico que mostrei aqui ontem. 

McIntire vira as suas acusações para o facto de o terem acusado de difamação, de ser verdade que Briffa não publicou o numero de amostras em 2000 e de que a informação de Khadita esta de pernas para o ar. 

Em relação ao uso de informação de pernas para o ar, parece que é verdade. Mas parece-me também pelas criticas que li, que isso pode ser feito. Aliás, li mas preciso confirmar que é uma consequencia de uma abordagem matemática especifica (algoritmo Mea?).

Fico a aguardar os desenvolvimentos. Porque sinceramente, como cada um publica tudo o que quer, sem passar por um filtro de "Peer-review" sequer, é dificil perceber onde esta a verdade quando não se está verdadeiramente "por dentro". E eu não estou. Estou apenas a tentar comparar argumentos e perceber o que se está a passar. 

O Real Climate tambem passou à frente para outro assunto. Hoje publica um "post" muito interessante onde mostra aritmeticamente que a alegação que as placas solares iriam aquecer o planeta é falsa (feita por Steven Lewvit, autor de freackonomics e que faz a alegação em superfreackonomics).

Neste mesmo post podemos também perceber que o CO2 é claramente o problema fundamental do aqucimento climático, a não ser que a formula básica que diz o valor de retenção de calor pelo CO2 esteja errada. Mas isso é matéria de ciencia com mais de um século.

Ver aqui:

http://www.realclimate.org/index.php/archives/2009/10/an-open-letter-to-steve-levitt/

As minhas desculpas se me estou a repetir em relação a ontem, mas penso que a abordagem é diferente e hoje posso ser mais conclusivo em relação às reações na blogosesfera. Espero que seja de utilidade para alguem. Criticas e sugestões são bem vindas. 

6 comentários:

Barba Rija disse...

Aprecio que estás ao menos a levar isto um pouco a sério.

Não concordo com o que retiras do caso, mas deixo apenas duas correcções:

Em relação ao uso de informação de pernas para o ar, parece que é verdade. Mas parece-me também pelas criticas que li, que isso pode ser feito. Aliás, li mas preciso confirmar que é uma consequencia de uma abordagem matemática especifica (algoritmo Mea?).

Precisas mesmo. Aliás é treta. A abordagem matemática dá uma correlação positiva entre o gráfico "upside down" e o gráfico das temperaturas medidas por termómetros, o que é manifestamente ridículo do ponto de vista de quem tem olhos na cara. Se é esse o resultado do "método", o problema não são os críticos, mas o "método".

O que desperta a desconfiança de S.M. ao comparar com as amostras e dados disponiveis. Erradamente. Pois as amostras que foram retiradas eram anomalas mas não o suficiente. Produz um grafico só com essas amostras que dizem que não há aquecimento recente (que nós sabemos haver por outras medições) e põe em causa o valor da dendrocronologia.

Imprecisão: A questão não é se houve aquecimento no séc XX. A questão é saber se a recolha dendroclimática o detecta por razões físicas ou axiomáticamente, i.e., se se escolheram as proxies devido à sua capacidade inerente de serem bons termómetros ou se as escolheram devido à boa correlação com a temperatura do séc XX.

Esta diferença é crucial, porque se de facto os termómetros forem "maus" (como parece evidente pelo problema da "divergência"), não temos modo de usá-los para saber as temperaturas de há 1000 anos atrás (óbvio). O resultado é uma manipulação estatística: o séc XX calibrado com os termómetros eléctricos e os restantes séculos totalmente "random" a partir do último ponto calibrado, construíndo assim um "Hockey Stick".

Não há nada a fazer: quem ainda hoje defenda o HS depois do relatório Wegman e das conclusões do painel NAS (National Academy of Sciences) é que deve ser rotulado de "negacionista" e "anti-científico". Parece que se engloba nisto todo o RC e a sua claque.

João disse...

Barba:

"A questão é saber se a recolha dendroclimática o detecta por razões físicas ou axiomáticamente"

Exacto. Por isso disse que pos a dendrocronologia em causa, por que aquilo que tu sabes por axioma tem pouco valor se queres que o axioma seja a previsão. Estou de acordo que era isso que SM punha em causa. Se calhar expliquei-me mal.

Em relação aos problemas de saber as temperaturas de mil anos para trás, eu vejo o problema assim.

Não podes saber com certeza. Mas se usares o que tens, a informação disponivel, para onde aponta? Essa conclusão esta nos dados ou foi "inventada"?

Li uma pequena publicação da associação de estatisticos americana que esta referenciada na Wikipedia, e tambem no meu post de ontem.

Segundo eles, a analise estatistica ap HS não contraria as conclusões originais. Foi um dos factores que tive em consideração ao validar o grafico de Mann.

O outro foi a consistencia com outros achados - que leva o proprio Wegman a dizer que o resultado esta certo mas é má ciencia na mesma porque tem erros estatisticos, que depois, em 2008 foram corrigidos.

Outro factor que tive em consideração ao validar o grafico de Mann, é este desenvolvimento agora. PArece que as arvores dizem mesmo que estamos a viver uma epoca anormalmente quente para os ultimos 1000 anos. Com o devido erro, penso que há falta de melhor, deve ser tido esse valor em consideração.

Porque não nasce do nada.

É verdade que é uma ciencia jovem, mas parece-me que é o melhor que se pode saber é o que estes cientistas estão a fazer.

Se o SM tivesse outra postura - publica-se artigos consisose sem insinuações - o que lhe iria tirar protagonismo e popularidade, eu diria que ele até esta a fazer um favor à ciencia.

É a postura dele e a forma como atua que me irrita. Aparentemente, as suas criticas são muitas vezes fundamentadas, mas muitas vezes tambem exageradas quanto ao significado.

Renato disse...

Desculpem, por favor, a minha ignorância, não sou cientista do clima, mas engenheiro civil. Corrijam-me se eu estiver errado.

Sr João, fico a pensar na sua afirmação: "É verdade que é uma ciência jovem, mas parece-me que é o melhor que se pode saber é o que estes cientistas estão a fazer". Ocorrem-me algumas dúvidas sobre essa afirmação:

1. É o melhor que se pode saber ou é o melhor dentro da dendrocronologia? Há outras maneiras de estimar-se a temperatura no passado, suponho. Mesmo que nenhum outro método científico seja melhor, há que se admitir que este é bastante ruim. Eu respeitaria muitíssimo os autores, caso publicassem seus resultados nos seguinte termos: "Os resultados do estudo da dendroclimática parecem indicar que a temperatura média global é maior hoje do que em toda a Idade Média. Entretanto, a grave imprecisão do método utilizado nos faz recomendar extrema cautela na aceitação dessa conclusão". Seria muito mais cientifico, muito mais honesto e teria efeitos políticos muitos diversos dos observados atualmente. Parece ser essa a questão ... Na verdade, entendo muito bem a profunda irritação de McIntire com tais cientistas.

2. Sabemos com certeza absoluta que a Europa ocidental esteve bem mais quente que hoje. Inúmeras descrições sobre agricultura, época de congelamento dos rios, vestimenta, etc, nos provam isso. Temos evidência também de um período mais quente durante o Império Romano. Tais períodos não deveriam ser usados para conferir os resultados da dendroclimática? Para que tais resultados tenham algum significado, deveriam corresponder ao nosso conhecimento sobre a Europa no período, isto é deveriam indicar a Europa aquecida e (na teoria aquecimentista) a maioria dos outros lugares mais frios (de forma a mais que compensar estatisticamente o calor na Europa).

3. Sabemos que houve um freio no aquecimento global na última década, e até uma pequena reversão. Fiquei chocado com dois fatos relacionados a isso. Os modelos não previram isso, de forma que sabemos que são imprecisos (muito mais do que queriam admitir seus formuladores). E ouve um silencio sepulcral sobre isso. Durante essa década, políticos e mídia acusaram falsamente um brutal aumento de temperatura, enquanto os cientistas aquecimentistas ficavam quietos sobre isso, ou até o confirmavam. Deveriam ter sido honestos e dizerem: "está havendo uma pausa no aquecimento, não sabemos o motivo, mas cremos ainda na tendência geral de alta". Concordaram com tal fraude, o que mostra um viés político.

Renato disse...

Sobre uma questão levantada pelo sr Barba Rija:

"A questão é saber se a recolha dendroclimática o detecta por razões físicas ou axiomáticamente, i.e., se se escolheram as proxies devido à sua capacidade inerente de serem bons termómetros ou se as escolheram devido à boa correlação com a temperatura do séc XX".

Sabemos que a política contaminou fortemente o debate. Terá contaminado a ponto dos aquecimentistas escolherem os métodos que mais se aproximam dos resultados que querem? Talvez. Se ocultaram a pausa no aquecimento, se sabotaram a publicação de artigos contrários (e ameaçaram editores que os publicaram), se aceitaram a histeria da mídia e dos políticos, talvez tenham escolhido seus métodos a dedo. Seria uma fraude invisível: testar os resultados segundo vários métodos e depois publicar apenas aqueles que melhor se adequarem aos resultados pretendidos. Algum cético que examinar os resultados poderá apontar imprecisões no método, mas não poderá apontar que tal método foi escolhido a dedo, pois não saberá que os autores tentaram outros. Como os céticos teem muito menos recursos para pesquisa, e são em menor número, pelo medo que a política atualmente causa nos cientistas, será mais difícil a eles refazer toda a pesquisa com muitos métodos diferentes.

Não se poderá acusar nenhum cientista em particular disso, pois é apenas um especulação. Mas os e-mails e arquivos recentemente publicados permitem-nos saber que há falhas éticas importantes. Toda a produção cientifica da instituição afetada fica sob suspeita, diante do público e dos colegas. Construir uma boa reputação demora, mas pode ser destruída num instante. Independentemente de quem vença o debate, a ciência já perdeu.

Desculpem-me, se expresso-me de forma estranha, sou brasileiro, e nosso dialeto soará um pouco diferente para os amigos portugueses..

João disse...

Renato:

De facto nenhum de nós é cientista do clima. Adiante.

O artigo de Michael Mann original é exatamente algo como "incertezas e conclusoes possiveis (...)"

Quanto ao periodo quente, penso que se sabe que foi localizado à Europa e não foi global. E alem disso de curta duraçao. Isto se se refere ao periodo medieval quente. Se se refere a outro agradeço que me deixe ligações para averiguar.

Tambem sei que uma parte da Idade Media foi fria e nublada. Ou pelo menos assim se pensa através de relatos escritos dessas epocas e dos quadros feitos. Alguns cientistas encontraram explicação possivel numa queda de um cometa na Islandia que tera deixado cinzas por toda a atmosfra o que teve consequencias prolongadas.

"Sabemos que houve um freio no aquecimento global na última década, e até uma pequena reversão."

Isto é falso. Não é na ultima decada, é nos ultimos 2 anos. Pode encontrar a explicação para isso em fenomenos meteorologicos conhecidos como o el nino e a niña. O que esta a acontecer esta dentro das previsões para um pos el ninho. Mas repare que não houve um retroceder. Apenas deixou de aquecer. A tendencia da decada é claramente positiva. Tenha atenção a isso.

João disse...

Renato:

Ja vi a que referias. Encontrei uma resposta aqui:

http://www.newscientist.com/article/dn18238-why-theres-no-sign-of-a-climate-conspiracy-in-hacked-emails.html

Mas tenho de ler mais sobre o assunto. É o problema desta coisa de discutir o clima é o tempo que absorve, se não houvesse mais nada para pensar era supotavel. Tem de se fazer um esforço dada a importancia.

Não creio, mais uma vez, que ponha em causa o facto de se estar a dar um aquecimento global.

Ha muitos anos lembro-me de ler um tipo da Green Peace confessar: "Nós sabemos que estamos a exagerar, mas é preciso chamar a atenção das pessoas". Penso que isto se esta a passar a nivel de diminuir a incerteza em relatorios politicos e em assuntos especializados. Mas no meio cientifico o proprio titulo original do trabalho de Mann diz tudo. E depois, a parte importante creio que não há duvidas. Ha defacto aquecimento. Ainda hoje vi dados de temperatura e mostram isso.