quinta-feira, 30 de julho de 2009

Outra vez a lei de Occam e o criacionismo.

O Mats, um criacionista do blogue "Génesis contra Darwin" (que parece esquecer que o Darwinismo é uma forma primitava do modelo evolutivo, talvez por o Genesis não ter recebido nenhum "update" nos últimos 2000 anos), diz assim em resposta a um comentário meu:

"Ai é? Alguém observou o início do universo? Não. Alguém observou o surgimento da vida? Não. Alguém observou o dinossauro a evoluir para passarinho? Não. Alguém observou o animal terreste a evoluir para baleia? Não. Alguém observou o primata a evoluir para o homo sapiens? Não.

Portanto, segundo a tua definição de "ciência", esses eventos estão fora do domínio da mesma, certo?" (1)

Não, errado.  

A ciencia debruça-se sobre o que é observavel e tem efeitos no mundo material. Isso é o materialismo. O que é observavel e mensuravel indiretamente através dos seus efeitos também pertence ao ambito da ciência.

Por isso sabemos que existem electrões, buracos negros e vários tipos de forças. 

Se tentarmos explicar uma medição ou observação qualquer com uma entidade não medível nem observavel não vamos chegar a lado nenhum. É equivalente a dizer "porque sim". Não explica realmente. Sobretudo se podermos explicar determinado fenómeno com entidades ou processos que têm implicações observaveis e mensuraveis. 

A lei de occam, que diz que as entidades não devem ser replicadas para além do necessário é acerca desta questão. É um pilar da ciencia, comprovado experimentalmente ao longo dos séculos conforme fomos explicando fenómenos do mundo fisico através de entidades do mundo fisico. 

Racionalmente não é dificil entender que se uma entidade não tem efeitos mensuraveis e observaveis, então a plausibilidade que ela explique um fenómeno é baixa. Porque se faz alguma coisa que se veja, então é testavel. E pertence ao mundo material. Se não é testavel mas o podes explicar sem recorrer a entidades superfluas, então esta é a melhor explicação.

Enquanto tentarmos explicar a chuva com deuses, as doenças com duendes e forças intestaveis, etc, não estamos a compreender nada.

A teoria da evolução tem poucas observações directas (e eu aqui no blogue ja referi algumas como a experiencia de Lenski), mas muitas indiretas. Muitos efeitos observados hoje são melhor explicados pelo modelo evolutivo do que por uma entidade que se diz estar lá mas não se pode provar.

E sabemos que os electrões existem porque a electricidade tem o efeito da dar luz. E sei que a velocidade com que algo se move no tempo e espaço somada tem de ser igual a C (velocidade da luz no vácuo) porque as equações e previsões que esta hipotese (Teoria da relatividade restrita) proporciona podem ser confirmadas esperimentalmente. 

A evolução deixa um rastro no DNA sob a forma de mutações neutras. E consequentemente na sequencia de aminoacidos nas proteinas, onde algumas mutações nem significado biologico têm porque dão origem à mesma sequencia.  

E os resultados das comparações, entre especies, do numero destas mutações,  são extraordinariamente consistentes com o seu aspecto fisico (morfologia) e com os achados de datação radiometrica. Tudo coisas medíveis e observaveis.

Porque Deus haveria de introduzir mutações neutras nas proteinas de cada espécie  na proporção exacta que existe se fizermos essa previsão  baseada na morfologia dos seres vivos? Para nos enganar?

Ou seja, existe tanta diferença entre o numero de mutações neutras  como a que seria de esperar se fizessemos essa previsão de acordo com a teoria da evolução.

O que cumpre o principio da Falsibilidade. 

Ou então são formidaveis coincidencias. Tal como o ovo partir-se cada vez que cai no chão ser uma coincidência.

(1)https://www.blogger.com/comment.g?blogID=20012779&postID=5641787868466963778

2 comentários:

Fernanda Poletto disse...

Bela resposta.

João disse...

Ola Fernanda,

Obrigado pelo comentário.