domingo, 31 de maio de 2009

Considerações sobre Quiroprática

Escrever sobre a quiroprática (1)é difícil. Sobre esta designação comum que literalmente significa pratica manual encontram-se actividades que vão da pseudociência (2) a algo mais racional como uma massagem adequada a situações de dor moderada em situações não complicadas e já vistas por um médico.

Ao querer impor uma critica severa aos primeiros (e aos que misturam as duas coisas), não queria fazer pagar o justo pelo pecador, ainda que me pergunte porque os últimos não preferem modernizar o nome pelo qual se identificam, para não haver confusões. Não serem confundidos nem pelos críticos científicos e cépticos dissecadores de pseudociencias, nem pelo publico à procura de tratamento.

Acontece que, enquanto parece haver alguma evidencia cientifica de que em determinados casos de dor moderada nas costas há beneficios, também parece que há chiropraticos que querem estender a sua actividade e autoridade para o diagnóstico e tratamento de toda uma série de outras doenças (3). Ou mais exactamente, generalizam a manipulação da espinha como panaceia para uma vasta gama de maleitas.

Os conceitos históricos desta pseudociencia tais como sub-luxação (1) e inteligência inata (1), na explicação geral do processo de doença, embora abandonados em maior ou menor grau por muitos chiropráticos, são ainda implícita ou explicitamente defendidos por outros que os procuram por em prática.

Estes conceitos não encontram suporte inequívoco no universo cientifico (6) - talvez sim num outro universo paralelo, onde também outras pseudociências são realmente ciências como desejavam. Mas não neste universo.

Em ciência, procura-se que haja uma integração entre as diversas áreas, e devemos desconfiar quando uma teoria usa conceitos que só são "verdade" no seu mundo fechado.

Da mesma maneira, devemos ter em atenção quando as suas descobertas mais significativas são publicadas nos seus próprios jornais e revistas. Na pagina de artigos (4) da associação portuguesa de quiropractica, aqueles que considerei mais relevantes - pelas afirmações extraordinárias e cruciais que faziam - eram publicados no "Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics" que é um jornal que se auto caracteriza como sendo dedicado a progredir a investigação quiroprática (5). E todos os links que segui iam dar a sites dedicados à chiropratica.

E em ciência, "afirmações extraordinárias, requerem evidencias extraordinárias" (Sagan), e devem ser preferencialmente publicadas numa revista de peer-review de ranking elevado. Ou então são pouco mais que evidência anedótica.

Leitura sugerida dentro da crónica da ciencia:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/10/medicinas-alternativas-e-as-outras-uma.html

Referencias:
(1)http://en.wikipedia.org/wiki/Chiropractic
(2)Edzar Ernst, professor de medicina complementar nas universidades de Exeter e Plymouth:
http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2005/feb/01/healthandwellbeing.health1 (3)Sobre este assunto (da mistura de praticas) ver a critica do Steven Novella, especialista em doenças neuromusculares às recomendações da "NICE" sobre acupunctura e manipulação da espinha em :http://www.theness.com/neurologicablog/?p=546
(5)http://www.ovid.com/site/catalog/Journal/3187.jsp?top=2&mid=3&bottom=7&subsection=12
(4)http://www.quiropratica.org/investigacao.html
(6)http://www.chirobase.org/01General/chirosub.html,

Por ultimo, queria deixar aqui a insistência para visitar este ultimo site que referenciei (6), que me pareceu muito bom e que fala dos dois lados da quiroprática mas claro, com a preocupação maior em alertar sobre a pseudociência:
http://www.chirobase.org/

E a quem se lembrar de protestar que os meus links são todos pró-ciência, é verdade. São mesmo. É essa a questão. Aqui vai mais um:
http://www.senseaboutscience.org.uk/PDF/Sense%20About%20Chiropractic.doc

Leitura sugerida:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2008/10/medicinas-alternativas-e-as-outras-uma.html

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Não critiquem ou nós processamos. (1)

Simon Singh é um escritor de divulgação cientifica, já aqui referido acerca do livro "Trick or Treatment".

Num artigo publicado no "Guardian" intitulado "Beware of the spinal trap", usou a palavra "bogus" para caracterizar a terapia efectuada pelo quiropraticos.

A BCA ou Associação Britanica dos Quiropráticos decidiu processar o Simon Singh e incrivelmente ganhou a primeira ronda (2). O Juiz decidiu que ao usar o termo "bogus" o autor implicava que os quiropracticos tinham consciência de estarem a enganar os pacientes. Algo que Simon Singh diz que não pretendia dizer. E que agora nem tem maneira de provar. Nem interessa realmente.

Mas agora, porque raio é que também não interessa saber se o tratamento quiropractico é ou não eficaz? Não é importante neste caso?

Só porque eles dizem que as doenças se tratam através da manipulação da espinha temos que aceitar que é verdade? Não podemos dizer que não faz sentido nenhum?

(1) O titulo foi copiado de um texto da New Scientist sobre os processos legais em questões cientificas na Inglaterra. Uma tendencia perigosa. Ver:
http://www.newscientist.com/article/mg20227086.200-comment-dont-criticise-or-well-sue.html
(2)http://www.newscientist.com/article/mg20227083.000-chiropractic-critic-loses-first-round-in-libel-fight.html

O que escrevi mais sobre quiropráctica:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/05/quiropratica.html

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais sobre a origem da vida. Bastante mais.

Embora ainda haja muito por esclarecer acerca da origem da vida, um estudo recente (1) vem mostrar como a hipótese do RNA ser a primeira molécula auto-replicavel é bem plausível. 

Ao criar parte importante da molécula de RNA, em condições compatíveis com aquelas que se pensa terem existido na Terra pré-biotica, um grupo de investigadores coloca mais uma pequena peça no puzzle. Pequena mas fulcral, na minha opinião. Ainda recentemente, um outro estudo, também aqui referido, mostrava como a evolução surgia espontaneamente numa mistura muito simples de moléculas de RNA (2). Faltava mostrar como essas moléculas podiam ter surgido. Muitas tentativas já tinham sido feitas mas havia alguns problemas. 

Foi assim que as coisas aconteceram há milhões de anos atras? Não sabemos, mas é a demonstração de uma possibilidade. 

Vou deixar aqui a tradução do “abstract”:

“Em alguma fase da origem da vida, um polímero “informacional” deve ter surgido por meios puramente químicos. De acordo com uma versão da hipótese do “RNA world” este polímero foi o RNA, mas tentativas de mostrar suporte experimental falharam.

 Em particular, apesar de Ter havido algum sucesso a mostrar que ribonucloetidos activados podem polimerizar-se e formar RNA, esta longe de ser obvio como estes ribonucleotidos podem Ter formado as suas partes constituintes (ribose e bases dos ácidos nucleicos). A ribose é difícil de formar selectivamente e a adição de bases à ribose é ineficiente no caso das purinas e não ocorre de todo no caso das pirimidinas canonicas.

Aqui demonstramos como ribonucleotidos de pirimidina activada se podem formar a partir de uma sequência curta passa ao lado da necessidade de ribose livre e das nucleobases e em vez disso procede através da arabinose aminoxazolina e intermediarios anidronucleosidos.

Os percursores para a síntese foram cyanamida, cyanoacetyleno, glicolaldeido, gliceraldeído e fosfato inorgânico que são todos moléculas prebióticas plausíveis e as condições de síntese são consistentes com modelos geoquimicos da Terra primitiva.

Apesar do fosfato inorgânico ser apenas incorporado nos nucleotideos num estádio tardio do processo, a sua presença é essencial porque ele controla três reações nas fases iniciais ao actuar como catalizador ácido-base, catalisador nucleofilico, tampão de Ph e tampão quimico.

Para sequências de reacção prébiotica, os nossos resultados sublinham a importância de trabalhar com sistemas químicos mistos em que reagentes de um determinado passo podem controlar outros passos.”

(1) Synthesis of activated pyrimidine ribonucleotides in prebiotically plausible conditions: http://www.nature.com/nature/journal/v459/n7244/full/nature08013.html 
(2) http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/01/sobre-origem-da-vida.html