quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Valeriana

De todas as candidatas a medicinas alternativas ou complementares aquela que eu acho que tem mais hipóteses de êxito é sem dúvida a fitoterapia (ervanária, ou herbal, como lhe quiserem chamar). Porque lança tantas hipóteses, que algumas têm de acertar, isto é, ter sucesso terapêutico. Mesmo que moderado.

Porque ervas há muitas e que muitas contem substâncias capazes de modificar funções orgânicas já se sabe há séculos. A história da aspirina é um bom exemplo.

O que não se sabe ainda é que espécies vegetais não testadas terão algo para nos dar. Não testadas, quero dizer, de uma maneira rigorosa e sistemática, que tente reduzir a probabilidade de conclusões erradas.

Como qualquer produto que alegue ser “natural” tem entrada facilitada no mercado, não sendo obrigado a sujeitar-se aos exigentes procedimentos farmacológicos habituais de determinação de eficácia, toxicidade ou mecanismo de acção, a sua variedade e disponibilidade no comercio é enorme.

O extracto de valeriana é um dos produtos ditos "naturais" que tenho ouvido mais testemunhos pessoais a validar a sua eficácia, como ajudante do sono ou calmante. O seu registo no Infarmed, pelo que pude saber, nem é como produto natural. Portanto, para ser mais exacto nem é um produto de ervanária nem de medicina herbal. Tem um registo normal como qualquer outro medicamento.

Mas, mesmo assim, o que dizem os ensaios clínicos mais rigorosos?

Encontrei sem grande dificuldade uma revisão de artigos publicada o ano passado num jornal com “peer-review” (1) que começa assim:

uma recente revisão sistemática e meta-análise da valeriana concluiu que a evidencia a favor da sua eficácia era inconclusiva “(2)

Isto é um mau começo. Se fosse muito eficaz, provavelmente essa revisão sistemática teria sido conclusiva, ou mais correctamente teria concluído a sugerir a eficácia do extracto de valeriana (os cientistas tem este tipo de cautelas). Os autores continuam dizendo que:

por essa razão, num esforço para examinar mais de perto este assunto, uma revisão sistemática foi conduzida para examinar a evidencia acerca da eficácia da valeriana como um ajudante do sono com atenção especifica ao tipo de preparações testado e características dos sujeitos do estudo”.

Foram encontrados 36 artigos que cumpriam os critérios de inclusão num total de 592 identificados. De acordo com os autores não foram encontradas diferenças significativas entre os efeitos do placebo e dos que tomavam valeriana, quer entre as pessoas saudáveis, quer entre as que tinham algum tipo de distúrbio do sono. Mas pior ainda é verificar que:

Nenhuns dos estudos mais recentes, que eram também os mais metodologicamente rigorosos, encontraram efeitos significativos da valeriana no sono.”

O estudo acaba concluindo que a valeriana apesar de ter efeitos adversos apenas raramente, não é eficaz para a insónia e problemas do sono.

(1)http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=journals&term=%22Sleep%20Med%20Rev%22%5BTitle%20Abbreviation%5D
(2)http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17517355?ordinalpos=1&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_Discovery_RA&linkpos=3&log$=relatedreviews&logdbfrom=pubmed

2 comentários:

Anónimo disse...

uma pequena nota: a substância activa valeriana, está registada no INFARMED como medicamento sujeito a receita médica. O medicamento mais conhecido é o Valdispert. Classificação Farmacoterapêutica 2.9.1 Ansiolíticos, sedativos e hipnóticos.

Diego Galeano disse...

Olá,


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Abraços

Diego Galeano
http://curiofisica.blogspot.com