quarta-feira, 3 de março de 2010

A moral objectiva

Para defender que Deus existe agora argumenta-se (outra vez) que a moral é objectiva  e que só pode ser objectiva se deus existir

- e  logo deus tem de existir. 

Mas quando chega à altura de mostrar que a moral é objectiva ficam os defensores desta tese  sem recursos. Porque não têm saída.

Porque: 

Se a moral é objectiva porque há coisas que são consensuais, é falso. Nem tudo é consensual. E o que é consensual é porque é fácil de explicar relativamente a outras opções morais. Istp se for de facto justificável porque senão não passa de um "ad populum".

Se se  justificar a moral objectiva por ser a melhor, é ser redundante. Não acrescenta justificação.

Se determinada regra  moral é objectiva por ser a mais racional, então isso é o que defendem os ateus - que a justificação deve ser baseada na inteligência e no respeito pelos outros. (excepto que não consideram que objectiva seja igual a ser a "melhor possível").

Se a moral é objectiva por ser o que deus quer, então é preciso provar que deus existe e mostrar como sabemos que é o que deus quer.  E não se pode  provar que deus existe porque a moral é  objectiva e que a moral é objectiva porque vem de deus. Ciclo vicioso.

Se se disser que a moral tem de vir de deus porque temos de ter uma moral objectiva - chama-se a isso  "wishfull thinking", uma falácia conhecida.

Mas a moral não é objectiva. É um conceito relativo ao homem - relativo aos agentes morais, ao sujeito. É por isso subjectiva. E deve ser aberta a refutação e critica. E pode ser avaliada apesar de ser relativa, tal como o espaço ou o tempo. 

O facto de se chegarem a consensos mostra como a inteligência e a empatia têm um papel na sua génese. 

Em suma, quando se diz que a moral x é objectiva é preciso mostrar que é de facto objectiva, melhor que as restantes opções e porquê. Se não forem capazes de o fazer, é porque não é objectiva. Se forem capazes de o fazer só mostram que não precisam de deus para o fazer. A não ser que mostrem como sabem que a moral vem de deus. 

Há! E o perigo não é não ter uma moral absoluta. É achar que se a tem. E agir autoritariamente dizendo que se esta a fazer o que deus quer. Sem realmente saber o que deus quer, ou se existe.


PS: Parece que alguém quer definir como objectivo como aquilo sobre o qual se pode pensar. Whatever. Aproveito apenas para lembrar que: Se se chama objectiva à moral por outra razão qualquer que não ser de origem divina, não implica que deus exista. E carece de prova que tenha origem divina. Senão toda a ciência, toda a poesia, até as autoestradas provam a existência de deus.

3 comentários:

Maria Manuel Alves disse...

Confunde-se a natureza de Deus e a filosofia da religião com a moral como uma religião o que está errado. Mistura o que é divino com o humano tal como dois pontos de vista diferentes. A existência do elemento transcendente está presente ao longo da história das ideias e das culturas. Deus não quer ou deixa de querer, os homens é que crêm ou descrêm em si com as referências morais ou religiosas que tiverem. Importa mais o diálogo do que a negação pois em ultima analise as crenças de cada um são irrelevantes a política. A moral não vem de Deus, mas sim do homem...

João disse...

Exacto. Da moral objectiva a eu ter a moral certa e tu não é um pequeno passo.

João disse...

A discussão do assunto do post esta aqui:


http://ktreta.blogspot.com/2010/03/sera-que-e-desta.html?showComment=1267786281171_AIe9_BHHiHbqY9Ku9wqZpQF2Hw4H9KnWI35-GSWOdATLlOFEQuw85TQfj6PBjlPglfrMz4Scaz2d26pVNVz5Ees7k71lGQvOntd6KL6YyqjgO3vQ_ZYC5VcaRi1fXAwwhC9pVoGxOpEzJ1Cqkh0gXhboQnOjepGyqMcigJQXKzJc3jieuMjjkWIXvD4fjb2EDPHOTqOZNVOZLsKsTzALotFqMbDHcWiqCA#c4371213405544253920