sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cristopher Hitchens na casa Fernado Pessoa.

Antes de mais gostava de dar os parabéns à Inês Pedrosa por ter tido a coragem de trazer Christopher Hitchens a Portugal. Estamos num país com um povo bastante religioso e suponho que ter convencido a câmara de Lisboa para trazer cá um ateu fervoroso não tenha sido obra fácil. 

A singularidade da iniciativa devia ser vista do ponto de vista cultural, da abertura a discussão e divulgação de ideias e não como favorecimento do ateísmo ou propaganda intelectual de alguma forma. 

Mesmo que a iniciativa se repita, uma vez ou outra, penso que está longe de ferir a neutralidade do estado em relação a crenças (e mesmo que o ateísmo fosse apenas uma crença). Se neste ciclo de palestras fosse convidado um criacionista para falar sobre um livro acabado de escrever, também não me oporia ao facto. As minhas criticas seriam ao conteúdo e não à forma. Que é o que estaria errado.

Mas adiante.

O Cristopher Hitchens na introdução às suas ideias, começou por colocar a humanidade em perspectiva. Notou que a Terra está provavelmente a metade do seu tempo de vida. Terá tanto para existir como o que já passou. E que quando essa altura se aproximar, a humanidade já cá não estará. Será outra espécie, outros seres, nossos descendentes que se debaterão com esse problema.  Isto se formos bem sucedidos. E que a nossa existência não passa de uma pequena parte da história da Terra e do universo.

Referiu a "certeza absoluta" como um perigo e como a razão que leva a religião a ser perigosa. "A religião é como a filosofia mas sem as perguntas". E antes de mais, o questionamento livre como a melhor posição intelectual. E que a nossa obrigação é fazer o melhor possível para criar conhecimento e com este conhecimento criar um mundo melhor.

Insistiu que a moral não vem de deus, pois não há nenhuma regra de moral aceite que não possa ser suportada por um ateu (neste caso, ele próprio).  E a constatação de que vivemos como se deus não existisse só aumenta a nossa responsabilidade. E defendeu que é isso que o conhecimento que temos do universo sugere. Que é o que a ciência nos mostra. E que mesmo sendo a ciência defeituosa e incompleta é o melhor que nós temos. 

Tudo sugere para que tenha sido o homem a criar deus e não o contrário. É isso que diz a ciência.

De resto falou mais de uma hora e ainda teve tempo de falar de politica, referir que era amigo do cientista cristão (um dos raros cientistas crentes) Francis Collins e de como o trabalho de Collins em descrever o DNA nos deu um dos melhores argumentos contra o racismo: 

Nós como espécie temos uma variação genética muito pequena entre os indivíduos - quaisquer indivíduos - e não faz sentido falar em raças ou espécies. De facto pensa-se que descendemos todos de uma população original de cerca de 10000 indivíduos.

Falou da guerra como uma necessidade, e de que há coisas pelas quais vale a pena matar - e aqui não compartilho a mesma visão. O pacifismo é uma ideia difícil de defender na prática, mas um pacifismo  não radical ainda é a minha posição. 

Isto foram apenas algumas das coisas por ele ditas. Aqui descritas pelas minhas palavras. 

No fim da conferência tive de comprar o livro - o primeiro que tenho dele. 

Para finalizar queria só deixar a impressão que fiquei de que o Cristopher Hitchens é um tipo simpático, nada como a ideia de intelectual arrogante que às vezes parece em vídeos. Nunca se mostrou impaciente ou aborrecido, pelo contrário, apesar do abuso dos presentes querendo perguntar tudo e mais alguma coisa , enquanto pediam autógrafos, tanto  que nem o deixaram  descer para cocktail. Mais preocupada com isso estava a Inês Pedrosa a tentar lembrar que Hitchens tinha chegado de Washington nesse dia e não tinha tido tempo para descansar.

Uma mente brilhante como há poucas. Foi a impressão com que fiquei. 


9 comentários:

Barba Rija disse...

Falou da guerra como uma necessidade, e de que há coisas pelas quais vale a pena matar - e aqui não compartilho a mesma visão. O pacifismo é uma ideia difícil de defender na prática, mas um pacifismo não radical ainda é a minha posição.

E uma posição bastante contraditória, meu caro! O que é um "pacifismo não radical"? É um pacifismo com excepções. O conceito de "guerra justa" não te deve ser, portanto, estranho. Agora, como não existem absolutos (desaparecem ao mesmo tempo que a teologia), é uma questão um pouco subjectiva dizer o que vale ou não uma guerra, ou não será assim?

E por mais blazé que possa parecer a tua posição, parece-me também que confio (um pouco) mais no conhecimento viajado do Hitchens para ver e julgar o mundo do que o teu.

Tal como tu dirias (em relação a outros temas), é uma questão de heurísticas...

João disse...

Barba Rija:

" O que é um "pacifismo não radical"? "

É aceitar que há situações limite em que não é possivel evitar o conflito armado, mas que ao fazê-lo ja se começou a perder. Todas as guerras são derrotas da diplomacia e de um jogo de forças não belico. São derrotas para a natureza humana enquanto ser pensante e moral.

Digamos que na escala de probabilidades de a guerra ser uma solução, o meu marcador encontra-se mais longe do de Bush do que o "dá a outra face" de Jesus da realidade. Get it?

Anónimo disse...

Olá Barbas,
"...não existem absolutos"

A sério? E essa afirmação é absoluta ou relavita?

É que se for absoluta, então absolutos existem, se não for, então a frase é falsa e absolutos existem.

João disse...

"É que se for absoluta, então absolutos existem, se não for, então a frase é falsa e absolutos existem."

Jairo:

Provavelmente tudo é relativo a algo.

Barba Rija disse...

A sério? E essa afirmação é absoluta ou relavita?

É relativista, por definição.

Ou por outras palavras, é empírica, não metafísica. Não acho que a metafísica seja um domínio válido do saber.

Meu caro, se queres debater essa questão comigo estás à vontade, sei o suficiente para te dar uma coça. >:D

Barba Rija disse...

É aceitar que há situações limite em que não é possivel evitar o conflito armado, mas que ao fazê-lo ja se começou a perder. Todas as guerras são derrotas da diplomacia e de um jogo de forças não belico. São derrotas para a natureza humana enquanto ser pensante e moral.

Uma definição algo diminuída do que é o "ser humano", ou melhor, algo muito particular e específico aos teus próprios valores.

Sim, podemos ver a guerra nesse sentido. E no entanto, essas "derrotas" não deixam de existir. E também me parece que observas os países como entidades "unas" e "auto-suficientes", como se fossem pessoas. Não o são.

Anónimo disse...

Barbas,

"Não acho que a metafísica seja um domínio válido do saber."

E como é que sabes isso?


Se me quiseres dar uma coça, aparece no meu blogue. Desafiaste-me, então aparece. ;)

Estão a surgir dez artigos sobre moral objectiva e gostaria de ter um campeão da autocontradição a criticá-los.

Podes "coçar" à vontade. Se me mostrares que estou errado, óptimo. Tenho horror ao erro!
Só teremos a ganhar....

Barba Rija disse...

E como é que sabes isso?

Tendo lido as suas "regurgitações" mentais vejo que dali nada se aproveita, não há conhecimento palpável que saia dali, é apenas masturbação intelectual, ou saladas de palavras.

Como diria um amigo meu, "tu não comes metafísica".

Anónimo disse...

Barbas, tem juízo. Pareces uma criança a experimentar a nova lengalenga e palavreado ofensivo que aprendeu com os coleguinhas...