quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Outra vez a auto-hemoterapia.

Tenho escrito sobre diversas praticas pseudocientificas que querem fazer passar-se por medicina, mas nenhuma me deu origem a uma avanlanche de criticas tão grande como o que escrevi sobre a auto-hemoterapia. Gozei com a homeopatia, reuni trabalhos que apontam para a ineficacia da acupunctura, denunciei a atitude ambigua dos proponetes da chiropraxia, etc. Os criacionistas fizeram uma vez um bocado de barulho, ouve outra vez em que fui atacado por um bando de Trolls que pareciam saídos do Xbox live, mas são os defensores da auto-hemoterapia que ganham o prémio pela persistencia.

Decidi publicar todos os comentários que aguardavam moderação e responder sumáriamente em post. Se for responder ponto por ponto, exaustivamente, não faço mais nada e quem quiser saber mais, até pode encontrar aqui neste blogue sob o rotulo medicinas alternativas os fundamentos das criticas que vou fazer.

A auto-hemoterapia consite em tirar 5 a 20ml de sangue circulante para injectar no musculo. Isto para além de dor e inflamação local, se foi feito com os devidos cuidados de assépcia, não deve dar origem a mais nenhuma alteração visivel ou testavel. Se for repetido no tempo, a inflamação muscular torna-se relevante e a perda de sangue dará lugar a sinais de regeneração de sangue. Fantástico. Isto quer dizer que estamos a curar alguma coisa? Sim, que o corpo está a tratar de resolver o problema da inflamação muscular e da perda de sangue (em principio é de esperar destruição de globulos vermelhos durante o processo). Mas em resumo, o corpo esta a resolver o problema que nós estamos a causar. 

O que está no sangue acaba por chegar aos tecidos (duh!) não sendo preciso injectar sangue no musculo para que os antigeneos lá cheguem. Li em qualquer lado que este era um mecanismo proposto de funcionamento. Mas mais ridiculo é saber-se desde há décadas que o que é colocado no sangue é o que tem resposta organica mais rápida. Precisamente porque chega mais depressa a todo o lado. 

Isto não tem plausibilidade cientifica nenhuma. 

Há uns 100 anos atrás, tudo o que passava pela cabeça de um médico, experimentava-se. Às vezes até parecia que funcionava, mas com o tempo, muitas práticas rídiculas desapareceram conforme a medicina se tornou cada vez mais numa ciência. Há no entanto ainda alguns remanescentes de algumas destas coisas, como a acupuntura, a homeopatia, etc, que querem impor-se por insistência num argumento "ad antiquitatem" (argumento pela antiguidade), e na evidencia anedótica, que sabe-se, é a pior maneira de produzir conhecimento.

Mas eles defendem que tudo o que passa a meia centena de anos ou assim, mesmo que esteja desacreditada por testes sistemáticos e não tenha plausibilidade nenhuma, passa a ser verdade. Se isso fosse assim, então o melhor era para com a investigação cientifica, porque as velhas crenças é que são a tal coisa. Mas indo por aí há um problema. Elas não se entendem umas com as outras, como se ouvessem várias realidades e pior. Não se entendem com a realidade. Postas à prova, não passam. Nem queiram saber o que era o mundo se voltassemos a fazer como vem nos livros antigos. O argumento pela antiguidade é uma falácia conhecida. Que até  já aqui tinha falado (ver etiqueta falácias).

A outra coisa que insistem muito é na evidencia anedótica. Que é mesmo anedótica porque não presta. E pior ainda, é insistir na evidencia anedótica persistentemente para provar algo. Não é pelo diz que disse que se faz ciência.

Depois o argumento das lacunas. Que a ciencia é uma coisa de "verdades provisórias". Não, a ciencia é sobre o melhor que se pode saber a cada momento. Mesmo olhando para as coisas erradas que a ciência disse no passado, a regra é verificar que mesmo com o que se sabe hoje, essa afirmação cientifica era a melhor afirmação que se poderia fazer na epoca para uma dada coisa. E mesmo hoje, significa muitas vezes a segunda melhor afirmação que se pode fazer. Como a Teoria da evolução de Darwin em comparação com o Modelo Evolutivo, ou a mecânica de Newton em compração com a Relatividade, ou como frequentemente sucede na medicina moderna em que são descobertas coisas a cada dia. O argumento das lacunas, tentar arranjar espaço para a treta no meu das lacunas do conhecimento cientifico é trafulhice. E conforme as lacunas se vão fechando pode-se ter uma ideia de onde vai dar este argumento.

E agora  uma nota sobre algo que ainda não tinha tocado neste blog:

Em veterinária também há efeito placebo.

Os animais são sensiveis a uma maior atenção dos donos e sobretudo os cães parece terem uma capacidade especial para compreender o estado de espirito das pessoas. Adicionalmente, coisas paralelas ao placebo mas muitas vezes confundidas com ele são muito importantes. A percepção do dono do animal ou do veterinário (um pouco menos mas tambem real)  sobre a melhoria são muito significativas como causando uma variação face à realidade. Os donos são muito sugestionáveis. E como os proprietários não sabem à priori o curso normal da doença, podem ser induzidos a achar que - ou devia estar melhor ou devia estar pior. E fazem fé nas conclusões tiradas, como infelizmente já vi. Por isso os testes têm de ser tal como nas pessoas, isto é,  duplamente cegos. Donos e veterinário não sabem quem recebe placebo e quem não recebe. E para evitar variações normais do curso das doenças, têm de ser feitos em grande escala. Pelo menos 50 pacientes. Depois, se mesmo assim há erro, então imaginem se for feito só num bicho e narrado pelo visinho debaixo que viu acontecer com o cão do tio? Mas assim é a melhor maneira possivel conhecida. Que eu saiba existe pelo menos um estudo em vacas, sistematico e rigoroso a que a hemoterapia foi sugeita e não deu resultados. Podia estar a inventar e insistir agora que acreditassem na minha palavra. Mas não estou. Posso se quiserem e tiverem a lata de mo pedir de ir buscar a referencia.

Por fim o argumento do teste à força. Têm de testar mais. Mas quem paga? Fazem-se uns testes. A coisa não tem plausibilidade. Os testes são pouco promissores. Face a coisas com resultados promissores e com maior plausibilidade, porque se há de gastar o dinheiro nestas coisas? Tem-se gasto uma fortuna a testar pseudoterapias alternativas para acalmar as vozes populares que pensam ter a revolução da medicina no bolso. Estas crenças custam uma fortuna. 2,5 mil milhões de dolares foi quanto se gastou nos EUA. Não valeu a pena. E se eu disser que tenho a cura para o cancro feita com cabelo e unhas de rato também não vale a penas ir a correr testar. É preciso começar a escolher criteriosamente para onde vão os nossos recursos limitados.

Nota: Quando alguem diz que tem curas para muitas coisas... Com o mesmo processo de cura... É mentira. 



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