quinta-feira, 29 de julho de 2010

Aquecimento global - a ciência e a escolha.

A ciência não diz o que devemos fazer em relação ao aquecimento global. Isso é uma escolha politica. Faça-se o que se fizer, vão haver perdas económicas. Livros como o referido nos posts anteriores (a) dão-nos apenas o panorama que podemos esperar se as tendências actuais se mantiverem e neste caso até fazem projecções grau a grau.

Se escolhermos reduzir as emissões de CO2 e gases com equivalente efeito de estufa, vamos ter perdas económicas relacionadas com o abrandamento da industrias que neste momento precisa de queimar combustível fóssil para funcionar.

Se escolhermos não fazer nada temos de nos haver com consequências com implicações económicas como tempesteadas mais destruidoras quer em numero quer em intensidade (1), perda de terreno arável, diminuição dos caudais de rios, diminuição do resultado das colheitas, etc (a). Tudo coisas que vão acabar por ter um impacto económico ainda mal conhecido, mas sem duvida elevado (2). É fácil perceber que se o preço da comida sobe, porque é mais caro produzir e se produz menos, vamos ter de pagar mais por ela. E se os bens básicos aumentarem de preço é sensato assumir que isso se vai reflectir em tudo o resto.

Não temos no entanto uma escolha limitada a dois cenários apenas. Podemos reduzir as emissões em 20, 30 80, 100% com resultados diferentes. (3).

A ciência dá informação que ajuda a tomar essa decisão. Mas essa decisão é ainda uma escolha (4). Não esta tudo contabilizado e pessoas diferentes querem coisas diferentes. O que é bem para uns não é para outros.

O que eu acho é que perdas económicas por perdas económicas então mais vale não reduzir a habitabilidade do planeta e tentar manter os recursos viáveis. A ciência da resultados que mostram com clareza que esses são cenários que  temos de ter em conta.

Existem argumentos do género de remendar os problemas conforme forem surgindo. Para a dificuldade de certos vegetais crescerem em climas quentes podemos recorrer aos geneticamente modificados. Para a falta de agua doce podemos desalinizar. Podemos usar mais aparelhos de ar condicionado no verão e mudarmos-nos todos para o interior conforme a agua for subindo e redistribuir a riqueza de modo a acolher os desalojados.

Mas existe um numero razoável de histórias que sugerem que mais vale prevenir que remediar, mesmo se nesta questão não saiba dizer exactamente quais os custos de re-condicionar a vida na terra de modo a poder continuar a queimar carbono livremente. Mas para alem da máxima citada é fácil perceber que as soluções são remendos, não são de facto alternativas que restorem a situação anterior. A perda de determinados factores ecológicos é em vista da tecnologia actual e do futuro próximo impensável. É quase como achar que podemos tornar a lua habitável. Ou Marte. O trabalho não é muito diferente.

Claro que a maioria dos opositores a uma posição pró-ecologica, mesmo os que aceitam que o aquecimento global é antropogenico, matém o cepticismo acerca das previsões cientificas das consequencias.

Escolhem "ad-hoc" as que aceitem e não aceitam. Uma parte da ciência é boa, e outra é má. Sem mais justificação que não seja "isso não se consegue saber". Porque sim.

É curioso que não encontre ninguém que aceite todos os estudos científicos que encontrem aceitação pelos pares mas diga que o aquecimento é bom na mesma. Talvez porque preferem combater os achados científicos em vez de dizer abertamente que preferem um mundo mais caro, com muito menos habitantes a viver em condições muito mais artificiais.

Não. Preferem dizer que a partir de um determinado ponto, variável de individuo para individuo, que "isso não se pode saber".  Ou afirmações derivadas. Ocasionalmente pegam num estudo especifico que julgam refutar completamente e agem como se se pudesse generalizar não se poderem saber determinadas coisas, para não se poder saber nada.

Porque também não digo que a ciência explica tudo, nunca disse. Apenas que é o melhor que podemos saber é o que diz a ciência. O que diz o senso comum ou a nossa intuição é inferior à justificação cientifica. E a comunidade cientifica parece não ter duvidas a este respeito. Que é complexo mas bem fundamentado.

Quanto à teoria que diz o oposto, a possível hipótese nula - não há aquecimento global antropogénico com consequencias nefastas na ecologia terrestre não existe practicamente. É pseudociencia. São poucos os estudos que a suportam e a justificação mais frequente costuma ser o apelo à ignorancia tipico dos que atacam a ciência. Procuram-se uns erros, umas lacunas, e tenta fazer-se passar por la a teoria oposta sem mais nem menos. E escolhe-se a dedo os estudos que interessam para provar um determinado ponto de vista.


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 (1)http://www.newscientist.com/article/dn7769-global-warming-may-pump-up-hurricane-power.html
http://www.newscientist.com/article/mg19526154.800-atlantic-hurricane-frequency-doubled-last-century.html

(2)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2009/08/adaptcao-as-alteracoes-climaticas-pode.html

(3)http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/07/alteracoes-climaticas-impactos-futuros.html

(4) Já agora aproveito para fazer uma referencia à falacia do Naturalista que é passar do "é" para o "deve". A ciencia diz como as coisas são mas ainda esta a um bocado de dizer como devem ser.

(a)  http://cronicadaciencia.blogspot.com/2010/07/nas-publica-tratado-sobre-o-que-podemos.html

4 comentários:

Para a Posteridade e mais Além disse...

volto a repetir-me, não sei a sua idade mas para gostar de Dune devia ter 20 ou 30 nos anos 80 e logo 40 a 50 anos, logo, se os tem e se se interessa pela temática do aquecimento global, há algum tempo
e tornou-se mais popular no fim dos anos 80, poderá ver que mesmo grandes geofísicos e universidades de renome, fizeram erros crassos:
1ºnos dados recolhidos (escassos)
2ºna quantificação do fenómeno em termos energéticos

tirando os registos globais de temperatura
e os registos de CO2 e repare que os registos feitos no observatório de Mauna Loa, foram durante muito tempo os únicos que se faziam com regularidade e precisão



mas falta-lhe quantificação e maior número de dados
por exemplo as correntes Kuro shivo e a Oya shivo tiveram um período de grande estudo nos anos 90 principalmente após o catastrófico el nino de 97
enquanto em termos globais o el nino tem sido seguido
as medições nas grandes correntes oceânicas, faz-se hoje apenas pontualmente
logo....é prematuro acreditar em tudo o que se publica
há muitos fundos, mas a investigação é ainda mais remendada que nos anos 80

Para a Posteridade e mais Além disse...

http://cdiac.ornl.gov/oceans/
se quer sítios e artigos relativamente fiáveis
estão geralmente nos programas governamentais e em algumas universidades
geralmente têm prioridade muito baixa quando se faz uma pesquisa

olhe isso era um bom post para o seu amigo pôr
publicidade versus fidelidade da informação...enfim
tenho relatórios para terminar
e esta polémica ocupa tempo
muitos geofísicos de mente liberal quando eram investigadores e assistentes
tornaram-se ...pouco abertos a opiniões quando chegaram à senioridade...não é uma opinião pessoal é conhecimento de causa

Para a Posteridade e mais Além disse...

Global warming may pump up hurricane power

May- talvez
e a newsci é muito comercial, nos anos 80 para se publicar nas revistas científicas resumos era preciso ter qualidade, hoje só é preciso pagar..
http://www.esrl.noaa.gov/gmd/dv/iadv/graph.php?code=MLO&program=ccgg&type=ts

a partir daqui encontra 300 a 400 links mais ou menos sólidos se tiver intersse nisso

João disse...

Tenho menos de 40.

Toda a gente comete erros.

A ciencia apenas é o melhor que se pode saber. Não é perfeita.

Se houver melhores fundamentos para acreditar noutra coisa a ciencia muda.