quinta-feira, 3 de março de 2011

Jairo dos disparates e o deus de Lapalisse (primeira parte)

O Jairo Entrecosto, que escreve quase exclusivamente disparates, pediu-me que escrevesse um post a chamar-lhe Jairo dos Disparates -  "João, chuta lá isso." , disse ele, quando eu o avisei que o faria se ele continuasse a manter o seu insulto à minha pessoa (ver ligações).

O entusiasmo da resposta foi tal, que aquilo que era só um "teaser" para lhe chamar a atenção  para o disparate de estar a insultar em vez de argumentar, tornou-se em mais um motivo de um post, que assumo desde já, não vai trazer nada de novo para quem o conhece ou às nossas disputas no "Que Treta".

Agora o Jairo imita o estilo do Luciano Ayan, mas o disparte é o mesmo. (disparate com disparate dá disparate, certo?) É só por dizer que para além do disparate que diz, tambem se vai elogiando a ele próprio enquanto escreve, e vai classificando as afirmações dos outros para além das criticar.  Para quem ainda não conhece, suba a bordo. Quem já conhece suba também. A limpeza do disparate vai começar. Acho que vou gozar também com o estilo. Ele merece e é mais divertido.

Ele escreveu um post em que me chama João das Tretas e que justifica que não é um ataque à pessoa - ad hominem - dizendo que eu me chamo João e só digo tretas. Daí o nome de Jairo dos Disparates. Jairo é o nome, Disparte é o que diz.

Vamos começar pelo absurdo da razão para existir o um blogue chamado " NeoAteísmo Português" que é na realidade apenas para atacar os Neo-Ateus. Quem julgue tratar-se de um blogue isento e imparcial na análise do neo-atéismo, desengane-se. Vamos atentar às suas próprias palavras e ver ao que ele se opõe enquanto caracteristicas do neo-ateísmo:

"Este blogue será oposição, denúncia e refutação intelectual impediosa de todos os que insultam publicamente o sentimento e liberdade de consciência religiosa dos cidadãos portugueses, promovendo discursos de ódio ao crente em Deus, ao classificá-lo, precisamente por ser crente, como ameaça ao bem-comum, inimigo, imoral, ignorante, irracional, anti-científico, inculto, incivilizado, supersticioso medroso, desumano, totalitário, potencial sanguinário ou mente atrasada semelhante a crente no pai-natal."
  
Como se está a referir a Neo-Ateus, é esse mesmo o titulo do blogue podemos ver que à partida considera que o individuo que assim é por ele identificado como neoateu promove discursos de ódio, etc, e que lhe fará oposição. Qualquer dúvida acerca do que significa "análise honesta deste tipo de militância" está completamente esclarecida. E que é que o Jairo dos Disparates não gosta nos Neo-ateus? Que coisas são essas que o distinguem do bom ateu e que o fazem escrever um blogue só para os refutar sem piedade? Vamos ver:


" -Ateu que se auto-promove como militante contra a ignorância, mitologia e superstição."
Não percebo se o problema está em auto-promover-se se em ser contra a ignorância, a mitologia ou a superstição. Para quem se auto-promove para fazer uma "análise honesta" do neo-ateísmo era de esperar que admitisse essa liberdade aos outros, em vez de a  reservar para si. Gostaria que ele provasse que o Neo-Ateu não pode avançar com argumentos contra a ignorância, a mitologia ou a superstição. Se por outro lado o Jairo disparata ao ponto de querer manter a ignorância, a mitologia e a superstição como sendo conhecimento sólido, gostaria também que provasse a sua alegação. "
 

"-Publicita-se defensor do pensamento crítico, céptico, racional e lógico."
Aparentemente esta é outra coisa que o Jairo considera que tem de ser denúnciada se não for feita por si próprio.  Não fosse ele que promete uma " refutação intelectual impediosa ". Ou então essa refutação intelectual que ele alega está à partida de pensamento crítico, céptico, racional e lógico, uma vez que alegar defender esses valores publicamente é coisa ruim. Sim, é um disparate. Mas vamos ver mais, ponto a ponto sobre esta apresentação. É necessário pois ainda não tinha comentado aqui este blogue."

"-Acredita no progresso da humanidade através da promoção de uma cosmovisão naturalista, na
qual não há espaço para respeitar a religião, que considera fonte de obscurantismo social, científico e moral, responsável pelas maiores barbaridades, guerras e genocídios ao longo da História."
Sim. A cosmovisão naturalista trouxe a ciência e a tecnologia. É uma questão de abrir os olhos para ver de onde estão a vir os beneficios reais para a humanidade. Mas para quem considera como o Jairo que a Idade Média foi uma das épocas mais brilhantes da humanidade é natural que fique um bocado confuso. Quanto ao espaço para respeitar a religião é algo que precisamos separar em duas partes para  perceber o disparate. Respeito pela practica privada e respeito pela divulgação enquanto verdade. A primeira não  representa um problema. Um crente tem o direito de ser crente. A confusão do Jairo está em não admitir que as coisas que são defendidas por serem religiosas têm de ter o mesmo tratamento que as outras. E há obviamente dois pesos e duas medidas para aceitar argumentos fundamentados na existencia de deus que da existência de fadas ou duendes. É necessário tomar os argumentos religiosos pelo que eles dizem e não pela suposta crença que é a vontade de deus ou têm o seu aprovamento. Naturalmente que se a religião apresenta argumentos e directivas morais sobre várias coisas e as coloca num contexto de serem aprovados por deus, ou por ele sancionados, devia apresentar provas disso. Mas isto o Jairo não se rala. Vê antes como um problema quem considera que se não provou que deus existe, não provou que comunica com ele, apresente livremente e sem censura a argumentos que pretendem ser os Verdadeiros por estarem em linha com o que deus quer. Naturalmente que aceitar esses argumentos sem criticar o pressuposto é uma fonte de obscurantismo. Quanto às guerras, o Jairo que vá ver. Não são todas as maiores. Mas são uma data delas. Até Hitler usou Cristo para promover o antisemitismo. Mas naturalmente que o Jairo SABE quem é que tem acesso a falar por deus e não falar.
 

"-Intitula o seu ateísmo processo racional e conclusão científica, e categoriza a religião como irracional e anti-científica."
Outra coisa que o Jairo não faz. Não se intitula como racional. Logo o problema deve estar em ser neo-ateu, só por si. Não em considerar o seu processo de pensamento racional. 
Quanto a considerar que a religião é irracional é natural que se excluimos a intencionalidade de deus de todos os fenomenos observaveis, ao explica-los de outro modo que não precisa de deus, dizer que deus lá está de qualquer maneira reflete mais teimosia e vontade de acreditar que racionalidade.  Viola o principio da simplicidade ontológica que está provado empiricamente ser a única via que produz resultados para explicar observações empiricas. Se deus não porporciona observações empiricas e se não é possivel conhecer algo de outra maneira sem uma ponte fenomémica algures, acreditar em deus tem o mesmo valor que acreditar em fadas ou duendes ou outras coisas das quais não podemos dizer que não existem com toda a certeza precisamente porque não existem e não podem ser observadas. Mas como certezas nunca há, temos aqui uma explicação plausivel, num conhecimento onde a plausibilidade pode ser o melhor que temos, e onde temos de escolher as melhores respostas e não as piores. A racionalidade está aí. 
Por isso, não só intitula como o argumenta na prática. Não pretende haver algo sobrenatural algures ou natural que seja para justificar as afirmações que faz. Simplesmente ao descrever tão completamente a natureza, e vendo o que evoluímos por começar  a aceitar que "as entidades não devem ser replicadas para além do necessário"ao não encontrarmos após pesquisa exaustiva efeitos que tenham de ser atribuidos a deus, não faz sentido dizer que ele está lá de qualquer maneira. Até porque como o Jairo disse, a ciência é naturalista e explica quase tudo o que podemos observar. E o quase aqui chega porque deus era suposto ser bom, estar em todo o lado, etc. Tem caracteristicas que são testáveis. Que fazem previsões sobre observações da intencionalidade de deus que não se encontram após procura exaustiva. Dizer que há um deus que não podemos observar é dizer que há um deus que é igual a não existir para todos os efeitos. Esse deus pode existir e nada poderemos dizer dele. Mas também não podemos por palavras na sua boca pela mesma razão.
Depois de procura exaustiva e sistemática tem sido empiricamente comprovado que não é um apelo à ignorância dizer que algo não existe porque não foi encontrado. É racional. Menos para o Jairo. Permite eliminar satisfatóriamente todas as entidades para as quais não se encontrou prova da sua existencia onde elas deviam estar.


-Redefine o conceito de "Estado Laico e Neutro" como aquele em que a religião deve ter um estatuto diferente das restantes manifestações sociais e culturais não estatais, pela negativa:
a)Nenhum representante do estado no exercício das suas funções ou dinheiro público pode ser associado a evento, cerimónia ou homenagem religiosa.
b)Nenhum líder religioso deve ter o direito de se expressar como tal em relação às leis públicas.
Não é isso. Aqui o que se pretender não é dar menos valor à religião que a outras actividades de entretenimento. É dar-lhe mesmo o mesmo valor que a outras. E manifestar que só pode ser considerado conhecimento aquilo do qual se produz prova ou demonstração de elevada plausibilidade já que prova mesmo só na mamtemática. Há aqui um espantalho que tem de ser notado. Mesmo que se admita que deus é algo acerca do qual não podemos dizer que não existe apesar de se tornar uma entidade superflua para descrever a natureza, e assumamos uma posição de agnósticismo, não podemos deixar que se fundametem ideias só por terem origem em lideres religiosos. Se o lider religioso fundamente de outro modo e racionalmente as suas ideias pode bem ser lider estatal na mesma. Tal como o Francis Collins pode ser cientista. Não pode é introduzir ideias da religião e confundi-las com conhecimento.

-Cria, é membro ou simpatiza com associações denominadas "ateístas" ou "de ateus", que dizem ter por objectivo representar e defender os interesses dos ateus, agnósticos, cépticos, não religiosos, pensadores livres, humanistas e laicistas, as quais defendem propostas e projectos políticos non sequitur do ateísmo, agnosticismo, cepticismo, não-religiosidade, livre-pensamento, humanismo ou laicidade.
Sem dúvida que pertencer associações é algo que pode ser perigoso. É melhor o Jairo falar contra isso já. 

-Faz da crítica à religião organizada o tema principal da sua militância, considerando portanto que isso é sinónimo e prática "ateísta".

Se é ateu é porque conclui que deus não existe. Se deus não existe porque haveria de achar normal fundamentar regras na sua palavra? Haja pachorra. O Jairo quer é ateus quietos e calados. 
Eu não quero religiosos quietos e calados. Aliás tenho pedido neste blogue uma sociedade activa e tentado promover o debate.  Quero é que as suas ideias sejam debatidas exactamente como as outras e que não se lhes seja dado nenhum tratamento especial.  Talvez esta nuance escape ao Jairo. Mas é importante. Eu não deixo de ser contra a pena de morte por a Igreja defender que não se deve matar. Está correcto no meu padrão de escolhas. Idem para uma data de outras coisas. O que eu afirmo é que essas alegações da Igreja têm de ser discutidas livres da associação falaciosa da palavra de deus.

-Pensa que TODAS as religiões se fundamentam na ideia "Fé", e redefine esta palavra como sinónimo de "crença", considerada sem "motivo real".

Isso talvez se deva ao facto de não haver argumentos sólidos a favor da existencia de Deus. O que eu e outros procuramos e debatemos acticvamente. Mas o Jairo parece achar que procurar onde as provas deviam estar e não as encontrar, não é prova que não existam provas. Elas existem talvez noutro planeta, eventualmente, mas eu tendo a considerar que quando digo que não há provas estou a falar deste planeta e nesta espécie de hominideos. Mas se o Jairo dos dispartes, deixar os disparates e conseguir  provar eu passo a acreditar em deus. Sem stress. Mesmo que depois tenha ainda  de me provar como é que faz para saber o que ele quer. Mas mais sobre isto à frente. Na segunda parte.

Notas e referencias:

O post referido que deu origem à discussão é este:

http://neoateismoportugues.blogspot.com/2011/02/joao-das-tretas-e-o-onus-da-prova.html

A maravilhosa apresentação da desonestidade intelectual está aqui:

http://neoateismoportugues.blogspot.com/2010/09/apresentacao.html

Pode ser visto nos comentários desse post porque é que eu digo que o Jairo é que pediu


2 comentários:

ácido cético disse...

Olá João,
Pelo que li, esse tal de Jairo não é só um disparate, mas um manipulador, mal-intencionado, de palavras. E acho que não tem jeito. Para ele, a metafísica deve ser tratada e entendida da mesma forma que a Física. Melhor não contrariar.
Abraços
ácido cético

João disse...

Olá Ricardo:

Sim. Ele confunde uma ciência que procura eliminar os falso positivos com preposições falsificaveis, de uma forma de conhecimento que não se preocupa já sequer se elas existem na arena da realidade ou não, procura importar isso de quem o faz com resultados.

Os que acham que a metafisica é boa o suficiente para validar uma correspondencia com a realidade têm um mundo cheio de falsos positivos (é para isso que serve o falsificacionismo) . E uns poucos de falsos negativos. Mas a metafisica procura mesmo fazer afirmações que não são testáveis, pois sabe que se o fizer está a entrar no dominio da ciência.

Escrevi um posto sobre isso.

Quando ao não contrariar o Jairo, não digo que não tens razão. Não vou mais longe que isto nestas disputas de "eu consigo gozar mais contigo que tu comigo". A escalada obvia do insulto é foleira para todos e eu posso escolher não participar dela. Era só para dizer que "não gosto e não é por não conseguir responder". Já está. Avisei-o que se quer continuar continua sozinho.


Obrigado pelo comentário. :)