quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sobre o anti-materialismo actual

“O Discovery Institute’s Center for the Renewal of Science and Culture procura nada menos do que derrubar o materialismo e o seu legado cultural.” (1)
Esta frase foi retirada do chamado “Wedge document”, do Discovery Institute, que é o responsável pelo suporte à versão moderna do criacionismo que é o dito “Intelligent Design”(2).

Como se pode ver pela frase acima, o ataque ao modelo evolutivo, isto é, à Teoria da Evolução, é apenas um primeiro passo, da estratégia neste documento delineada. O objectivo é, explicitamente, derrubar o materialismo e o seu legado cultural.

O que é então o materialismo? O materialismo é um conceito dos primórdios da ciência, que exprimia a noção de que a matéria é tudo o que existe. Hoje nenhum cientista defende esta ideia, de que o universo é feito apenas de matéria, por isso tenho de introduzir uma explicação sobre o que é o materialismo, pelo menos que sirva para explicar de que é que estamos a falar e o que a estratégia do W.D. significa.

O Discovery Institute não deixa duvidas de que é que esta a falar. Podemos perceber por esta citação: “(…) pensadores como Charles Darwin, Karl Marx, e Sigmund Freud, representaram os seres humanos não como entidades morais e espirituais, mas como animais ou maquinas que habitam um universo regido apenas por forças impessoais e cujo comportamento e mesmo pensamentos são ditados pelas forças indobráveis da biologia, química e o ambiente.” (1). Independentemente das muitas objecções que poderiam aqui ser levantas, fica claro a que é que eles se referem como materialismo. É à ciência. Porque?

Na raiz da ciência está a metodologia que é usada para criar conhecimento. Essa metodologia implica uma versão moderna de materialismo e naturalismo. Como já disse, claramente que o universo não é só feito de matéria, por isso o materialismo terá de ter uma definição mais alargada. Só isso, por si, é um assunto de extenso debate entre os filósofos da ciência (3). Mas de um pondo de vista funcional, o materialismo é o que permite à ciência procurar respostas e criação de conhecimento através da experiência da realidade. Diz que as causas e as consequências podem ser encontradas no mundo físico. Diz que o objecto da ciência é testável, isto é, que podem ser postas em causa hipóteses que são ou não comprovadas pela experiência. Na realidade, o materialismo tem uma relação estreita com empirismo. Opõe-se conceptualmente ao dualismo (4), que é a crença que determinadas coisas, explicitamente a mente, estão para além do mundo físico, da natureza e que como tal não são testáveis. Um método (se existir) que assente no pressuposto que há determinadas coisas que não são testáveis, não é científico no sentido em que não permite fazer previsões, nem falsificar teorias. Porque não é passível de se submeter a uma experimentação sistemática.

Independentemente de que se o materialismo e a metodologia naturalista são “a verdade”, pura e simplesmente, não é possível incorporar o dualismo na ciência. E é isso que, nada ingenuamente, estes senhores se propõem a fazer. Acabar com a ciência. Não é possível aceitar o carácter empírico da ciência e simultaneamente incorporar conceitos não empíricos dizendo que isso é ciência. Que é o que o “Wedge document” defende (1).

Não é por isso de estranhar que os ataques mais recentes tenham sido feitos na área da Neurobiologia (5), uma vez que esta procura explicar a mente com base no estudo do cérebro. Sobre este assunto, considero muito interessantes os posts do neurologista Steve Novella, no seu blogueNeurological”, de que vou citar parte da conclusão:

“Confundem naturalismo metodológico, que na prática significa que “natural” é o que quer que seja susceptível de investigação cientifica, com uma lista à priori de fenómenos naturais aceites, tudo o resto sendo excluído – mas não existe tal lista. Os argumentos antimaterialistas são um elaborado engano (facilitado por confundir a terminologia filosófica) que tenciona quebrar as regras da ciência para permitir crenças ideológicas não testáveis. Esta luta teve lugar já há muito tempo e as regras actuais da ciência são o resultado. Os anti-materialistas simplesmente não gostam da visão do lado perdedor.”(6)



Saber mais; referencias:

(1) Wedge document :http://www.antievolution.org/features/wedge.pdf
(2) Wikipedia, “Wedge document” :(http://en.wikipedia.org/wiki/Wedge_document)
(3) Wikipedia, materialism: (http://en.wikipedia.org/wiki/Materialism)
(4) Wikipedia, dualismo, (http://en.wikipedia.org/wiki/Dualism_(philosophy_of_mind)
(5) New scientist, criacionistas declaram guerra ao cerebro, (http://www.newscientist.com/channel/being-human/brain/mg20026793.000-creationists-declare-war-over-the-brain.html)
(6) Neurological em : (http://www.theness.com/neurologicablog/?p=406#more-406)

1 comentário:

António Miguel Miranda disse...

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António Miguel Brochado de Miranda
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