Nunca o conseguiu fazer por si só sem refutação. E não o deverá fazer, porque deixou de ser essa a sua procura.
Isto se distinguirmos a metafísica da ciência.
E se o fizermos, como é aceite que acontece em maior ou menor grau, a metafísica não é sequer sobre a existência das coisas no território da realidade.
Desde que surgiu a ciência, a metafísica por si só, passou a dedicar-se a estudar o que representam os conceitos, como se relacionam, o que podem significar e até que conceitos podemos criar e o que podemos concluir deles. Mas sempre no plano dos conceitos. Estuda as propriedades de conceitos, sem que uma propriedade do conceito seja efectivamente ser real. O que é real não é um conceito. Ou é conceito ou é real. (1)
Como os conceitos são entidades mentais, todas as suas propriedades são mentais também. As propriedades reais são as das coisas.
Qualquer confusão dos termos é confundir o mapa e o território. E a separação entre um e outro é uma das coisas que a ciência tenta resolver.
E tenta resolvê-lo vendo se as previsões que os conceitos fazem encaixam nos dados empíricos que vamos encontrar. É o teste. A experiência.
O que não precisamos, e sabemos pela experiência, é estar a repetir sempre as mesmas experiências. Por isso podemos criar teorias. Teorias cientificas que são conceitos que fazem previsões sobre medições.
Sem ser por manipulação próxima destes conceitos não se consegue que uma das propriedades mentais do conceito seja prever resultados dos dados dos sentidos. O mundo empírico é a arena da ciência. O mundo da metafisica só lida com conceitos capazes de fazer previsões quando os importa da ciência. Mas deixou de se preocupar com essa propriedade de um conceito, simplesmente porque a parte da metafísica que se preocupa com isso é a que evoluiu para se chamar ciência.
O objecto da metafisica são os conceitos. O da ciência é tanto quanto possível a realidade. Foi como estes sistemas de conhecimento evoluíram. Podíamos trocar os nomes que haveria sempre um a preocupar-se com o "deve" e com o "como podia ser" e outro sistema a preocupar-se com o "como é" e "como funciona".
Coisas como a moral que são construções humanas têm duas vertentes. São conceitos e são reais. Mas não são reais como conceito, são reais como coisas ou acções. E são-no porque nós os criamos. Esses conceitos passam a ser reais, mas sempre só em determinada medida. Se nós (ou seja quem for que cria) desaparecermos, desaparecem connosco. E dizem sempre respeito a nós próprios e à nossa mente mesmo que se refiram também a outras coisas. São reais enquanto actos ou criações nossas. E nesse momento já não são realmente conceitos. São coisas como as outras.
Se a ciência for o que descreve a realidade, a metafisica é o que isso implica ou pode implicar para nós.
(1) Esta conclusão é de Kant e surge na crítica das provas metafísicas da existência de Deus, de resto a sua refutação é aceite por muitos teólogos que procuram agora a ponte fenoménica cientifica para provar que deus existe, e a vêm no "fine tuning". O resto das ideias são minhas.
2 comentários:
Será que existem áreas entre o "mapa" e o "território"? Por exemplo em certos países existe um plano urbano que depois, se bem executado, molda o território.
A minha pergunta é se não haverá certas áreas do conhecimento, tal como o urbanismo (e há outras) que se baseiam em conceitos e têm impacto no real?
Olá Hugo.
Sim, mas o plano é o mapa e o território é o território. Existem vários exemplos de conceitos darem lugar a acções ou objectos materiais. Mas a construção a partir do mapa não confunde um como outro.
A unica coisa onde a confusão é possivel é quando o mapa é o território.
Por exemplo nos sentimentos e na consciencia. Nós somos o mapa e o território. Por isso se calhar é que é tão complexo explicar o que significa sermos nós próprios.
Fun stuff. :)
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