Li agora dois artigos na New Scientist sobre alterações climáticas que vale a pena comentar e sublinhar.
Um é acerca da previsão do fim do crescente fértil (1), o berço - não da humanidade - mas da civilização ocidental.
Ainda este século, entre agressões climáticas e barragens humanas, a mesopotâmia deverá ficar seca. O outrora vale fértil entre o Tigre e o Eufrates deverá ficar seco.
Qualquer valor metafórico que o problema sugira leva-me ao outro post:
"Comentário: Porque é que as pessoas não actuam nas alterações climáticas?" (2)
A pergunta é pertinente. Muito.
O artigo avança com muitas explicações possíveis. Desde a inconsistência tipicamente humana entre o dizer e o fazer até á percepção publica de que as alterações climáticas são um assunto teórico apenas em debate. Seria uma questão de opinião.
Isso acontece, de acordo com o artigo, porque os ditos "cépticos do aquecimento global" são mais vocais (o termo é meu) que os cientistas do clima, porque apesar de a esmagadora maioria destes chegar às mesmas conclusões sobre o estado das coisas, a percepção que o publico tem é que não há acordo. Não é só todas as academias importantes, desde a Sueca à Royal Society estarem de acordo. É quase todas as publicações cientificas em revistas com peer-review apontarem na mesma direcção. É este o nível do consenso cientifico. Mas o publico não tem noção da minoria infima que representam os que negam as alterações climaticas. E vozes dissonantes vão sempre existir, em qualquer que seja a area.
Muito mais que uma opinião, o nível de certeza alcançado por uma teoria cientifica é o mais elevado que a humanidade pode produzir. As alterações climáticas são tão certas como a queda dos corpos, o efeito fotoelectrico ou a evolução.
Neste campo ainda conta muito a ideia de que há uma conspiração. Mas essa é a explicação mais complicada. Assumir que os cientistas e academias foram todos pagos para defenderem a mesma opinião e que não haja provas disso implicaria a existência de uma rede de subornos quase perfeita a actuar sobre uma parte considerável da população sem que a outra parte percebesse. Porque suspeitar só não vale. Suspeitar por suspeitar - podemos suspeitar de tudo e mais alguma coisa.
Conspirações há, imensas, mas algo a este nível não é plausível. Um ou outro cientista comprado, ou uma outra revista durante um curto espaço de tempo é plausível. Mas quase toda a população científica desse campo, o tempo todo, é demais. Acho que é de facto verdade que o publico não tem percepção da discrepância que há entre a minoria de "cépticos" e a maioria dos "alarmistas", porque os ditos "cépticos" são muito mais barulhentos (mais uma vez o termo é meu).
Outra questão que se deve avaliar ao abordar uma teoria da conspiração é pensar quem ganharia com isto. É plausível que exista uma força maior a não querer emitir CO2 do que a querer emitir? Eu acho que não. Vejam quem são as grandes potencias económicas e vejam quem produz mais CO2 e pensem depois o que lhes acontecerá se tiverem de parar a todo o custo. E também, paralelamente, quem teria efectivamente dinheiro para pagar tamanha campanha debaixo dos narizes dos outros. Os paises pobres em desenvolvimento contra os outros para poderem crescer queimando carbono à vontade? A Europa contra os E.U.A. (tendo subornado inclusivamente importantes academias cientificas americanas). Não acho plausivel.
E fico por aqui para não entrar em detalhes técnicos e pormenores. Só mais uma coisa, usei o CO2 pelo que ele é, e pelo que ele representa simbolicamente. Para não estar a ter de enumerar todos os gases com efeito de estufa e a explicar que o CO2 também existe na natureza e que o vapor de agua é o gás com mais importante efeito de estufa, etc. Nada disso é relevante para este post.
1)http://www.newscientist.com/article/dn17517-fertile-crescent-will-disappear-this-century.html
2)http://www.newscientist.com/article/mg20327185.900-comment-why-people-dont-act-on-climate-change.html
3) outro artigo que escrevi sobre o aquecimento global antropogénico:
http://cronicadaciencia.blogspot.com/search/label/aquecimento%20global
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