O efeito placebo, no sentido mais geral, não corresponde a um efeito ou a uma causa. Se for definido como as melhoras observadas no paciente após administração de uma substancia inerte, temos logo incluídos no efeito placebo questões como:
- evolução natural do curso da doença
- alterações na percepção da doença pela parte do paciente (o que leva a relatar melhoras)
- erros de medição ou de diagnóstico
- factores psicológicos
- complicações com outras doenças.
Voltando atrás um bocadinho. Decidi escrever este post, porque existe o argumento por "médicos alternativos", que a sua terapêutica funciona com o efeito placebo. Adicionalmente há muita gente que considera que o efeito placebo é um efeito biológico tipo "mente sobre o corpo". Mas evidências clínicas ou biológicas inequivocas de tal efeito são fracas.
Em medicina ciêntifica, compara-se o tratamento com o placebo, que é uma substancia inerte. Se o placebo tem melhor ou igual efeito, a conclusão é de que o novo tratamento não funciona. Não de que o placebo funciona.
Porquê? Porque no estado actual da ciência, quando descontamos os erros de diagnóstico, as alterações da percepção do paciente (sobretudo por condicionamento e expectativa), e as variações normais do curso natural da doença, a verdade é que sobram apenas vestígios do efeito placebo que possam ser atribuidos a factores psicologicos.
E destes factores psicológicos, provas da sua pertinencia, são apenas encontradas em doenças com uma componente psicosomática elevada, em que nós deveriamos pensar provavelmente onde está realmente a origem do problema quando possivel (causas do stress ou baixo estado de espirito).
A hipertensão, por exemplo. Uma pessoa só por estar a ser tratada, se confiar no tratamento, vai sentir-se mais calma e isso vai ter um impacto em medições físicas (nunca bioquímicas). Outras doenças ou condições que aparecem neste grupo são a asma, as depressões, as condições que causam dor (e aqui surpreendentemente, por exemplo a hipertrofia da prostata).
Em estudos em que o paciente não sabe se esta a tomar placebo ou o tratamento (isto é, sabe que o que está a tomar pode ser apenas placebo), o efeito placebo quase desaparece em virtude da duvida - só o tratamento funciona mesmo. Em um estudo em que se comparou placebo com não tratamento, o resultado foi que não havia diferença. Em estudos em que a avaliação de melhoras é feita por um observador externo que não sabe quem esta a tomar placebo este efeito também cai notoriamente. Em um numero brutal de doenças todo o efeito placebo é atribuido às outras causas que não a psicologica ou neuromediada (variação normal da doença, melhora de problemas concomitantes (incluindo stress), erros de diagnóstico, e alterações na percepção. Por exemplo não há efeito placebo no crescimento de celulas cancerosas, na replicação bacteriana, etc...
Mas por exemplo a dor é um sintoma que é muito ligado ao efeito placebo. Porque? Porque não existe um instrumento capaz de medir a dor. É sempre por relato do paciente. E este declara melhoras muito conforme as suas expectativas e estado de espirito ( e é no estado de espirito que o placebo pode actuar).
Existe ainda muita coisa que não se sabe, mas defender que o efeito placebo trata ou pode ser a base de uma pratica terapêutica é um abuso. Nem que seja porque é incontrolável, inespecífico e que existe também nos medicamentos normais. Que além de terem o efeito biológico, ainda tem o psicológico, seja porque neuromediadores este funcione (se funciona).
Um bom placebo para mim, são umas boas férias.
Além de abuso, pode ser uma grande irresponsabilidade...
ResponderEliminarAbraços,
Fernanda
Sem duvida,
ResponderEliminarObrigada pela visita.